A pergunta dele me pegou de surpresa e eu me senti corar pela segunda vez. Olhei novamente para seu ombro; o ferimento não parava de sangrar. O que eu devia fazer? Estancar a ferida com algo, usando um pano, sei lá...

O rapaz ainda me encarava fixamente com o olhar febril, o que me deixava desconcertada.

– Qual é o seu nome? – perguntei a ele, tentando fazer com que permanecesse consciente.

– Bra-Brandan. – ele respondeu, com um pouco de dificuldade. Com certeza havia veneno naquela lâmina que o acertou.

Brandan era um nome meio estranho, mas coisas estranhas me aconteciam a cada minuto que passava, então não me incomodei com um simples nome...

– Bem, Brandan, meu nome é Alexandra. – sorri para ele, que retribuiu fracamente – Eu vou ajudar você. Tente não mexer o braço.

Tirei meu cachecol do pescoço, iria usa-lo para estancar o sangue do ombro de Brandan. Com muito cuidado o envolvi ao redor do ferimento e amarrei. E então me lembrei do lago que havia ali perto. O lago com águas limpas e frescas que eu poderia usar para limpar a ferida antes de estanca-la.

Como você ás vezes pode ser tão burra, Alexandra Knight?

– Há um lago aqui perto. – falei, segurando o braço bom de Brandan – Posso usa-lo para lavar o sangue. Consegue se levantar?

– Posso precisar de ajuda. – ele respondeu, fazendo uma leve careta de dor.

Segurei seu braço bom e o ajudei a se levantar; Brandan estava tremendo levemente, o que me deixou mais preocupada. Levei minha mão ao seu rosto e o toquei levemente. Estava com febre.

– Vem. – falei, e em seguida passei o braço por sua cintura e o fiz se apoiar em meus ombros. Me surpreendi que ele não tivesse feito objeção.

Caminhamos muito lentamente até o lago. O maldito lago que me trouxera para essa situação. Sentei Brandan novamente, com cuidado. Ele parecia ficar mais pálido a cada minuto. E isso me deixava cada vez mais ansiosa e nervosa. Desamarrei meu cachecol de seu ombro e agradeci mentalmente por sempre ter tido estômago forte para sangue; porque parecia que a ferida piorava a cada momento.

O que eu poderia fazer, estando ali em uma floresta no meio do nada? E pior, já tinha a consciência de que estava muito, muito longe de casa, então nada de meu maravilhoso kit de primeiros socorros. O máximo que poderia fazer seria lavar o sangue.

– Eu preciso que você... – hesitei em minhas palavras e fiz um sinal para as varias camadas de roupa que ele usava; uma capa e várias peças de couro eu acho.

Ele pareceu entender sem que eu completasse a frase, e com um pouco de minha ajuda consegui deixar seu ombro exposto. Lavei da melhor maneira que pude meu cachecol e depois, lenta e cuidadosamente comecei a lavar seu ferimento. Tentava não tocar, mas pressionei meu cachecol (o caro cachecol roxo que havia ganhado de presente de aniversário de minha avó paterna vindo da Suíça) ainda molhado por um tempo contra o sangue. O retirei novamente e me virei de costas para Brandan para o lavar novamente, quando ouço um arquejo e me viro.

– Como você fez isso? – Brandan olhava de mim para seu ombro... que agora se encontrava completamente curado. Sem nenhum indicio que houvesse sido ferido.

Até eu me surpreendi.

– E-Eu não fiz nada – gaguejei – Só lavei o sangue!

Já estava começando a me sentir frustrada pelo olhar admirado que ele me lançava, quando Brandan franziu as sobrancelhas, concentrado em algo. E então tornou a me olhar e se pôs de pé.

– Precisa vir comigo, senhorita Alexandra. – ele disse. Notei que a palidez excessiva já havia sumido de seu rosto.

Mas o que foi mesmo que ele disse? Que eu precisava ir com ele?

– Com você? – minha voz se esganiçou – Não!

Ele desembainhou um punhal que eu não havia notado que ele carregava. Por um instante temi o pior, mas ele apenas jogou a arma na minha frente.

– Se eu quisesse lhe matar já o teria feito. – a voz dele veio carregada de simpatia – Sei que não é daqui. Se vier comigo entenderá porque se encontra tão longe de seu lar. – ele ergueu a mão e a deixou pairando no ar por alguns segundos, indeciso do que fazer em seguida, se apertaria meu ombro em consolo, se tocaria meu rosto ou afagaria meus cabelos. Porém apenas se limitou a deixar a mão cair ao seu lado novamente.

Me atentei ás palavras dele: Sei que não é daqui. Se vier comigo entenderá porque se encontra tão longe de seu lar.

Como ele poderia saber que eu não era dali? E por que ele precisaria me levar a algum lugar? Senti meus olhos lagrimarem, mas não sabia se era por causa do medo de um lugar desconhecido, de saudade do meu pai ou simplesmente por estar nervosa.

Brandan se aproximou de mim mais um passo, me olhando nos olhos, e segurou minha mão.

– Eu não vou lhe fazer mal. Devo a senhorita a minha vida. – ele apontou para seu ombro, na região onde antes estivera sangrando – Estou em dívida com a senhorita. – ele então fez uma reverencia exagerada e beijou minha mão de leve.

Minhas lágrimas não derramadas sumiram de meus olhos assim que ri, ao mesmo tempo em que senti meu rosto se avermelhar.

Brandan sorriu para mim, fazendo suaves covinhas aparecerem junto a seu sorriso.

– A senhorita virá comigo? – ele pergunto, inclinando-se em minha direção.

Sorri levemente e assenti.

Brandan me guiou para longe do lago, até chegarmos ao lugar onde ele havia prendido seu cavalo antes de ser atacado; um animal grande e de pelagem castanha e lustrosa.

– Puxa, ele é lindo! – exclamei quando vi o animal.

Brandan sorriu.

– O nome dele é Ceffyl. – acariciou o pescoço do cavalo – É meu companheiro de aventuras. – se virou para mim – Sabe montar?

– Sei. – respondi, e era verdade. Meu pai me levava para o interior nas férias de verão e eu costumava montar.

Pus meu pé no estribo e me icei para a sela.

– Um pouco mais para a frente, senhorita Alexandra. – pediu Brandan e eu o obedeci. Em seguida ele se içou para trás de mim, tomando o controle das rédeas – Pronta? – senti sua respiração ao meu ouvido.

Assenti e ele fez o cavalo avançar.

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Alexandra Knight: