Hogwarts: uma outra história escrita por LC_Pena


Capítulo 77
Capítulo 77. Genialidade real


Notas iniciais do capítulo

Entre demandas da faculdade e gripe, eis que ressurge tal qual uma fênix, essa idiota que vos fala.



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Capítulo 77. Genialidade real

Era oficial: os pequenos protetores da escola brasileira não gostaram do nosso dirigível!

E eu estou rindo muito disso.

— Eles são bastante insistentes e criativos... - Scorp se interrompeu, só para ter o prazer de interromper a pergunta óbvia de Tony.– E não, criança, você não pode ter um desses.

— Não posso ter nada também! -  Ele fez um escândalo desnecessário, chamando para nós uma saraivada de peixes atirados nas janelas do salão de reunião em que estávamos dentro da embarcação.– Olha que gracinha, aquele do pezinho ao contrário gostou de mim!

— Qual? Todos tem os pés virados, cara! - Aidan falou confuso, mas sem tirar o sorriso do rosto. O unicórnio estava feliz que nem trasgo em lodo por ter sido um dos sorteados para estar aqui no Brasil com a gente.

— Aquele que o pé está marcando quatro e meia! Ali, olha, sacudindo os punhos com um notável senso de ritmo. - Aidan inclinou a cabeça para tentar seguir o tal ritmo.– Tum, Tum Tum, Tum, vê?

Já estávamos tentando manobrar o dirigível no rio de cor escura há pelo menos meia hora, mas sem grandes avanços, mesmo a diretora da escola brasileira - uma senhora com expressões simpáticas e vestes esquisitas - estando a frente das negociações com as criaturinhas.

— Precisamos conversar. 

— Isso é questionável. - Continuei olhando as ações políticas acontecendo na orla do rio, junto com meus mais amáveis colegas, incluindo Segundo, que parecia louco para descer e fornecer alguns artigos de artilharia para os protetores da floresta tropical de pés virados e cabelos vermelhos. James não esboçou nenhuma reação mensurável a minha resposta.– Acho que já falamos o suficiente.

— Você surtando e dizendo que a culpa é de Merlin e de não sei mais quem por sua situação de merda, não é conversar. - Pois eu acho que sim, então continuei ignorando ele, como ele bem merece.– Não quer falar? Ok, então eu falo sozinho!

— Que novidade...

— Estive dando umas buscas rápidas na Internet... - Olhei cético para ele, porque era só o que me faltava, James Potter se embrenhando nas garras da Deep Web! – Sim, não é exclusividade sua. Estou tendo aulas de bibliotecas virtuais em Estudos dos Trouxas e vi coisas interessantes sobre aquela criatura que não deve ser nomeada.

— Eu não estou interessado no que você encontrou na Wikipedia, Potter, sinceramente.

— Devo admitir que eu encontrei um monte de coisa, tudo soando como um monte de baboseira, mas eu também dei uma lida em alguns livros e acho que consegui traçar um raciocínio bem bom com todas as informações.

— Não confio no raciocínio de quem fala “bem bom”. - Ele sorriu daquele jeito infantil dele e eu apertei os olhos.

— Logo você que é tão bom em gramática me criticando... Que ironia!

— Ironia mesmo é eu ver vocês dois por aqui, assim, juntinhos. - Enrique surgiu de lugar nenhum, sorrindo meio misterioso enquanto olhava de mim para Potter.– Posso saber o que os dois estão cochichando cheios de segredos?

Poderia responder agressivamente de mil maneiras diferentes essa inconveniência, primeiro porque Enrique sim se parecia muito com um djinn, com sua pose de coisa antiga, mas que não presta em nenhum período histórico e segundo porque ele parecia estar colocando a mim e a Potter em uma cena degradante e pervertida em sua mente, porém fui impedido pelo grifinorio.

— Não estávamos cochichando, apenas falávamos em estratégias de Quadribol, talvez por isso seus ouvidos de leigo não captaram a mensagem. -  James ainda teve o atrevimento de dar uns tapinhas consoladores no ombro do apanhador mais velho e melhor que ele, diga-se de passagem, o que me deixou confuso.

— Potter, quem te ouve falar até pensa que você é o titular da partida de amanhã. - Enrique o olhou de cima abaixo, com um daqueles sorrisinhos de predador.– Que autoestima da porra, garoto!

Eu ri, porque se tudo mais no mundo estiver errado e confuso, essa ainda será uma verdade absoluta.  

— Vamos fingir que eu não pedi a meu pai pra finalmente te colocar no jogo, só pela bondade do meu coração. - Tive que revirar os olhos, James é tão patético.– Mas vou ficar com meu uniforme pronto, porque, vai que você não consegue achar a maçaneta da porta de novo e fica preso aqui?

Ok, disso eu não gostei nenhum pouco!

— Fique você sabendo que eu... - Enrique parou sua defesa, porque viu algo por sobre o ombro de James. Segui seu olhar só para dar de cara com aquela mulher pálida que vi com o irmão dele, o menos ruim, lá em Uagadou.– Olha, Potter, quer saber? Eu não  vou ficar aqui perdendo meu tempo me justificando para você. Adeus, garoto. Garotinho.

Depois de cortar o idiota ao meu lado com o olhar, ele me cumprimentou com mais deferência e eu acenei ao ouvir minha alcunha, ainda que não soasse tão bem como antigamente. Assim que Enrique saiu atrás da gafanhota albina e andrógina que trabalha para sua família, soquei o braço de James com força.

— Não fale da morte dele com tanto desleixo! Isso é sério, Potter, não estamos lidando com brincadeira de criança, estamos falando de vida e morte aqui. - Sussurrei agressivamente e o filho da mãe apenas levantou as mãos em sua defesa.

— Calma, eu só queria que ele fosse embora! Dussel sempre sai de cena teatralmente quando alguém fala desse lance da maçaneta... Acharia engraçado se não soubesse a verdade. - Ele falou em um tom irritante, que deu a entender que ele na verdade achava isso engraçado agora.

— Claro que sai, a memória deve ser confusa para ele, seu idiota! Céus, você não pensa não, Potter? - James estava caindo vertiginosamente na minha escala de simpatia, da qual ele só está participando em respeito a Pottinha e Sev, que fique bem claro!

— Deixe de piti, eu estou ciente da confusão dele, mas colocando isso de lado, só quero deixar claro uma coisa: eu estava certo. - Ele me olhou vitorioso e juro que me levou todo meu autocontrole para não jogar James Potter do dirigível nesse exato momento.

— Você por acaso é suicida? -  Sibilei pra ele e isso só o fez aumentar o sorriso ainda mais.

— Meu caro capitão, eu  apenas acebei de confirmar minha teoria graças a distração perfeita que você é para Enrique Dussel. - Parei de imaginar o pescoço sardento de James entre minhas mãos, só para ouvi-lo, porque ele realmente parecia ter algo importante a dizer.– Eu descobri que o djinn não é real!

James mordeu o lábio inferior, ainda sorrindo e esperando suas congratulações e eu poderia simplesmente dar um soco na cara dele por insinuar que o djinn, real para várias pessoas, inclusive ele, não existia, mas resolvi dar uma chance a ele de se explicar, porque esse tempo todo com o irmão e o primo afro-ruivo dele me ensinou uma ou duas coisas sobre essa família:

Eles preferem frases de efeito a explicar as coisas de primeira.

— O que quer dizer exatamente com isso, Potter? Você tem três segundos para lutar pelos seus dentes bonitos.

— É simples, capitão, aproveitei a última aparição do djinn para checar essa característica dele, talvez real não tenha sido o termo certo, o que eu quis dizer é que ele não é material... Ou algo assim.

— Ok, isso está ainda mais confuso, você ganhou uma prorrogação do prazo, desenvolva a ideia, criatura. - James tomou fôlego feliz, mesmo se distraindo um pouco quando sentiu o dirigível se mexer sob os nossos pés. Aparentemente a negociação acabou.

— Na primeira vez que vi a criatura no lago, eu senti essa sensação estranha em relação a todo o quadro, quero dizer, era obviamente seu pai, mas, eu não sei explicar, era só...

“Sabe que já tive a oportunidade de ver seu pai pessoalmente em duas ocasiões e, apesar de não saber os detalhes de suas feições, eu tenho uma boa ideia geral, já que também o vi nas suas fotos do celular.

Então, minha estranheza não era com a aparência em si, que era muito fiel, mas com o jeito de existir, sabe? Ok, eu não estou me fazendo entender, deixa eu ir logo para a parte de Enrique que eu acho que faz mais sentido.

O que era apenas uma sensação de algo errado com seu pai, que podia ser muito bem apenas por se tratar de uma alma diferente no corpo dele, ficou ainda mais forte quando vi Enrique! A coisa toda é, eu tenho um primo metamorfomago na família, Ted, você o conheceu, então sei bem como é alguém usando uma aparência diferente da sua própria:

Por mais fiel que seja a cópia, sempre fica um trejeito, algo do imitador na imitação e não é querendo me gabar não, mas Ted nunca conseguiu me enganar, porque ele tem um brilho arteiro no olhar, na ponta do sorriso também, que faz até sua imitação do tio Percy parecer bem humorada e acredite, isso é algo incrível!

Mas sobre o djinn, ele não tem esse aspecto dele na cópia, sabe? Você tem a plena noção que não é o seu pai ou Enrique falando, mas para além disso, a inadequação dele é algo além do físico, diferente do caso de Ted. 

E por isso eu posso afirmar com 100% de certeza que o djinn não existe! Ele não existe no plano real! Acredite em mim, já vi Enrique Dussel de todos os jeitos possíveis, infelizmente o cara não é um poço de decência e recato no dormitório, então quando ele apareceu, soube na hora que aquele corpo não era o real e nem sequer uma cópia barata! ”

— Como assim, James? Você deu essa volta toda e ainda não conseguiu explicar o que quer dizer esse seu “não é real”! - Falei exasperado e percebi que acabei atraindo a atenção de meus amigos pra gente. Droga! É melhor James ser rápido!

— Quero dizer que toquei no Enrique falso e no Enrique real e enquanto o segundo é bem sólido e humano, o primeiro não passa de fumaça. - O olhei sem entender e o quase ruivo complementou, satisfeito com essa constatação.– Era sólido, mas ainda sim fumaça, algo estranho ao toque, que só ficou claro agora que toquei no original.

— Está me dizendo que tocou no djinn e em Enrique só para verificar se o gênio era real? 

— Eu havia me expressado mal antes, ele é real sim, só que é um real falso, apenas uma projeção do que deveria ser, algo como uma imagem mental projetada no plano da realidade, sabe?

Minha cabeça estava rodando com todas as evidências  que corroboravam com aquilo: eu nunca havia tocado o djinn, porque quase todas as vezes que eu o via estávamos nos meus sonhos e tanto meu pai quanto Enrique estiveram neles na noite anterior a suas aparições corpóreas, logo...

— Está me dizendo que o djinn é fruto da minha imaginação?

— Eu não sei, infelizmente não posso dizer muito sem saber como você e Westhampton conseguiram libertar ele, mas isso pouco importa porque, se eu fosse uma criatura milenar sem um corpo próprio, vivendo preso a um bruxo de 14 anos irritante e manipulável, o que eu faria?

O encarei de boca aberta e o garoto arrogante fez um gesto elegante, como se pedisse para eu completar o seu raciocínio. Vou ignorar propositalmente a parte do irritante e manipulável, pelo bem dessa conversa importante.

— Eu daria um jeito de conseguir esse corpo pra mim! Mas como? - O grifinorio deu de ombros, sua esperteza fora do comum acabando aí.

— Não faço ideia, mas ao que parece, ele precisa de você mais do que você precisa dele, então... Não o invoque até termos a resposta, seu primeiro passo parece ser fazer você acreditar que está condenado, precisando desesperadamente dele.

O olhei realmente impressionado, porque isso fazia muito sentido.

— James Sirius Potter, quem diria que você é um gênio?

— Ha. Ha. Ha, Cesc, muito engraçadinho. Mas estou falando sério, fique longe dele. - Ele me olhou menos aborrecido e mais pateta, o que na verdade era uma troca ruim pra ele, na minha opinião.– Falta muito pra alguém como você se tornar algo como ele, mas a criatura obviamente tem um plano e teve muito tempo livre para planeja-lo, então todo cuidado é pouco.

Fiz que sim com a cabeça, ainda impressionado que James Potter, de todos os meus atuais parceiros de crime, fosse aquele que mais tivesse o raciocínio parecido com o de um djinn. Aparentemente o caçador de fadas mordentes da Grifinória era uma caixinha de surpresas!

Parabéns, senhor Potter, 100 pontos para a Grifinória pela genialidade!

***

Genial também foi toda a logística montada para nos recepcionar em Castelobruxo.

O deque onde deveríamos ter aportado era quase um porto de tão largo na orla do rio que também era um exagero de águas. E a floresta que víamos ao nosso redor era tão fechada e alta quanto o rio era extenso.

Será que o Brasil vai conseguir ser mais opulento e impressionante que Uganda?

A resposta estava no nosso comitê de boas-vindas, composto por quase vinte crianças e adolescentes com diferentes tipos de vestimenta exóticas - apesar de se assemelharem de alguma forma, com seus cabelos escuros e pele avermelhada - nos servindo bebidas tropicais.

Nesse calor, era quase uma obrigação eles fazerem isso!

— E a gente achando que os lufanos sabiam fazer festa... - Tony falou feliz, enquanto éramos recepcionados como reis. Ouvi dizer que há povos que agradam antes de abater os forasteiros, espero que não seja esse o caso, porque precisamos mais da vitória do que eles! Vencer esse campeonato  é uma questão  de honra agora! – Gracias, mi amor!

Revirei os olhos e Aidan riu, porque o flerte em espanhol de Tony é o tipo de coisa que não inspira nada mais além de risos. A morena bonita que nos entregou o coquetel de boas-vindas sorriu simpática, mas não correspondeu de maneira alguma o cumprimento.

O caminho de entrada do castelo era um mar de luzes e cores, aparentemente tudo abaixo da linha do Equador era feito de um material brilhante e quente, tenho quase certeza que não há nenhuma paleta de cores na Europa que possa reproduzir todo esse espectro da selva brasileira.

Tony apreciava  a paisagem tomando seu suco, fazendo um barulho irritante através do canudo e eu apenas bebi o meu direto do copo, porque eu não quero ficar tão ridículo quanto ele, fazendo biquinho.

— Se for veneno, vocês sabem que vão morrer, né? - Scorp continuou segurando seu drink intocado, um ingrato de marca maior, então todos o encaramos seriamente. O coquetel de frutas estava gostoso e assim como a comida de Uagadou na primeira semana, parecia que tinham maneirado no exótico para não causar estranheza na gente. – Só estou dizendo...

— Se for veneno, a gente morre feliz, diferente de você que vai viver uma vida longa e amarga. - Correspondi ao brinde bonito de Tony e Aidan se juntou a gente, mas como ele é um desastre ambulante, fez todo mundo molhar as mãos com o suco.

Claro que Scorpius, o muito idiota, riu.

A lombriga albina só parou de rir da nossa cara, quando tivemos o primeiro vislumbre da escola latina para jovens bruxos. Tony deixou o canudo cair da boca, porque, assim como todos os alunos de Hogwarts convidados, ele ficou boquiaberto.

— Aquilo ali é ouro? - Aidan perguntou com um tom reverente e eu apenas sacudi a cabeça, sem saber ao certo se estava dizendo sim ou não, porque a escola, que mais parecia um templo antigo, era coberta por maravilhosas pedras douradas e parecia brilhar com uma luz própria.

— Se vocês sonserinos tentarem roubar alguma coisa... - James sussurrou no meu ouvido e eu virei para encará-lo, irritado.– Podem pedir ajuda pra gente, porque não vamos querer que o nome da nossa escola seja jogado no lixo, você sabe!

Palhaço...

Já ia falar umas boas verdades sobre a hipocrisia Grifinória e sobre essa necessidade de James Potter de vir falar gracinhas pra mim, mas fomos desviados do caminho principal de Castelobruxo, por uma garota da cabelos ondulados, verdes na ponta, combinando com a sua capa cor de floresta.

— Não tão rápido, amigos, antes precisamos estabelecer algumas regras. -  Ela sorriu, mostrando um aparelho dentário com borrachas rosa chiclete. Apesar de ser o completo oposto, algo nela me lembrou a antiga Claire... Talvez tenha sido o toque bobo inesperado em sua aparência, sei lá.– Meu nome é Laís Alves e eu serei sua anfitriã essa tarde. Me sigam, por favor.

Ah, sim, a capa era exatamente da mesma cor da ponta dos cabelos dela, agora estava bem claro isso, já que ela havia nos dado as costas e seguido andando determinada, sem nem conferir se fazíamos o que ela havia pedido.

Infelizmente nos afastamos do início das escadarias principais - ou seria felizmente? Estamos falando de mais degraus do que o número de pernas na nossa comitiva, então um atalho seria bem vindo - para pegar um caminhozinho de cascalho, próximo o suficiente da construção dourada para sentirmos o calor de suas pedras.

A menina só parou quando chegamos a uma pequena clareira, com troncos de árvore formando bancos compridos em semicírculo. Ela não precisou pedir para nos acomodarmos, principalmente porque parecia estar muito orgulhosa de si mesma e completamente alheia a gente.

Em Hogwarts, seria Corvinal, com certeza.

Mas até que fazia sentido a arrogância dela, ela não devia ser muito mais velha do que eu e estava atuando como uma professora ou como um adulto responsável hoje. Por falar nisso, onde estão nossos professores e adultos teoricamente responsáveis?

— Bem, agora que estão todos bem acomodados, vou falar um pouquinho da história da nossa amada escola e sobre as regras de convivência que praticamos aqui. Devo salientar que qualquer descumprimento pode acarretar em incidentes internacionais. - Ela fechou a expressão ao dizer a última parte – Não somos tão bem humorados e permissivos quanto os trouxas e nossas prisões certamente não são tão bonitas quanto nossas escolas.

Quê? Prisão? A senhorita sabe que está falando com adolescentes, querida? Olhei para a cara dos meus colegas mais próximos e todos tinham a mesma expressão de quem estava levando a sério toda essa baboseira.

Ultrajante!

— Se comporte, garotinho. - Ele não falou em voz alta, mas eu senti o tom irritante de Enrique nos meus ossos. Mandei um gesto obsceno para o garoto mais velho duas fileiras atrás de mim e virei para prestar atenção na garota que pigarreava de leve a nossa frente.

— Então irei começar, por favor deixem as perguntas para o final, porque o inglês não é a minha primeira língua e vocês vão acabar atrapalhando meu raciocínio. - Gente, que pessoa mais simpática, não? Ela pigarreou de novo e sacou das vestes alguns cartões, daqueles usados por apresentadores de programa de auditório...– Se não vejamos...

“ Castelobruxo, assim como Hogwarts e as outras participantes do torneio internacional de Quadribol escolar, é uma das poucas escolas padrão ouro no mundo. Os critérios de: excelência dos professores e alunos, diversidade na formação acadêmica e ser referência em seu respectivo território; são as marcas registradas da nossa amada instituição.

A nossa escola também é reconhecida como a segunda mais antiga de todas, perdendo apenas para Uagadou, na África, por pouco menos de um par de séculos, segundo especialistas. 

Castelobruxo é tão antiga, que esse é o seu quarto nome desde sua fundação, em uma época onde o tempo nem sequer era calculado em função do giro da terra ao redor do Sol.

Primeiro foi  Manoa, da língua achaua que significa lago, então Manoa del Dorado, por conta de sua coloração característica - “Dorado” significando dourado - e, posteriormente, foi chamada por muitos anos  apenas de Eldorado pelos colonizadores europeus em busca de uma cidade escondida feita de ouro e prata. 

Vocês talvez já tenham ouvido falar da lenda de Eldorado...

Por fim, com a legalização do território brasileiro e sua língua oficial, o português, a escola passou a ser Castelobruxo, provando que nossos líderes ou têm um senso de humor torto ou apenas não têm criatividade alguma, esse sendo um adendo meu, já que Castelobruxo significa literalmente um castelo que faz bruxaria em português.”

A expressão da garota de exasperação foi tão engraçada que ela se interrompeu para que déssemos risada. Olhando assim, a troca de nomes não foi muito gentil com a escola. Antes que a senhorita Alves pudesse retomar seu discurso, uma pergunta lá do fundo chamou a atenção de todos.

— E o castelo é ou não é feito de ouro? - Podia dizer com prazer que foi um Corvinal sem noção que fez a pergunta, mas infelizmente ela foi feita pelo loiro de dente falhado sentado ao lado de Enrique.

— Você fique quieto, a menina pediu para a gente não interrompe-la, seu trasgo! - Rosnei para ele, mas já sabem o quão idiota Romeo Habermas é, não é mesmo? 

— Sua bronca careta está interrompendo mais do que minha pergunta, não é, Laís? - O cara de pau ainda completou o relincho com um piscar de olhos que deveria ser charmoso na cabeça vazia dele.

— Cale. A. Maldita. Boca! Enrique, dê um jeito em seu amigo! - O apanhador revirou os olhos divertido e sussurrou algo para Romeo, que apenas deu risada e fingiu selar os lábios com chave. Pena que ela não é de verdade, adoraria derreter essa chave metafórica pra fazê-lo engolir... .– Pode continuar, senhorita.

Apesar dela estar me encarando divertida, com as sobrancelhas franzidas, tive que sorrir meu sorriso mais inocente para assegurar que ela não seria mais interrompida.

— Bem, err... Já iria falar dessa questão da lenda do ouro. -  Ela pigarreou novamente, demonstrando que não era por necessidade física e sim um tique nervoso. Bem, ninguém podia culpá-la, ela havia avisado que poderia perder a linha de raciocínio com perguntas fora de hora.

“Como eu estava prestes a dizer, Eldorado foi por muitos anos uma lenda forte por toda a América Latina. Os espanhóis passaram anos e anos procurando por esse lugar místico, onde homens se banhavam em pó de ouro e os metais eram tão abundantes como as águas do lago Parima que dera nome a cidade de Manoa, nome original da escola, lembram? 

Querendo ou não, isso tudo dava um certo toque verossímil a todo o conto, já que essa parte do lago é verdade . A floresta amazônica não tem muitos lagos, quase nenhum, já que o terreno é antigo e pouco propício para lagoas e montanhas, mas Parima, apesar do que os trouxas dizem, é bem real!

Verão amanhã, durante a partida, um dos nossos mais belos cartões postais e antes que eu me esqueça de dizer, ele é a verdadeira fonte de quase todo o tom dourado que se vê hoje nas paredes do nosso castelo. 

Então não, Castelobruxo não é feita de ouro e prata, não completamente, pelo menos, já que toda a decoração, desde as estátuas e imagens de deuses incas, maias, astecas, tupis, aromaias, dentre outros, até simples bebedouros e ornamentos de mesa, são.

O que podemos dizer? Os ex alunos da escola sempre foram bem generosos e antes de qualquer espanhol ou português sequer pensar em aportar aqui, eles já enchiam o castelo de presentes, como símbolo de gratidão ao conhecimento aprendido aqui.

Hoje essa prática não é mais comum, apesar de que a gratidão permanece a mesma. Mas, se antes agradecia-se aos deuses pela honra de ter sido escolhido para estudar aqui, hoje agradecemos pela honra de termos tirado uma boa nota no ENEB, Exame Nacional do Ensino Bruxo. Isso sim sendo uma verdadeira obra divina para alguns...

Teoricamente o ENEB é uma prova para avaliar os níveis de conhecimentos em magia dos bruxos menores de 10 anos em toda a América Latina, do Uruguai ao México, mas atualmente é também a porta de entrada para os principais institutos de magia do continente, Castelobruxo sendo o mais concorrido, porque, já saímos daqui com uma profissão, óbvio.

Já devem ter ouvido falar da nossa tradição em Herbologia e Magizoologia, esse último sendo o curso experto que eu, Laís, escolhi dentre os dezesseis ofertados aqui. Entramos na escola hoje em dia através das nossas notas de corte, então todos os alunos aqui são bastante capacitados para ao menos ostentar o título de expertise em sua área, vão ver logo mais.

E é claro que há oportunidades pra crianças da zona urbana com pouca instrução, porque não somos elitistas! Esses bruxinhos axamãnicos infelizmente receberam muita influência trouxa, como vocês dizem, então  é nosso dever prepara-los para o futuro difícil que terão pela frente, porque, quanto mais tempo desconectado de sua magia ancestral, mais difícil será domina-la, já sabem. 

Entretanto, até eles precisam demonstrar um grande nível de magia bruta para fazer parte das cotas urbanas, essas sendo preenchidas apenas por nascidos de pais não-xamãnicos, com uma magia bruta muito forte sendo comprovada no rito de pajelancia.”

A garota suspirou pesado e todos nós a olhamos confusos, porque ENEB, cursos expertos, notas de corte, cotas urbanas e tudo mais com uma pronúncia engraçada, não fazia sentido algum.

— Mas esses são problemas que nós devemos lidar, cabendo a vocês seguirem apenas essas simples regras de convivência: não causar nenhum tipo de mal a nenhum tipo de entidade, sendo ela pessoa, planta, animal ou simples riachos e pedras...

Quê?

— Devem levar de volta apenas o que trouxeram, o conhecimento aprendido, que é seu e de ninguém mais e as experiências vividas.- Ok, essa regra eu entendi, diferente da outra. Como assim riacho e pedra agora é entidade?

De qualquer forma, vou tentar seguir essa regra do não roubar nada, porque não quero parar em uma prisão bruxa brasileira, já que, pelo que eu entendi, lá não tem suco.

— E por fim, respeitem e atendam todas as ordens das criaturas da floresta. – A menina sorriu animada, com todos os dentes, entre o prata do aparelho e o rosa da borrachinha. Sorri em retribuição, porque ela realmente me lembra a Claire.– Porque se eles matarem vocês, não vai dar nem para achar o corpo. E é isso, fiquem a vontade para explorar os nossos domínios, vocês tem passe livre.

Tá, ela não lembra tanto assim Claire, porque tenho certeza que não namorei com uma sociopata! 

— Me desculpe, mas levou todo esse tempo para contar a história da escola e depois um minuto pra falar três regras? - A menina piscou surpresa e eu fiquei surpreso também, porque era o irmão mais velho de John que estava falando.– E quanto a língua usada? Como se locomover na escola? Horário das refeições?

— Ah, isso não são regras e diferente de vocês, eu tenho aula, então... Vamos jogar um jogo divertido! - Ela bateu palmas curtas, de uma maneira eufórica, como se quisesse que nos apressássemos em nosso levantar do banco. –  Quem descobrir como as coisas funcionam por aqui primeiro, passará menos tempo como barata tonta! Agora caiam fora daqui!

Eu tive que dar risada, porque Hugh Westhampton não tem o mesmo senso de humor do irmão, ele fez uma cara de ultraje engraçada. O que eu estou dizendo? Nem o próprio John tem senso de humor, deve ser mal de família.

— Então vamos lá crianças, não quero ser a barata tonta da turma. - Scorp espanou as vestes, pronto para desvendar os mistérios da muito simpática e infelizmente não feita de ouro, Castelobruxo.

— Não seremos baratas tontas porque vocês tem a mim, meus queridinhos! - Tony, Scorp e Aidan me olharam céticos e eu olhei muito ofendido. Onde já se viu duvidar de minha magnificência?

— Vai me dizer agora que também já veio a Castelobruxo? -  Olha só que coisa triste, é um dia muito triste mesmo, gente, quando você descobre que seu melhor amigo é um invejoso! Sempre soube que Tony se ressentia de minha ida a Uagadou, só não sabia que era tanto.– E eu não estou com inveja de suas aulas em Uagadou, Cesc, quantas vezes eu vou ter que te dizer isso?

— Eu não disse nada.

— Mas está fazendo essa cara de condescendência, como se tivesse acabado de constatar um fato triste sobre mim. Não precisa ser muito esperto pra saber que ainda é essa idiotice de achar que eu queria ter ido a Uagadou em seu lugar!

— Pois não estou pensando nada disso, só ia dizer que... - Ele franziu o cenho, esperando para ver qual mentira eu iria inventar para negar a sua leitura de meus pensamentos.– Eu falo espanhol, logo, temos uma vantagem.

— Ah,  é verdade! Foram seus ancestrais que dizimaram os povos daqui e lhes roubaram todo o ouro! - Olhei para os meus dedos, na tentativa de não esganar Scorp na primeira oportunidade que eles tivessem.

— Sim, Malfoy, foi meu tataravô que invadiu a América do Sul sozinho, você não sabia disso? - Aidan riu, espero que tenha sido porque ele percebeu que os espanhóis não foram os únicos colonizadores que desembarcaram nas Américas ferrando com tudo.– Ahora sígueme! Tenemos mucho que hacer hoy! 

Castelobruxo que nos aguarde!

 

 


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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo vai ter mais ação, prometo, esse foi mais de introdução à Castelobruxo e suas maluquices.

Bjuxxx



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