Hogwarts: uma outra história escrita por LC_Pena


Capítulo 83
Capítulo 83. As entregas natalinas começaram


Notas iniciais do capítulo

Capítulo bonitinho, para minhas pessoinhas bonitinhas. Enjoy



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Capítulo 83.

Olha, pode me colocar para invadir uma torre infestada de criaturas nefastas, mas não me coloque para sentar e fazer um estudo dirigido de poções! Se me perguntar qual dos dois eu prefiro, eu... Vocês já sabem a resposta, porque a primeira alternativa eu e Tony já fizemos, mas a dificuldade hoje é executar a segunda....

 –  Eu nem sei mais o que eu estou escrevendo, porque ela não chama logo a nossa dupla? - Tony resmungou enquanto escrevia provavelmente uma palavra aleatória no pergaminho.

A professora Savage estava chamando dupla por dupla para avaliar os trabalhos e as dispensando assim que acabava, mas aquelas que tinham o azar de não serem chamadas, tinham que ficar descrevendo, em linhas gerais, as funções de cada ingrediente da lista que ela colocou no quadro para “nos distrair”.

 –  Porque o seu sobrenome começa com Z, só por isso. - Respondi enquanto testava filtros diferentes em uma foto antiga de Perseu filhote no celular. Senti o olhar indignado de Tony em mim.

 –  Podia ser por ordem de nota, da menor para a maior, assim seríamos os primeiros. - Parei de desenhar um bigode no pobre cachorro, para olhar o dito ser humano ao meu lado.

 –  E você fala isso com um orgulho... É de se admirar! - Falei sarcástico e ele só me deu um sorrisinho enigmático.

 –  É de se admirar nossa genialidade, pena que não haja nada no currículo para avaliar essas nossas habilidades... - Tony tocou com o indicador o frasco de poção inocente que havíamos furtado do estoque de James Potter e eu sabia muito bem que ele estava satisfeito com o ato ilícito bem sucedido e não com a nossa boa nota proveniente da poção.

 –  É pelo arrependimento que o tribunal decide se o preso pode ou não voltar para a sociedade. - Falei displicentemente e Tony continuou sorrindo para o frasco com a poção perolada.  –  Você devia ao menos treinar sua cara de arrependido.

 – Mas eu não estou arrependido. - Ele falou com o seu clássico sorriso de tubarão.

 –  Isso eu sei, só acho... Pronto, a professora está nos chamando. - Savage havia feito um sinal para mim, assim que a última dupla havia saído dos lugares na frente da mesa dela.

Eu e Tony pegamos nosso relatório e poção e nos sentamos na frente do júri composto pela professora Savage e pelo não professor Lupin. Aparentemente ele ouviu minhas preces e hoje veio com aquele visual gótico suave, mas dessa vez colocou um olho bem azul para contrastar com os cabelos negros e pele bem branca.

Essa metamorfomagia na minha vida seria usada para propósitos tão bons...

 –  E então, meninos, o que vocês têm para mim? - A bruxa a nossa frente nos perguntou simpática e Lupin fingiu que estava tomando nota no pergaminho, sabe-se lá Merlin porquê.

 –  Inicialmente tentamos fazer uma poção de limpeza, mas não deu certo. - Entreguei um pergaminho com toda a descrição do que fizemos e os porquês da nossa primeira tentativa não ter dado certo, até porque teria sido um desperdício não aproveitar a chuvarada de críticas e deboches que o casal Scorbeca fez naquela fatídica tarde pós fracasso.

E eu quis colocar um pouco de sinceridade no processo, porque estou me sentindo muito culpado, confesso.

 –  E então decidimos fazer uma poção de sono induzido padrão da enfermaria, mas diminuindo um pouco o efeito da inconsciência, porque é bem ruim ficar completamente vulnerável por causa de uma simples coceira na pele, não tem porque dormir daquele jeito e a poção é a mesma para todos os casos.

Tony complementou bem cínico, porque se tem uma coisa que o meu amigo aprendiz de bruxo das trevas não sente é culpa.

 –  Diminuímos então a quantidade de elixir paregórico, que no nosso entendimento limitado era o grande responsável pelo processo de manutenção da inconsciência, a gente pensou que era isso que causava essa coisa da gente não poder acordar por conta própria até o fim do efeito.  - Lupin sorriu, ainda de cabeça baixa para minha fala e eu franzi os olhos pra ele, pena que ele não viu.

 –  Mas o que conseguimos foi uma poção com a duração encurtada para meia hora. - Tony completou cauteloso, porque a parte do errar é bem a nossa cara, mas os erros de James nessa poção são erros de quem tem alguma habilidade com a coisa. A professora Savage sorriu divertida e condescendente, espelhando um pouco do que seu pupilo estava fazendo mais discretamente.  –  E tipo, pra que porcaria isso serve?

 –  Sim, senhor Zabini, para que serve a poção de vocês então?  - Savage questionou esperando para ver qual seria a nossa explicação mirabolante. Não podia tirar a razão dela, porque o tanto que somos ruins em poções, somos bons em enrolação.

 –  Não dava para entregar daquele jeito, porque nem nós descobrimos uma justificativa para isso, mas... - Tony pausou enquanto abria o pergaminho dessa poção em específico e apontava para o trecho crucial.  –  Abençoado seja Pierre Foucault, que tem um livro só sobre ingredientes versáteis que só podem ser usados depois que as poções estão todas prontas, porque dessa forma a gente conseguiu achar um jeito de consertar um pouco o estrago.

 –  Como acharam esse livro em específico?  - Lupin perguntou até com uma curiosidade tranquila, mas sabe quando você está com raiva da pessoa que até a respiração dela irrita?  Pois então.

 –  A gente matou um aluno da Corvinal e roubou o livro. Como você acha que a gente conseguiu? Indo na biblioteca, claro! - Falei irritado e ele reagiu com uma surpresa mal disfarçada.

 –  Não precisa ser grosseiro - Ele me disse afetado e eu sorri cínico.

 –  Não precisa, mas eu gosto. - Lupin ficou naquela idiotice de me encarar, então eu encarei ele de volta, até a professora Savage assumir uma postura em relação a imaturidade do estagiário dela.

 –  Estou percebendo que há uma animosidade aqui...

 –  A senhora acha? - Tony perguntou cético, mas murchou ao receber o olhar mortal da ex auror.  –  Quero dizer, eu sei lá, deixa quieto.

 –  Fábregas apenas está sendo infantil, ficando chateado porque eu fiz o que se espera da minha função: não compactuar com as ações equivocadas dos alunos. - Olha, que falso esse Lupin! Que. Falso! Bati a mão na mesa com raiva e apontei o dedo para aquele nariz dissimulado.

 –  Você é muito cara de pau mesmo, porque me disse que estava tudo bem e depois foi lá correndo me dedurar para seu padrinho irritante! Antes tivesse me punido na hora! - Ele ficou com aquela cara de idiota dele, provavelmente sem saber se ficava ofendido por eu o estar enfrentando desse jeito ou culpado porque, bem, ele é culpado mesmo!

O cabelo ficou vermelho, não ruivo, vermelho mesmo, tipo o da Grifinória, aquele que nos enojou tanto na sexta e isso não melhorou meu humor em nada.

 –  Abaixe a mão, senhor Fábregas, você não está falando com um de seus colegas. - A mulher negra me olhou severa e eu abaixei a mão, perdendo metade do meu ímpeto, mas no lugar, cruzei os braços.  –  Agora, se eu entendi bem, o senhor Lupin aqui se deixou enrolar pela lábia sonserina e depois se arrependeu.

Ela o estava tratando como se fosse um de seus alunos, como se fosse eu e Tony, e aquela criatura patética se encolheu ante a verdade. Revirei os olhos, porque Lupin é um adulto muito idiota!

 –  Achei que ele iria pregar uma peça inofensiva e não humilhar uma garota na frente de literalmente todo o mundo! - Ele disse se mostrando todo hominho e eu franzi o cenho para isso.

 –  Literalmente? - Perguntei sarcástico.

 –  A maior parte. - Ele disse mais suave, ensaiando um sorriso por conta de seu exagero, porque eu humilhei Tracy em no máximo outros sete países, não no mundo toooodooo como ele disse. Idiota exagerado.

 –  Bem, suponho que ambos os lados estejam errados, então vamos colocar uma pedra sobre o assunto, que tal? - Savage nos perguntou meio divertida, como se estivesse lidando com duas crianças birrentas.

 –  Eu acho que...

 –  Não, senhor Fábregas, não foi uma pergunta de fato. - Ela disse enquanto recolocava a atenção no nosso relatório da poção roubada. Lupin desviou o olhar para o teto e eu segurei minha língua, porque, né, preciso de uma boa nota aqui.  – Voltamos ao trabalho?

Ha. Ha. Ha.

Como se tivéssemos opção!

***

Era uma cena meio sexy ver Heidi com as pernas bem abertas para caber o meu violoncelo no lugar certo. Estávamos na sala das festas legendárias de Nick pescoço dilacerado - como eu gosto de chamá-lo carinhosamente - que, infelizmente, depois do acidente do lago, nunca mais foi a mesma, para “ensaiar” algumas músicas.

Resolvi que nesse ano não desmaiaria ou faria todo um trabalho altamente tecnológico para sincronizar sons gravados em cd e movimentos com o arco e as cordas, dando a minha avó seu tão sonhado concerto falso. Não!  Dessa vez decidi me esforçar, pegar as partituras e ...

 – Sabe que se você realmente se dispusesse a aprender a tocar direito, eu poderia ensina-lo. - Minha artilheira quase lufana me olhou com aquele jeitinho de fada dela, mas eu estava decidido a manter meu plano dessa vez.

 – Eu sei tocar, Heidi, eu só não quero ter que. - Falei entediado e uma simples sobrancelha dela me disse que eu não sairia fácil dessa. Revirei os olhos. – Sei o básico, sei tocar músicas fáceis, tipo aquela do outro dia, mas minha avó gosta de peças sofisticadas e chatas, eu a amo, mas tudo tem limites.

 – Garotas gostam muito de músicos, sabe? - A menina falou como quem não quer nada, mexendo nas cordas e tirando um som baixinho e afinado.

 –  Eu sei. - Respondi seco. Ela vai começar ainda hoje ou não?

 –  Eu acho que é porque a gente fica pensando, “nossa, se ele pode tocar o instrumento com tanta habilidade, imagina o que não faz com a gente?”. - Eu a olhei sem paciência, porque toda vez que eu ia fazer o feitiço para gravar os movimentos dela no meu cello, ela parava pra falar alguma besteira.

 – Você faz sucesso com os garotos também, Heidi? É por isso que é boa nisso? - Ela tirou pela milésima vez o arco das cordas e eu me arrependi muito da minha curiosidade mórbida.

 – Infelizmente meninos não se importam tanto com dedos, por isso mesmo tive que aprender a dar nó em cabo de cereja com a língua... - Ela me olhou sapeca e eu franzi os olhos com aquela descaração toda.  – Vocês gostam disso, né?

 – Gostamos sim e gostamos ainda mais quando você se concentra e toca esse solo de violoncelo do jeitinho que disse que faria. - Heidi me deu um último sorriso antes de se posicionar para finalmente começar a tocar o bendito instrumento.

 – Mas sabe no que eu estive realmente pensando? - Ela saiu de novo da posição e eu quase azarei aquela cara bonita dela. – Que estou com muita, muita saudade de jogar Quadribol...

 –  É, eu também, agora se concentra, por favor! - Levantei e ajeitei os dedos dela nas notas iniciais da música que eu tinha que “aprender” até o Natal. Ela tirou os dedos de dentro da minha mão distraidamente e começou a bater o indicador no lábio inferior.

 – Mas você ainda tem os treinos, tem sua escolinha fofinha e eu tenho o quê? Tenho que ficar assistindo tudo de fora, como um protetor de virilha descartado no final do campeonato... - Que comparação mais desfavorecedora essa, eca! Ela continuou sua lamúria, batendo o arco de leve na ponta de seu sapatinho de boneca.  – Se ao menos tivesse alguma coisa que pudéssemos fazer para mudar isso...

Me sentei no chão, aos pés dela e abracei um de seus joelhos, por cima da meia ¾. Ela riu, provavelmente pelas cócegas na área sensível, porque tentou sair do meu abraço estranho.

 –  Heidi, pelo amor de Circe, diga logo o que você quer pra gravar as notas dessa maldita música no meu violoncelo enfeitiçado!

Olhei para cima e ela sorriu daquele jeito travesso que só servia para me mostrar o porquê dela não ter sido colocada na Lufa-lufa.

 – Pedindo com tanto jeitinho...

***

Saindo das últimas aulas da semana, último treino teórico da escolinha, finalmente estava deixando para trás também a última reunião do Ocaso antes do recesso de fim de ano. A reunião foi meio agridoce, porque toparam publicar meu convite relacionado ao desejo de Heidi, mas em troca eu ganhei uma responsabilidade de aprofundar as pesquisas a respeito do que Claire falou de Hogwarts e uma bronca porque envolvi Lily e companhia no meu trabalho.

Ah, bom, mas eu estava apenas terceirizando as atividades, porque não sou polvo para conseguir dar conta de tudo!

Obviamente rolou barraco também, porque acrescentei na minha argumentação - que algumas pessoas de fora poderiam usar as palavras “gritada” e “agressiva” para definir - que eu estava pensando no futuro dos Iconoclastas, quero dizer, eu estava começando a sondar e preparar as monstrinhas para, talvez, quem sabe, herdar o Ocaso daqui alguns anos!

Claro que Aidan chorou porque ia ficar muito sonserina a nova geração, daí Louise começou a dizer que eu precisava ser inclusivo nas minhas sondagens de aprendizes e eu disse a ela que ela era uma ridícula mesmo, quero dizer, como eu ia falar com primeiranistas e secundaristas de outras casas sendo da Sonserina?

Então ela me disse que eu tinha a escolinha e vários alunos de outras casas com idades próximas as de Lily, Lena e Varvie! Retardada e preguiçosa essa minha irmã! Enrique - que finalmente usou a voz para falar algo útil no Ocaso - perguntou se o critério para entrar aqui era me conhecer e eu a olhei com a melhor cara de “Pois então, Louise?”.

 – Eu já falei isso um milhão de vezes: vocês confundem proatividade com obrigação. - John falou em seu tom fatalista, sem encarar ninguém em específico. – Inclusive estou aqui entregando o Prime, porque essa semana mais dois alunos entraram em contato com a gente, totalizando seis com Tony, que está infernizando minha vida com uma investigação sobre o porquê a comida da Sonserina é a pior de todas!

Todos nós olhamos para Tony acusadoramente e ele pôs as mãos para cima como se fosse inocente, coisa que ele não é, já que ele não precisa ficar enchendo o saco de John no Prime em buscas de respostas que todos nós sabemos:

A Sonserina sofre bullying dos elfos!

 – Estou mantendo meu papel na frente de Rose, inclusive tive que ir prestar depoimento para o diretor, dizendo que só consegui falar com o Ocaso uma vez e agora toda vez que eu tento, sou ignorado. - Ele se defendeu todo irritado e eu revirei os olhos para a idiotice dele.  –  O que não deixa de ser verdade, John está me ignorando.

 – Estou mesmo, porque tenho mais o que fazer. - O corvinal resmungou enquanto limpava os óculos na capa, de olhos fechados. – Que tipo de investigação é essa, de qualquer forma? Elfos perdendo tempo fazendo duas comidas para perturbar os sonserinos? Me poupe!

 – Você fala isso porque nunca comeu da nossa comida! É sem graça e os feijões sempre parecem passados do ponto e os ovos nunca tem a gema mole! - Rebeca esbravejou e eu a olhei com nojinho, porque, eca, gema mole!  – Eu tenho gosto refinado, Cesc, supere isso.

Estou vendo, namorando com Scorpius Malfoy...

 –  Nós estamos meio que fugindo do ponto, que é: o que você quis dizer com proatividade e obrigação, John?  - Aidan se mostrou sensato e todos o olhamos impressionados pela seriedade, pena que ele estragou o efeito sorrindo, ficando com aquela cara de menino de cinco anos dele.

 – Não seja cínico, Hataya, você é um dos iconoclastas que quando vê trabalho, sai correndo porta fora como se tivesse Fogomaldito lambendo as botas! -John acusou e eu, claro, olhei para os sapatos de Aidan, que na verdade eram coturnos bem maneiros e não botas! Gostei muito, vou perguntar onde ele comprou...  –  Eu e Cesc nos voluntariamos para cuidar das coisas uma vez e agora tudo é a gente que faz!

 – Ah, mas que baixaria, Westhampton... - Rebeca falou com um tom de quem estava desapontada. E John levantou as mãos como se dissesse “Pronto, falei! Lidem com a verdade agora, vadias!”.

Ele se jogou em um dos almofadões que Fred havia colocado no canto mais assimétrico da nossa sala maravilhosamente torta, olhando para o teto de braços cruzados. John era um menino muito birrento!

Mas não deixa de estar certo!

 –  Ah, John ingrato! E todas as vezes que eu te trouxe água e perguntei se você queria ajuda? - Aidan perguntou daquele jeito lufano dele e John o encarou cético. – Que eu não pudesse te ajudar de verdade pouco importa, o que vale é a intenção!

 – Vocês estão sendo dramáticos, eu acho que...

 – Eu não disse nada. - Cortei o discurso de Louise e ela me olhou irritada. – “Vocês “ é muita gente.

 – Eu sei que não, mas isso não vem ao caso, o que importa é que só porque vocês fazem algumas tarefas do Ocaso, ditas importantes, acham que os outros não fazem nada! - Ela se levantou em seu melhor tom de guerrilheira e eu fechei os olhos e joguei a cabeça para trás. Queria estar morto. – Sabe o que seria bacana? Se a gente trocasse de posição!  Você e Cesc passam a escrever os textos e eu, Rebeca e Aidan fazemos o que quer que vocês dois ficam fazendo e reclamando o tempo todo!

 –  E o resto de nós faz o quê? - Tony perguntou confuso e Louise deu aquele olhar demoníaco pra ele, que o bichinho nem merecia. Fred pôs as mãos atrás da cabeça, olhando tudo com diversão. 

 – Fazem o que vocês sempre fazem: número e volume. - Scorp olhou Louise indignado, Fred nem ligou, porque ele estava finalizando os portais e pra ele a opinião dos outros pouco importa, Albus deu risada, porque todo mundo sabe que a maioria das informações é ele quem traz e Enrique...

Ficou calado, porque só faz número mesmo, não tem nem como defender.

 –  Ok, santa, obrigado pelas férias. - Falei feliz da vida e minha querida irmã me olhou ainda mais azeda. – Reunião encerrada?

Aos resmungos de “tá”, “que seja” e “tanto faz”, bati com o punho na mesa, na falta de um daqueles martelinhos que os juízes usam para presidir suas sessões importantes no tribunal. Tony me olhou tranquilo.

 – Não se preocupe, vou roubar o martelinho de Rose pra gente. - Me confidenciou solícito e eu sorri animado, porque com martelinho não tinha como as coisas darem errado!

Antes que Segundo e Albus saíssem por um dos dois lados do portal que já estavam finalizados no plano de Segundo, complexo demais para mentes ordinárias compreenderem, os chamei de volta.

 – Meus queridos capangas da Grifinória, tenho um pedido para vos fazer. - Os dois reviraram os olhos, já prontos para me ignorar. – Calma, minha gente! É coisa boa, para alguém que realmente merece.

Os dois se entreolharam e eu continuei sentadinho, porque dessa vez eu estava fazendo algo legal sem nenhuma maldade no coração, o que se não era a primeira vez na história, devia ser a segunda.

 – Gostaria que vocês me ajudassem com um presente de Natal bem legal...

Ai, a época dos milagres natalinos começou!

***

Eu não mereço isso.

No último final de semana antes das férias de Natal, cá estou eu, pagando o favor de Heidi vendendo minha alma para o diabo, porque é isso que dá você pedir favores a qualquer um da minha casa!

Puxei o protetor de rosto e pescoço verde e prata mais para cima, porque havia frio e havia neve, neve quase até os joelhos, tudo isso junto e misturado a um bando de desocupados no semicongelado campo de Quadribol da escola. Longbotton sorriu por baixo de seu gorro, até que bonito, provavelmente um presente antigo de Louise e eu fiz um gesto obsceno pra ele.

 – Por que está tão mal-humorado? Foi ideia sua fazer esse amistoso entre casas! - Ele disse aquecendo uma mão na outra. – Isso vai ser divertido.

Revirei os olhos, mas depois focalizei o público crescente que já tomava seus lugares na arquibancada coberta por uma fina camada de neve caída na última noite, sem as tradicionais flâmulas das casas que iriam jogar as envolvendo. Eu disse que eram um bando de desocupados? Porque são assustadoramente desocupados, todos eles!

 – Não foi ideia minha, foi ideia de uma de minhas mais loucas jogadoras e porque você é igualmente idiota, topou essa maluquice. - Ele fez um biquinho falsamente ofendido, mas depois se dirigiu a sua equipe do outro lado do campo.

Sim, Heidi havia proposto que fizéssemos um amistoso com outra casa, para, em suas palavras de maluca “mantermos o espírito de rivalidade hogwartiano aceso” e claro que bastou apenas um convite no Ocaso na madrugada para termos público nas arquibancadas e um sim retumbante da Grifinória pela manhã na minha mesa metafórica.

E eu achando que conseguiria escapar dessa fria. Literalmente.

Reuni o grupo no campo, na pequena área onde deveria haver areia, mas só tinha neve, para dar as últimas instruções que consistiam em um: não se matem, porque a equipe não era exatamente a que eu estava acostumada a comandar. Vi com bons olhos o oferecimento de alguns membros de outras casas para jogar no lugar dos meus atletas preguiçosos da Seleção em ambos os lados.

Minha artilharia era toda oficial, graças a Merlin, com Lia, Romeo e Heidi muito satisfeitos de finalmente estarem jogando juntos de novo. Tony reclinou o convite, preferiu assistir à partida de fora, então coloquei Callum Gilly, o bom batedor lufano, em seu lugar.

Sim, houve críticas ferrenhas dos dois lados pelos corredores, então por isso mesmo marquei o jogo para às 8 horas da manhã de um domingo de neve: para evitar os danos e briguinhas esperados entre as cobras e os texugos. Mas não funcionou, porque basta poucas horas para a Sonserina encrenqueira arrumar problema, admito, minha casa, minha culpa.

Reclamei com os meus colegas nos corredores da vida a caminho do campo por conta das azarações contra lufanos às 6 horas da manhã: NÃO É COMO SE EU TIVESSE OPÇÃO, SEUS PORRAS!

Isso porque infelizmente o também lufano O'Brien foi substituir Mogilka na Grifinória - o que me deixa muito feliz, já que os gêmeos siameses do bastão de lá foram finalmente separados pela formatura - e Connor, minha primeira opção, não foi encontrado até o fechamento desta edição.

Vamos de Gillywater mesmo e fiquemos felizes!

Scorp também não aceitou participar, disse que passado o campeonato, ele iria oficialmente se aposentar, então coloquei Marco Habermas em seu lugar, já que a vaga de goleiro é praticamente dele, não vamos nos enganar.

Mas é claro que a baixaria é muita e Derek Drakarr, aquele encosto que eu não sei pra que inferno foi colocado na Terra, veio reclamar de protecionismo e eu disse na cara dele que era protecionismo mesmo, que ele fosse lá reclamar com o energúmeno do Harry Potter, que se me perguntar a cara como é, nem sei mais, porque colocou Lupin para dar a última aula em seu lugar e nos deu folga da Seleção.

E se deu folga da diretoria da Sonserina também, por isso essa filha da putice toda!

Na Grifinória, além de O'Brien, eles haviam colocado Elsie Dunigan da Corvinal, uma garota com cara de que usa as mesmas drogas de Frank, substituindo a ironicamente nerd, Tracy Ackyman, única com cérebro pelas bandas de lá, que está estudando loucamente para os NIEM's.

Percebi um burburinho estranho na concentração inimiga enquanto ainda passava as instruções finais para um Gilly animado de jogar com as cores sonserinas, porque sim, transfiguramos o uniforme de jogo dele para as nossas cores.

O texugo ficou esquisito no verde e prata, mas vai dar para o gasto.

 –  Segura esse raciocínio, Enrique, deixa eu ver o que aqueles trombadinhas estão aprontando dessa vez. - Obviamente Enrique me ignorou e continuou tagarelando seu plano de jogo torto para o time, então me encaminhei decidido para a turba leonina, atravessando com dificuldade a neve acumulada.  –  Ok, crianças, o que é que tá pegando?

Eles saíram daquela posição de conversa secreta com as cabeças juntas para me encarar com expressões divertidas.

 –  Nada de mais, Cesc, Theodor aqui estava me dizendo que ele acordou indisposto e não vai mais poder jogar. - Frank me disse com sua cara pirracenta, não muito diferente da do dito doente. Coloquei as mãos na cintura, encarando ele com minha melhor cara de “sério, trasgo come lixo? A madame está indisposta?”.  –  Mas não se preocupe, nós temos um substituto.

 –  Ai que bom, já ia começar a me desesperar caso você não tivesse quem protegesse essa sua cara de quem toma vacina com dardo tranquilizante... - Cannabisbotton revirou os olhos, ainda com um sorriso no rosto. Desconfiei. – Quem você disse mesmo que era o batedor substituto das fezes de marmota aqui?

 –  No caso, o substituto sou eu. - Virei para o cara alto e com cara de entojo trajando um uniforme da Corvinal, que falou isso arrogantemente.

 –  Ah, mas se não é a própria personificação das fezes de urubu de que falam as lendas! - Olhei de cima a baixo para o setimanista Sebastian Drakarr, até onde se sabe melhor amigo de Haardy, irmão mais velho do retardado da minha casa com quem briguei hoje mais cedo e ARTILHEIRO da Corvinal. – Vocês não têm maturidade de onde quer que você e a peste do seu irmão venham, não?

 –  Não sei do que está falando, Fábregas, estou aqui todo trabalhado no espírito esportivo! - Ele deu de ombros sonso, recebendo um tapinha divertido do lufano filho da mãe que eu jurava que já tinha trazido para o meu lado na Seleção...

Talvez ele tenha me ajudado apenas pelos briganeiros mesmo, mas que troll!

Acompanhei com o olhar O'Brien retornando para perto da sua namorada atual, Maggie Duran e tive que aguentar um dar de ombros da ex dele, Alice Corpman, como se dissesse “ele é leal até não ser mais, lamento”.

Merlin, já tinha até esquecido que ele namorou com a vice capitã do time da Lufa-lufa um dia, o cara é um merda mesmo, protegia ela do mesmo jeito irritante que faz com a atual nos jogos da Seleção! Virei irritado para Drakarr, mesmo ele não tendo culpa desse fato em específico.

 – Sem problemas. Quebrarei você hoje e então seu irmão caçula amanhã, porque eu não gosto de deixar as lavinhas vivas pra me perturbar mais tarde. - Ele me encarou irritado, batendo o bastão ameaçadoramente na mão. – Vamos começar logo esse amistoso, margaridas?

Trechinho do próximo capítulo:

— E o que houve com a cara do senhor Fábregas, gente? - Ele não olhou para mim quando perguntou isso, só apontou com uma das mãos e um olhar que cobrava que alguém se responsabilizasse pela tragédia.

Eu honestamente ainda nem tive coragem de me olhar em nada, nem sequer em uma das armaduras do corredor, quanto mais em um espelho, porque o único lugar do meu rosto que não doía ou ardia era o espacinho entre as sobrancelhas.

Não doía ainda.

— Eu gaí no jão. - Falei cínico, Potter me olhou cético.  – Gom a gara. Várias vezes.

— Sei... - Ele disse duvidoso e eu ouvi alguns risinhos desnecessários ao fundo.

— Devia dêr visto como vigou o jão. - Falei bem humorado.


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Notas finais do capítulo

Como eu digo pra minha irmã, às vezes os personagens me dão cada trabalho, quero dizer, esse jogo aqui não estava previsto não. Ele já está até q escritinho, mas provavelmente não vou postar hoje, tenho que ter um cap na manga, caso eu não consiga escrever nada nessa semana q vem. Não quero demorar muito pra postar, então agora estou toda estrategista.

Bjuxxx

(Tenho nem mais cara pra falar em comentário, não tô dando conta de responder, mas adoro ler, que problema, viu? Se consolar vocês, muita coisa eu acrescento, só pq vocês dizem "ah, tomara q mostre isso", então continuem, pq alguma vantagem tem.)