Hogwarts: uma outra história escrita por LC_Pena


Capítulo 67
Capítulo 67. Melhores intenções ou intenções melhores


Notas iniciais do capítulo

Atrasado, porém grande. Olha, vou ser sincera, tinha uma versão um pouco melhor do que essa, mas meu word deu bug, substituiu todo o texto por uma letra "e" quando eu já estava copiando para por aqui (o word online salva automaticamente e o botão de desfazer não funcionou, quase jogo esse computador longe) e eu tive que resgatar a versão anterior, do dia 27. Eu não tenho mais força de espírito para lidar com esse capítulo, sério mesmo.



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Capítulo 67 

Estava sentado na sala comunal da Sonserina, tentando entender os meus rabiscos táticos para o jogo contra a Grifinória feitos mais cedo com a ajuda do resto do time. A letra bonitinha de Heidi era completamente diferente dos garranchos de Romeo, mas ambos não faziam o menor sentido a essa hora da noite. 

Eu tinha apenas o maldito lago negro como companhia, mas um barulho na escada que dá para os dormitórios me chamou atenção. 

— Que susto, Rebeca! – A garota estava me olhando do topo da escada, com os cabelos compridos todos para um lado do ombro. Ela sorriu para mim, bonita, com seu penhoar roxo favorito. – Não está conseguindo dormir também? 

Comecei a organizar meus pergaminhos, porque, diferente da monstra aqui, eu não estava acordado por falta de sono e sim por conta do excesso de trabalho. Mas, pensando bem, aquelas cobras filhas da mãe do time não valem todo esse meu sacrifício, por isso estou dando oficialmente como encerrado meu trabalho. 

Percebi a garota agora próxima da minha poltrona, mas como ela não respondeu a minha pergunta anterior, resolvi levantar o olhar pra ela. 

— Você vai... – Me calei no ato, porque quando o brilho da lareira refletiu nos olhos dela, o que eu vi de volta não foi... Humano. – Você não é Rebeca. 

— “Se a rosa tivesse outro nome, ainda assim teria o mesmo perfume.” – “Ela” se sentou na poltrona em frente à minha, com aquele sorriso maldoso que, agora que eu pude perceber, não era nem de longe o da minha amiga. 

— Djinn? 

— Eres uma criança esperta, pude perceber desde o nosso primeiro sínodo. – Tateei meu bolso em busca da minha varinha, porque aquele tom, mesmo que por debaixo da voz aguda de Rebeca, era de fazer tremer. Fiquei ainda mais na defensiva quando não a encontrei e nem a vi em nenhum lugar por perto. 

— O que está fazendo aqui? Eu tenho certeza que não te chamei. 

— Aqui onde? – Assim que a criatura no corpo de Rebeca falou, o salão comunal tornou-se um lugar escuro, uma espécie de caverna bem mais sombria do que o lago em seus piores dias. De repente eu estava de pé, assim como ela, pés descalços afundados em areia morna. As mãos delicadas alisaram a pedra rústica atrás de si, como se mudar de ambiente num piscar de olhos fosse a coisa mais normal do mundo. 

— Como vo... 

— Veja bem, mestre, devo-te um encargo e não gosto de ter múnus algum. – Deu de ombros charmosamente. – Creio que as obrigações do meu fardo fizeram–me arisco nesse ponto, agora que me vejo nessa tão merecida liberdade. 

— Bem, o seu gostar ou não gostar pouco me importa, nós dois sabemos que quando eu precisar, eu te chamo, não o contrário! – Apenas nessas horas que dá pra ver o quão doce e delicada Rebeca é, mesmo com seu jeito mandão, porque nesse exato momento sua expressão parecia bastante ameaçadora e nada familiar. 

— Asseverava que teu desalento era palpável e... 

— Pois não assevere nada, ainda não preciso de você! – Ele sustentou a sua frase inacabada no ar, transformando a palavra não dita em um sorriso endemoniado. 

— Como quiser, meu senhor. 

Abri os olhos levemente sobressaltado e desorientado, porque o ambiente agora voltara a ser aconchegante – estava a meia luz, em tons sóbrios de cinza claro, verde escuro e mogno –e a falsa Rebeca havia desaparecido de vez. 

— Teve um pesadelo, garotinho? – A voz soou muito perto, então me afastei por reflexo, sentindo pela primeira vez que estava em uma cama grande. Com Enrique Dussel. 

Por que diabos eu estava em uma cama com Enrique Dussel? 

O dito cujo me olhou levemente preocupado e eu me dei um tempo para colocar as peças do quebra–cabeça no lugar, sacodindo a cabeça como um cão molhado: eu, Tony, Scorp e John viemos para o quarto de Enrique – o único individual no dirigível – para terminar de votar se Fred II iria ou não entrar no Ocaso. 

Devo ter caído no sono em algum momento da noite e fui abandonado aqui a própria sorte, mas ao menos levava as roupas postas, o que significa dizer que Enrique devia estar distraído com alguma outra coisa, porque eu não sou inocente de achar que ele não tentaria algo comigo, mesmo eu estando inconsciente. 

Não confio nele, me julguem. 

Não pareceu um pesadelo. – Passei as mãos no rosto para comprovar que estava realmente acordado dessa vez. – Pareceu real. 

Enrique me assistiu levantar da cama na mesma posição em que esteve o tempo todo – numa postura relaxada, recostado na cabeceira de pernas cruzadas – ainda com as vestes completas, embora bem mais abarrotadas do que as que um dos príncipes da Sonserina costuma usar. 

— Quer falar sobre? – Ele colocou as duas mãos atrás da cabeça, a epitome do desinteresse educado. 

— Quer ouvir sobre? – Ele deu de ombros, com um quase sorriso. 

— Não tenho nada melhor pra fazer agora, já que, ao que tudo indica, não vamos sair disso hoje. 

O “disso” dele poderia ser nossas roupas, essa cabine do dirigível ou essa situação de não sexo, mas para qualquer uma delas minha revirada de olhos funcionava. Ele sorriu divertido e eu me sentei na ponta da cama, resignado. 

Respirei fundo antes de falar, porque não poderia contar a ele tudo sobre o djinn, mas ao mesmo tempo queria dizer algo a alguém. Eu não sou exatamente a pessoa mais ensimesmada do mundo para guardar tudo só pra mim. 

— Enrique, se... Se você tivesse o poder de mudar algo em sua vida, qualquer coisa que possa pensar, você mudaria? – Levantei o olhar para ser mais enfático. –  Qualquer coisa mesmo. 

Esperava que as respostas prontas dele dessem conta do recado, mas ele se ajeitou melhor nas almofadas, como se estivesse mesmo pensando no que eu disse. Era bom que a resposta dele fosse interessante, porque isso poderia influenciar inclusive o destino dele. 

Isso porque o djinn é um folgado, mas estava certo em uma coisa: eu já havia realmente cogitado acioná-lo para reverter o jogo de Uagadou ou nos dar alguma certeza de vitória contra Ilvermorny, nosso próximo adversário, já que o Quadribol é tão traiçoeiro, que até mesmo um bom time - com uma linda história de superação e união - pode perder. 

Afinal, não é como se Hogwarts fosse a única escola que passou e passará por percalços nesse campeonato. Assim como foi no torneio interno, onde tanto a Sonserina quanto a Lufa-lufa mereciam a taça, tenho certeza que outras escolas também estão construindo uma emocionante história digna de filme do Oscar... 

Fora que merecimento não dá taça a ninguém, não é mesmo? 

— Se refere a uma mudança do tipo endireitar a ponta do meu nariz ou do tipo eliminar meus irmãos do mal? – Levei uns bons segundos para ver o que tinha de errado com a ponta do nariz dele, meio irritado de que ele havia levado esse tempo todo para não responder porcaria nenhuma.  

— Do tipo eliminar seus irmãos, claro! – Ele fez aquela cara de “Ahhhhhh” irritante. – Não há nada de errado com seu nariz, seu idiota! 

Ele torceu o dito cujo, meio revoltado com meu tom conclusivo, mas não é como se eu estivesse com paciência pra ficar massageando o ego de Enrique, tirando da cabeça dele o restinho de humildade mal empregada que poderia estar fazendo ele ver um defeito onde não tem. 

Estou falando de coisa séria, de desejo de gênios! Bem típico de um garoto que tem tudo desperdiçar um dos pedidos em algo tão besta quanto um nariz torto que só ele tomou conhecimento. 

O dilema maior é a contradição entre o meu discurso de trabalho duro e a possibilidade de desejar não ser pego na peça de Tracy ou obter alguma vantagem no jogo contra Ilvermorny. Não quero ser um hipócrita, mas também não quero ser um perdedor! 

— Então não mudaria. -  O olhei confuso. – Se ainda fosse o nariz... 

— Poderia ser o nariz também, inferno! Espera um minuto... Você está me dizendo que se tivesse a chance de eliminar a fonte de todos os seus problemas com um simples desejo você não faria? Preferiria mudar o nariz? – Olhei para ele incrédulo e ele apenas deu de ombros, pra me afrontar, só pode! –  E isso por quê? 

— Simples, garotinho, meus irmãos são o mal que eu conheço, pedir para eles sumirem poderia foder com minha vida em um milhão de maneiras distintas, já o nariz... 

— Como assim? – Ele se sentou mais ereto na cama, como se precisasse se aprumar para explicar ao lerdo aqui as leis da vida. 

— Eu poderia, no processo de eliminar os insuportáveis, perder coisas que me são quistas, por exemplo, minha sobrinha ou o afeto do meu pai. – Levantei uma sobrancelha para esse último exemplo. – Nada me tira da cabeça que a história da minha família seria completamente diferente se não fosse por essa briga dos meus irmãos com ele.  

— Eu acho... 

— Ele não saberia como ser um bom pai agora, se não tivesse falhado miseravelmente da primeira vez. – Não pude responder a isso, mas não precisei, porque Enrique completou. – Tenho certeza que sem os três “H’s” antes de mim, provavelmente eu seria o herdeiro parte do legado, sem valor sentimental e sem afeto. 

— Acho que sim. – Entendi o ponto dele e fiquei me perguntando como isso se aplicaria a mim. – E se não pedisse para eles deixarem de existir, só... Só pedisse para eles serem, sei lá, diferentes? 

Ele suspirou pesado e olhou para a lareira colossal, que era uma das suas vantagens de garoto rico preso em Hogwarts. Olha... Talvez Enrique tenha um pouco mais de conteúdo do que demonstra. 

— Às vezes acho que eles poderiam ser diferentes... Helena poderia ter sido feliz se não tivesse casado tão nova, louca para sair de casa e Heitor... Ele nem de longe é tão ruim quanto parece. 

— Não quero soar rude, mas seus irmãos parecem todos igualmente ruins para mim, vi Heitor em Uagadou e ele me tratou como se fosse uma sujeira em seu sapato. 

— Não estou dizendo que ele é bom, mas... Com ele às vezes sinto que seu coração não está nisso, sabe? Nas maldades e armações que os três aprontam. – Enrique voltou a se recostar na cama, pensativo. – Acho que meu pai pensa o mesmo, do contrário não colocaria tanto trabalho nas mãos dele. 

— Ele parecia meio cansado mesmo quando o encontrei na África... Mas, voltando ao ponto, então você não mudaria nada na sua vida, mesmo se pudesse? 

Enrique era um péssimo exemplo para me ajudar em uma decisão como essa, ele não sabe nada sobre querer tanto mudar uma coisa, ter os meios para isso, mas não ter certeza se é o melhor a se fazer... 

— Só mudaria se estivesse vivendo em uma realidade com a qual não pudesse conviver, que fosse tão horrível, mais tão horrível, que qualquer possível consequência resultante da mudança fosse menos pior do que ela. – Olhei para ele impressionado, porque isso sim me ajudava bastante. – Respondi sua pergunta? 

Ok, preciso pensar sobre isso. 

Perder para Ilvermorny - e acabar com as chances de Hogwarts de continuar o campeonato por tabela - seria terrível,  ainda mais sabendo que a minha ausência e principalmente, a de Segundo, foram essenciais para esse resultado de dependência de uma vitória agora. 

Por outro lado, trapacear - porque eu não sou tão cínico, eu sei que colocar o djinn nessa seria trapaça - também não é algo que me apetece e... Eu acho que... Acho que vou confiar na equipe, se as coisas não derem certo... Será algo que eu vou conseguir lidar sim, eu acho, esse parâmetro de Enrique é muito bom, na verdade. 

Me levantei e espanei uma poeira imaginária das vestes antes de encarar o sorrisinho convencido dele, de quem sabia que tinha surpreendido na resposta. 

— Melhor do que pensei que pudesse... Agora, com sua licença, vou voltar a tentar o sono dos justos, mas na minha própria cama, claro. Adeus, Enrique. 

— Que fique registrado que dessa vez não sou eu que estou te pondo para fora da minha cama, você está indo porque quer. – O riso na voz dele causaria agonia em qualquer um! Retiro o que eu disse, ele é tão raso quanto uma poça d'água. 

— Devidamente registrado, seu idiota. 

*** 

Ficar sentado de castigo no dirigível depois que todos os outros alunos já desembarcaram e seguiram suas vidas em Hogwarts era tão patético quanto soava, então Tony estava aproveitando o tempo da melhor maneira possível. 

— Mas por isso mesmo eu estava pensando em infligir dor, porque você já usou a humilhação e eu gosto de variar nas finalidades de minhas vinganças. – Olhei em dúvida, continuando meu argumento. 

— Soa muito errado planeja infligir dor em uma garota, eu sei lá... 

Scorp se abaixou junto a nós, então imitamos o gesto, juntando nossas cabeças a dele. 

— É ridículo que vocês dois ainda pensem em vingança contra Harmond, depois da merda que deu da última vez. – Ah, me poupe! Eu e Tony voltamos para a posição anterior e Scorp enfatizou seu ponto. – Ridículo mesmo! 

— Ridículo é Tracy sair por cima depois de ter usado um javali pra ir na festa!  –  Tony disse indignado e eu o apoiei.  –  Gente, onde vamos parar? O plano de Cesc foi genial, com um ou dois ajustes teria dado certo do início ao fim e no entanto, a filhote de dementador fica desfilando de vítima por aí? Isso sim é ridículo! 

— Você está de prova, Merlin, eu tentei. 

— De mais a mais, ninguém vai saber que a dor foi a gente que infligiu, estou pensando em algo mais orgânico, tipo uma picada de vespa apocrita ou uma mordida de mandrágora com raiva, soube que ela ajuda o professor Longbotton nas estufas de vez em quando. 

— Muito sensata sua ideia.  – Falei convencido, porque ambos tínhamos chegado à conclusão que eu deveria ficar de fora desse plano. 

— Vocês dois não saberiam o que é sensatez nem que se tratasse de uma garota bonita, dando mole para vocês! 

Fui poupado de responder de uma maneira espirituosa, mas cortante para Scorp – ainda bem, porque não tinha pensado em nada –  pela entrada de Harry pimpão Potter no recinto. Todos cessaram o burburinho, mas pude ver uma ou duas expressões de “lá vem”. 

— Ok, já fiz os devidos arranjos e notificações ao conselho para que seja providenciado o novo centro da seleção e tudo mais, vamos arranjar um nome melhor do que esse... Mas enquanto o local não é arrumado, essa aqui fica sendo a nossa casa. 

— O dirigível. – Não foi uma pergunta, estava apenas testando a ideia na ponta da língua. – O dirigível será a nossa casa. 

Potter se apoiou em uma das pilastras de sustentação da grande engenhoca, me olhando com o cenho franzido. 

— Hogwarts tem milhares de salas vazias, não tem nenhuma que possa virar dormitório? –  Lexa perguntou, mas depois meio que murchou com o olhar que recebeu do treinador. 

— Tem mais de uma até, mas entre os aposentos dos convidados de Ilvermorny e das comitivas das outras escolas, fora imprensa, está meio difícil improvisar aposentos com salão comunal e etc. 

— Ah, mas eu achei que seria fácil... Simples, a palavra que o senhor usou foi “simples”, na verdade. – Lia falou, sonsa, recebendo seu próprio olhar irritado de Potter. 

— Estou vendo um padrão aqui. – O homem apontou falsamente divertido para todos. – No quadribol vocês não são muito bons, mas nos comentários engraçadinhos... Nossa! 

— Aprendemos com o melhor, professor Potter. – Romeo disse, com pouca noção do perigo. 

— E os sonserinos então... Não sabem a hora de parar. Eu vou facilitar a coisa para vocês, engraçadinhos, essa noite vocês ficam aqui, juntinhos, jantam juntinhos e de manhã, antes das aulas, a gente vê se nós vamos fazer um dormitório coletivo, de meninos e meninas ou em par, o que vocês acham? 

— Eu acho que são onze horas da manhã e que é domingo de Hogsmeade, por que estamos falando de jantar e de dormir? – Segundo perguntou, realmente soando curioso. 

— Porque eu sou um técnico tão bonzinho que vou poupar vocês de terem que lidar com a recepção hostil dos seus colegas. Já basta a experiência traumatizante com Rita Skeeter de Zabini e Duran, não é? 

— A gente não se impor... 

— Boa noite, crianças. 

Ele saiu da sala, antes mesmo de deixar Ginns terminar a frase, deixando todo mundo meio perdido. Primeiramente, porque Tony não estava nada traumatizado e depois porque... Potter é louco. 

— O que diabos foi isso? – James perguntou, como se aquela criatura esquisita não fosse o pai dele. 

—Quão interessante ficará nos livros de história: Harry Potter não foi morto por um dos maiores bruxos das trevas dos últimos tempos, mas foi envenenado por seu time de quadribol. 

— Não vamos ser tão impulsivos, Lia. – A morena olhou irritada para Tony. – Veneno é coisa de Corvinal, nós podemos pensar em algo mais dramático. 

— Drama é a história desse time. – Scorp falou, coçando o nariz de uma maneira irritante. – Mas eu não estou afim de ficar olhando para a cara de vocês o dia todo, vamos decidir de uma vez quem vai dormir com quem. 

— Eu vou ficar com Maggie. – O’Brien falou, surpreendendo a todos. Por ter demorado dois segundos para se pronunciar. 

— Eu faço o sacrifício de ficar de dupla com Sienna! 

— Eu também faço esse sacrifício, Tony. – Romeo falou, divertido e a loira olhou para os dois com desdém. 

— Deixem de palhaçada, vamos separar por sexo e por posição, que é o mais lógico. –Potter falou, chato como sempre. 

— Acho que é exatamente o que os garotos estão fazendo, Potter. – Enrique disse divertido, recebendo um olhar feio do seu rival. – Isso tudo é por que você quer dormir comigo? Poderia apenas ter pedido com carinho. 

— Não vai liberar nem o virjão aí? Achei que você era mais criterioso, amigo. – Romeo falou tudo com seu melhor tom falso de decepção, arrancando uma risada do companheiro de esbornia e uma revirada de olhos de Potter. 

— Sou tão bondoso que às vezes faço uma ou outra caridade, você bem sabe. – Romeo deu um soco divertido no ombro de Enrique, que continuou dando risada. 

— Muito linda a demonstração de carinho das serpentes, mas vamos continuar com o assunto sério: James e Dussel, Malfoy e Fred e os batedores? Zabini e Ginns? – Frank falou, bastante hermético. 

— Eu e Cesc, claro. – Tony falou, sem dúvidas. 

— Fábregas vai ficar comigo, infelizmente temos pontos a acertar na capitania... 

— Alguém me salva, sério, juro que vou me comportar se me salvarem das garras de Longbotton! 

— Eu aceito ficar com Zabini, antes ele do que o idiota do O’Brien. – Fui sumariamente ignorado. Maggie deu tapinhas de aviso na perna do namorado, pra que ele não retrucasse a fala de Connor. 

— Estou me sentindo tão valorizado! – Tony disse, soando como Lily quando estava empolgada. Ele cruzou os braços com a cara enfezada logo depois, mostrando seus verdadeiros sentimentos. 

— Peraê! Então eu que vou ficar com O’Brien? – Romeo falou meio assustado e meio indignado. 

— Como você chegou nessa conclusão, cara? – Enrique perguntou, no que foi prontamente respondido pelo artilheiro. 

— Se Cesc vai com Longbotton, sobra um artilheiro e um batedor, eu e O’Brien, porque o resto são garotas. 

— Senhor Habermas, você atingiu 80% da inteligência desse mês, use o resto com parcimônia. – Eu falei com voz de telefonista escrota, recebendo uma almofadada do senhor dente falhado, mas dane-se, valeu a pena. 

— Eu e Sienna, a grifinoria e a lufana, porque essa é a ordem natural das coisas. – Lia falou, encerrando o assunto. 

— Ah bom, parece que a gente já traçou o nosso destino desgraçado. Agora, se me dão licença, vou me afogar em um barril de cerveja amanteigada lá na vila. 

— Mas o treinador disse... 

— Lexa, querida, o treinador fala um monte de coisas, eu só absorvo parte.  – Falei me espreguiçando, enquanto levantava. – Quem me acompanha? 

Fico feliz em dizer que não foram apenas os sonserinos que me acompanharam. Bom sinal. 

 

*** 

Indo de encontro com o bom senso, saí mais cedo da bebedeira – sem álcool, porque se é para ser desgraçado, vamos de corpo e alma – e confraternização do time lá no bar de Rosmerta, para poder checar se a Sonserina ainda estava de pé. 

Para o bem ou para o mal, a casa estava exatamente  do jeito que eu deixei. Encontrei Pottinha estudando sozinha na poltrona em frente a lareira, mas ela parecia tão solitária e ao mesmo tempo tão entretida nos deveres de casa, que isso só podia significar duas coisas: ou que ela está em depressão ou que o apocalipse está próximo. 

— Onde esta Lena, Lily? – Ela levantou o olhar, não esboçando nenhuma reação mensurável a meu maravilhoso retorno. Ofensivo isso, viu? 

— No inferno, onde criaturas como ela vivem. – Olhei para todas as partes alcançáveis da sala comunal da Sonserina, antes de voltar a encarar Pottinha. 

— E isso agora por quê? 

— Você acredita que ela quer concorrer a vaga de apanhadora da Sonserina também? – Acredito sim, claro, é de Lena Stone que estamos falando. 

— E o que tem isso de errado? – Ela me deu um olhar insolente, então completei. – Sou o reserva de Tony na seleção, porque o filho da mãe é melhor do que eu, mas você não me viu reclamando disso! 

— Sim, eu vi. Foi tudo o que você fez antes de embarcar no dirigível, quando estávamos nos despedindo. 

— Você me viu reclamando de O'Brien, mas não de Tony, ele merece estar na seleção! – O'Brien não, o idiota nem merecia estar nesse planeta! 

— Então não estamos falando da mesma coisa, Lena não é melhor do que eu em nada. – Arrogante essa menina, viu? Nem a Lily real é melhor do que essa fantasia criada por você, garotinha! 

— Nem sequer haverá testes esse ano, Lily, você poderá treinar a vont... – Espera um minuto aí, acho que estou tendo uma ideia! 

— Como assim não haverá teste? – Aff, não interrompa meu raciocínio, garota! Lily, use a lógica, não vai haver nem campeonato! 

— Shiu, menina! Gênio trabalhando! – Ela fez uma careta para a verdade.– Estou pensando em nomear meu mais novo projeto, que eu acabei de pensar, de "Escola Cesc Fábregas para crianças que não jogam bom". 

— Que não jogam bem. Lily disse nada impressionada, a juventude é sempre um público difícil. 

— Soa ainda melhor quando você fala.– Continuei fazendo um gesto, vislumbrando o futuro letreiro do meu belíssimo instituto de caridade. 

— Soa certo.— A ignorei, porque ela ainda me olhava descrente. 

— Estou pensando em reunir os aluninhos da Sonserina interessados em entrar no time na próxima temporada em encontros, ora teóricos, ora práticos, para já ir nos preparando para a temporada que vem. 

— Ambicioso e esperto, eu topo. – Ela agora falou com a dose certa de reverência, talvez pela quantidade de detalhes que consegui pensar em 2,5 segundos. 

— E porque você me ajudou tanto,terá uma bolsa integral! – Ela descruzou os braços e me olhou descrente. 

— Você vai cobrar por isso? – Lily é louca? Claro que vou! 

— Cobrarei apenas um valor simbólico para a manutenção da estrutura! – Disse, me defendendo, mas Pottinha só aprofundou sua cara de indignação/descrença. 

— Que estrutura? Hogwarts já está aí para quem quiser desfrutar! 

— A minhaestrutura! – Eu apontei para meu corpo todo, que não se sustenta a base da gororoba que os elfos domésticos servem aqui. – Olha, Lily, estou pensando seriamente em revogar sua bolsa com essa sua péssima atitude. 

Ela grudou no meu braço, como uma largatixa molenga e eu revirei os olhos para a cara de imploro dela. 

— Não, Cesc, não tira minha bolsa, eu preciso dos estudos! – Lily não sabe o conceito de precisar ou da palavra estudo, já que estamos nisso. Olha a velocidade com a qual ela largou os livros! 

— Tá, que seja. Agora me ajuda a convencer o idiota do seu pai qu.. 

— Não chama meu pai de idiota! – Ela descolou na hora e me olhou ofendida, revirei os olhos. 

— Mas se é idiota mesmo! – Lily colocou as mãos na cintura, uma miniatura convincente de indignação ruiva. – O que é isso? Tony não liga quando eu chamo o pai dele de idiota... 

— Estou começando a achar que Tony não é parâmetro para nada... 

Ah, coitada! Mal sabe ela que Tony, na minha vida, é parâmetro para muita coisa, mesmo sendo um caso raro da natureza de imbecilidade misturada com genialidade! 

***  

— O próximo idiota que nos encarar feio, eu vou azarar. – Fred não me deu muito crédito, então ficou bem surpreso quando eu colei a língua de um Corvinal no céu da boca. – Eu avisei. 

— É por isso que a Sonserina nunca ganha a taça das casas, depois vocês ficam dizendo que são perseguidos! 

— E somos mesmo! Mas não quer dizer que não damos um ou dois motivos para isso... – Segui para onde as instruções de Aidan mandavam, virando uma ultima vez, para dar de cara com uma salinha xexelenta qualquer do terceiro andar. – Parece que chegamos. 

— Como assim “parece”? Você não sabe para onde está indo não? – Olhei para Segundo com minha melhor cara de tédio e então me virei para a porta. Duas batidas fortes, então espera dois segundos e mais três batidas simples. 

Perfeito. 

A coisa não pode parecer um código secreto, para as pessoas não desconfiarem, assim disse John, então, dessa forma parecia apenas alguém pedindo para entrar impacientemente, não é como se esse corredor ermo tivesse alguém para notar o padrão de batidas. 

Rebeca abriu a porta com sua cara de sempre, mas eu dei um passo para trás, ainda lembrando do sonho de ontem. Ela me olhou enfezada. 

— Não me faça te dar uns tapas. – Eu abri um sorriso sincero pra ela, que retribuiu, mas depois olhou Weasley da cabeça aos pés, avaliadora. – Entrem, mas sem encostar na maçaneta. 

Claro que Tony ou Scorp haviam enfeitiçado a maçaneta com um feitiço confundidor, que só funciona com pessoas sem determinação, para um Harry Potter da vida, por exemplo, não funcionaria. 

Segundo entrou na sala meio desconfiado, provavelmente reconhecendo os participantes do Ocaso. O local de encontro da vez era uma antiga sala de estudo escanteada, já que o terceiro andar não tem lá muita gente circulando por ele. 

Enrique estava de visita, apoiado na mesa, ao lado de Tony e Scorp sentados. Rebeca, nossa anfitriã, já voltava para perto do namorado e ainda haviam Louise e John na outra mesa e Aidan apareceu do nada cumprimentando o novato. 

— Um prazer tê-lo aqui, Weasley, ouvimos falar muito bem de você! -  Ah, olha aí, nosso comitê de boas-vindas todo em uma pessoa só! 

— Vocês são diferentes do que eu imaginava... Muitos sonserinos, quase todos quartanistas... Espera, quem falou bem de mim? – O afro-ruivo olhou confuso. 

— Eu falei. – Sev saiu de debaixo de sua tão amada capa da invisibilidade, entregando a para mim, que teria que entregar a James logo mais. Promessa é dívida, infelizmente. 

— Ah. Meu. Mer... – Segundo respirou fundo, de olhos fechados.  – James vai te... Você sabe que isso é muito... Quer saber? Eu mesmo vou matá–lo! 

—Yay! – Rebeca bateu palmas feliz e Scop sorriu pra ela, encantado. Aidan se colocou entre os primos que estavam de pé, ainda perto da porta. 

— Espera, cara... ESPERA! – Eu já estava rindo, principalmente porque tinha tirado a capa da invisibilidade do alcance do grifinório mais frouxo que existe.– Se você matar Sev, nós não vamos poder dizer o que a gente descobriu nas nossas pesquisas enquanto vocês viajavam. 

Sev? – Fred olhou para o primo, sarcástico. Sev deu de ombros. 

— Senta aí, porque tenho certeza que você vai achar interessante, Weasley. E você senta lá na outra ponta, Albus. — O oriental estava passando a mensagem clara no olhar enfático que dizia: “se comporte, Potter”, mas depois ele me olhou também e eu fiquei bem ofendido. 

Quem esse unicórnio pensa que é? 

— Todos os holofotes estão em você, Aidan, comece. – Tony fez um floreado com a mão, dando a palavra para um Aidan animado. 

— Como todos sabem, Sev e eu ficamos aqui, abandonados, investigando a respeito das coisas lá dos fundadores que pararam de funcionar de repente e... – Ele parou de falar do nada e fez uma careta. – Ai que droga, eu meio que já falei a surpresa! 

Albus revirou os olhos, mas o mais importante é: coisa dos fundadores? 

— Espera, o quê? – John perguntou, representando a confusão de todos. 

— Deixa que eu conto, você tá falando tudo errado! – Sev falou, deixando Aidan emburrado. Não é justo isso, o lufano sabe sim contar história, ele só se atrapalhou dessa vez. – Fomos procurar saber melhor a respeito do chapéu seletor nos livros de história e descobrimos que ele era o chapéu de Godric Grifinória, um dos fundadores. 

— Não precisava ter pesquisado isso, todo mundo sabe que Grifinória tirou o próprio Chapéu e o enfeitiçou para que ele conseguisse identificar quais as características preferidas dos fundadores em cada aluno. – John falou daquele jeito professoral dele. 

— Você quer continuar contando, Westhampton? Contando até mesmo uma história que você não viu? 

— Como estamos afrontosos hoje... – Rebeca disse divertida, arrancando um sorriso de Enrique e um revirar de olhos de Louise. 

— Desculpa, continue contando esse seu trabalho desnecessário de pesquisa... – Desnecessário é esse jeito pretensioso de John, então fiz um sinal sério de silêncio pra ele, que só torceu a boca em desdém.  

— Continuando... Essa informação nos chamou atenção, então fomos ver se as Escadarias também eram obra de Grifinória, mas na verdade elas eram as obras marca registrada de... 

— Rowena Corvinal. Ah, desculpe, estraguei a surpresa? –  Hoje John está demais! Enfeiticei a cadeira dele, arrastando ela para a parede mais próxima, o deixando no cantinho da vergonha simbólico. – Cesc, você é tão infantil! 

— Infantil é você, fica aí com a cara pra parede, já que já sabe de tudo. – Ele cruzou os braços emburrado e apoiou os pés na dita cuja, no entanto, permaneceu na posição de castigo que eu o coloquei. 

Bom menino. 

— Voltando... Então já tínhamos duas coisas feitas pelos fundadores, faltava apenas as aranhas... 

— Acromântulas. – Louise falou, não resistindo ao seu impulso de sabe-tudo. 

— Você quer fazer companhia a John? 

— Desculpa. 

— Continue, Sev. 

— Fomos investigar as aranhas também, mas descobrimos que elas não haviam sido trazidas por um dos fundadores e sim por Hagrid. – O loiro irritante deu risada lá no fundo da sala. 

— John... – Ele passou a rir silenciosamente, apenas os ombros indicavam a contravenção.  

Ele está convivendo muito com Sharam, só pode. 

— Como é que vocês conseguiram ligar o incidente da floresta com todos os outros então? – Louise perguntou, realmente interessada. 

— Justamente assim, Lou, levando em consideração a Floresta e não as aranhas! 

— Vai dizer que vocês foram pesquisar quem plantou a floresta? – Fred disse, descrente. – Quem foi que plantou, Westhampton? 

— A Floresta é de antes da fundação de Hogwarts e sempre foi o habitat de criaturas mágicas. – O corvinal respondeu solicito. – Logo, ninguém plantou. 

— A gente não foi pesquisar isso, seus idiotas, a gente foi pesquisar a própria floresta e descobrimos que um acordo foi feito entre as criaturas e os fundadores de Hogwarts, para que a paz sempre reinasse por aqui. 

— Disso eu não sabia, viram em que livro? – John virou interessado e Sev sorriu com desdém pra ele.  

— Não pesquisamos em livros, fomos direto na fonte, nós... 

— Deixe eu contar essa parte, por favor, eu nunca te pedi nada! – Surpreendente descobrir que Aidan ainda mantém aquele poder de fofura que o irmão tem de sobra. Sev revirou os olhos pra isso. 

— Tá, conta. 

— Ok... Nós dois pegamos a capa e fomos até a Floresta, o plano era falar com um centauro, que são criaturas bacanas, nos dão aulas e tudo, né? Mas no caso, encontramos com as aranhas mesmo, o que foi ainda melhor. 

— Melhor?!? Encontrar as aranhas foi melhor? – Eu perguntei mais enfático do que eu gostaria. Pigarreei pra disfarçar, perguntando com mais naturalidade o resto. Segundo me olhou estranho. –  Não ficou com medo de falar com elas não? Essas criaturas quase devoraram a gente, Aidan! 

— Não, cara, que nada, elas foram super boazinhas. – Sev olhou com uma expressão de “Mas o quê?” – Ofereceram jantar pra gente e tudo, pena que a gente já tinha comido... 

— Aidan, elas ofereceram pra que a gente fosse... – Tony fez sinal pra que Sev não completasse, mas ele se irritou. – Ele tem que saber dessas coisas, ou vai morrer antes dos 18 anos! 

— Sim, mas vai morrer feliz, deixa ele. – Tony falou, sorrindo com uma cara de “ele é tão legal, deixa o menino ser feliz”. 

— O quê, Albus? Você achou que as aranhas fossem nos comer? – Aidan deu risada, depois olhou condescendente para o grifinório. – Nós somos alunos de Hogwarts, isso iria de encontro com o acordo feito com Helga Lufa–lufa. 

— Ah, foi ela quem fez o acordo, claro! – John falou, sentado de lado, feliz por aprender uma coisa nova que não estava nos livros. 

— A aranha mãe, que eu esqueci o nome, disse que todas as criaturas são avisadas no momento em que chegam na Floresta: a borda do bosque é o limite, não se arrisquem por lá. 

— Exatamente, Aidan, um: não estávamos fora da floresta e dois: o acordo não está mais valendo. 

Aidan absorveu essas informações, depois arregalou os olhos puxados, talvez finalmente percebendo o quão perto chegou de ser jantar de aranha gigante. Eu tive que perguntar algo mais relevante até do que as descobertas do lufano de que o mundo não é cor de rosa e que quase morreu indo nas loucuras de Sev. 

— As aranhas explicaram porque o acordo caiu? – Albus fez que não com a cabeça. 

— Elas disseram que os centauros sempre as avisavam e que havia um feitiço na orla da Floresta que as impediam de sair, mas deixavam os humanos entrar, o que sempre foi muito injusto, na opinião delas. 

— E o feitiço desapareceu, assim como o acordo, Al?– Louise perguntou e Fred olhou de um para o outro, desconfiado, mas acho que só eu notei. Esse idiota realmente acreditou na idiotice de Longbotton e Potter de que esses dois são um casal? 

Burrice tem limites! 

— A aranha disse que um dos filhotes passou a barreira sem problemas e elas viram os alunos deslizando no gelo e... 

— Elas estavam com fome, tadinhas... 

— Hataya, pela última vez: ELAS QUERIAM COMER VOCÊ! – Todo mundo se assustou com o grito de Rebeca e Aidan ainda fez biquinho depois do susto. 

— PARA DE ESCÂNDALO, TODA ESCOLA VAI TE OUVIR! – Todos olhamos para Louise, que deu de ombros. – Estava apenas mostrando para Wainz como é irritante quando gritam no ouvido da gente. 

— Ela é mesmo sua gêmea, hein, Cesc? Coerência zero. – Fiz um gesto obsceno para Dussel. 

— Podemos por favor voltar ao ponto? – Scorp falou, sendo ele o rei do “não suporto perder tempo”. – Qual a contribuição de Salazar Sonserina que parou ou vai parar, nesse raciocínio de vocês? 

— Nós íamos chegar aí. – Aidan disse, feliz de ter a palavra de novo. Levantei uma sobrancelha cética pra ele. – Eventualmente, claro. 

— Eu acredito que a parada da Sonserina já se deu anos atrás, na época de meu pai, pra ser mais preciso. 

— Vocês acham que se trata da câmara secreta, é isso? Que talvez ela tenha aberto o precedente para todos esses acontecimentos estranhos? – Fred perguntou para Sev, que deu de ombros. O afro-ruivo é bastante perspicaz, eu mesmo não fiz essa ligação. 

— Se o legado de Sonserina é a câmara, por que só agora o dos outros três parou? – Rebeca perguntou, deixando todos ainda mais pensativos. 

— Tem certeza que essa foi a única contribuição de Sonserina? – Louise perguntou, adicionando mais uma dúvida na lista. – Porque precisamos lembrar que desde que a câmara foi reaberta, já houve uma guerra e uma reconstrução da escola. 

— A câmara não deixou de funcionar com Harry Potter, inclusive Albus teve que usar ofidioglismo para abri-la! – Tony falou, fazendo Fred II se assustar.– E agora qualquer um pode entrar, talvez ela realmente tenha quebrado depois, como as outras coisas! 

— Você é ofidioglota? – Sev sorriu sacana para a pergunta desnecessária do primo. 

— Você sabe que não, seu idiota. Mas teria sido bom... 

— Espera um pouco aí, Tony... Você está insinuando que a gente quebrou a câmara e por isso as outras coisas foram se quebrando? – Encaramos a cara de desespero de Aidan, o que o fez completar seu questionamento. – Está dizendo que nós quebramos Hogwarts? 

— Ora, por favor, Aidan, me poupe. – John se levantou até a mesa onde estava eu, Aidan e Fred sentados. – Estamos nos colocando muito em alta conta: primeiro, não sabemos se a câmara realmente é a única contribuição de Sonserina. Segundo, não dá pra dizer se ela já estava ou não quebrada quando foi sugerida para ser campo de treino por Rose Weasley, quem a abriu para o Quadribol, de todo modo? E terceiro, vocês estão esquecendo de um ponto fundamental: as... 

— As Escadarias voltaram a funcionar! – John ficou com o dedo em riste e a fala inacabada na ponta da língua. – Ah, desculpa... Acabei com a surpresa? 

O loiro fez menção de pegar a varinha para azarar Albus, mas eu apontei severamente pra ele, que desistiu contrariado. 

— Você mereceu. – Suspirei antes de falar, agora para todos. – Claramente a gente não chegou a nenhum lugar, de novo... Sim, Aidan, foi um grande avanço, mas não o suficiente pra publicar. 

O oriental voltou a se acalmar, porque era a mais pura verdade, nós só temos teorias cruas e nada mais. 

— Próxima edição fica sendo mesmo o veredito das demandas levadas para o conselho e a nova regra de registro das poções de uso pessoal? – Tony falou e Scorp foi tomando nota, como sempre. 

— Eu quero escrever a parte das Poções, tão absurdo isso... – Rebeca não só ama Poções de beleza, como faz pra ela e para as amigas a maioria das que usa. Tem uma sala nas Masmorras liberada só para isso e agora ela e as amigas teriam que ficar dando satisfação ao estúpido Edward Fofoqueiro Lupin. 

— Vocês não vão discutir esses assuntos também? – Fred perguntou confuso, como o bom calouro tagarela que é. 

— Não, geralmente a gente usa reuniões presenciais apenas para coisas importantes... No caso foi mais pra você nos conhecer do que qualquer outra coisa. –  Louise falou, tocando no ombro de Segundo, já de pé, pronta pra sair. Ela e John sairiam primeiro. 

— Tem ficado perigoso andar se reunindo, porque meu pai está com o mapa, você sabe. – Albus deu de ombros, conformado. – Só marcamos aqui porque é uma sala de estudos e nós não somos um grupo suspeito. 

— Não são? Eu vejo dois acusados por Brenam no ano passado de envolvimento com os Iconoclastas. – Fred apontou pra mim e para John. – E os três melhores amigos de um e a irmã e o colega de time meliante... 

— Hey! 

— Sem ofensa, Dussel, só estou falando as coisas como são. – Esse “sem ofensa” não funcionou muito, porque Enrique continuou fuzilando o ruivo com o olhar. – De desassociado mesmo só o japonês doido e meu primo, que na verdade é suspeito até quando é inocente! 

— Ei, cara! 

— Dessa vez eu quis ofender mesmo. – Sev olhou mal humorado para o seu parente chato. Não quis colocá-lo no grupo? Agora aguente! – No caso, como vocês ainda não foram pegos? 

No caso, somos bons usando a obviedade a nosso favor. – John pegou suas coisas e foi saindo com Louise. – Vá se acostumando. 

Ambos os corvinais saíram sem maiores cerimônias, deixando Fred meio perdido. 

— Então vocês evitam se encontrar e se aproveitam que estão interligados de alguma forma para despistar as pessoas? – Ele aprende rápido. Fiz que sim com a cabeça. – E como é que se comunicam entre si? 

Que bom que ele perguntou! 

— Com essa belezinha aqui. – Saquei a última pena do Ocaso e entreguei a um Weasley muito desconfiado. – Não precisa molhar no tinteiro, retornará à você caso a perca e o melhor... Vá pela sombra, unicórnio! 

— Estou tentando evitar as sombras, já estou passando tempo demais com sonserinos. – Aidan já ia saindo sozinho. Coloquei a mão no peito, ofendido com essa resposta e o lufano riu da minha cara. – Viu? Culpa de vocês. 

Ele saiu tranquilo, para o lado oposto dos corvinais. Temos todo um protocolo, que logo mais Segundo receberá em mãos, aqui não é bagunça como ele está pensando. 

— Então vocês ficam se escrevendo bilhetinhos a torto e a direito? – Ele perguntou com desdém. 

— Na verdade, essa pena tem um ou dois segredinhos nela... – Fred trouxe a pena preta para frente dos olhos e a inspecionou minuciosamente. – Basta escrever o nome de pessoa em qualquer papel ou superfície, que as próximas palavras acharão seu remetente, esteja onde estiver. 

Ele olhou para mim, depois de volta para pena, impressionado. 

— Eu fiz essa cara também. – Enrique falou, deixando a sala logo em seguida. 

— Essa é a primeira mostra concreta de que eu não estou me metendo numa furada épica. – Fred disse empolgado com a nossa obra-prima, como o bom inventor que é.  

— Ah, meu caro Weasley II... Na verdade essa é a prova de que você está entrando em uma furada épica. –  Tony sorriu e deu tapinhas confortadores no ombro do sextanista. – Seja bem–vindo aos Iconoclastas. 

Aproveitei a deixa pra ir com os L.P’s e Rebeca, mas fui parado por Fred, me perguntando quando, depois da gente, claro, ele poderia sair. Sorri, feliz de verdade com a pergunta. 

— Ah, meu caro... Achei que você poderia sair junto com seu priminho querido. – Albus olhou surpreso, como se só tivesse notado agora que iria sobrar apenas ele e Fred na sala. – Sinto que vocês tem muito o que conversar. 

Fechei a porta, respirando fundo. Ah, como eu gosto de ajudar os outros, sou todo um anjo da guarda, só falta comprar a auréola dourada... 

— Você não presta mesmo, hein? – A monstra disse, divertida. 

— Presto na medida do possível, já sabem.


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Notas finais do capítulo

Desculpem o desabafo, mas é que esse computador fica travando e até os programas confiáveis se tornam armadilhas. E ainda tem o fato de que é final de semestre, falta apenas uma prova agora, mas devo admitir que meu desgaste mental está tirando meu melhor. Desculpa o atraso, para compensar, posso fazer uma cena bônus com a conversa de Albus e Fred, mas só se vocês quiserem.

Bjuxxx

P. S.: Obrigada por me avisar do erro, Jweek, foi uma das corrigidas q eu perdi nesse bug, eu deixo certas coisas em aberto pra pesquisar depois e a vespa apocrita foi uma delas.