Hogwarts: uma outra história escrita por LC_Pena


Capítulo 66
Capítulo 66. O papel que me cabe.


Notas iniciais do capítulo

Postei um pouco mais cedo pra ver se fica mais fácil pra vocês lerem ainda no final de semana. :)



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Capítulo 66. O papel que me cabe.

Eu e Fred Weasley II entramos em um acordo não-verbal de não comentar nada sobre o Ocaso, até ter a opinião de todos, mesmo que já estivesse claro que mexer na memória dele não era mais uma possibilidade.

Rebeca, Louise e John estavam reticentes, porque grifinórios eram muito chatos de se trabalhar e eram criaturas propensas a atos impensados de heroísmo individual, argumento esse que Sev discordou veementemente.

Ele, na verdade, me surpreendeu com sua postura, ficou muito animado e fez a maior campanha para ter o primo no Ocaso, diferente do que fez com Rose, fato que não passou despercebido por Tony. As exatas palavras de defesa de Sev foram: “Ele vai dar uma elevada sinistra na nossa parte logística”.

“Sinistro é o que Potter e Longbotton vão fazer quando descobrirem tudo.”, foi o que Enrique disse, na sua consultoria não solicitada. Acho que todos estávamos nos acostumando com os comentários impertinentes e aleatórios dele, embora alguns fossem realmente úteis, de acordo com Scorp.

De qualquer modo, Albus tinha razão, a parte da logística era um gargalo nas nossas atividades, com Potter pai em tempo integral em posse do Mapa dos marotos, as nossas reuniões já arriscadas, estavam se tornando impossíveis, principalmente para Sev.

Ele estava aproveitando esse tempo longe do progenitor e do irmão bisbilhoteiros para investigar um pouco mais a respeito das Escadarias, do Chapéu Seletor e da Floresta Proibida, sem muito sucesso até agora, mas, nas palavras de Aidan, “cedo ou tarde a gente vai tropeçar em algo, gente”.

Bem, se não tiver nada em que se apegar, se apegue a isso.

Voltei a acompanhar a boa tabela entre Maggie e Frank no último treino de reconhecimento, antes do jogo de amanhã. Os artilheiros até mostravam um certo grau de entrosamento, mas nem mesmo Longbotton era bom nas divididas mais agressivas.

Cansei de ficar vendo a fraqueza mais clara do nosso ataque se repetindo outra e outra vez, então gritei Romeo para que ele apertasse Duran na ponta esquerda, na tentativa de prepará-la para o mano a mano contra os africanos grandões, mas ao fazer isso, o absurdamente imbecil do namorado dela acertou um balaço tão certeiro no rosto de meu artilheiro, que rompeu o supercílio do loiro.

— MAS O QUE DIABOS VOCÊ ESTÁ FAZENDO, O’BRIEN, ISSO É SÓ UM TREINO! – Estava quase arrancando os cabelos da arquibancada, Dussel fez um sinal para que eu me acalmasse, o qual eu resolvi levar em conta. – Romeo está no seu time agora, pelo amor de Merlin, guarde a fúria para o jogo!

O loiro pousou do meu lado e do de Fred, tirando as luvas na tentativa de estancar o sangue com a barra da camisa. Segurei ele e levantei seu rosto para avaliar o estrago, mas no fim das contas não era um corte profundo, já vi Habermas jogar muito mais machucado que isso.

Fiz um episkey rápido, bem a tempo de ver a careta de Fred para algo atrás de mim.

— Oh-oh! Não olhe agora, Fábregas, mas você parece ter conseguido a incrível façanha de irritar Frank. – Aff, o que foi que eu diz dessa vez para tirar a boneca do sério? Romeo olhou por sobre meus ombros e torceu a boca em desagrado.

— Ele tem razão, Cesc, o Capitão Mandrágora tá vindo aí e não parece nada feliz...

— Nada de apelidos, Romeo, de volta ao campo. – Dei um tapa amigável na orelha dele, que voltou a montar a vassoura depois de se jogar em queda livre da arquibancada. Esse moleque simplesmente não tem juízo.

Me virei para conversar com o meu - no papel, óbvio porque na vida real o buraco é mais embaixo - vice capitão, quando eu percebi o que os caras queriam dizer com “irritado”. Trevosobotton hoje havia se deixado abraçar ainda mais profundamente pelas trevas, o que me fez começar a conversa com ele em um tom pacífico.

— Calma, o que quer que tenha acontecido, dá pra ser revertido! Sem lápis de olho você não fica! – Ok, com o ex-namorado cretino da minha irmã não tem pacificação, só zoeira.

— Você não me provoque! Já não me basta a porra da desorganização que você causou com a peça que pregou naquela pobre garota... – Ele respirou fundo e passou a mão no rosto suado, de uma maneira agressiva. Olha só, não é que mister trevas xinga como nós mortais? – Não tente bagunçar ainda mais as coisas sobrepondo os meus comandos!

— Não estou sobrepondo merda nenhuma, sossega a bunda, estou apenas tentando nos dar alguma chance de...

— Quer nos dar alguma chance? Vê se fica quieto uma vez na vida pra ver se o treinador resolve te colocar de volta na seleção, caralho! Acha que eu estou feliz treinando um time desunido e desmotivado com o capitão suspenso?

Virei para Fred, que estava muito sério, sentado na arquibancada atrás de mim e perguntei divertido.

— É assim que vocês lidam com crises na Grifinória?

— Já chega! – Longbotton avançou para cima de mim e me segurou pela gola do uniforme, que eu havia colocado só de provocação mesmo. O garoto ridículo estava sibilando agora, como se tivesse por um fio de quebrar a minha cara. Por mim tudo bem, eu iria quebrar a cara dele em retorno, mas isso não seria nada bom para o time e só por isso resolvi deixá-lo desabafar. – Acha que estou brincando? Na ausência do treinador, EU mando nessa bosta, então é bom...

— Solta ele. – Revirei os olhos, porque era só o que me faltava!

— Está tudo bem, Enrique, ele precisa desabafar. – Era pra ter soado em um tom sem inflexão alguma, mas saiu meio que sarcástico, não deu pra evitar, porque eu não sei inspirar calma em ninguém.

O grifinório, outrora tranquilão, literalmente rosnou e me segurou com mais força pelas vestes e quando eu já estava me preparando para me desviar do golpe que com certeza viria, vi o jogador mais velho - e aparentemente com menos juízo do time - acertando um soco em Longbotton.

— MAS QUE MERDA, DUSSEL!

Obviamente que Frank, do jeito que estava irritado, adorou encontrar alguém mais do que disposto a brigar com ele, porque esse é o tipo de coisa idiota que jogadores de quadribol gostam de fazer quando estão estressados.

Os dois começaram a brigar - até que muito bem, para dois bruxos no estilo trouxa - e apesar de Romeo tentar segurar Enrique e Fred tentar parar seu capitão, apenas James Potter conseguiu separar a briga, usando magia, claro.

Por que a primeira coisa que esquecemos na raiva são as soluções mais óbvias?

— Dá pra vocês dois pararem com isso, não temos tempo para essa merda! – Potter olhou primeiro para Dussel - que cuspiu um pouco de sangue desdenhosamente nos pés dele, como a boa criança madura que ele é - e depois para Longbotton, que parecia doido para continuar a briga.

— Já acabou, Potter, ainda bem que seu pai não estava aqui pra ver isso, não é como se pudéssemos nos dar ao luxo de perder mais jogadores suspe...

— Eu concordo plenamente, Fábregas, e é por isso mesmo que quero que você e Fred saiam agora mesmo desse estádio.

— O QUÊ? -  Poderia ter sido dito por mim, mas na verdade foi Fred que questionou o primo, irritado. – Quem te deu alguma autoridade pra falar com a gente assim, James?

— Pelo amor de Circe, Fred, apenas vá e leve Fábregas com você! – Ele olhou para mim e depois para o resto do time. – Vocês dois já fizeram o bastante por hoje.

Se isso foi ofensivo para mim, imagina para Segundo que era unha e carne com Potter e dessa vez era totalmente inocente. O goleiro não disse mais nada, apenas deu as costas e foi embora, deixando James com um olhar ente o arrependido e resignado, se é que isso era possível.

— Esse jogo não precisa durar para sempre, mas vai, se vocês deixarem ele tirar o pior de vocês. – Olhei para todos, em especial para Longbotton, que parecia um pouco menos transtornado agora. – A partida não está perdida, pare de agir como um imbecil, capitão.

Dei as costas para o que deveria ser um time, mas, honestamente, não faço ideia do que era.

***

Estávamos todos reunidos no Salão de refeições do dirigível, já que, diferente do restante da comitiva, a seleção estava numa concentração pré-jogo. O lugar era repleto de mesas redondas, para quatro pessoas no máximo, o que só ajudava na união da equipe, claro.

Eu havia sentado somente com os L. P’s e Tony estava agindo como se nunca tivesse visto comida na vida, como sempre.

— Mas sério, gente, só eu achei estranho a briga de Weasley e Potter bem no momento em que estamos cogitando colocar ele no vocês sabem o que? – Tony perguntou, ignorando as boas maneiras, limpando as mãos na toalha da mesa. A senhora Zabini deve ficar super orgulhosa dele.

— Acha que eles estão tentando nos convencer de que estão distantes e que Potter não seria uma ameaça pra gente? – Olhei para a mesa grifinória, onde todos estavam comendo em um silêncio esquisito.

— Já chegamos à conclusão de que ninguém é o que parece e esse não seria o primeiro plano tortuoso de um grifinório. – Scorp terminou seu suco antes de continuar. – Ademais, estranho mesmo foi o destempero de Longbotton... Vocês acham que ele tá assim pelo jogo ou tem algo mais?

— Algo mais o que? O lance dele com Louise? – Perguntei e esperei a reação constrangedora de Tony, mas ele apenas continuou esperando a resposta de Scorp, assim como eu. Será que ele já deixou pra lá essa trouxice que ele tem por minha irmã?

— Bem, sim... Todo mundo sabe como essas coisas de emocional podem desconcentrar um jogador... – O loiro platinado falou, enquanto mexia distraído um talher pela mesa.

— Falando nisso, você precisa manter a cabeça no jogo, Scorp. – Ele me olhou surpreso, mas depois fez que sim com a cabeça. – Essa partida não vai ser fácil e por mais que vá de encontro com o que eu prego, você precisa se concentrar apenas no seu trabalho, esqueça o resto do time.

— Como assim? – O loiro perguntou intrigado. Tony suspirou e eu deixei que ele falasse o que estava pensando, porque desde que entramos para seleção, ele não tem falado abertamente seus pensamentos e planos, é praticamente como se não se sentisse parte desse time.

— Não estamos preparados. – Eu e Scorp continuamos olhando para ele, que largou os talheres e se jogou folgadamente na cadeira. – E talvez nunca estejamos, pronto, falei.

— Nós vamos perder esse campeonato, não é? – Scorp falou inseguro e eu não gostei dessa sensação de impotência nos meus amigos. Passei a mão no rosto, exasperado.

— A frustração maior é que poderíamos ganhar na base do talento e tudo mais, mas o time não é coeso, não temos liderança...

— Harry Potter é uma bosta de técnico, metade do tempo ele não está e quando está, não sabe o que fazer para melhorar as coisas. – Tony falou, olhando o salão distraidamente. – Não devíamos ficar contando com ele.

— A verdade é que ele está aqui pela credibilidade e segurança de Hogwarts, o cargo dele é mais político do que qualquer coisa. – Scorp deu de ombros quando pedimos por mais informações sobre isso. – Aidan me falou uma coisa certa um dia desses, quando eu comentei que o técnico estava mais perdido do que elfo em loja de vestes, ele me disse “Harry Potter não é técnico, sabe disso e não se importa, essa não seria a primeira vez que ele assume um papel ingrato pelo bem maior”.

— Aidan disse isso? – Falei impressionado com a perspicácia e seriedade do raciocínio dele.

— O oriental é um dos maiores fãs de Potter, mas ele consegue ver através do personagem. – Tony completou. – Está na hora de fazermos o mesmo, assumindo as rédeas da situação. Assim como você precisou dar um sacode na gente no ano passado e mostrar que as mesmas atitudes levariam aos mesmos resultados, essa seleção precisa ver que desse jeito a gente só tem um caminho: o fracasso.

— O que sugere? Como eu posso mudar o raciocínio dos outros? Era mais fácil quando se tratava de sonserinos, do nosso tipo eu entendo, somos ambiciosos e conseguimos ver o todo antes do indivíduo, mas esses caras...

Tony bateu os dedos na mesa, pensativo. Minha pergunta ficou no ar, enquanto eu deixava Scorp e ele pensarem. Tirei esse tempo para avaliar melhor os grupinhos também, quem sabe eu não tenho uma epifania?

Os corvinais e lufanos estavam sentados juntos numa frágil cordialidade, já que Ginns não ia muito com a cara de O’Brien, seja porque o lufano era seu concorrente direto no time, seja porque ele era um imbecil mesmo.

Maggie e Sienna pareciam tranquilas, assim como Lia e Lexa, que conversavam alguma coisa na mesma mesa de Romeo e Enrique. Com os sonserinos eu não via muita dificuldade, todos ainda continuavam me buscando por orientações e para discutir quadribol, ou seja, eles ainda me tem como norte.

Em pensar que o que quer que mantenha nossa equipe claramente como uma unidade, diferente em todos os sentidos, mas se movendo como um só corpo, havia sido forjado no calor do desespero, justamente por estar no fundo do poço...

Isso meio que me deu uma ideia.

— Precisamos mostrar o óbvio pra eles. – Tony e Scorp me olharam meio perdidos, já que estavam tão aéreos quanto eu. – Sem joguinhos, sem indiretas, precisamos ser claros e falar as verdades cruéis, como fiz com o caso das poções no ano passado.

— Não dá pra ir pegando todos de uma vez e ir jogando a verdade na cara, como você fez com a gente, porque a Sonserina tinha um problema em comum, aqui a coisa é diferente, cada jogador é um universo.

Tony parecia ter lido a minha mente, porque era exatamente aí que eu queria chegar. No caso da Sonserina, todos estavam envergonhados e se sentindo marginalizados, tanto que seriam capazes de qualquer coisa para sair daquela situação.

Na maior parte do tempo eu não sabia o que estava fazendo naquela época, só segui meu instinto de treinar duro para obter resultados consistentes, ao mesmo tempo que admitia minha inexperiência e necessidade da cooperação de todos para que o time desse certo.

Aqui a história é diferente, a Sonserina é uma unidade e a maioria e por isso mesmo talvez a gente tenha que se colocar como base da equipe. A Corvinal está desacreditada e vulnerável, já a Lufa-lufa está forte, mas com uma amostra tão pequena da equipe que praticamente não traz nada do time segundo colocado no campeonato.

Mas a Grifinória é provavelmente a casa mais problemática de todas: eles são uma boa parte do time, inclusive do time titular, mas não vieram de uma boa fase. Longbotton é um excelente jogador, mas já notei que liderar não é bem a praia dele, quero dizer, é fácil coordenar a equipe quando se tá ganhando, mexendo nas peças como um tabuleiro de xadrez, difícil mesmo é fazer isso perdendo de goleada, com a moral lá embaixo.

Ele pareceu ter ficado momentaneamente satisfeito ao ver que eu não era o capitão tirano, louco e perturbado de sua imaginação, então se sentiu à vontade para coordenar seu pequeno mundo, no caso, os artilheiros, mas foi só eu sair para ele ser jogado de volta na posição de líder e dessa vez com uma equipe que, como ele mesmo falou, era desunida e desmotivada.

— Não tem jeito, vou ter que vestir a minha capa de capitão demoníaco e fazer da vida de todo mundo um inferno!

— Você já não estava fazendo isso antes?

— Vai se foder, Scorp.

***

O discurso motivacional de Harry Potter foi muito bonito e inflamado, mas não motivou ninguém, o que era esperado e bom para meus planos futuros. Tony já havia se dirigido para aquele lugar sombrio que ele sempre vai antes dos jogos e Scorp andava de um lado para o outro, nervoso, parecendo uma barata tonta.

Ele não havia ficado assim nem na final do campeonato.

Queria poder ir nele e dizer que estava tudo bem ou ir em Longbotton, que continuava a traçar jogadas em um pergaminho enfeitiçado, para que Lia e Maggie decorassem. Pela cara das duas elas estavam bem longe disso.

Não iria dizer que a culpa da Grifinória ter ficado em terceiro lugar era inteiramente de seu capitão, o erro individual contou muito para as derrotas deles, fora que houve também o mérito das equipes adversárias, o campeonato de Hogwarts era sempre muito acirrado.

Já James Potter, esse sim o elo fraco da equipe leonina, estava recostado na porta de saída do vestiário, ouvindo distraidamente seu pai falar alguma coisa. Queria poder dizer a ele também que ele havia melhorado visivelmente nos treinos com Enrique e que a provável derrota não seria culpa dele, mas esse não era meu papel hoje.

Respirei fundo, porque não podia nem sequer dizer ao time que a nossa derrota era certa, infelizmente, mas não seria decisiva no campeonato, porque temos um time talentoso sim, porém com problemas sérios de confiança e tão pouco podia consolar ninguém, porque, novamente, esse não era meu papel.

Comecei meu teatro ensaiado, que era a única coisa que eu podia fazer.

— A gente vai perder tão feio... - Sussurrei desanimado, com as vestes do uniforme, mas nenhum protetor no corpo. Elas chega pinicavam na pele, de vergonha alheia com o meu tom derrotista.

— Com esse seu pessimismo, com certeza! -Longbobo falou, mesmo sem ser chamado na conversa dos humanos. Não pude parar para admirar sua recém-descoberta energia com esse simples comentário, porque tinha que continuar meu difícil papel de ser irritante, mas honesto.

— Eu nem vou jogar, não ouse colocar a culpa em mim, assombração! E essa é a coisa mais absurda da vida, porque EU, capitão da equipe vencedora de Hogwarts, não vou jogar!

— Aí está o verdadeiro motivo do seu agouro... - O garoto que parecia mais depressivo do que nunca, resmungou do seu lugar infeliz perto da porta, nem ligando para o apelido que eu dei a ele. Saco, era difícil manter esse emo infeliz alerta.

Enrique sorriu, sentado no chão perto dele. Traidor sacana, ele, assim como todos os sonserinos, sabiam o que eu estava tentando fazer, tentando incitar uma fúria contra mim e Potter, porque isso ao menos uniria o time em uma causa comum.

Teoricamente depois seria mais fácil mostrar a eles que eu não sou tão ruim quanto pareço e que não preciso ser realmente combatido, mas quando isso acontecer, ao menos eles já vão estar integrados.

De novo, isso teoricamente.

Fora que nenhum time de Hogwarts jamais precisou de um técnico, logo a ausência de HP não seria algo tão sentido assim, só precisamos que as casas parem de culpar umas às outras e comecem a pensar como uma coisa só.

— Não só minha ausência será sentida, como também... Esse time é uma merda confusa, meu eterno agradecimento aos envolvidos. - Fiz um gesto de "lavagem de mãos" e dei por encerrado meu discurso. Ao menos uma parte dos meus objetivos já haviam sido alcançados, todos aqueles que não me conheciam já estavam começando a nutrir seu ódio por mim e principalmente, pelo treinador Potter.

Bom mesmo, eles precisarão disso logo, logo e já que, segundo Aidan, o senhor heroico gosta de se sacrificar pelo bem maior... Ele será sacrificado pelo bem maior então.

***

As firulas Dussescas de abertura do campeonato haviam sido realmente espetaculares e dava um certo frio na barriga imaginar que todas as outras escolas estavam nos assistindo nesse exato momento.

Uagadou havia trazido toda a África para dentro do estádio e nossa modesta torcida não conseguiria fazer frente a ela nem com todos os ampliadores de som do mundo! Romeo estava resmungando sentado ao meu lado na tribuna dos atletas reservas, lugar muito bem posicionado, abaixo apenas do camarote vip, onde a família de Enrique deveria estar.

— Nós vamos sair surdos daqui! – O loiro gritou do meu lado esquerdo, tapando os ouvidos para os gritos animados e ensurdecedores do estádio com uma acústica acachapante. Os dois times já haviam se posicionado no centro do campo, então Enrique aproveitou a explicação das regras e se inclinou no meu lado direito, para falar diretamente com seu amigo.

— Onde estão os redutores de ruído que eu te dei? – Enrique havia dado um par de redutores de ruídos para todos os jogadores da Sonserina antes de deixarmos Hogwarts. Saquei meu onióculos recém-recuperado do bolso da capa de frio, satisfeito de não ter que ouvir o sermão dele por ter perdido alguma coisa.

— Você não deveria ter me dado eles com tanta antecedência, eu os perdi! – Romeo fez uma cara engraçada, entre a culpa e o desespero e acho que ele e Enrique só são amigos porque o loiro não estava se importando muito com a reação do apanhador e sim com o seu incômodo atual.

Enrique fez um gesto bruxo para simbolizar que Romeo era um homem morto, mas o loiro apenas sussurrou que queria outro par de protetores de ouvido. Nem me esforcei para tentar entender o xingamento do moreno ao meu lado, porque me virei para frente e usei meu onióculos para ver melhor as expressões de Scorp lá no aro mais distante de nós e Merlin, ele parecia que iria vomitar!

— Scorp não está bem, cadê Longbotton pra fazer seu papel de capitão? – Eu murmurei meio que inconscientemente, algo que saia bastante do meu personagem.

— Calma, Malfoy vai ficar bem. – Enrique me falou, colocando uma mão desnecessária na minha perna. – Você parece uma mamãe pufosa cuidando dos seus filhotes desse jeito.

Eu tirei a mão dele de mim e o fuzilei com o olhar, mas ele só sorriu sacana. Me inclinei para frente, ignorando Dussel, para poder falar com Ginns, que estava ladeado por Sienna e Lexa de um lado e Segundo do outro.

— Era para você estar lá agora, cara... – Usei meu tom mais inconformado. – A gente vai ter que dar um jeito de acabar com essa politicagem de Potter contra a Corvinal.

Os quatro jogadores na fileira de baixo olharam para mim sem entender, Segundo levantou a sobrancelha questionadora mais impressionante de todas, mas foi o próprio Connor que me perguntou o que eu queria dizer com isso.

— Ora, mas não era você mesmo que estava reclamando que não ia jogar? Nós dois sabemos que tem apenas uma vaga de batedor em jogo e se eu jogar, você não joga.

— Bem... Por algum milagre da vida não me tiraram o cargo de capitão ainda, meu caro, o que na verdade é perfeito, porque sou melhor capitão do que batedor. – Todos me olharam sem entender, divididos entre assistir o começo do jogo e ouvir o restante da minha fala. – Digam o que quiser dos sonserinos, mas nós temos foco nos nossos objetivos e o meu atual é ser campeão, custe o que custar.

Ginns me encarou seriamente, assim como todos os outros e Romeo esperou o apito inicial antes de falar seu veredito, corroborando com o meu plano de mostrar a unidade da Sonserina como base dessa equipe.

—Todos queremos ganhar, Cesc, não importa se seremos as estrelas ou não. – Romeo me encarou, parecendo uma pessoa ajuizada e eu sorri em retorno a isso. – Basta apenas a gente descobrir como.

Um gol no aro esquerdo de Scorp roubou a atenção de todos, mas a semente havia sido plantada com sucesso. Voltei a me recostar e coloquei meu onióculos no rosto para acompanhar aquela tragédia grega em campo, não sem antes ver um sorrisinho satisfeito de Enrique.

Palhaço, mamãe pufosa é o rabo dele!

***

Os primeiros três quartos de partida foram difíceis de assistir, Uagadou abriu 110 a 30 e era doloroso ver que todo o ataque deles, que não eram interceptados por nossos artilheiros ou parados por Tony e O’Brien, viravam gols.

Scorp tinha dado um verdadeiro apagão e tenho certeza que nesse exato momento ele apenas estava torcendo para o jogo acabar. Não posso culpá-lo inteiramente, ele já está em um estado de nervos tal, que mesmo que Longbotton realmente tentasse animá-lo, não surtiria mais efeito e era para o capitão ter lidado com isso antes.

O estádio todo segurou a respiração e então gritou em desespero, eu estava distraído, mas por sorte conseguir ver Maggie Duran aterrissando em relativa segurança no chão, fazendo gestos para seu namorado não acompanhá-la.

Tony voou para perto dos dois e deve ter sido muito convincente, porque conseguiu arrancar Theodor de perto de sua namorada, mesmo que ela estivesse mancando dolorosamente em direção a saída para os vestiários.

Infelizmente essa ausência de batedores e uma artilheira não foi desperdiçada pelos jogadores de Uagadou, que conseguiram aumentar mais 10 pontos no placar. Me recostei na cadeira, mentalmente estafado.

— Nem de longe está sendo tão ruim quanto eu pensei... – Enrique falou, enquanto passava um saco de pipoca caramelada para Romeo, por cima do meu colo. Ele ajustou os botões de seu próprio onióculos e depois soltou um riso despropositado. – Hum... Lia parece muito boa nesse uniforme, pena que ela ainda está pirada comigo.

— Foi... Foi por causa de quê mesmo, que ela ficou brava contigo? – Romeo perguntou, ainda terminando de engolir um punhado das pobres pipocas infelizes que futuramente virariam bosta de trasgo.

— Eu fodi com uma foda dela... – Enrique falou divertido, fazendo o loiro de dente falhado rir. – Não sei onde o mundo vai parar com tanto rancor...

O banco embaixo de nós olhou meio surpreso para cima com essas baixarias que não eram muito comuns fora das Masmorras e eu apenas revirei os olhos. Ou vai ver que eles fazem baixaria também, mas são só hipócritas mesmo e querem passar uma imagem de superiores a gente.

Típico.

O prostituto do meu lado posicionou o onióculos irritantemente na minha cara, então, assim que Romeo passou o saquinho laranja de pipoca de volta, eu tomei da mão dele e atirei lá na puta que pariu. Na verdade eu queria atirar Enrique, mas na ausência da possibilidade...

— Hey!

O goleiro reserva de Uagadou nos olhou bravo algumas fileiras mais abaixo, cheio de pipoca no cabelo e eu, como a pessoa diplomática e politicamente correta que sou, tentei reverter a situação, claro.

— Vai se foder, seu otário! – Dussel deu risada ao meu lado e ainda pude ver Sharam segurando o colega de time no lugar para que ele não viesse tirar satisfação comigo. Pena, teria sido bom poder descontar minha raiva em alguém.

Uma vaia categórica e pesada tomou conta do estádio e eu voltei meu olhar para a ação novamente, só pra ver Tony e O’Brien se cumprimentando no ar, com um dos batedores grandões de Uagadou tentando se segurar na amurada do camarote da comitiva das outras escolas.

Ah, não acredito que eu perdi esse lance, vou ter que dar replay no onióculos!

Uma garota japonesa até tentou ajudá-lo, mas o garoto sofreu mesmo uma queda de uns sete metros, desacelerada, assim como a de Maggie, nos últimos centímetros. Uma estúpida medida de segurança adotada nesse campeonato, mas ao menos ele também foi desclassificado ao tocar os pés no chão.

— Parece que serviu de alguma coisa o balaço em Duran, ao menos agora O’Brien acordou! – Romeo falou empolgado.

Ele estava certo, Tony e Theodor começaram a bloquear os ataques de Uagadou com mais eficiência e Longbotton conseguiu se entender com Lia o suficiente para diminuir a desvantagem para apenas 60 pontos, o que foi, vamos admitir, um milagre!

Infelizmente foi apenas nos últimos minutos do jogo que Scorp voltou para seu corpo e defendeu três goles seguidas, ajudando na manutenção do placar, mas não adiantou muito, porque logo em seguida, James deixou a garota miúda debaixo do capuz negro de Uagadou roubar o pomo de ouro bem embaixo de seu nariz.

Argh! Uma coisa é saber que vamos perder, outra bem diferente é ser derrotado de fato. Eu. Não. Curti.

***

— Eu disse, não disse? - Falei, porque faz parte do meu charme chutar cachorro morto e faz parte do meu papel também, infelizmente.

— Cala boca, Fábregas! - Três pessoas disseram ao mesmo tempo - James, O'Brien e Lia - o que me fez sorrir, era a primeira coisa que eles três faziam como um time!

— Isso que dá jogar com uma colcha de retalhos...

— Senhor Fábregas...

— Cada um fazendo uma jogada, indo para um lado diferente... Não tinha como dar certo, meus queridos!

— Acabou?

— Fora O'Brien que já é ruim de berço, ficou caçando mariposa a noite toda, coitado, só melhorou quando a namorada quase morreu! - Coitado nada, é um desgraçado mesmo! Nessa parte eu nem tive que fingir indignação.

— Não, não acabou.

— Pelo menos eu não fico jogando praga na equipe, nem magia negra. - Essa é a visão de uma latrina lufana despejando merda, pessoal! Nem preciso dizer que não havia entendido esse relincho, né?

— Como é que é?

— Meninos...

— Você me ouviu, seu trasgo! Pensa que eu não vi você fazendo um daqueles seus mantras absurdos?

— Ora, garoto, como se eu precisasse amaldiçoar você! Parece um orc bêbado, girando em círculo com o bastão no ombro.

— Eu não entendi uma palavra do que você disse, espanhol, por que não tira o pomo de Dussel da boca? 

Ok, esse é o tipo de coisa que apenas a violência física pode responder, mas antes que eu pudesse fazer O'Brien engolir os dentes tortos dele, eis que o senhor Harry Potter resolveu falar.

Finalmente, treinador!

— JÁ CHEGA, VOCÊS DOIS! - Todo mundo o olhou meio assustado, mas eu ainda pude passar a mão na garganta, ameaçando o maldito batedor de claras da Lufa-lufa. Espero que já tenha escolhido as vestes do funera... – Sente, senhor Fábregas.

O diretor da Sonserina olhou nos olhos de cada um dos jogadores, reservas e titulares, fazendo quase todos virarem o rosto, intimidados. Eu me sentei, porque estava muito interessado em ver onde isso ia dar, já que essa é a primeira vez que Potter assumiu algo parecido com autoridade.

— Eu não vejo um time. - Ele fez um gesto amplo, abrangendo todo o vestiário. - Mal vejo colegas de escola.

É porque não tem nada pra ver aqui, amigo, estou te dizendo isso há um século! Ele respirou fundo, juntando as mãos como em uma oração. Eu olhei para Tony e ele tinha a cara clássica do "Mas que diabos?".

— Entretanto nem tudo está perdido, crianças, porque eu tive uma excelente ideia. - Potter disse, dando o mesmo sorriso meio bobo que o filho mais velho dá de vez em quando. Os caçulas puxaram a malícia da mãe, certeza.

Estou com medo.

— Não, senhor Potter, seus planos eram feitos por Hermione Granger, lembra? - Todos rimos, apesar do clima chato pós-derrota, inclusive o aludido, ainda mais porque Tony, o senhor dos planos de três partes, tinha falado isso em um tom cansado.

— Hermione não planeja mais as coisas há um tempo, meu caro. - James Sirius sussurrou algo para o primo, que segurou a risada do outro lado do vestiário. Parece que alguém está mentindo, que surpresa. Ao menos serviu pra Potter filho e Segundo voltarem as boas. – E esse plano é bastante simples, na verdade.

— Um plano que envolve unificar o time é simples, senhor diretor? - Lia perguntou usando as palavras respeitosamente, mas o tom era desdenhoso.

— Claro que sim! - Ele respirou fundo e sorriu satisfeito, antes mesmo de dizer a ideia. – O time vai ganhar aposentos oficiais do torneio, na escola.

— Eu estou fora, não preciso disso.

— Senta aí, senhor Dussel, ainda não terminei. - E eu ainda estou tentando entender o que ele disse antes, assim como o restante do time que estava se entreolhando com cara de "Hã?". Dussel parecia ter entendido bem, porque estava meio que decidindo se sentava de novo ou se ia embora de vez.

— Espera, como assim aposentos oficiais? - Falou a outra desgraça que eu tenho que matar, mas só depois do campeonato, porque no Quadribol ele é bom.

— Bem, senhor Longbotton, me refiro a dormitórios, banheiros, sala comunal... Qual é a definição de aposentos para vocês?

Eu até teria apreciado o sarcasmo sonserino, se não estivesse com uma vontade imensa de vomitar, agora que tinha entendido tudo.

— Por que Voldemort não te matou quando teve a chance? - Harry Potter me olhou abismado, o resto do time também. – Perdão, quis dizer, porque o senhor é tão odioso?

Consertei rápido a fala, porque não queria soar desrespeitoso. O diretor/treinador respirou fundo e pareceu contar até dez antes de continuar falando. Honestamente, estou quase caindo no meu próprio plano e odiando Harry Potter também!

— Por Merlin, que drama! Vamos, vamos, melhorem essas caras, vocês ainda precisam falar com os jornalistas. - Eu suspirei meio aliviado, ao menos para isso, já que comigo é que a imprensa não iria querer falar. – Rita Skeeter está aí.

Epa, eu tenho uma ou duas coisas que posso dizer a ela sobre o jogo! E por coisas, eu quero dizer fofocas.

— Ah, pai! - James falou com raiva e depois que o pai dele nada fez, saiu batendo os pés para o chuveiro.

— Algum voluntário para falar?- Ninguém se pronunciou, fingiram que tinham coisas mais importantes a fazer, tipo, tirar a meia ou destrançar o cabelo. – Thiollent, Zabini, Longbotton, Malfoy?

— Eu posso falar. - Levantei a mão, com um sorriso no rosto.

— Bela tentativa, mais uma palavra e você vai limpar as arquibancadas com a língua, senhor Fábregas.

O herói do mundo mágico, pessoal.


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Notas finais do capítulo

Yay, Hogwarts arrebentou no jogo! Fala sério, eles jogaram melhor do q vocês imaginaram, não foi? Deixem-me saber!

Bjuxxx