Hogwarts: uma outra história escrita por LC_Pena


Capítulo 84
Capítulo 84. Jogos Vorazes versão Frozen


Notas iniciais do capítulo

Metade pq eu não consigo "saber mais" do q vocês, se o capítulo está pronto, a mão fica coçando para postar e a outra porque duas lindas, que sempre comentam, pediram, cá está o joguinho bonitinho e adorável.



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Capítulo 84. Jogos vorazes versão Frozen

Não tinha dia bonito, nem juiz, nem juízo, nem regras... Mas tinha tudo para se transformar naquele jogo bom, de raiz, bem jogado e bem, possivelmente letal, mas enquanto o time quase sonserino e o quase grifinório se encaravam a cerca de três metros do chão, a paz ainda reinava.

Shawna McLaine, locutora do quinto ano da Sonserina, se posicionou no meio do campo, goles numa mão, varinha apontada para a própria garganta na outra, olhando para cima, onde pairávamos. Amplificou a voz com seu bom feitiço de sempre.

— BOM DIA, CAROS COLEGAS, FUI CONVIDADA PARA DAR O PONTAPÉ INICIAL DESSA PARTIDA E NARRÁ-LA, SÓ PORQUE CESC E FRANK INSISTIRAM MUITO. - Ela disse coquete e eu revirei os olhos divertido, porque ela se voluntariou para isso e Frank não viu problemas, eles se dão bem, apesar da rivalidade entre as casas.

— MAS NÃO PENSEM VOCÊS QUE VOU SER A JUÍZA DESSE JOGO, MEUS CAROS... - Ela ajustou melhor a posição da goles na mão, fazendo Frank Escobar e Lia Skeeter se aprumarem em suas vassouras, por reflexo. – PORQUE ESTA SERÁ UMA PARTIDA SEM LEI!

Ao terminar de falar a última palavra, Shawna arremessou a goles para cima e em menos de uma batida de coração, Lia a agarrou, desviando de um Frank igualmente cheio de vontade. A configuração dos atletas mudou automaticamente no campo, quase como algo ensaiado.

O pomo já havia sido lançado há alguns minutos e com a vantagem dele, mais a visibilidade ruim por conta da neve que caía e do dia escuro, tanto Enrique quanto James se posicionaram no campo como artilheiros. E isso não tem como acabar bem...

Shawna finalmente conseguiu abrir caminho lá embaixo na neve até o baú de equipamentos, liberando os balaços pra jogo. Os dois monstrinhos subiram como jatos até desaparecer nas nuvens mais baixas e eu acenei com a cabeça para Gilly pegar o da direita.

Ele acenou de volta seu entendimento e desapareceu nas nuvens, coisa que nem Quérrel, nem Drakarr arriscaram fazer. Desci os óculos de proteção no rosto e fui até onde o jogo estava realmente acontecendo, porque se tem uma coisa que os balaços fazem, é achar a gente.

Fora que eu não ia ficar ali perto de dois assassinos em potencial sozinho, né?

Lia de alguma forma havia perdido a goles para Longbotton e assim que vi que ele a passaria para Lexa, ajudei Romeo a imprensar a garota entre nós.  Meu bom artilheiro deu um soco na goles recém capturada pela grifinória, deixando Heidi pegar a sobra mais abaixo.

— Filhos de uma trasga manca! - Lexa ainda se achou com tempo de dar uma pesada no joelho de Romeo, o que só o fez dar risada, a maior parte do impacto indo no protetor de perna dele.

— Não faz assim, senão ele apaixona, Lexa! - Ela não me deu ouvidos, só acelerou para tentar parar o contra-ataque da gente, mas não adiantou, porque depois de uma tabela entre Lia e Heidi, protegidas por Enrique e Gilly, Segundo levou seu primeiro gol.

Claro que ele ficou dando piti e xingando Deus e o mundo, mas só eu fiquei para ouvi-lo, porque vi um balaço fazendo a curva em uma das torres, que hoje eram apenas esqueletos em madeira crua. Mirei a bola maléfica no peito do meu quase amigo da Grifinória.

Ele se inclinou para trás em sua vassoura, a lá Matrix, o balaço tirando um fino tão grande de seu cabelo com o movimento, que a torcida deu um daqueles gritinhos exagerados. Ele me encarou irritado, assim que o perigo passou.

— Não sou seu capitão hoje, Segundo, vê se presta atenção!  - Dei risada e ele me olhou com seu olhar mais sujo. Ai que medinho!

— Bom saber, Fábregas! - Ele disse irritado, apoiado em um dos aros. Dei as costas pra ele, mas fiquei por perto, aguardando o balaço voltar e me dar um bom ângulo para estragar a vida de mais alguém. Percebi o jogo vir para o nosso lado, Enrique era perseguido de perto por Frank e James e...

— PUTA QUE PARIU! - Xinguei involuntariamente quando a merda do balaço passou zunindo pela minha orelha. Como isso... Fred me olhava divertido, abraçado no aro, segurando a vassoura com uma mão e limpando a bota esquerda com a outra.

Ele desviou o balaço com o pé! Que tipo de pessoa doente coloca o pé na frente da trajetória de um balaço? Passei a mão na orelha e vi que tinha um pouco de sangue nos dedos, olhei chocado para Segundo.

— Não sou seu goleiro também!  - Ele disse cínico, mostrando que a moral da Grifinória vai até onde tem lei, a partir daí eles são tão baixos quanto nós!

Deixei Segundo sozinho, porque brigar com um goleiro não faz exatamente parte das minhas atribuições, mas defender Enrique de um balaço faz, então voei no sentido contrário de praticamente todos em campo.

James e Frank estavam fazendo o mesmo que eu e Romeo fizemos há alguns minutos com Lexa, conduzindo Enrique para uma das torres, sem dar espaço para ele desviar da estrutura de madeira.

Aproveitei que o balaço já estava indo em direção aos três, para desviar levemente sua trajetória, quase acertando a perna esquerda de Frank. Enrique conseguiu passar a goles para Heidi depois disso, acertando uma cotovelada em James, assim que se viu livre.

— MENINOS, JÁ PEDI, SE COMPORTEM, POR FAVOR! - Eu tinha voltado para a zona em que a torcida se concentrava e Shawna se debruçava na amurada quase que completamente para tentar ver o que estava acontecendo. – PARECE QUE WEASLEY ESTÁ EM MAUS BOCADOS DE NOVO... UHHH, QUE BELO LANCE, FRED ESPALMOU A GOLES DIRETO NAS MÃOS DE JAMES POTTER!

Me aproximei das arquibancadas, só colocando um dos pés bem próximo de onde Shawna estava apoiada. Tirei meu presente mais bem utilizado da vida do bolso e joguei para ela.

— Vê se devolve depois! - Ela colocou meu onióculos de estimação no rosto, sorrindo assim que o aparelhinho começou a se ajustar ao clima pouco propício para um jogo narrado. – Quanto está o placar?

— O PLACAR ESTÁ 10 A 10, MEU CARO CAPITÃO.  - Pisquei para ela, que era uma das garotas mais legais que eu já tive o prazer de conhecer. – E O SENHOR AINDA VESTE MUITO BEM AS CORES VERDE E PRATA, CAPITÃO, JÁ ESTÁVAMOS MORRENDO DE SAUDADES DISSO!

Me afastei da torcida, animada e bem agasalhada, que parecia muito mais cheia do que estava no início do jogo. Dei um mergulho para recuperar um balaço que tentou acertar Dunigan no meio do campo, mas a baixinha da Corvinal não era tão lerda quanto parecia.

Não sei de onde ela tirou tamanha coragem, mas ousou dar um trompaço em meu ombro, fazendo os meus pés levantarem neve, de tão próximos que eu e ela ficamos do solo, numa velocidade alucinante.

Devolvi a cortesia, quase a enviando no fosso de sustentação das arquibancadas, ao mesmo tempo que jogava o balaço para cima. Havia redirecionado ele de volta para Gilly e estava pronto para voltar para o jogo, quando tive o meu curso novamente desviado por um jogador rival.

Só que dessa vez se tratava de um que eu não estava nem um pouco disposto a deixar no “quase joguei”, dessa vez faria questão de jogar lá na casa do caralho mesmo, leia-se Corvinal.

— Drakarr, você não vai gostar de comprar essa briga... - Tentei colocar um pouco de juízo na cabeça do garoto dito inteligente, que ironia, mas ele me acertou novamente, só que dessa vez eu consegui desviar, fazendo ele entrar com tudo na estrutura de uma das torres que cercam o estádio. – Tentei te avisar!

Parei para verificar se a peste estava bem, mas ele só tinha quebrado algumas daquelas tábuas de apoio mais finas e deixado o bastão, cujo peso não devia lhe ser familiar, cair. O setimanista estava agora tentando sair de sua jaula auto infligida, porque o caminho por onde ele havia passado virou um monte de lascas de madeira pontiagudas.

Ele me encarou irritado, a personificação de um prisioneiro de Azkaban, então parei para olhá-lo com toda a minha compaixão. 

— Você é um cara morto, Fábregas! - Ele rosnou, parecendo muito com Derek quando eu sugeri que ele fosse lamber as bolas de Harry Potter hoje mais cedo.

Como eu disse, sou um cara cheio de compaixão e coração puro, então nem fiz uma réplica engraçadinha, como ele bem merecia, apenas apontei a saída embaixo da torre, onde as madeiras eram mais grossas e os espaços maiores, na base de toda a estrutura.

Ele não ficou feliz de ver que alguém por ali usava o cérebro melhor do que ele, mas com certeza deve ter ficado satisfeito ao me ver mergulhando no fosso. Daria a Sebastian Drakarr a chance de se vingar pela “honra” ofendida de seu irmão caçula.

Fui desviando lentamente das madeiras entrelaçadas na contenção do campo, que consistia em uma piscina gigante feita de muita terra, grama e neve. Até hoje não entendi a engenharia por trás do estádio de Hogwarts...

Mais senti do que vi Sebastian se aproximando de mim pela esquerda, abri espaço para ele se movimentar e também me coloquei em uma posição que fazia com que o repuxo da minha Twigg não me desestabilizasse tanto.

Claro que eu estava usando em uma partida como essa a minha fiel companheira de sempre, porque o novo modelo de vassoura dos Dussel -  que a Seleção toda ganhou por conta da nossa classificação para as semifinais - era muito caro e muito chique para um duelo sem leis.

Sebastian Drakarr não aceitou meu maravilhoso presente, preferindo me abordar pela direita. Que cara mais ingrato! Justo a direita, onde eu sou mais forte... Não me fiz de rogado, o recepcionei com meu bastão em seu protetor peitoral, fazendo com que ele quebrasse mais algumas tábuas pelo caminho desviado.

O filho da mãe era duro na queda, tinha que admitir, porque ele continuou firme em sua vassoura e implacável em sua perseguição sem sentido.

— Jogue como um homem, covarde! - Dei risada da indignação dele, sobrevoando o que deveria ser a viga de sustentação da tribuna de honra.

— Estou jogando como um homem que tem um bastão, azar o seu se você não tem! - Respondi bem-humorado, mas nem sei se ele ouviu tudo, porque o vento estava jogando as palavras para o outro lado e eu não havia me esforçado tanto para ser ouvido quanto ele.

Com certeza tínhamos dado a volta no estádio por baixo, porque o som abafado de gritos e pés batendo reverberaram nas madeiras acima de nossas cabeças. Decidi que estava na hora de sair do subsolo, então guiei minha vassoura para cima, deixando Drakarr para trás com sua maluquice.

Mal tinha chegado na superfície, ainda me acostumando com o cheiro fresco da neve, bem diferente do de madeira úmida de antes, quando senti um puxão na minha capa de voo. Infelizmente não consegui retomar o equilíbrio, caindo no chão do estádio, virando uma grande bola de neve, vassoura, bastão e batedor azarado.

Assim que constatei que ainda estava vivo, fui literalmente arrancado da neve por um setimanista muito filho da puta para o meu gosto.

— Agora você passou dos limites! - Rosnei enquanto me soltava do seu agarre. Sebastian também estava fora de sua vassoura, pronto para sacar a varinha, mas ele sendo um bruxo puro-sangue, nem imaginou que eu pudesse me jogar em cima dele pra esfregar sua cara ridícula na neve.

O idiota era obviamente maior e mais forte do que eu, ele já tinha mais de dezessete anos, mas isso pouco importa se você está numa briga trouxa com um sonserino sem escrúpulo algum!

Caímos no chão de qualquer jeito e eu puxei os óculos de proteção dele, fazendo o empuxo do elástico acertá-lo bem no meio do nariz - tomara que tenha quebrado! - e o idiota ficou tentando se defender as cegas, lutando daquele jeito estapeado ridículo que Tony e Scorp faziam quando queriam fingir que estavam brigando.

— Fi-que qui-e-to! - Pontuei cada sílaba com uma cotovelada no rosto dele, enquanto tentava imobilizá-lo com o outro braço.

Não funcionou muito, porque ele me prendeu com as pernas, quase invertendo nossas posições. E infelizmente levei, com o ato, mais murros do que eu havia planejado para essa aprazível manhã congelante.

Mas é claro que eu não deixei ele fazer isso por muito tempo, me refiro a socar a minha cara, porque senão eu estaria perdido. Usei a mão livre - a outra eu estava usando pra impedir que ele me virasse completamente para o chão - para encher a boca dele de neve.

Infelizmente os protetores do uniforme tiravam a graça de acertar outras partes do corpo, que não a cara. Que pena!

O corvinal engasgou e eu aproveitei esse momento de distração para acertar um soco bem dado nele, dessa vez não foi desviado, pegou em cheio no nariz. Continuei montado nele - massageando meu maxilar, porque, porra, estava doendo muito - mas assim que percebi que ele iria se movimentar para sair, convoquei meu bastão e apontei para sua cara quebrada.

— Se você me seguir, juro que da próxima vez eu quebro o seu crânio e mando o seu cérebro para Derek comer. - Não deu para ver a expressão dele, porque os poucos flocos de neve que caíam antes, haviam se transformado em muitos, deixando tudo bem embaçado. –  Ou como diriam os chineses: “que todas as 18 gerações passadas de sua família se fodam”.

Sou um cara cheio de cultura, sei que os corvinais apreciam isso.

Levantei meio cambaleante ainda, consertando os óculos de proteção no rosto e limpando o sangue do nariz na capa. Merda de protetores corporais, antes Drakarr tivesse me acertado nas costelas ou na barriga, sei lá, na cara não!

Convoquei também minha vassoura e deixei o campo para trás. Até que estou ficando bom nessa coisa de feitiço convocatório sem varinha e também melhorei muito minhas habilidades de briga de rua, papai vai ficar orgulhoso!

Naveguei até onde Shawna estava e levou alguns segundos para focalizar o que diabos ela estava dizendo.

— MARCO HABERMAS NÃO LEVOU NADA BEM A PROVOCAÇÃO DE ELSIE DUNIGAN, ELE ACABOU DE ROUBAR O BASTÃO DE GILLY E O ATIROU NA CABEÇA DA CORVINAL, MEUS CAROS AMIGOS! - O quê?  Olhei para trás para tentar ver essa cena absurda, já que a visibilidade estava melhor aqui em cima, mas Marco já tinha voltado a pairar inocentemente sobre os aros. Shawna finalmente me avistou. –  OH, NOSSA, CAPITÃO, POR ONDE VOCÊ ANDOU?

Ela era provavelmente uma das poucas que podiam me ver com detalhes, então fiz o gesto internacional do “por aí “ e ela deu de ombros, respondendo com o muito conhecido sinal da Sonserina de “eu não conto, se você não contar”.

— Quanto está o placar? - Perguntei nervoso, porque essa brincadeira com Sebastian Drakarr me custou alguns minutos preciosos. Ela tirou a varinha da garganta e falou no seu tom de voz normal.

— 20 a 20, capitão! - O quê? Minha cara de surpresa foi o suficiente para fazê-la completar as informações. – Digamos que a falta de juiz tenha comprometido o jogo.

Ela falou toda enigmática e eu estava pronto para perguntar que diabos ela queria dizer com isso, quando vi a cena mais ridícula da vida se desenrolar a uns poucos metros de mim.

James completamente alheio ao pomo de ouro perdido por aí, ganhou uma disputa violenta com Lia, mas antes que pudesse avançar para onde Marco Habermas o esperava raivoso, se desequilibrou da vassoura graças a...

— Enrique, que merda você pensa que está fazendo? - Eu falei só por falar, porque o filho da mãe não me ouviu, ele estava muito concentrado em seu feitiço não verbal e altamente ilegal para se importar com o mundo.

Nem tive tempo para processar a sordidez dessa criatura, porque Lexa simplesmente pulou na garganta dele, deixando sua própria vassoura de lado. Virei chocado para Shawna nas arquibancadas atrás de mim.

— Que porra é essa?!?! - A garota fez uma careta para o que quer que estivesse se passando agora, fora do meu campo de visão. Não quero nem ver uma briga entre a louca Lexa Prutt e o mal caráter Enrique Dussel!

— Não olhe pra mim, em algum momento todos entraram em acordo que valia tudo e... AI MEU SALAZAR! - A locutora gritou sem a ajuda do feitiço amplificador e eu tive que me virar para trás, com muito medo do que eu iria ver.

A cena parecia se desenrolar em câmera lenta, Enrique e Lexa lutando pelo controle da vassoura - tudo muito horrível - enquanto voavam de encontro ao chão. Em um movimento até que muito gracioso, se formos analisar o contexto, Enrique conseguiu arremessar a garota da Grifinória por cima da cabeça, Lexa fazendo um arco perfeito no ar, com os flocos de neve emoldurando o quadro.

Enrique. Arremessou. Uma. Garota. Por. Cima. Da. Cabeça!

Foi com muito horror e um grito abafado da torcida que eu vi Lexa afundando violentamente na neve e Enrique atingindo o chão sem nenhuma chance de se proteger. Eu já estava mais do que disposto a dar o jogo por encerrado depois disso, mas um apito poderoso reverberou pelo estádio, pausando tudo antes que eu tivesse a chance.

Desci a vassoura para onde as duas criaturas - se ainda vivas - membros da Seleção aterrissaram e percebi que não estávamos mais sozinhos.  E com “nós” me refiro a todos os alunos de Hogwarts que acordaram cedo para fazer parte desse circo dos horrores.

— Senhor Fábregas, o que significa tudo isso? - Harry Potter em serumanisse veio correndo até onde eu havia pousado e agora cavava na esperança de encontrar algum sinal dos idiotas que eu chamava de jogadores.

Encontrei uma mão e a puxei sem ligar de poder estar terminando de matar um dos dois grandes malucos e dei de cara com uma Lexa cuspindo neve.

— Você está bem, criatura? - Perguntei assustado, vendo que os outros também estavam pousando ao nosso redor.

— ISSO FOI IRADO! - A garota, que agora ostentava um cabelo rosa bem forte, arrepiado e cheio de neve, gritou animada. Ah, sim, tinha esquecido que se tratava de uma grifinória...

Deixei ela para ser desenterrada por seus companheiros de time, enquanto procurava por vestígios de um ego do tamanho do mundo, soterrado em quase um metro de neve. Espero que tenha sido o suficiente para aparar a queda dele também.

Me refiro ao ego mesmo.

—ENRIQUE? - Gritei, sem resposta. Romeo já estava ao meu lado, igualmente preocupado. Avistei um rastro da queda e a vassoura em pedaços, tudo apontando para o fosso de contenção. – Ah, mas que merda!

Corremos o máximo que deu naquela maldita neve nos soterrando e assim que chegamos na ponta, bem na divisão entre o campo e o buraco sem fim que o separava do resto do terreno pedregoso de Hogwarts, avistamos o apanhador irresponsável do meu ódio se segurando apenas com uma das mãos em uma viga de madeira fina, daquelas que Sebastian havia destruído com tanta facilidade.

— Alguém pode me dar uma mãozinha aqui?  - Ele ainda teve a desfaçatez de falar isso com um sorriso no rosto e eu nem tive tempo para chamá-lo de idiota, porque o treinador Potter o içou de lá. – Obrigado, treinador.

—”Obrigado, treinador “, isso é tudo que você tem a me dizer, Dussel? - Potter perguntou em um tom de voz raivoso, mas eu e o aludido o ignoramos, eu com certeza estava mais preocupado em checar se Enrique estava inteiro, aquele grande retardado mau caráter! – Eu sinceramente não consigo formar na minha mente o que raios vocês estão fazendo aqui nesse campo!

O tom agora soou beirando a completa exasperação e só porque eu também não estava entendendo muito bem, funguei o sangue que estava escorrendo do meu nariz e o cuspi no chão antes de falar.

— Tenho certeza que podemos esclarecer o que for, enquanto tomamos uma deliciosa e fumegante xícara de chocolate quente no castelo, o que acham, senhores? - Falei com as mãos na cintura e recebi de volta alguns resmungos de concordância de meus colegas.

Potter não pareceu tão convencido assim, ele apenas mordeu os lábios, olhou para o céu, para os homens desconhecidos cheios de roupa de frio que estavam ao seu lado e então me encarou, respirando fundo. Esperei o veredito com um sorriso no rosto.

— Todos para minha sala. - Ele disse com uma falsa calma e eu estava prestes a dizer que não caberíamos todos em seu escritório, mas o homem estava bravo, Merlin sabe o porquê!  – AGORA!

— Tá, não precisa gritar... - Resmunguei pra mim mesmo, olhando Enrique, discretamente. Ele me deu uma piscada, soltando o cabelo já molhado por conta do contato com a neve. Sorri pra isso, o filho da mãe estava bem.

E é o que dizem “tudo certo e nada resolvido”.

***

— E endão honve eze úldimo gonvonto endre Lenxa e Enrigue, que gulminou neles gaindo em uma neve vovinha e macia, zem mainhores danos. Vim da história.  - Conclui a história, enquanto ajeitava melhor os tampões em meu nariz.

Eu e Frank estávamos sentados na frente da mesa de Harry Potter, com nossos respectivos times atrás de nós, apinhando a sala apertada dele. Eu disse que não tinha espaço para todo mundo!

O treinador olhou de mim para o capitão da Grifinória com o cenho franzido, provavelmente porque ele não entendeu uma palavra do que eu disse - eu não estou nem certo se eu me entendi - mas como ele é muito orgulhoso, não interrompeu minha narrativa em nenhum momento.

Ouvi o risinho ridículo de Romeo atrás de mim, mas foi o balançar de ombros de Longbotton que realmente me irritou! Essa criatura não tem moral para rir de ninguém!

— Gual a graza, indiota? - Perguntei indignado e o retardado riu ainda mais. Estava bem-disposto a mostrá-lo o quão bom eu tinha ficado em brigas, mas Harry Potter levantou a mão, me pedindo a palavra.

— Deixa eu ver se eu entendi direito: a ideia do jogo foi da senhorita Lowen? - Ele olhou para um canto a direita da minha cabeça e a voz da dita cuja soou sapeca na sala apertada.

— Foi sim, senhor. - Heidi falou, nada culpada.

— E foi o senhor Fábregas aqui que convocou os jogadores? - Dessa vez ele apontou para mim, com os dedos indicadores encostados um no outro.

— Zim, zenhor. - Confirmei a informação seriamente e Romeo agora soltou um riso escandaloso. Vou socar a cara dele também!

— E o senhor Longbotton aceitou o convite... - Potter constatou sozinho, encarando o quase sobrinho a frente, limpando as lágrimas de diversão. Vou lembrar a Frank que agora ele tem que se arrastar atrás de minha irmã, porque foi um escroto manipulado, quem sabe assim as lágrimas não viram de tristeza? – E a mordida no pescoço do senhor Dussel foi de quem?

Aquele silêncio constrangedor caiu na sala e eu que não gosto desse constrangimento em específico, já estava pronto para livrar a barra da minha canibal de estimação, Lexa, mas ela mesma se defendeu.

— Acho que não vai dar para saber até fazer aquele exame tipo CSI, treinador... - A voz dela esganiçou no final, mas ela continuou. – Mas bem pode ter sido uma das milhares de garotas que passam pelo quarto dele, nunca se sabe...

É, pode ser bem isso mesmo e obviamente não trouxe luz para o fato de que passavam garotos também pelo dito quarto, porque isso não vem ao caso. Enrique calado estava, calado ficou. Harry Potter fez um aceno conformado com a cabeça.

— E o que houve com a cara do senhor Fábregas, gente? - Ele não olhou para mim quando perguntou isso, só apontou com uma das mãos e um olhar que cobrava que alguém se responsabilizasse pela tragédia.

Eu honestamente ainda nem tive coragem de me olhar em nada, nem sequer em uma das armaduras do corredor, quanto mais em um espelho, porque o único lugar do meu rosto que não doía ou ardia era o espacinho entre as sobrancelhas.

Não doía ainda.

— Eu gaí no jão. - Falei cínico, Potter me olhou cético.  – Gom a gara. Várias vezes.

— Sei... - Ele disse duvidoso e eu ouvi alguns risinhos desnecessários ao fundo.

— Devia dêr visto como vigou o jão. - Falei bem humorado.

— Eu vi como ficou o chão, senhor Fábregas, na verdade o “chão” que veio me procurar, antes de ir para a Enfermaria receber cuidados médicos!  - Ele terminou seu discurso com um tapa bravo na mesa, mas quem tá puto aqui sou eu!

Aquele merda do Drakarr nos denunciou para o homem!

Cara, agora é oficial, vou acabar com essa descendência de ditos homens com nome de droga pesada feita a base de fezes de dragão!  E as pessoas ainda me perguntam porque eu odeio tanto a Corvinal...

— O chão pode ter dramatizado um pouco, todos sabemos como os corvinais são dramáticos!  - Enrique disse no seu melhor tom jocoso, não melhorando em nada nossa causa. – Veja só, ele e a outra garotinha da Casa dele são os únicos que precisaram ir para a Enfermaria!

— Isso porque acertaram um bastão na testa dela... - James resmungou em voz alta, mas se não me dei ao trabalho de ver a cara de pau de Enrique, não vou me virar para ver a dele, no lugar disso vi a expressão inquisitiva de seu pai. – Não citarei nomes, eu nem sequer sei o nome da pessoa que fez isso, na verdade!

Coisas boas de se colocar sangue novo na equipe: o mundo não estava preparado para a loucura de Marco Habermas ainda.

— Ok, ok, deixem-me pensar... - O treinador colocou a mão no cabelo bagunçado, como se essa tarefa de pensar fosse muito difícil. Eu não duvido nada que para ele seja. – Sabiam que eu estava mostrando nossa escola para os treinadores dos nossos possíveis adversários no campeonato? Sim, aqueles homens fizeram a cortesia de me mostrar suas casas também e acreditem, não teve essa selvageria em Uagadou, Salem ou Durmstrang!

— Esse é um tipo de marketing pelo qual não dá pra se pagar. - Lia disse animada e o treinador a olhou como se ela tivesse relinchado o hino de Hogwarts de trás pra frente. – Espera! Um daqueles homens era Krum?!?!

— Só porque esse é o tipo de marketing que a gente não quer, senhorita Thiollent! - Ele disse desesperado, ignorando a última pergunta da garota e eu fiquei realmente com muita pena dele, sério.  O homem parecia um trapo e olha que eu não estava nenhum galã de cinema hoje. Ele pinçou o nariz e fechou os olhos, exausto. – Merlin, o que eu faço com vocês?

— Que tal deixar pra lá e aproveitar essas semanas de recesso para descansar da gente? - Frank sugeriu, mas o homem a nossa frente não reagiu de primeira, demorou longos cinco segundos antes dele se manifestar.

— Boa ideia, senhor Longbotton! - Harry Potter bateu palmas subitamente animado. – Vou escrever cartas para seus familiares, narrando o acontecido e solicitando uma punição severa deles. Isso é brilhante!

Ah, pelo amor de Deus, Longbotton não fala nada, mas quando fala, é pra arruinar a vida de todo mundo!

A galera toda resmungou irritada em diferentes níveis, porque uma das coisas boas de Hogwarts é que dificilmente nossas contravenções chegam em casa, só se forem coisas muito, muito sérias.

Quase matar a mim e a Tony no último baile não foi considerado grave o suficiente para chamar os Harmond aqui, só pra vocês terem ideia!

— Oh, céus, meu pai vai me matar! - James disse divertido, se aproveitando da sua situação de filho do técnico que já estava na merda.

— Seu pai com certeza não, mas sua mãe, por outro lado... - Harry Potter encarou o filho com uma satisfação mesquinha. – Prepara as orelhas, James Sirius, porque você vai sofrer um bocado nesse Natal!

Hahaha, se fodeu, otário! 

Mais um milagre de Natal para a conta, esse final de ano vai ser maravilhoso!


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Notas finais do capítulo

E então, meninas? Esperavam isso? Juliet, Sebastian Drakarr ainda é uma possibilidade para Cesc? Hahaha