Hogwarts: uma outra história escrita por LC_Pena


Capítulo 62
Capítulo 62. Planos tortuosos, meus caros


Notas iniciais do capítulo

Meio que atrasada, mas ao menos o capítulo está grande.



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Capítulo 62. Planos tortuosos, meus caros 

Estava bem tranquilo esperando o início da aula de DCAT, em pé, porque Potter era todo dinamismo em seus ensinamentos, mas John me cutucou, tirando um pouco da minha paz. Ele me passou um bilhete. 

Os primeiranistas da Corvinal estavam comentando que eles  usaram uma poção reveladora logo que desceram do barco no ancoradouro e que de lá já saíram com suas gravatas. Nenhum sinal do Chapéu Seletor. 

Dei de ombros, sim, mas e daí? John me olhou indignado, guardando o pergaminho de volta bem a tempo de ouvirmos Harry Potter entrar na sala de aula com o enorme esqueleto de dragão flutuante no teto. 

— Boa tarde a todos, espero que tenham almoçado bem, porque temos trabalho a fazer. - Lá estava o quarentão mais cheio de energia que se tem notícias, ele mal nos deixou responder o cumprimento e já foi escrevendo no quadro negro com a letra mais torta do que a de Sev. 

MALDIÇÕES 

— Isso vai ser divertido... - Eu sorri para Scorp, que já esfregava as mãos em antecipação, porque o pessoal estava falando que Harry Potter gostava de aulas práticas e aulas teórico-práticas, nada de muito quadro, pergaminho e chatice, o que me fazia detestá-lo um pouco menos. 

Eu admito quando o inimigo tem pontos fortes. 

A coisa toda ficava excitante porque o quarto ano de DCAT, o penúltimo obrigatório, era todo sobre maldições. E aulas práticas de maldição com a Corvinal era uma espécie de Natal antecipado, quero dizer, com a Lufa-lufa seria covardia, com a Grifinória uma guerra, mas com a Corvinal... 

Um sonho! 

— A professora Savage me disse que o meu método interativo teria um problema ao chegar no quarto ano, já que o programa fala em maldições, mas... As coisas foram bem com a turma anterior. - Ele olhou para o lado da casa que dirigia e suspirou pesado. – Espero que todos aqui colaborem. 

Eu levantei a mão animado e ele me concedeu a palavra. 

— Vamos ter aulas práticas de Maldições Imperdoáveis?  

— Mais ou menos... 

— Vamos realmente aprender a amaldiçoar alguém? 

— Mais ou menos... 

— Vamos poder... 

— Senhor... Fábregas, certo? - Isso porque eu e minha família estivemos na casa dos sogros dele no Natal, imagine... – Então, senhor, tenha calma, vamos ver tudo ao seu tempo e é sempre bom lembrar que o D de DCAT é de Defesa, que é o foco da matéria. 

— Eu li que houve um professor de DCAT que na verdade ensinou Artes das Trevas... - Tracy Harmond falou abrindo um pouco seus olhos puxados, numa tentativa falha de parecer inocente. – E ele era da Sonserina. 

Viu? Nada nessa menina é inocente. 

— Nós gostamos de amaldiçoar, lembre-se disso quando for dormir a noite! - Tony rosnou para a ex-namorada, que apenas riu com uma amiga igualmente esquisita. Louise nos olhou sem paciência. 

— Bem lembrado, senhorita Harmond, esperta como a mãe. - Potter deu um sorriso amarelo e apertou o ombro de Tony como uma espécie de aviso, mas ele estava com tanta raiva que nem dissimulou seu olhar assassino para a garota. – Por isso mesmo estou tomando muito cuidado com o planejamento das aulas... Não quero sair daqui tendo criado alguns bruxos das Trevas pra ter que correr atrás depois. 

Os corvinais riram mais do que os sonserinos, porque todo mundo sabe de quem ele tá falando. Engraçado quando o bullying começa com o nosso diretor, nesse sentido Harry Potter não é muito melhor que Bradbury, que adorava nos dar detenções infundadas, mas ao menos nos defendia! 

Ele nos apontou a pequena arquibancada na lateral da sala, que servia para assistirmos as demonstrações de duelos nas aulas práticas. Quando estávamos todos sentados e prestando atenção, ele voltou a falar. 

— Poucos professores de Hogwarts tem alguma formação que os habilite para a docência, como é o caso do professor Flitwick e da professora McGonagall, o restante de nós tem apenas experiências práticas. 

“Então, é sempre um desafio pensar no que podemos e o que definitivamente não podemos mostrar a vocês. Existem poções perigosíssimas, runas que podem enlouquecer até mesmo um bruxo da Ordem de Merlin e criaturas tão assustadoras que vocês ficariam com medo da própria sombra por algumas semanas se soubessem de sua mera existência. 

E se tratando de Defesa contra as artes das trevas, isso torna-se um problema ainda maior. Como ensinar a defesa, sem falar do ataque? No meu quarto ano um professor, que na verdade era um impostor, mas isso não vem ao caso, nos mostrou as três Maldições Imperdoáveis em sala de aula. Maldições proibidas por lei, mostradas em sala de aula, olha que loucura! 

Não vou fazer isso, falaremos sobre elas, discutiremos sobre, mas essas, porque são proibidas, não serão executadas aqui e espero que nenhum dos meus alunos nunca a executem, mas quero que todos saibam o que são, para que servem e como combatê-las.” 

— Mas, para começar, quem pode me dizer a diferença entre uma maldição, uma azaração e um encantamento? - Toda a Corvinal levantou a mão antes mesmo do professor terminar a pergunta e apenas uns três abaixaram, provavelmente porque viram que não poderiam responder. 

Será que tem alguma regra na Corvinal que faz com que você seja obrigado a ao menos tentar responder tudo? Vou perguntar a Louise e a Cl... Ok, é oficial, Claire não está aqui e é uma vergonha que eu não tenha notado isso antes, tendo tido outras aulas com a Corvinal ao longo da semana. 

Senhorita Fábregas, por favor. 

— Maldição e azaração são para fazer danifico ao outro, já o encantamento é o todo, então pode ser tanto para o bem quanto para o mal. Não estou certa da diferença dos dois primeiros..  

Levantei a mão antes que Potter passasse a pergunta para o público novamente. 

— Gostaria de complementar a resposta de sua irmã, caro senhor Fábregas? -  O homem disse com divertimento, de uma maneira pomposa, quase como se estivesse me mostrando que lembrava do meu nome. Estranho. 

— Sim, gostaria, obrigado, caro professor.- Respondi do mesmo jeito pomposo. – A diferença entre maldições e azarações está tanto na força da magia usada, quanto na natureza. 

Potter franziu o cenho para a minha resposta completamente superficial e fez sinal para que eu continuasse. Sorri satisfeito, porque adoro ser o centro das atenções, já sabem. 

— Na força, as maldições são muito mais poderosas, exigem mais magia e desejo de fazer o mal, por isso são consideradas Artes das Trevas, independe do seu tipo. Já as azarações são mais tranquilas e podem ser consideradas como sendo encantamentos neutros, que causam danos mais pela intenção do bruxo, do que por sua essência. 

Os corvinais me olharam surpresos, menos John que maneava a cabeça como se dissesse “convencido”. Eu não dei a mínima, claro, porque ele teria se aproveitado do que aprendeu no curso de férias da mesma forma, se tivesse tido a chance. 

—... a natureza? 

— Desculpe, o quê? - Droga, tenho que parar de me distrair tanto na aula. 

— Perguntei a respeito da natureza das azarações e maldições, fiquei curioso. 

— Ah sim! Azarações são apenas feitiços e maldições podem ser feitas com toda a sorte de encantamentos, até mesmo poções.  

Correto novamente, dez pontos para a Corvinal e para a Sonserina. - Eu merecia mais do que dez pontos. Olha a injustiça! – Agora que está um pouco mais claro o que são maldições, o restante será esclarecido ao longo do ano, calma, vamos começar com duas maldições básicas, mas que causam muitos problemas para nós aurores... A maldição de transferência de magia e o feitiço de insanidade. 

Oi? Não conheço nenhum desses! Pelo burburinho na sala, mais ninguém conhece, quero dizer, transferir magia, isso é possível? E eu sei que muitas maldições podem causar insanidade, mas não sabia que havia um feitiço específico para isso. 

— Vou precisar de voluntários, um de cada casa, de preferência.  Cada um olhou para os colegas de cada lado, porque, né, aqui não é a classe da Grifinória. – Vamos lá, vai ser divertido! 

Tony se voluntariou pela Sonserina, porque ele é o que tem o sistema de autopreservação mais deteriorado da casa e queria poder dizer que Tracy tinha sido a da Corvinal, para poder fazer uma piadinha com sua insanidade, mas infelizmente uma coisinha qualquer foi “voluntariada” pelos “amigos”. 

Potter parabenizou aos dois pela coragem, pediu para ficarem no meio da sala e trouxe uma caixa enorme de lá do depósito anexo nos fundos. Mas o que é isso? 

Acharam mesmo que iria colocar vocês para amaldiçoar uns aos outros? Claro que não, crianças, eu sou um adulto responsável. - Ele abriu a caixa que era maior que ele em altura e um fedor de coisa podre tomou todo o recinto. – Eu trouxe meu próprio voluntário. 

Os gritos das garotas e a debandada em massa de todos para as fileiras de cima da arquibancada foram seguidos pelo riso do professor. Norman Volponne, voluntário da Corvinal ficou branco feito um fantasma e Tony sacou a varinha. 

— Mas que merda é essa? 

— Isso, senhor Zabini, é um inferius. - A criatura horrível dentro da caixa, meio humanoide, parecia um zumbi horrível, com fiapos de cabelo molhado cobrindo uma pele acizentada e macilenta. – Não se preocupe, ele não vai fazer mal. 

— Ai, eu acho que vou vomitar, eu não posso olhar pra isso! - Rebeca enfiou o rosto no peito de Scorp, que não tinha uma expressão muito melhor. 

Preciso que olhe, senhorita, porque seu colega aqui vai executar um feitiço de insanidade nele e isso vai ser bem legal de se ver. - Ele apontou para o corvinal, que parecia pronto para sair da sala a gritos. 

— Eu vou? 

— Vai sim, tudo que precisa fazer é desenhar este símbolo na mão dele e murmurar essas palavras para a maldição ser ativada. - Desenhar um símbolo na mão da coisa? – Mas não se desespere, veja, o desenho nem vai precisar ser feito na verdade, um colega seu já fez anteontem, que sortudo você! 

Voltei para meu lugar na fila de baixo, porque símbolos muito me interessam. Tony riu da cara de desespero do garoto, mas o professor simplesmente trouxe o corvinal para perto, consolador. 

— Ele não está mais vivo, nem sequer sente dor! - O garoto olhou para o professor, que se encontrava atrás dele. – E é melhor do que o que o senhor Zabini terá que fazer. Transferir magia para ativar um inferius nunca é divertido. 

Tony ficou sério de repente e tanto eu quanto Scorp demos risada. Não tão corajoso agora não é?  

*** 

Na metade final da aula nos dividimos por casa mesmo e estávamos preenchendo o quadro com possíveis medidas de prevenção contra as duas maldições - cada turma com uma - numa competição improvisada. Os malditos corvinais escreviam rápido, estavam três palavras na frente, mas nós trabalhamos melhor em equipe. 

Scorp estava falando para os colegas de trás algumas sugestões e eu havia sussurrado e pedido para repassar “estudem a lista deles e veja o que dá para usar na nossa”. 

“Usa o tempo na fila para evitar repetição” e “escreve garrancho mesmo”, eram outras instruções passadas entre a fileira sonserina. Os corvinais trabalhavam melhor individualmente, colocando seus cérebros enormes para funcionar em silêncio. 

O tempo na ampulheta acabou e todos nós voltamos para nossos lugares ainda animados. Tony continuava comendo sua barra enorme de chocolate que havia ganhado para recuperar as energias da transferência. Ele disse que era um remédio e por isso não dividiria. Sei... 

O inferius, cujo nome ficou Samuel - ideia de Anastácia Fritz, amiga de Rebeca, para que ele parecesse menos nojento - foi acordado por Tony usando sua própria energia, já que se tratava de um cadáver reanimado por magia geralmente feita por bruxos das Trevas. Digo geralmente, porque Tony não é das Trevas.  

Ainda. 

Volponne acionou o símbolo da insanidade desenhado por algum grifinório sem juízo e só porque foi acordado com magia transferida e não como uma simples marionete, o pobre Samuel saiu correndo de um lado para o outro, desesperado, tanto que deixou um dos braços cair no chão. 

Ele não se importou, mas Anastácia chorou muito por isso. Foi trágico, sério. 

Só depois que o professor o desativou e prometeu que iria colocar o braço dele no lugar, a turma se acalmou. Alguns pediram para o professor Potter não usar mais Samuel nesses experimentos malucos, mas quando ele disse que o incineraria então, os ativistas voltaram atrás. 

Harry Potter teria sido um excelente sonserino, meus caros, melhor que muito sonserino de verdade! 

No final, ganhamos 40 pontos por ter acertado mais palavras e a Corvinal 30, por ter detalhado mais as respostas, Potter tem um coração mole, apesar dos pesares e até que ganhou nosso respeito, ao explicar cada item da lista, acrescentando, quando necessário, algumas coisas. 

Duvido que alguém esqueça como se proteger de transferências de magia involuntária, feitiços simples por símbolos e até mesmo de inferi, que só vamos ver próximo ano. Potter ainda falou quais são os usos mais comuns dessas maldições.  

Dei graças a Merlin por não ser um herdeiro para ninguém tentar me fazer passar por louco, muito menos um quase-aborto, para um miserável qualquer roubar o pouquinho de magia que eu tivesse.  

Fiquei feliz também que Hogwarts admitia gente insana em seu quadro docente. 

Chupa, Uagadou! 

*** 

Estava  me encaminhando para a Sala de Estudo dos Trouxas agora, para colocar meu celular para carregar - merda de celulares novos, com baterias ridículas - quando fui puxado para uma sala, a qual nunca tinha dado importância antes. Bem,  não era uma sala e sim um quarto. 

Não era um quarto e sim O quarto!  

— Não sabia que os repetentes eram tão bem tratados... -  Enrique me encostou na porta, grosseiramente. – Não espera que eu te dê o mesmo tratamento benevolente de Hogwarts, não é? 

Ele me mediu de cima baixo e eu deixei claro que não estava nem um pouco impressionado com essa intimidação. 

— Me pergunto o porquê de você ter se voltado tão arisco nos últimos dias... - Passei por baixo do braço dele, o deixando apoiado de frente para a porta, para poder apreciar os aposentos da nobreza que ele havia ganhado enquanto aluno especial. 

— Olha que bonito, adoraria ser rico assim, o bom gosto eu já tenho... - Olhei por sobre os ombros, para ver o que Dussel estava fazendo. Ele continuava parado, mas desta vez apoiado com as costas na porta, me olhando. 

Claro que depois de ver como era comum parentes desenhando símbolos de vários tipos para alegar insanidade do outro e herdar o dinheiro todo da família, minha inveja de Enrique meio que brochou, mas ele ainda vestia bem a pele de herdeiro poderoso. 

— Sinta-se a vontade para desfrutar dele o quanto quiser. 

— Morgana me livre de ter que pegar uma senha pra chegar a uns lençóis negros que bem podem esconder uma DST...  - Me joguei na cama, sabendo que não ia encontrar nada disso, Enrique era precavido. 

Ele me olhou ainda de bom humor e veio com calma se inclinar em cima de mim, com um braço de cada lado do meu corpo. 

— Sabe muito bem que eu sou criterioso, veja você, um batedor atrevido é o primeiro a ter o privilégio de conhecer essa cama... 

— Primeiro, mas não único. - Ele sorriu seu sorriso predatório e não respondeu, apenas me beijou. 

Bem,  com Enrique as respostas são sempre piores do que o silêncio. 

*** 

—Onde você se meteu? - Encontrei um Sev na esquina que dava nas Ex-Escadarias mágicas. Parei para terminar de ajeitar a gravata cinza sem graça, então ele veio até mim. 

— O mapa está com seu maninho mais velho é? 

— Pior do que isso, está com meu pai... Nem pergunte, longa história! - Ah, mas eu vou perguntar, só que não para ele. – Preciso que você veja uma coisa. 

Ele me encaminhou para as Escadarias, de onde vinha um burburinho fora de lugar, já que era quase hora do jantar e todos estavam se ajeitando na mesa do salão a essas alturas. Quando cheguei na balaustrada do primeiro andar, meu queixo caiu. 

— Mas como isso é possível? – As Escadarias haviam voltado a se mexer magicamente, como se nunca tivessem parado antes. 

— Eu não faço ideia, mas é bom a gente ter uma explicação logo para isso, porque... - Ele deixou uma dupla de lufanas passarem na nossa frente, pegando a escada que acabara de se mover para o térreo. – John tem razão sobre o Chapéu Seletor, Cesc, ele não está mais ativo. 

O que? 

— Tem certeza disso, Sev? - Ele trocou o peso dos pés, desconfortável.  

Ele não tinha. 

— Ninguém está falando sobre isso, então só tem um jeito de sabermos se há conexão entre as duas coisas: indo até o topo da Torre Octagonal, onde ele está guardado. 

— Tá, então vamos lá! - Ele me parou com uma mão no ombro. 

— É um lugar restrito, isso significa dizer que precisamos pegar a Capa antes... - Já ia pergunta-lo qual o problema dessa vez, mas ele me cortou, como sempre. – Na sala do meu pai, nas Masmorras. 

Ah bom, se foder... Isso sim dá pra chamar de problema! 

*** 

Contei aos L.P’s sobre o que Potter 2.0 havia me falado, mas nem precisava, porque ele informou a todos os Iconoclastas o que ele havia averiguado. Estava quase me arrependendo de ter feito essas penas... Sem sombra de dúvidas estava arrependido de ter dado uma a Enrique, que escreveu um “vocês são um bando de crianças desocupadas mesmo, hein?” desnecessário. 

— Ok, eu não aguento mais fazer esse fichamento de HM! - Tony largou a pena de qualquer jeito em cima da mesa de estudos em que estávamos, tirando a concentração de Scorp, porque a minha já estava longe a tempos... – Isso porque supõe-se que eu sou um grande gênio e deveria estar planejando a morte de uma certa chinesa... 

— Nem se preocupe com isso,  meu caro, eu já estou com um plano de vingança tortuoso em andamento. – Tony sorriu, passando a mão na testa arranhada. – Agora preciso que você pense em algum jeito de Sev reaver a Capa antes que o irmão desmiolado dele o faça! 

Tony parou de passar a mão no pescoço que estava em uma situação ainda mais deplorável que o rosto, me olhando com uma cara diabólica. 

— Acho que estou vislumbrando um plano levemente tortuoso para você também, meu caro. 

*** 

Tenho certeza que o levemente de Tony significa fodidamente de uma pessoa normal, só isso para explicar a situação em que estou prestes a me colocar. 

Potter e Fred II estavam jogando xadrez bruxo na biblioteca, então derrubei o rei de Fred e disse um “com você eu falo depois”. O ruivo rosnou que nem um animal selvagem, mas saiu sem maiores escândalos, porque ele é bem discreto. 

Ocupei o lugar ao lado de James, tendo arrastado a cadeira para mais perto. 

— O que você quer? - Ele gritou sussurrado, de olho na idosa Madame Pince. Eu sorri angelicalmente. 

— Você parece meio diferente, Potter, mudou o cabelo, clareou os dentes? Perdeu sua amada capa da invisibilidade? - Ele me olhou surpreso e eu continuei. – Nhon, eu sei o quanto você gostava dela, me pergunto como irá proteger o tesouro das suas primas agora... 

— Como ficou sabendo disso? Albus te contou? 

— Quem diabos é Alb... Ah, a sombra da Weasley, o suposto amante da minha irmã... - Fingi desinteresse pelo garoto, mas mudei logo de assunto. – Seu pai é meu diretor, claro que sei o que se passa debaixo do meu nariz! 

— Por que está me contando isso? Não vejo como pode ser da sua conta a perda de minha capa. - Potter falou enquanto tentava colocar o cavalo de volta no estojo revestido de veludo. O bichinho queria continuar a partida. 

— Aí é que está, Potter, isso muito me interessa agora que estou jogando no mesmo time que o seu. -  Dei um sorriso inocente, mas ele continuou me olhando desconfiado. – No meu caso, ainda jogo nos dois times... 

— O que quer dizer com isso? 

— A seleção e a Sonserina, os dois times que eu jogo. 

— Sei... Mas o que isso tem a ver com a capa? - Me aproximei ainda mais dele e ele recuou, me fazendo ter que puxá-lo pelo rosto para sussurrar o que tinha a dizer em seu ouvido. 

— Eu tenho um plano. 

Ele havia tensionado o corpo, então fui deslocado para o lado quando ele me afastou com o ombro. Eu ri disso. 

— Participar de um plano seu seria como fazer um pacto com o diabo. 

— Já fiz um pacto e nem foi tão ruim assim... - Me lembrei do Djinn, então acabei me arrepiando e beijando meu crucifixo que levava debaixo das vestes, só por precaução. – Deixe de idiotice, Potter, já fizemos parceria e o dia foi salvo graças a você! 

Ele me olhou meio balançado e eu abri o meu melhor sorriso inocente.  

— Como saberei que posso confiar em você? 

— A única coisa que vai precisar fazer é conseguir a chave da sala do seu pai nas Masmorras... – Desconversei. Ele me olhou sem entender e eu me pergunto o porquê, já que estava claro, o que ele queria que eu explicasse mais?  

— Como? O que eu digo pra ele? 

— Que você é gay... Sei lá, inventa, o importante é que use essas mãos leves que nós dois sabemos que você tem para algo bom. - Ele me sorriu confortável pela primeira vez na conversação. 

— Ok, Fábregas, qual é seu plano? - Quem dera que fosse meu, pelo menos eu controlaria a loucura de envolver James Potter na história, Tony arrisca demais. 

— Você pega a chave, eu entro, pego a capa e ganho o direito de usá-la três dias na semana. 

— Nem pensar, um dia só, porque tenho que dividir com meu irmão. - Quê? Ele suspirou pesado. – Eu jurei de mindinho quando éramos crianças e tiramos as coisas do baú do pai pela primeira vez... 

Eu tapei o rosto e respirei fundo três vezes, mais porque achei uma gracinha que ele fosse tão considerado com uma promessa de criança, do que pela impaciência com sua idiotice. 

— Dois dias então, Potter. 

— Cinco dias dividido por dois é tão difícil... - Ele falou arrastando um peão negro na mesa, em um tom lamuriento. 

— Porra, então que volte a ser três e cada um de vocês fica com dois! - Ele me olhou indignado, batendo o peão na mesa. Madame Pince fez um sonoro “shiiiiiiii” para isso. 

— Nós somos os herdeiros, temos que ganhar mais do que o mercenário! - Merce... Mercenário? Porra, assim ofende e magoa. 

— Ah, vá se foder, que seja um dia então, mas vai ser a sexta-feira. - Ele me olhou com uma cara que caberia perfeitamente uma sobrancelha questionadora, só que ele não tem. – Porque é meu dia favorito de fo... 

— Tá, que seja. - Ele disse corado. 

—...mentar a diversão em minha vida. – Completei, tendo a certeza que ele havia percebido que fomentar não era bem o verbo que eu iria usar. 

— O que pretende fazer com as armadilhas na sala de meu pai? 

— Que. Armadilhas? - Falei pausadamente, porque Albus não falou nada de armadilhas. 

— Meu pai é um auror nível 5, esteve em uma guerra, acha mesmo que não teria nenhuma segurança em seus aposentos? 

— Acho, se ele for idiota como você! - James revirou os olhos e eu tomei o peão da mão fria dele, para chamar sua atenção de volta. – Então vamos mudar os planos, colocarei você dentro das Masmorras. 

— Acha que os feitiços são ligados ao sangue? Que vão se anular para mim? - Quê? Claro que não, penso apenas que se for para alguém se ferrar, que seja o herdeiro. Ao menos dá pra inventar uma desculpa pra uma invasão dele. 

— Sim, eu acho que os feitiços vão se anular ante sua magnanimidade sanguínea. 

— Às vezes você fala umas palavras tão difíceis e erra umas tão bobas... 

— Topa o plano ou não? - Ele me olhou desconfiado. – Posso averiguar os feitiços protetores antes, conheço um cara, que conhece um cara que aluga um Maledictionem locator por um preço camarada. 

— Um detector de maldição? 

— Por um preço camarada! E aí, topa ou não? 

— Topo. - Dei um peteleco de leve entre as sobrancelhas dele. 

— Não vai se arrepender, Potter. 

*** 

Convencer Aidan Jr. foi relativamente fácil, apesar de ter que explicar um zilhão de vezes para ele que enganar o diretor da nossa casa com um falso mal-estar não dava pontos na ampulheta em nenhuma realidade conhecida. 

Conseguir o Locator também, apesar de que vou ser obrigado a inflacionar o preço para os Potter, porque fiquei meio pobre depois da compra com Weasley II. E sim, vou cobrar o aluguel de cada um, porque eu não trabalho de graça. 

A parte difícil está sendo desvendar os sete feitiços protetores de Harry Potter, que não eram ativados por senha e sim por um feitiço ao qual não temos conhecimento. 

— Seria mais fácil se tivéssemos acesso ao histórico da varinha dele... - John me disse, enquanto folheava o terceiro volume dos Feitiços de segurança moderna, ironicamente de 1971. 

— Se tiver aí um feitiço ou poção que use o sangue dele ou talvez uma unha, um dente, me avise, porque aí ficaria mais fácil. 

— Gente, por que o escritório de Harry Potter? Por que não... Sei lá, a cozinha dos elfos? - Aidan, o verdadeiro, disse cansado, tendo ajudado em absolutamente nada . 

—  Espera um minuto... Aidan, você me deu uma ideia!  

— Dei? 

— Tudo que temos que fazer é dar um jeito de tirar a capa da sala dele e levar para um lugar menos seguro! - Falei empolgado, como não havia pensado nisso antes? 

— Tipo onde? 

— Tipo na sala de aula! Aidan, sua aula de DCAT é na quarta, certo? Certo! Tudo que você precisa fazer é comentar que, sei lá, seu pai não acredita que a capa existe e... 

— Mas todos sabem que existe, teve até uma repor... 

— Não importa! Ele inventa algo! - John me olhou com cara de bunda. – John, me ajude aqui, para de ser um cuzão! 

— Sim e depois o quê? Você vai dar um jeito de fazê-lo deixar a capa na sala de aula até a nossa classe na sexta? 

— Eu não, que sou visado! Rebeca ou até mesmo Scorp, que são meio que acima de todas as suspeitas, farão o pedido para ver o artefato. 

— Nenhum sonserino é acima de suspeitas... 

— John, vamos voltar para os nossos estudos de símbolos, antes que eu te parta a cara. - Aidan riu, principalmente porque o loiro ficou emburrado de não ser escalado para o plano. O plano é meu e eu coloco quem eu quiser nele. 

Com essa parte mais ou menos resolvida, dediquei mais uma hora no aperfeiçoamento do símbolo da gente - que agora que eu parei para pensar, se parece muito com o símbolo de ômega na matemática - e depois segui para cumprir minha uma hora e meia de treino físico antes da reunião de equipe. 

— Quanto você tá pegando? O quê? Só isso? Mas que ridículo, você é um batedor...- Romeo aumentou mais dois pesos no supino que eu estava fazendo. 

— Coloque no lugar antes que eu enfie meu bastão na sua... 

— Pera, pera, pera! Guarde sua raiva, porque eu tenho uma boa e uma má notícia pra você. 

— Qual é a boa? - Vai que ela me dá forças para aguentar uma má notícia dita por Romeo Habermas... 

— Eu e Lia ganhamos 17 sicles cada. 

— E a má? - Falei, enxugando o rosto na toalha, já prevendo o pior.  

— Eu e Ginns brigamos. - Dei uma toalhada na barriga dele e o desgraçado riu. – Mas eu ganhei o duelo! 

— Bom para você, espero que te console quando Longbotton pedir para você falar sobre os seus sentimentos no treino! - Ele fez uma careta, mas depois sorriu com seu dente falhado. 

— Para, eu ainda confio na sua vitória... 

— Isso é porque você não sabe fazer contas! - Fui tomar meu banho ao som dos gritos debochados de Habermas de “Tenha fé, capitão, nós amamos você!” 

*** 

Todos da Sonserina votaram e então os lufanos, os corvinais - cada um para um lado - e agora os grifinórios, mas Potter deixou eles votarem apenas para cumprir o protocolo, porque sabíamos que todos os leões votariam em seu líder. 

— Longbotton. 

— Longbotton. 

— Fábregas. 

— Longbotton. - James Potter falou convencido, mas depois percebeu que o voto anterior não tinha sido o esperado. – Lexa? 

— O quê? Ele é um bom líder! - Sorri para minha colega de turma amalucada, que tinha me dado um puta voto de confiança! Sabia que seria recompensado por tê-la aguentado naquela tarde de caça às plantas! –  Fora que seria um péssimo vice, invejoso e encrenqueiro. 

— Obrigado, Lexa, estou tão feliz que vou até ignorar esse seu último comentário! 

Habermas me abraçou efusivamente pelo ombro e o restante do meu time comemorou também. Eu que sou fino, cumprimentei Longbotton e falei antes de deixar o treinador dar como encerrada a reunião. 

— Estamos todos no mesmo time e não vou tratar ninguém diferente por causa das cores que usam. - Olhei para cada um e em especial para os grifinórios. – Vamos deixar essa votação só entre nós, ok? 

Todos  fizeram que sim com a cabeça e eu pisquei para Lexa Prutt, porque sim, eu sempre protejo os meus e não quero ela acossada nos corredores da Grifinória. 

Sim, sou um ser humano decente. 


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Notas finais do capítulo

Viagem para congresso, festival da primavera... Tenho várias desculpas, hihihi

E aí que acharam da aula de Harry Potter? De James manipulador? De Romeo... Não, Romeo é sempre idiota.

Bjuxxx



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