Hogwarts: uma outra história escrita por LC_Pena


Capítulo 63
Capítulo 63. Meus caros e queridinhos


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo fresquinho, esse dedicado a Juliet Bertrand q não só fez uma conta para poder comentar lindamente aqui e nos bônus, como também fez uma recomendação maravilhosa, a qual eu nunca poderei agradecer o suficiente!



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Capítulo 63.

Depois de Harry Potter nos enrolar até não poder mais, finalmente começamos os treinos como equipe. Fomos divididos e jogamos uns contra os outros, literalmente, porque brigamos até dentro do nosso time designado.

— O’Brien, um dia você vai entender o que é cobrir um quadrante e no dia que isso acontecer, vai ser lindo! - Eu falei para minha dupla, que continuava a proteger a namorada, mesmo ela sendo da equipe rival.

— E quanto a você, Fábregas? Não pode lesar um companheiro de time! - Levantei uma sobrancelha para Ginns. – Isso é só um treino, se não reparou, somos da mesma seleção!

— Não estava tentando te acertar, acredite, quando for o caso você vai saber. - Ele me olhou ainda emburrado e eu assoprei o meu já conhecido apito dado por Lily. Todos os sonserinos vieram na hora, os outros apenas reviraram os olhos. – Vocês são surdos? DESÇAM AGORA!

— Calma, senhor Fábregas, eu ainda sou o técnico aqui! – Potter levantou de sua cadeirinha dos rabiscos, local onde ficou a tarde inteira escrevendo num pergaminho, provavelmente pra depois poder passar para a esposa o ajudar.

— E eu sou o capitão, treinador, no campo eles vão ter que me ouvir. – Todos haviam desmontado e já estavam perto o suficiente. – Vão ter que me ouvir e respeitar.

— Vai ter que fazer por onde, nunca vi liderança vir fácil na vida. - Longbotton disse, sem querer soar um mal perdedor, mas isso é exatamente o que ele é.

— Ok, eu devia ter feito isso desde o início, mas segui o que o treinador quis, agora vamos fazer as coisas do meu jeito. - Falei decidido, mas Potter pareceu ficar assustado com meu tom, não sei porque!

— Calma, crianças, atritos são esperados, não significa dizer que não vamos nos acertar, esse é só o primeiro treino!

— Não se preocupe, senhor Potter, o capitão sabe do que está falando. - Romeo disse, mascando uma goma de mascar nojenta. Tirei um pedaço de anotação que tinha no bolso e estendi pra ele. Ele colocou o chiclete como o bom garoto que é.

Chicletes no Quadribol são como atestados de óbito.

— Vamos estabelecer regras aqui, porque todas as regras vão ser construídas pelo grupo, fiscalizadas pelo grupo e as punições vão ser aplicadas pelo grupo.

— E você faz o que? - Potter, o filho, me perguntou desdenhoso.

— Se está esperando que eu vá te dizer o que fazer como Trevosobotton aí, vai ter que esperar sentado, de preferência com as fraldas já trocadas.

— Ah, ótimo, vamos brincar disso de fazer regras, eu começo: sem. Apelidos. Ofensivos. -Trevosob... Longbotton falou pausadamente e eu fiz biquinho, porque os outros concordaram.

Mas que saco, eu sou tão bom nisso!

— Ok, isso pode ser uma regra, mas fiquem sabendo que quem perde são vocês! -  Ninguém deu bola, só por isso vou dar um apelido mental para cada um.

— Eu tenho uma boa! - Provavelmente não é nada boa. Romeo fez sua melhor cara de sério. – Nada de jogadas com catapulta, porque eu sempre que tenho que catapultar e meu ombro fica fodido!

— Sem xingamentos!

— Eu quero todas as bolas de rebote. - Lia falou por cima da fala de Duran, que a olhou irritada. – Eu sou melhor do que você no rebote e você sabe.

— Nem pensar, Lia e quanto a regra do xingamento... Vamos usar como teste para minha regra suprema e democrática, que pensei agora e pode ser horrível, na verdade. -  Parei para respirar e todos esperaram com cara de aborrecimento. – Cada posição tem direito a um voto, então vamos ter que entrar em acordo...

— Como assim? - Weasley II perguntou provavelmente sobre a conversa toda, porque ele parecia que havia voltado do mundo da lua.

— Batedores, com ou sem xingamento? - Perguntei, como um bom general e os três responderam prontamente.

— Com.

— Com.

— Se eu não xingar eu explodo! - Ginns falou, dramático como todo corvinal é, no fundo, no fundo.

— Batedores votam sim para os xingamentos. Apanhadores? -  James e Enrique se entreolharam e acenaram um para o outro.

— Com. - Isso foi surpreendentemente eficiente, levei uns dois segundos para retomar meu raciocínio por causa dessa aberração da natureza. Mas se eu for parar para pensar, até que faz sentido, eles vão querer ter a liberdade de xingar um ao outro sem problemas.

— Goleiros?

— Não gosto de xingamento... - Scorp falou num lamento e Fred revirou os olhos.

— Tá, que seja! Sem. - Ai meu Deus, isso tá mesmo funcionando?

— Artilheiros? - Longbotton fez um gesto amplo, porque eles eram seis para entrar em um consenso. – O voto dos artilheiros é o de desempate, porque representam a maioria, votem com sabedoria.

Sienna e Maggie quiseram o sem, mas todo o resto quis com, então sorri satisfeito.

— Não é justo seis votando como um e dois votando como um! - Lia apontou para James e Enrique.

— Minha querida, você vai jogar com mais dois, o mínimo que pode fazer é entrar em consenso com seus companheiros de artilharia! - Ela cruzou ao braços, não inteiramente conformada, mas essa birra eu já conheço. - Dussel e Potter, por outro lado, vão ter que entender que mesmo competindo pela posição, vão ter que pensar no bem maior.

Eu me surpreendo como jogo as coisas no vento e depois minha mente traça todo um plano para justificar meus atos depois. Claro que para todos os efeitos eu sempre sei o que estou fazendo.

Minha postura concorda com isso.

— É uma excelente regra, senhor Fábregas. - Harry Potter soou satisfeito, mesmo que sua técnica de treino, por outro lado, consistisse em assistir o circo pegar fogo para comer palhaço frito.

— Eu tenho uma regra também. - Scorp falou tímido e todos olhamos para ele. – Cada um deve trazer jogadas de outra posição que não a sua para o treino tático.

— Disso eu gostei. - Enrique disse, mas apenas porque ele ama se meter na vida dos outros jogadores.

— E isso por quê? - Sienna perguntou sem paciência.

— Assim deixamos nossas jogadas no passado, nada de Sonserina ou Corvinal..  Começaríamos do zero! Ouvindo aos outros...

— Faz sentido, ainda mais que temos que aprender a ver o todo, o time todo, digo.

— Se Romeo entendeu, eu lavo minhas mãos, não dá pra ser mais claro que isso! -  O loiro fez uma cara indignada pra minha resposta e Tony riu. – Não precisam pensar em tudo agora, vamos levar como dever de casa: o que pode e o que não pode ser feito dentro da seleção: regras de convivência!

— E aí a gente discute as punições que você falou? - Lexa Prutt, que tem uma estranha obsessão com o sofrimento alheio, perguntou.

— Claro, mas antes de dar por terminado esse treino, uma reflexão de um importante pensador trouxa: “Tudo nessa sala é comestível. Até eu sou comestível, mas isso se chama 'canibalismo', meus queridinhos, e é visto com maus olhos na maioria das sociedades.”

— Ai meu Deus, não acredito que você citou Willy Wonka! - Lexa estava rindo e até mesmo o treinador estava disfarçando a diversão com uma tosse, mas a maioria do time não tinha entendido nada.

— Estou brincando, agora uma reflexão de verdade, de Marguerite Yourcenar. - Romeo revirou os olhos, tendo percebido somente agora que não há nenhum significado oculto nessa primeira citação. – “As outras pessoas vêm a nossa presença, os nossos gestos, a maneira pela qual as palavras se formam nos nossos lábios, mas somente nós vemos a nossa vida.”

Durmam com um barulho desses, porque Cesc Fábregas é um poço de cultura, meus queridinhos!

***

Na saída do treino, aproveitei para dar continuidade na fase dois do meu plano, que estava, infelizmente, nas mãos de Weasley II.

— Ei, Segundo, preciso falar com você. - O ruivo negro parou e o outro quase ruivo também, então eu fui obrigado a perguntar. – Me desculpe, mas um caga e o outro limpa a bunda?

Sienna passou e deu uma risadinha debochada da cara de James Potter e o idiota resolveu seguir caminho, até porque, agora com a mudança de planos, tudo que ele tem que fazer é esperar sua capa bonitinho mais tarde e não tem nada pra falar comigo.

Ele vai ter a capa depois que eu e Sev usarmos para ir ver o Chapéu Seletor, claro!

Segundo me olhou com cara de poucos amigos.

— Seu prazo está acabando, tenho certeza que você não quer perder os fiapinhos que finalmente nasceram debaixo do seu braço, não é? -  Ele apertou os olhos com raiva e eu não mudei minha expressão simpática, porque eu paguei caro por esse serviço, tenho o direito de cobrar.

— Já aperfeiçoei a técnica, ontem mesmo consegui transfigurar um travesseiro no seu vestido, agora só preciso do animal morto. - Sorri satisfeito em ouvir as boas novas, mas Weasley não tinha acabado. – Fábregas, posso te perguntar quem é a pobre garota que você vai presentear?

— Claro que pode, esse é um país livre. Te entrego o animal às 17 horas, na estufa 3. - Saí, porque tinha que ir achar lá, o tal animal morto, porque Weasley II não faz a execução.

Incompetente!

***

— Pela última vez, Aidan Jr., você não vai ganhar pontos, você vai ganhar um favor meu, o que é ainda melhor! - Ele fez uma cara de quem não acreditava nisso, mas iria de qualquer forma, porque o apelo do verbo “ganhar” é grande.

— Tá, eu vou fazer, mas não entendo porque eu de novo. - Ele me olhou de cenho franzido, bochechas rosadas e olhinhos puxados. Meu Merlin, como um garoto de 11 anos pode ser tão fofo? Ele devia ser impossível de tão adorável, quando bebê.

— Você é a distração perfeita, ninguém resiste a essa carinha! Agora vai lá! - O enviei para a casa do guarda-caça aposentado e seu cão enorme e babento número 12. Segui abaixado, ouvindo Akira chamar o gigante, falar o que havíamos ensaiado e porque aquela carinha é infalível, Hagrid o seguiu, com seu cachorro, em direção a orla da Floresta Proibida.

Assim que eles saíram de vista, fiz meu caminho saltado entre as abóboras, até chegar no galpão onde sabia que estariam as caças secando ao sol, que serviriam para alimentar algum filhote de criatura grotesca que Hagrid criava.

Só para isso servia minhas detenções por essas bandas.

Esquilos, não, guaxinins... Eca! O que Hagrid fez com a cara dessa pobre criatura? Ah! Essa aqui é perfeita! Peguei um saco de estopa que estava dependurado e flutuei o cadáver - que cheirava ainda pior do que Samuel - para dentro.

Não pude deixar de fazer uma dancinha ridícula com a excitação, essa coisa feia ia me trazer tanta alegria em breve!

Segui meu caminho para a estufa 3 pela parte mais distante do castelo, sorrateiramente, mas quando estava chegando lá, fui interceptado por uma figura toda de negro, dos cabelos a ponta da bota.

— Senhor Fábregas, o que o senhor está fazendo? Ou melhor, o que é isso que você está carregando? - Edward Lupin parecia sexy como o inferno de preto, mas incrivelmente inconveniente também.

— O que é isso que você está carregando? - Ajeitei melhor o saco em meu ombro e dei meu melhor sorriso.

— Eu não estou carregando nada, senhor Fábregas, como você bem pode ver. - Ele falou impaciente, mostrando as mãos que estavam atrás das costas antes.

— Nem eu, então acho que essa conversa aqui é toda sem propósito, se me der licen...

— Vá, garoto, antes que eu mude de ideia! - Oi? Não achei que esse plano fosse funcionar, mas olha, que bom que eu tentei de toda forma!

— Sabia que não ia com sua cara à toa, Lupin, esse jeito de bom moço nunca me enganou! -Segui meu caminho para concluir essa etapa do plano, sem medo de ser feliz, mas ainda pude ouvir Lupin murmurando para si mesmo “Meu padrinho diz o mesmo”.

***

Esperei Sev já coberto pela capa da invisibilidade e quando ele chegou perto do corredor de Poções, na base da Torre Octogonal, o puxei bruscamente, sentindo seu coração acelerar no peito.

Eu me controlei para não rir mais quando ele tentou me dar uma cotovelada nos rins. Ficamos quietos somente quando Lupin, ainda gótico suave, dobrou no corredor em que estávamos com a professora Savage.

— Tem certeza que não quer que eu vá no seu lugar, Selena? Sou melhor tutor do que professor! - Ele falou divertido, ainda de preto, com as botas estalando no corredor de pedra. A professora Savage estalou a língua nos dentes, com desdém.

— Imagina você em Uagadou...  Victorie não me perdoaria jamais! Ela já não está feliz com você em Hogwarts, eu...

A voz dela foi sumindo a medida que se afastavam da gente. Eu olhei para Sev e sussurrei “Quem é Victorie?”, ele revirou os olhos e fez menção de andar, mas eu o detive.

— É a noiva dele! -  Ele sussurrou de volta, impaciente.

Não sei nem quem é, mas já não gosto dela!

Subimos as escadarias até o topo da Torre Octogonal e demos de cara com uma porta de carvalho grande e com a aparência de antiga, como a Torre do Relógio que é reconhecidamente um dos lugares mais velhos de Hogwarts.

Sev me pediu silêncio, não entendi porque até ver o quadro dormitado de um senhor de cabelos e barba brancas, compridas, mas não, não era Dumbledore, ele estava mais para Leonardo Da Vinci. Sev sacou a varinha e colocou para fora da capa apenas o suficiente para conseguir fazer um alohomora decente.

O quadro despertou com o clique da fechadura aberta, então não nos movemos pelos cinco minutos mais longos da minha vida! Já estava sentindo o suor descendo pelas minhas costas com a concentração, quando Sev fez sinal para nos movermos.

Entramos no pequeno recinto de pedra que não tinha nada demais, era cônico e sem janelas, a não ser por uma claraboia que iluminava um pedestal onde uma pena repousava ao lado de um enorme livro encapado com um couro velho e rugoso.

Sev tirou a capa de cima da gente, a colocou na mochila - não sei porque, já que sou eu que vou ter que entrega-la a James - e calçou a porta com uma espécie de gancho, que não a deixaria bater, nem abrir mais. Meticuloso e escorregadio, o chapéu errou feio com esse aqui!

Olhamos ao redor e eu avistei aquela coisa nojenta e dantesca repousada, levemente torta, no topo de uma estante com aparência de bamba. A gente sabe que algumas áreas da escola não passaram por reformas, mas isso aqui já é ridículo!

Sev fez sinal para eu esperar e pegou na mochila uma pena, não das que escreve, uma pena mesmo e fez cócegas no lugar onde deveria ser a abertura na aba por onde o Chapéu cantava e ocasionalmente falava algo de útil.

Nada.

Nos entreolhamos. Sev insistiu com a pena, mas eu dei logo um tapa na ponta do coiso, o que fez a criatura ao meu lado quase ter uma síncope, mas ainda assim, o chapéu pontudo não se moveu. Pus os olhos em branco e a língua para fora, sinalizando que o paciente havia morrido, mas o grifinório ainda o pegou nas mãos.

— O que você tá fazendo? - Sussurrei, mas Sev estava bem concentrado em sua inspeção.

— Parece um chapéu comum, sem magia! - Esse foi o veredito desenhado com os lábios. No momento em que estava disposto a ir, tendo confirmado as suspeitas, mas sem averiguar a causa, a pena se levantou no ar, iluminada por um feixe de luz fraco vindo da claraboia.

Olhei para Sev e ambos fomos ver o que a pena estava escrevendo no livro velho, importante o suficiente para estar em um pedestal.

Alice Foumoulth

Dei de ombros, sem entender o nome acompanhado de uma data e hora, até ver o que estava logo acima.

Vega Malfoy

Apontei o nome para Sev e ele abriu um sorriso, porque ambos havíamos entendido o que era aquele livro: era o livro de registro dos futuros alunos de Hogwarts! Bem, era uma coisa doce imaginar que daqui a 11 anos essas duas meninas estarão escrevendo sua própria história dentro dessas paredes.

Sev pareceu pensativo e depois me sussurrou algo que me fez admirá-lo e vislumbrar um pouco a síndrome de herói, tão característica de sua família.

— Temos que descobrir o que está acontecendo nessa escola... Por elas! - Fiz que sim com a cabeça e entrei debaixo da capa de invisibilidade Potter.

Era um desejo pretensioso, mas tínhamos que tentar curar Hogwarts, para que as próximas gerações também tenham o direito de conhecê-la. Muito nobre de nossa parte isso. Queria jogar na cara dos inimigos, mas isso não seria esperto, muito menos nobre.

***

A votação por posição na seleção funcionou razoavelmente bem, apesar dos críticos serem muitos e teimosos. Não podia culpá-los, cada categoria tinha um número par de jogadores e isso fazia com que os impasses fossem constantes.

Mas por um lado fazia com que as desarmonias estivessem categorizadas e não contaminando toda a equipe, como era antes. Claro que havia o aspecto da competitividade, mas descobri com isso que uma característica é comum a todas as casas de Hogwarts:

A falsidade.

Por exemplo, James e Enrique discutiam pelas coisas mais bobas, mas fingiam que era pelo bem do time, e sendo ambos cabeças-duras, quase nunca entravam em um consenso. Um achava que deveriam jogar com equipamentos novos, mas o outro preferia manter tudo do jeito que estava acostumado.

Uma hora correr pelo campo parecia proveitoso, mas era só o adversário concordar, que havia um longo discurso sobre como a arrogância e exibicionismo para as fãs mais assanhadas iria nos levar a ruína. Olha, eu poderia ficar o dia todo listando aqui as divergências, mas isso seria uma monumental perda de tempo!

Infelizmente, estava passando por mais uma discussão dessas agora:

— Potter, eu fico aqui me perguntando que desculpa esfarrapada o seu ego vai arrumar hoje..

A briguinha do momento era que Enrique queria treinar reflexos com o protótipo de pomo azul da família dele, mas James queria treinar com o oficial, para ir se acostumando com o que acontecerá no jogo.

— Já disse que quero treinar disputas, porque esse vai ser o mais difí...

— Diz isso porque é ruim em disputas...  - James fechou ao olhos e segurou a ponte do nariz, respirando fundo para se acalmar. Enrique parecia que tinha cinco anos de idade.

— Me desculpem, mas ainda não entendi porque vocês não podem treinar disputas e usar o pomo azul ao mesmo tempo. - Dussel, que segurava dois pomos na mão me olhou, assim como Potter, como se tivesse ouvido algo extremamente impressionante, pela expressão surpresa que ostentava. – Vocês não estão nem tentando, hein? PAREM DE PERDER MEU TEMPO!

A verdade é que a necessidade de ser implicante era tanta, mas tanta, que os dois pareciam mais como portas de madeira maciça do que gente! Tirando o lance do xingamento, a única coisa que ambos concordaram foi que ficavam mais bonitos nas fotos tiradas pelo lado esquerdo.

Um conhecimento tão inútil quanto a participação do treinador apaziguando essas briguinhas!

Harry Potter nesse exato momento coordenava de perto a apresentação das jogadas individuais dos artilheiros, ao passo em que organizava melhor o posicionamento dos goleiros nos aros, completamente alheio ao desentendimento dos apanhadores.

Os batedores, coitados, receberam umas instruções sem-vergonha por escrito, eu mesmo nem tive tempo de ler por causa desses dois aqui, então pedi para Tony tomar as rédeas da situação, já que ele era, sem dúvida alguma, o melhor de nós.

Revirei os olhos aos constatar que nem só de talento vive o homem, porque, no comando de Tony, estavam todos parados, fora de suas vassouras, discutindo algo que havia no tal treino de Harry “devia ter morrido” Potter.

— Tony, qual o problema? Por que ainda não estão treinando? - Tony me olhou de cima abaixo, nada impressionado com minha voz de comando.

— Não estou entendendo as instruções, mas olha que interessante, minha taxa de rebatidas certas é de 92%, a melhor do time! - Ele disse feliz, enquanto eu tomava o papel da mão dele.

Rebatidas certeiras

Antony Zabine – 92%

Connor Ginns – 86%

Francesc Fábregas – 79%

Theodor O’Brien – 65 %

Meta da equipe: 90%

— O que significa isso? - Perguntei para qualquer um que pudesse responder como e porque Harry Potter estava controlando nossas rebatidas.

— Significa que eu não preciso fazer mais nada, já atingi a meta. -  Tony disse, dando de ombros, fazendo o resto de nós, batedores, o olhar com raiva.  – O quê? Não me odeiem, eu não faço as regras!

— Bem, senhor Zabini, essa não são as regras. - Viramos para encarar o treinador com sua inseparável prancheta, que Merlin sabe o que tem escrito. – A meta diz respeito a média do time, não aos valores individuais. Mas não se preocupem, a média da equipe já é de 80%.

— Quer dizer que só precisamos melhorar... Tipo, sei lá, 3% cada? - O’Brien, o que tem que melhorar uns 1000% perguntou, coçando a cabeça.

— Não é assim que a matemática funciona, seu burro. - Respondi seco e ele apontou pra mim, irritado.

— Não pode dar apelidos ofensivos!

— Não é apelido, é a verdade. - Antes que ele pudesse contra argumentar, me dirigi ao ser humano de braços cruzados a minha esquerda, vulgo herói do mundo bruxo. – Como conseguiu esses dados e mais importante, o que pretende com essa meta?

Ele respirou fundo antes de responder, dando tapinhas amigáveis nas minhas costas. Se ele soubesse o quanto me irrita... Potter me deu um sorrisinho divertido e agora é oficial: tenho certeza que ele sabe o quão irritante ele é.

— Respondendo a primeira pergunta, vocês estão usando bastões com feitiços contadores, cortesia da Companhia Dussel e bem... A informação é relevante, porque... Vocês sabiam que a maior causa de lesões entre os batedores são as ditas “rebatidas furadas”?

— Onde o senhor viu isso? - Perguntei, cético.

— Num artigo da Quadribol Weekly, uma excelente publicação sobre o assunto. - Levantei uma sobrancelha pra isso, porque nunca ouvi falar dessa revista. – Todo bom técnico lê a Quadribol Weekly.

— E os técnicos medíocres leem o que? -  Tony perguntou, sarcástico, mas Potter preferiu ignora-lo.

— Agora vamos começar esse treino funcional, que tanto vai melhorar o reflexo de vocês, quanto vai ajudar a evitar essas benditas lesões furadas. - Ai, meu pai, que homem aleatório e sem sentido. – Já para a caixa!

Viu? Aleatório e sem sentido.

Ele apontou para o fundo da câmara e lá estava uma gaiola de 3 metros, com o chão forrado com grama sintética e uma base triangular branca no canto. Um equipamento trouxa esquisito estava próximo a porta da “caixa”.

— Vamos treinar as jogadas com alguma criatura das trevas? - Connor perguntou e depois da aula com os onis japoneses no sexto ano, ninguém duvidava de mais nada vindo de Harry Potter.

Potter riu e tratou de explicar o que não havia ficado claro nos escritos que ele nos entregou mais cedo, ou seja, tudo: o treino funcional não era em vassouras, nem sequer com balaços, a gente estava praticando a boa e velha rebatida do basebol americano. Eu devo admitir que não estou familiarizado com esse esporte, mesmo com todos me olhando como se eu tivesse que saber tudo relacionado ao mundo trouxa.

Os tacos, ao invés dos nossos bastões maciços, eram leves e combinavam com as bolinhas brancas arremessadas em direções aleatórias dentro da caixa, em um curto intervalo de tempo.

Tony ainda era o mais rápido de nós, mesmo com a velocidade alta dos arremessos, ele conseguia acertar quase todas as jogadas, no caso, acertar as bolas, porque o destino delas não parecia preocupar o treinador.

Nesse estilo de treino, nossa média caiu ao invés de aumentar, mas, mesmo cansados, já deu para sentir uma melhora nos reflexos quando fizemos o jogo de praxe no fim do treino. Hoje foi boa a vitória da minha equipe, porque eu pude fazer dupla de novo com Tony e a nossa sincronia deu conta do recado.

Depois de vários treinos doidos nesse nível, comecei a me acostumar com a minha sina. Mas, apesar dos avanços com a coesão da equipe - que a cada treino parecia mais com um coletivo e menos com a colcha de retalho encrenqueira que era - e a melhora das estratégias com a ideia de Scorp de trazermos jogadas para outras posições, os vícios das equipes das casas continuaram.

Os lufanos não jogam em quadrantes, preferem as zonas de Zingbroad - um método que divide o campo em seis pedaços desiguais - já os corvinais e os grifinórios jogam com a marcação homem a homem, enquanto nós da Sonserina jogamos com os quadrantes.

Eu estava tentando entrar em um consenso com todos, para ver qual estilo melhor se adequava com a seleção, mas os votos por posição não estavam surtindo efeito, principalmente entre os batedores e artilheiros, que eram os mais afetados com o posicionamento tático errante.

Ora treinávamos com as zonas, ora com os quadrantes e às vezes, mano a mano. Era confuso, estressante e sempre motivo de briga, porque a equipe se separava novamente em grupinhos, para pedir pelo padrão que mais gostavam.

Sugeri ao treinador que fosse ditatorial mesmo e dissesse logo qual era o nosso desenho tático, afinal, ninguém ali era acostumado a ter um adulto coordenando os assuntos do time e ele precisava se impor de alguma forma, mas o homem só deu um de seus sorrisos enigmáticos e disse:

“Calma, criança, tenho tudo sobre controle”

Vá a merda então, não vou ficar perdendo mais noites de sono com isso, ainda mais que o baile de Boa Sorte ao time seria amanhã e eu tinha que correr para terminar a parte final do meu plano contra Tracy Harmond.


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Notas finais do capítulo

Bjuxxx, meus queridinhos!

Ah! Já ia me esquecendo, um bônus inocente e maroto para a gente: https://fanfiction.com.br/historia/700876/Contos_eroticos_de_HOH/capitulo/6/