Hogwarts: uma outra história escrita por LC_Pena


Capítulo 78
Capítulo 78. Truques de ouro


Notas iniciais do capítulo

Em cima da hora, mas o importante é que não atrasei de novo. Só para lembrar, já que ainda não consegui responder a todos, Castelobruxo é uma escola que contempla toda a América do Sul e eu até ampliei para a Latina para encaixar um pouco de México, logo as referências não serão só brasileiras.

Nosso instituto padrão ouro está no meio da Floresta Amazônica e quem teve o prazer de vê-la pessoalmente esses tempos, nos diz que está muito bem preservada em alguns trechos, imagina em um lugar protegido por magia? Vai ter muita árvore e água doce sim, se projetei meus melhores votos para a África em Uagadou, por que não faria o mesmo com nossa Castelobruxo? Deixa eu sonhar e...

Enjoy



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Capítulo 78. Truques de ouro 

Olha, pouco me importa o que o guia estúpido de Scorp a respeito das oitos escolas participantes do torneio de Quadribol - eu sinceramente não sei porque ele gastou dinheiro com isso - fala do idioma oficial de Castelobruxo, quero dizer, e daí que a língua oficial do Brasil “com s” é o português? O resto todo da América Latina fala espanhol e por isso mesmo, eu sou um guia muito melhor do que qualquer livreto sem vergonha! 

— Aquelas instruções em português que você... Ignorou, deviam estar nos dando uma solução para isso! - O ainda vivo loiro lazarento que eu tenho o azar de ter como amigo fez um gesto amplo ao falar a palavra “solução”. 

Parei de subir a escada que, agora que estamos nela, dá pra ver que é um ouro tão falso quanto o cabelo dos Malfoy, que todo mundo sabe que é platinado só por causa das poções descolorantes que os elfos colocam no tanque de água de Malfoy’s Manor, juro que o meu cabelo até saiu mais clarinho depois de só alguns dias lá! 

Por que eu estou falando disso mesmo? Ah sim! Porque estamos nas escadarias de ouro falso do templo maia, inca ou asteca, que podem ou não ser a mesmíssima coisa, tenho que estudar mais essas culturas que, aparentemente, meu povo dizimou. 

— Solução pra quê, Scorp? Você literalmente vem de uma escola feita de degraus, do que você está reclamando exatamente? - Respirei fundo, porque a brisa soprada pela floresta era fresca e deixava todo o verde brilhante ainda mais bonito lá embaixo.– Vejo que temos mais um invejoso das minhas habilidades, primeiro minha feitiçaria africana, agora minha fluência no espanhol... 

Tony sopesou, eu espero, um complemento para a minha resposta, mas no fim das contas foi Aidan que falou pelos dois espectadores que estão acompanhando nossa discussão - minha e do piolho de farmácia - há pelo menos 30 degraus. 

— Cesc, eu ouvi dizer que aqui tem pelo menos um zilhão de idiomas nativos diferentes e como a escola é velha, me parece que nem você e muito menos Scorp estão certos. A língua oficial deve ser uma completamente alienígena pra gente! 

— Ah sim, também li isso no meu Introdução à escolas latinas: “quando um Lufa-lufa tem razão em algo, é sinal de que o fim está próximo.” - Tony falou muito sério e Aidan o encarou sem paciência, afinal, não é todo dia que o coitado fala algo que preste.– Baseado nas evidências livrísticas, voto para que Cesc volte para a base da escadaria e desvende como chegar ao topo, sem ser assado nas escadas douradas. 

— “Livrísticas” não existe. 

— Como você poderia saber, Cesc? - Mas olha que disparate, esse é o segundo moleque sem noção que coloca em cheque hoje meus conhecimentos linguísticos, essa palavra sim existindo no dicionário inglês! Vou amarrar Potter e Tony em um desses barquinhos de madeira desses que eu vi aos montes por aqui e torcer para que os dois despenquem de uma cachoeira bem alta! 

— Não vou descer merda nenhuma! Estou quase cogitando jogar um de vocês lá embaixo, mas tô na dúvida de quem tem a cabeça mais dura... Embora ache que Aidan seja molinho por dentro, tenho a impressão que ele também pode ser crocante por fora... 

Nem Scorp  pôde evitar o riso com a cara de indignação do texugo e Tony, sem noção como sempre, enfiou um dedo atrevido na bochecha de Aidan para comprovar a textura. Eu ia usar o breve estapeamento ridículo dos dois que veio logo em seguida, para dar um empurrãozinho em ambos - calma, eu iria frear a queda deles com um leviosa - mas ouvimos uma voz cheia de sotaque soar atrás de nós. 

— Estão aproveitando a subida, gringos? - O inglês era razoável, mas o deboche era completamente desnecessário. Dois garotos que não deviam ser muito mais velhos do que nós, estavam subindo a escada sem esforço. 

Como se estivessem flutuando. 

Em uma escada rolante. 

Em uma escadaria velha feita de pedra rústica dourada. 

Os dois tinham bons reflexos, porque saltaram assim que um jato vermelho quase atingiu seus pés. Bem feito, era bom que eles se lembrassem dessa sensação de medo na próxima vez que pensassem em provocar sonserinos de novo! 

— Criança destemperada, lembre-se que na prisão brasileira não tem suco. - Guardei minha varinha muito satisfeito que os dois engraçadinhos aceleraram o que quer que seja que os está levando escada acima.  

Espera um minuto aí... 

— Tony, agora é sério, você está lendo minha mente? - Ele me olhou com sua melhor expressão de tédio, mas isso não me tranquilizou em nada, porque eu já tive vários indícios de que esse idiota está me espionando mentalmente!– Essa coisa do suco eu só pensei, não falei, como você poderia saber disso? 

— Ah claro, porque a idiotice de pensar que a menina lá embaixo quis dizer com um “a prisão é diferente da escola” um “Não tem suco na prisão”, é um privilégio só seu... - Scorp falou sarcástico, projetando um guarda-sol escuro com a ponta da varinha, uma bela adaptação do nosso tradicional feitiço guarda-chuva. 

— Você tem que admitir que foi uma idiotice bem específica. - Aidan tentou, sem sucesso, se enfiar na proteção do loiro e eu me limitei a olhar para Tony, desconfiado. A mim você não engana, seu traste!– Falando em idiotice, lembrei de uma coisa importante! 

Aidan sacou o celular do bolso e começou a mexer nele rapidamente. O quê? Vai ligar para a mãe? Agora? No meio de uma caminhada extenuante ou no caso, na parada sem propósito da caminhada extenuante? 

Ele virou a tela na minha direção e eu sorri, entendendo que até que pode ser bem espertinho, o nosso texuguinho. 

— Ah sim, claro! 

*** 

Certas coisas não tem preço, como por exemplo, encontrar e executar um feitiço em espanhol - e em outros dialetos, mas isso pouco importa - nas selfies de Aidan na base do templo, que estava nos proporcionando um deslocamento rápido e confortável. 

A paisagem estava até mais bonita, havia a floresta sem fim e mais a frente um rio caudaloso cortando o verde quase como uma serpente gigante... Ai que poético, é como se o Brasil pertencesse a Sonserina.  

Nosso próprio país de estimação! 

Parei com meu pensamento megalomaníaco ao ser cutucado nas costelas por Tony. Olhei para onde ele apontava e vi, quase que mudando de face no templo de base quadrada, no extremo da escadaria, um grupo de grifinórios subindo os degraus com muito esforço. 

Inclinei meu corpo para a esquerda, porque esse feitiço de deslocamento era sensível e respondia mudando de direção quando você se mexia para um lado ou outro. Aidan que o diga, ficou zigue-zagueando seu caminho ascendente desde que descobrimos isso. 

Agora estávamos todos em uma diagonal bastante promissora, indo em direção aos nossos adoráveis amiguinhos. 

— Tadinho dos leõezinhos, estão queimando as almofadinhas das patinhas no sol quente... - Eu abri a boca, meio que sem palavras, mas nem pude olhar para a cara de deboche de Aidan, porque a expressão de Lexa e Cameron, que eram os que estavam mais próximos da gente, foi impagável!– Nos vemos lá em cima! 

A artilheira Grifinória, hoje com duas pequenas  tranças embutidas que começavam castanhas e acabavam vermelhas, mudou a expressão de adorável confusão para adorável homicida. Sim, sim, não importa o quê, acho Lexa Prutt bastante adorável! 

— Você é um texuguinho morto, já que estamos colocando as coisas nesses termos hoje. - Scorp falou sem tirar os olhos do seu livro e por isso mesmo tropeçou quando o feitiço se findou e finalmente chegamos as portas principais de Castelobruxo. 

— Ué e por que isso? Todo mundo sabe que as brincadeiras da gente são sem maldade! A regra primeira de Hogwarts é : para os texugos só amor! - Aidan falou de um jeito que me fez esperar um arco-íris brotar de orelha a orelha ao redor de sua cabeça. 

Desconheço tal regra. 

— Na Sonserina a regra é: para os texugos só zoação! - Tony disse solicito e Aidan o olhou chateado.– Mas não se preocupe, hoje você está com a gente, então já sabe, o tratamento que você vai ganhar é o das serpentes! 

Meu amigo falou isso como se fosse algo bom, mas até mesmo Aidancórnio sabia que o tratamento VIP reservado para os sonserinos começava com dor e terminava com humilhação, não necessariamente nessa ordem. Todo mundo nos ama e ama ainda mais nos pegar desprevenidos em um corredor qualquer. 

— Que tipo de tratamento? - Ah não, ele não sabe não. Aff, mas que saco, estamos em frente à entrada principal de um dos lugares mais extraordinários que vamos ter a oportunidade de pôr os olhos, mas também estamos aqui, ensinando o alfabeto para um lufano! 

— Pessoal, dá para focar na enormidade do momento? Somos os primeiros da nossa comitiva a adentrar no precioso Castelobruxo! Se tivermos sorte, a preciosidade do castelo vai se converter em tesouros reais para gente... 

Essa última parte eu obviamente sussurrei, porque não quero ninguém pensando que vamos surrupiar nada debaixo dos narizes latinos, não é como se nós, europeus, tivéssemos um histórico como ladrões contumazes nem nada... Ai, ai... Ainda bem que ninguém pode ler minha mente! 

Com exceção de... Olhei para Tony, acusador e ele fez uma cara de “Quê?” que não me convenceu nem por um segundo. Estou de olho em você, Zabini! 

— Que tipo de tratamento os grifinorios vão me dar?!?!?  

— Um enigma secular! - Scorp fechou o livro com um baque surdo e uma cara de maníaco. Ninguém entendeu nada, porque não está na natureza Grifinória ser enigmática, eles vão pendurar Aidan de cueca, depois de colocar uma perebas nojentas nele! – Castelobruxo tem um enigma secular, que se acertarmos, poderemos levar qualquer coisa que queiramos daqui!  

— Ah, agora sim você leu minha mente, lombriga asmática! - Scorp me olhou com cara de poucos amigos e eu sorri inocente.– Lombriga é melhor do que verme, verme eu acho cruel. 

— Verdade, lombriga é carinhoso, ainda mais quando vem acompanhado de asmática, albina, platinada, oxigenada, transparente... - Pisquei pra Tony, se ele não fosse tão irritante, seria minha alma gêmea. 

— Deixando essa babaquice de lado e voltando ao enigma, diz a lenda que ele está aqui na entrada e embora não seja necessário pra entrar, uma vez dentro, você perde a chance de responder. 

— Onde está? – Perguntei animado, porque vocês já sabem o quão bom eu sou com enigmas. Scorp me olhou empolgado também. 

— Tem que tocar o Códice Borbónico Asteca. 

— Ah, tá...  

— Que é o calendário deles. - Nós três continuamos olhando para a cara de Scorp e ele nos olhou sem paciência.– Aquela figura bem ali de uma serpente alada comendo um homem com vários símbolos ao redor! 

— Ah, tá! Porque somos todos obrigados a saber dessas coisas, senhor Westhampton Júnior! 

— Deixa eu tocar, por favor, por favor, por favor! - Tony fez menção de alertar a Aidan que essa talvez seja uma má ideia, mas no último segundo ele parou. Deve ter percebido que precisaríamos de um voluntário e um Lufa-lufa é o melhor sacrifício que a gente pode conseguir por essas paragens. 

— Vá em frente, amiguinho! 

Pobre Aidancórnio, foi todo iludido apertar a pedra, como se estivesse em uma daquelas cabines de adivinhação trouxas de parque de diversão. Ele soltou um grito exagerado e recolheu a mão ferida logo em seguida. 

— Ele me mordeu! - Nós três, sonserinos que somos, olhamos com pena, mas não surpresos realmente, porque a cena desenhada na entrada de Castelobruxo era toda sobre sacrifício humano.– Que coisa mais absurda para se ter numa escola, uma estátua mordedora! 

Ele estava bem certo em dizer isso, na parte da estátua mordedora pelo menos, porque a cobra e cara devorado deram lugar a uma bem pouco simpática careta dando língua. A língua estava suja com o sangue de Aidan, diga-se de passagem, tudo muito didático e inocente. 

— Queremos o enigma, grandioso Tonatiuh! - Scorp falou em seu jeito afetado, Tony e eu nós entreolhamos e Aidan só ficou tentando estancar o sangue da mão mesmo, só não o ajudo porque, vai que a gente precisa de mais sangue? 

Aquin huetziz axan? Canin hueyiyaz,icalaquiantlacah?— O senhor careta não mudou a cara, mas a voz retumbou pela entrada em formato de trapézio, que tinha uma área grande tomada por peças com cara de valiosamente velhas, antes da porta que dava para o castelo em si. 

— Alguma suges... 

Quem irá cair hoje? Onde eles crescerão, homens brancos?  Olhamos para trás para dar de cara com uma garota bem baixinha, de óculos grandes e espinhas na testa, uma figura nada compatível com a voz cavernosa que falou essas últimas palavras.– No caso, não homem “branco” literalmente, está mais para “homem do ocidente”, do Oeste, isso se você pensar no sentido de quem vem da Europa pra cá pelo Oceano Pacífico... 

— Hum... Você é o que mesmo? O nosso dicionário de Bolso? - Meu Merlin, isso é Tony tentando parecer simpático? A menina jogou os cabelos para um lado do ombro e ela sim, sorriu simpática. 

— Sou Clara, sua anfitriã, possível crush, se você for dessas coisas... - Ela falou divertida, dando leve cutucões na cintura de Tony. Finalizou tudo com um dar de ombros.– Se nada mais der certo, podemos ser apenas bons amigos! 

— Então tá, criança. Somos Scorp, Tony, Cesc e Aidan, ao seu dispor, mas agora, como você sabe o que a esfinge quis dizer? - O senhor loiro super prático falou tudo em um fôlego só, mal dando tempo da garota desviar o olhar para ele. 

— Não é uma esfinge, é só uma estátua boba, a resposta é “Nós cairemos quando os astecas voltarem. Eles crescerão nos seus jardins flutuantes”. - Ela falou entediada, revirando os olhos, como se fosse uma resposta bem óbvia. Que garota mais estraga prazeres!– Estou dando a resposta de mão beijada, porque o verdadeiro enigma é: podendo vocês terem tudo de Castelobruxo, o que vão levar consigo para todo o sempre? 

Ah, esse é um teste para pegar os possíveis ladrões de tesouro! 

Mas devo dizer que a resposta era difícil do mesmo jeito, então no fim das contas nem era pra mim esse teste... Sim, porque além de não muito bom com cultura pré-colonização, eu ainda sou todo um anjo, então o que mais poderia levar daqui, além de conhecimento e memórias? 

Repeti a resposta que a menina nos deu e a estátua brilhou, voltando para sua forma original. Todo mundo me olhou e eu dei de ombros, agora sim o teste é pra mim e pouco me importa se eu falhar, contanto que eu tenha um souvenir legal pra vender no ebay! 

— Seu nome lembra o da minha ex, então vou te chamar de Claire, ok? 

— Isso é estranho... 

— Só não mais do que eu te pedindo pra tirar a gente daqui AGORA, Claire! - Aidan falou isso quicando nervoso, enquanto ainda segurava a mão mordida. Só depois vi os grifinórios recuperando o fôlego no início da escada, muito perto de nós pra ser saudável. 

— Por favor, nova Claire, nos ajude novamente! - Tony teria ajoelhado se ela tivesse pedido, mas ao invés disso, a menina sorriu, apertando uma imagem diferente, essa mais rústica e simples e meu amigo apenas caiu dentro de um fosso saído do nada. 

Bem, na verdade todos nós caímos no maldito fosso saído do nada! 

*** 

Seria bom dizer que como os gatos que somos, caímos todos de pé elegantemente, mas nem Tony conseguiu essa façanha. Não descemos um longo tubo e nem fomos parar em um trilho a lá laboratório secreto da Yzma da Nova Onda do Imperador - grande desenho da Disney, me identifico com o protagonista - apenas nos embolamos na queda, eu tendo o azar de parar com a cara em partes do unicórnio que eu nunca quis conhecer. 

— Porra, Cesc! - O dito unicórnio disse dolorido e eu apenas me desvencilhei dele, encarando aquela fada mordente espinhenta de óculos com muito ódio. É assim que se salva as pessoas por aqui? Quase as matando? 

— Ai, merda, meu joelho! - Esse lamento foi de Tony, então eu olhei desesperado para o meu batedor titular - a essas alturas eu já estava até bem para substituir ele, mas se era pra assumir o lugar de alguém, preferia que fosse o de Connor - mas ele depois suspirou aliviado.– Não, tá tudo bem! Só peguei a perna magrela de Scorp por um segundo e achei que era a minha, tá tudo bem, perna com músculos no lugar certo de novo! 

— Que sentimento agridoce esse de estar feliz por você estar bem, mas ao mesmo tempo te querer bem morto, Tony! - Scorp se levantou espanando as vestes, sendo ele o último a sair do chão.– Você e Cesc vivem testando minha amizade...  

— Olha... Eu só estou me dando mal aqui no Brasil, então acho que agora só quero saber o caminho do meu quarto mesmo, Claire.  

Tadinho de Aidan, o abracei de lado, porque realmente se tinha alguém que não merecia ser maltratado pela vida, esse alguém era o adorável irmão mais velho de Akira Hataya. A menina que não devia chegar nem na altura de Lily nos sorriu sensibilizada. 

— Não vou levar vocês embora ainda, podem até pensar que eu vim cumprimenta-los apenas porque sou uma garota boazinha, mas na verdade eu estou aqui numa missão! 

Todos olhamos desconfiados para aquela garota de vestido estampado por baixo da tradicional capa verde floresta de Castelobruxo. Ela, assim como Laís Alves, parecia muito feliz com o seu lugar no mundo. 

Aparentemente essa escola é uma fábrica de autoestima! 

— Que missão? 

— A rainha disso aqui colocou os olhos em vocês e disse “que delicinhas, quero para mim”, então cá estou eu trazendo vocês pra ela. 

— Rainha? - Perguntou um Tony surpreso, mas eu fui para o mais importante de tudo isso. 

— “Delicinhas”? Ela usou essas exatas palavras? - A menina deu de ombros, segurando uma mão na outra, como se estivesse apenas fazendo seu trabalho ingrato. 

— Ela falou em espanhol, porque é da Argentina, então a tradução para o inglês é toda minha! Precisam ver as palavras fantásticas que temos em português para descrever o que nos agrada... - Ela deu uma piscadela pra Tony, que procurou ao redor com quem ela estava falando.– Talvez um de vocês tenha a sorte de ouvir essas palavras preciosas saídas de minha boca. 

— Eu acho que não, Clara, porque temos muita coisa pra fazer, então se puder nos indicar o caminho da biblioteca... 

— Biblioteca? Pelo amor de Merlin, Scorp, vamos no máximo ao refeitório e depois vamos em busca de algumas catacumbas escondidas, porque ainda não me conformo que Uagadou não tenha uma dessas! 

— Claro que tem, Tony, você que não esteve com um bom guia, infelizmente eu estava de detenção, senão teria te mostrado coisas que fariam você voltar a mijar na cama! 

— Vocês vão ver a rainha. 

— Da para vocês dois pararem de agir como se não estivéssemos visitando escolas? Uagadou não é um museu e Castelobruxo não é uma escavação arqueológica! - Scorp falou irritado, batendo em mim e em Tony com o seu guiazinho ridículo. 

— Vocês vão ver a rainha. 

— Aí é que você se engana, queridinho, Uagadou é sim um museu, embora eu ache que Castelobruxo está mais para uma galeria de arte diferentona comandada por uma curadora especialista em arte barroca rococó! RÁ, tá aí uma palavra engraçada: rococó! 

— Porque sua amada Hogwarts nem é um RPG barato com tema medieval. - Nós quatro, orgulhosos alunos de Hogwarts, olhamos ofendidos para aquela duende atrevida versão made in América! – Ganhei a atenção de vocês de volta, bom. Agora, se já pararam com essa conversa boba: Vocês. Vão. Ver. A. Rainha. 

Nos entreolhamos e decidimos seguir a garotinha esquisita, porque não é como se fizéssemos a mínima ideia de como sair daquele corredor de pedra com janelas em formato de trapézio e pinturas tribais em tecidos feito de cipó cor de areia.  

Nem tudo aqui era ouro e prata ostentação e isso deixava a escola muito mais acolhedora, pena que a guia estava se mostrando uma coisinha malvada e misteriosa. 

A garota nos olhou de cima a baixo uma última vez antes de seguir seu caminho, tendo certeza que a acompanhávamos de perto. Ai de nós que não o fizéssemos, porque os corredores se fechavam atrás de nós, do mesmo jeito que o alçapão por onde havíamos caído fizera há minutos atrás. 

— Vocês estão gravando o caminho de volta? - Aidan perguntou, mas ninguém o respondeu, primeiro porque não sabíamos nem de onde tínhamos vindo e segundo porque o chão virou uma rampa se inclinando em direção ao teto a medida que nos andávamos para sair daquele trecho do caminho bem iluminado pelo sol que entrava pelas janelas. 

Logo o que era chão se tornou uma parede, fechando mais uma passagem as nossas costas. 

— Nesse exato momento, eu só quero que haja um caminho de volta, Aidan. - A garota, agora muito macabra para o meu gosto, só porque era nossa guia nesse labirinto de esculturas - de ouro, prata, madeira, argila, cipó, pena e tudo mais que se possa imaginar numa profusão de cores estranhamente harmônica - parou de andar ante a uma última porta de madeira. 

— Chegamos. - Ela se virou com o seu sorriso simpático no rosto, mas tenho certeza que é essa a hora que a gente morre. Scorp estava certo, não devíamos ter aceitado o suco! – A rainha Iara vai recebê-los agora. 

— Espera, Iara como no... - Scorp abriu o livro que nunca saiu de sua mão desde que desembarcamos do dirigível.– Como no conto da sereia que seduz pescadores e depois os mata? 

Quê? 

A Claire, que não tinha nada a ver com a minha adorável ex-namorada Claire - assim como Laís Alves também não tinha, não sei qual era o meu problema por pensar que sim- nos sorriu enigmática, enrolando os cabelos compridos em um coque desleixado. 

— Nenhum de vocês é pescador, certo, docinhos? 

Ah, mas era só o que nos faltava, ser mortos por uma lenda brasileira antes mesmo de destroçar o violento time de Quadribol de Castelobruxo! Que se dane, saquei a varinha porque só vão me matar por cima do meu cadáver! 

Ok, isso não soou tão bem, ainda bem que não disse em voz alta. 

 


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Notas finais do capítulo

Meu povo, deu trabalho achar esse idioma asteca do enigma e formar uma frase coerente, o idioma náuatle, embora seja falado ainda em muitas regiões do México, não existe no google tradutor, que absurdo!

Na parte dos astecas, ainda farei mais referências aos maravilhosos jardins flutuantes deles, mas prometo que terá mais Brasil no último capítulo em nossa terra amada, idolatrada, salve, salve!

Curiosos pra saber quem demônios é Iara?