Hogwarts: uma outra história escrita por LC_Pena


Capítulo 51
Capítulo 51. Toda uma criança bem-comportada.


Notas iniciais do capítulo

Ufa, pensei que não conseguiria postar hoje, escrevi em tempo recorde, espero que gostem. Capítulo dedicado a L Lucine, por conta da maravilhosa recomendação, vocês não sabem o quanto me fazem felizes com esse voto de confiança, afinal, essa história ainda nem está terminada!

Para aqueles que enviaram uma recomendação e eu ainda não agradeci, é pq não chegou para mim, :/



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Capítulo 51 – Toda uma criança bem-comportada

Já estava ficando bastante íntimo da paisagem bucólica do Lago, meus problemas com ele ficando a cada dia menores. Era o último dia do ano letivo, o trem partiria de Hogsmeade para Londres em alguns minutos e só por isso eu achei válido me juntar a Enrique em seus últimos momentos na escola.

Ele estava sentado no chão do ancoradouro dos barquinhos de papel dos primeiranistas, os pés quase tocando na água. Me sentei ao lado dele, como um velho, porque sentar no chão faz isso com a gente, meus músculos não são acostumados.

— Você vai sentir falta daqui, não vai? - Ele não olhou para mim, continuou encarando o horizonte com os cabelos ao vento - ele deve estar adorando a poesia do momento, o senhor Poeta sorumbático - mas ao menos sorriu.

— Provavelmente não, Hogwarts tem sido absurdamente cansativa. - Olhei pra ele com o cenho franzido e ele apenas riu pelo nariz. – O tanto de coisas que fui obrigado a fazer... Finalmente vou fazer o que eu quero.

— Não vai sentir falta de nada? - Falei cético e ele me encarou, como se me desafiasse a encontrar algo que pudesse lhe fazer falta. – Do Quadribol, talvez?

— Existe Quadribol fora de Hogwarts, Cesc.

— De azarar os lufanos? – Tentei, lhe dando uma cotovelada na altura das costelas, ele riu, passando a mão nos cabelos de um jeito despojado, o que era um grande contraste comparado com as vestes bruxas que usava.

Era estranho vê-lo com as vestes bruxas tradicionais, Enrique provavelmente não tinha mais que obedecer às diretrizes de vestimenta para ambientes com trouxas, já que tinha permissão para aparatar assim que saísse dos terrenos da escola.

— É... Se eu azarar alguém agora, terei que ir para Askaban. - Ele disse tranquilamente, como se "ir para Askaban" fosse um ato voluntário. – Mas posso viver sem isso, com certeza.

— E todas as garotinhas e garotinhos inocentes que você ama perverter? - Perguntei divertido e ele apenas me deu um sorriso de lado.

— Definitivamente vou sentir falta disso... - Acenei satisfeito, sabia que podia provar meu ponto. – Mas nada disso é inerente a Hogwarts, você sabe.

Aff, que cara chato!

Ele riu, provavelmente da minha expressão irritada. É tão difícil deixar o ser humano aqui ganhar uma batalha?

— Eu vou sentir sua falta, Capitão.

Olhei para ele, desconfiado, mas ele só deu de ombros. Ah bom, ao menos isso, né, Dussel? Mas minha desconfiança passou para curiosidade quando ele começou a mexer naquelas vestes muito formais para um cara de 18 anos e tirou de dentro do bolso interno um embrulho.

— Aqui, fique com isso, como lembrança dos nossos tempos juntos. – Eu aceite o que quer que fosse que estivesse escondido no embrulho, rezando muito para não ser nada pervertido. Ele sorriu da minha hesitação. – Para lembrar nossos tempos juntos no Quadribol, seu idiota.

Ah bom. Abri o pacote e não pude evitar sorrir para o presente.

— Está me dando um onióculos? – Falei, enquanto avaliava o objeto mágico nas mãos. Era bem menor do que o da professora egoísta de Aritmancia - aquela que havia me emprestado o dela em um dos jogos da Lufa-lufa - e bem mais discreto do que o de Rebeca.

— Não qualquer um, esse aí é um protótipo do novo modelo que meu pai irá lançar no mercado próximo mês. – Eu olhei com mais atenção e vi o pequeno brasão da família Dussel, a cabeça de um cavaleiro medieval com uma coroa em cima, na lateral do artefato.

— Protótipo do tipo “pode explodir na minha cara”? – Ele sorriu, maneando a cabeça negativamente com minha idiotice.

— Do tipo “ninguém tem ainda”. – Ele olhou de volta para o Lago, ainda com o sorriso divertido no rosto. – Embora o risco de explosão nunca esteja realmente descartado.

Eu ri, enquanto embrulhava o presente de volta e guardava no bolso do meu casaco trouxa mesmo. Precisaria de muitas décadas no mundo bruxo para me render a essa moda de usar essas roupas longas e pesadas.

— Obrigado, Enrique. – Ele me olhou, com um quase sorriso, então eu resolvi completar, porque sou um garoto bem-educado e isso teria que bastar como despedida. – Obrigado por tudo.

***

— Onde estava? - Entrei na cabine 306 velha de guerra e tive que lidar com as perguntas desse loiro besta logo de cara.

— Você está me confundindo com uma certa morena descarada, cara, porque eu com certeza não te devo satisfações. – Disse em um tom conclusivo e educado, como sempre. Scorp me olhou sem entender e Tony apenas maneou a cabeça por trás dos quadrinhos As aventuras chamuscadas de Wendelin, a esquisita.

— O que isso quer dizer?

— Que nós sabemos do seu casinho com a senhorita Wainz, seu garotinho escorregadio.

— E quando ele diz nós, ele que dizer ele. - Tony falou, ainda fingindo não estar prestando atenção na conversa, por trás da revistinha que sempre contava a mesma história da bruxa estranha que escapa - de uma forma mirabolante - das chamas da fogueira da Santa Inquisição.

— Não faço ideia do que estão falando...

— Sonso.

— E não me sinto nem um pouco inclinado a esclarecer vossas suspeitas, só perguntei onde você estava por educação. - Scorp disse tudo num só fôlego, cruzando os braços e assumindo uma postura muito parecida com a do pai.

— Não pedimos esclarecimentos, meu caro. - Eu disse com meu melhor sorriso sarcástico. – Estamos apenas constatando um fato.

— Para de usar o plural, Cesc. - Tony usou um tom de falso aborrecimento que foi sumariamente ignorado.

— O que eu acho engraçado, hilariante na verdade, é que eu nunca falo nada das suas coisas amorosas e vocês chegam cheios de julgamento pra cima de mim.

Ui, como estamos na defensiva! Isso chamou a atenção do senhor Sou-fofoqueiro-mas-finjo-que-não Zabini, que fechou a revistinha e a atirou no meu banco, em frente ao que ele estava com Malfoy.

— Scorpius Malfoy, minha criança, quem aqui está te julgando? - Ele disse numa imitação muito boa de uma figura paterna.

— Ele está.-  O loiro me indicou com a cabeça e eu apontei para mim mesmo, fazendo um "eeeeeeuuuu?" mudo, o que fez os dois garotos na minha frente revirarem os olhos.

— Como poderia? Todos sabemos que Cesc andou se lambuzando nos dotes de Rebeca antes mesmo dela se tornar uma coisinha atraente.

Eu me limitei a levantar uma sobrancelha para essa acusação indecente, mas Scorp virou o rosto pra Tony tão rápido, que eu temi que se quebrasse.

— Zabini... - O loiro soltou um rosnado baixo e porque Tony não tem noção de perigo, apenas deu de ombros, sem se desculpar, no entanto, pela menção aos dotes de Rebeca.

Como sou um pacifista e prezo pelo bem dessa amizade, achei por bem mudar os rumos dessa conversa, antes que o loiro resolva sacar sua varinha e mandar Tony escolher seu padrinho para o duelo em nome da honra de sua amada.

— Ninguém está julgando nada, Scorp, certamente não Tony que está pegando a Weasley.

O loiro riu, descruzando os braços e Tony me olhou de um jeito muito ofendido.

— Estou fazendo isso pelo bem maior! - Oh, como esse garoto é altruísta... Eu sorri sarcasticamente para a fala inflamada dele.

— Não está tirando nem uma casquinha? - Scorp perguntou, seguindo a minha linha de raciocínio.

— Pois é, Scorp, porque a Weasley tem umas pernas bonitas até... - Joguei verde para colher maduro, Tony apenas franziu o cenho em minha direção, não mordendo a isca.

— Talvez sim, talvez não. Não notei as pernas bonitas dela. - Ele disse muito suspeito e não acreditei em uma só palavra. – De todo modo, não estamos aqui para discutir a minha vida amorosa...

— Ou odiosa, no caso.

— Porque não somos esse tipo de amigos. - Ele terminou o discurso, ignorando a interrupção de Scorp.

— Que tipo de amigos? - Perguntei em dúvida.

— O tipo que fala de coisas amorosas, como colocou o eloquente Senhor Malfoy.

— Por que não? - Perguntei, me fazendo de advogado do diabo.

— Apenas não somos, ué! Você mesmo nunca nos conta suas coisas. - Scorp disse, mas não soou magoado por isso, ainda bem.

— Pobre de mim, o que tenho eu para contar? - Me fiz de inocente, cruzando as mãos atrás da cabeça e me ajeitando mais confortavelmente no banco apertado da cabine 306.

— Poderia falar das suas coisas com Lia, por exemplo. - Tony disse sugestivamente, mas Scorp riu de um jeito estranho.

— Com Lia? Ele poderia começar a falar das coisas dele com Dussel. — Ai meu Merlin! Não pude evitar me ajeitar de supetão, o que não me ajudou em nada no meu posterior fingimento de indiferença.

— Não sei do que você está falando, Malfoy. - Disse com uma bela cara de paisagem, digna de papel de parede no Windows.

— Eu é que não sei de que porra vocês estão falando! - Tony quase gritou, exasperado, dardejando o olhar entre mim e um Scorp com cara de que estava muito satisfeito com a treta plantada.

Ainda posso usar magia no trem, então vou matar essa lombriga descascada se ele continuar com isso!

— Ah, Tony, pois você não sabe de nada... - Ele disse, olhando para mim com o sorriso de um gato que comeu o passarinho. – Um dia desses fui inocentemente procurar vocês no vestiário e qual não foi a minha surpresa ao ver Cesc todo confortável nos braços do nosso querido apanhador.

— Cesc? - Tony me disse de um jeito sussurrado, como se eu tivesse comido a sobremesa dele ou algo assim. Eu não respondi nada, porque o loiro ainda não tinha acabado.

— As más línguas poderiam até dizer que foi por causa disso que você o escolheu como...

— Não se atreva a dizer isso. - Eu falei sério e ele se empertigou na cadeira, deixando o tom de brincadeira de lado.

— Desculpa, cara, passei dos limites, sei que você não faria isso, foi mal. - O loiro disse sem graça, baixando o olhar para a gravata de suas vestes formais a lá Malfoy. Esse é o tipo de coisa que eu não vou aceitar vinda dele, já que ele sabe o quão difícil foi para mim deixa-lo de fora do time.

— Como é que eu não fiquei sabendo de uma coisa dessas? - Tony perguntou para ninguém em particular, quebrando o silêncio desconfortável da cabine, como se as forças ocultas da fofoca o tivessem traído.

Scorp não disse mais nada, pelo que fui grato, então me limitei a dizer aos dois o resumo da ópera.

— Tudo isso faz parte dos meus experimentos sociais, nada de extraordinário, devo dizer.

E é óbvio que isso não foi o suficiente, não é a toa que Tony conta com as forças da fofoca para seguir com sua existência, então seguimos viagem com os dois L.P.s curiosos, muito confortáveis me enchendo de perguntas desconfortáveis.

Olha, era melhor quando não éramos amigos desse tipo mesmo.

***    

Minha mãe me chamou pela milésima vez lá do andar debaixo e na última, o tom saiu mais agressivo do que o normal, então resolvi que iria atende-la dessa vez. Coloquei o restante das fotos que havia recebido da filial bruxa da Wex Photographic na gaveta da cômoda e dei um passo para trás para apreciar como estava indo meu mural até agora.

Havia uma foto de Tony no canto superior da tela verde de moldura prata, onde o garoto arrogante piscava para a câmera, quase como se quisesse seduzir a audiência, ridículo, eu sei.

No outro canto estava Scorp começando e mantendo um sorriso ladino em um looping infinito, e então havia entre eles uma Rebeca jogando o cabelo por cima dos ombros, como a estrela que ela pensa ser.

Coloquei espalhadas aleatoriamente a foto de Lily e Aidan na venda de garagem sem garagem da Corvinal, cochichando algo, enquanto riam de uma peça não identificada, John executando novamente aquele feitiço de águas dançantes - o forte dele - e aquela selfie legal minha e de Lily, tirada no Salão Comunal.

Aproveitei ainda para colocar a foto que tinha eu, Tony, Scorp e Rebeca jogando cartas de Cassandra em uma das mesas de estudo do nosso Salão, uma de Louise e Claire fazendo careta para a câmera - na época que ainda nem sequer namorava a loira - e bem no meio, destaquei a foto do artigo do Hogs News sobre a vitória da Sonserina no Campeonato de Quadribol.

Sim, doce glória, pena que a Lufa-lufa havia levado a Taça das Casas, apesar dos nossos melhores esforços de passar uma semana inteirinha sem azarar nenhum deles, mundo muito cruel esse em que o bem não é...

— FRANCESC SILAS FÁBREGAS! – Corri para baixo, descendo as escadas de dois em dois degraus, mas quando cheguei no térreo, nem sinal da minha Mãezilla para me atacar a jugular.

— ¿Dónde está nuestra madre, Louise? [Onde está a nossa mãe, Louise?] – A dita cuja continuou seu caminho apressada, em direção a cozinha e eu a segui.

— Probablemente se está finalizando los arreglos de su funeral. [Provavelmente está finalizando os acertos do seu funeral.] – Eu estava pronto para responder a essa besteira, mas a visão de várias tortas de polvorón esfriando no balcão me fez parar de súbito.

Minha nossa, a quanto tempo não como uma dessas aqui, recém-saídas do forno! Antes que eu pudesse capturar uma das deliciosas rodinhas polvilhadas de açúcar de confeiteiro, Louise virou para mim de supetão.

— NO LO COMAS! [NÃO COMA!]– Eu teria ignorado o grito se tivesse saído com o tom “se comer, eu te mato”, mas tinha saído mais como “se comer, você morre” e isso vindo de minha irmã é sempre um perigo. –  Son para la Asociación de padres y tutores de los hijos de Muggles en Ministerio de Magia Español! [São para Associação de Pais e responsáveis de nascidos trouxas do Ministério da Magia Espanhol!]

Ela disse essa frase comprida toda de uma vez e eu obviamente não acreditei em nenhuma palavra. Olhei cético e fiz menção de pegar um doce, mas ela deu um tapa na minha mão.

— Louise, deja de historia, no existe esta dicha “asociación”. [Louise, deixa de história, não existe essa tal de “associação”.] – Dessa vez quem me olhou sem paciência foi ela e eu apenas devolvi o olhar.

— Por supuesto que existe, la llamada fue en el periódico La Lechuza Matutina. [Claro que existe, a convocação foi feita no jornal La Lechuza Matutina.]— Ela virou de costas, provavelmente para tentar achar o tal jornal - cuja a assinatura eu fui terminantemente contra, quero dizer, pra que meus pais precisam saber das notícias bruxas? – e eu aproveitei a distração dela, para enfiar uma tortinha na boca. – Aquí está la... [Aqui está a...]

Ela me encarou, olhando de cenho franzido para a minha boca cheia e provavelmente coberta de açúcar e apenas disse:

— He puesto bombones explosivos en la massa, para entretener a los niños. [Coloquei bombons explosivos na massa, para entreter as crianças.] -Tentei cuspir tudo fora, mas foi tarde demais. Senti a pequena explosão na boca e a já conhecida e desconfortável sensação de ter fumaça saindo pelas orelhas. A traste riu da minha situação. – Sí, lo jugueteo funcionará. [Sim, a brincadeira funcionará.]

E provavelmente vai acabar sobrando para mim, como sempre.

***

Minha mãe me olhou meio insatisfeita, mas aceitou de bom grado a minha boa vontade de seguir as diretrizes do código de vestimentas bruxas, colocando uma peça de roupa verde ou roxa – ou os dois, mas sério, quem faria tal combinação? – para indicar ao mundo que eu era um bruxo.

Escolhi o moletom da Sonserina, que era muito elegante sim, apesar de ser um moletom. Ela queria o quê? Essas cores esquisitas de bruxos não fazem parte da minha paleta de cores usuais.

E só para calar a minha boca, Louise apareceu nas escadas com um vestido roxo rodado, com um cintinho verde para deixa-la ainda mais perfeita aos olhos de nossa - muito seguidora das regras - mãe.

— Te ves como una berenjena, chica ridícula. [Você está parecendo uma berinjela, garota ridícula.] – Minha mãe me deu um tapa na cabeça e Louise sorriu ainda mais radiante por isso. Claro que ela estava feliz, eu que tive que levar os regalos criminosos dela para o carro e provavelmente seria eu quem carregaria tudo para dentro da lareira pública da Calle Lope de Rueda.

— Para el coche, niños, no me gusta llegar tarde. [Para o carro, crianças, não quero chegar atrasada.] – Minha mãe seguiu na frente e eu aproveitei para bagunçar o cabelo de Louise, que já estava abaixo das orelhas e ela pisou no meu pé, como a vaca que é.

No entanto, quando nossa mãe virou para gente, já colocando os óculos escuros que ela sempre usa pra dirigir, eu e a idiota estávamos no nosso melhor comportamento. Ela olhou desconfiada, mas seguiu seu caminho.

Sentei na frente e a minha gêmea do mal foi no banco de trás, aproveitando que não estávamos usando aquele trem feio que era a minivan familiar de sete lugares que meu pai usava para qualquer passeio que a gente fazia com a avósada toda.

Coloquei o cinto de segurança e minha mãe começou seu ritual de checar os retrovisores, ajustar as joias por cima do cinto dela, retocar o imaculado batom na boca, ligar o som na rádio que só toca música da década de 80 e por fim, jogar os cabelos loiros por cima do ombro esquerdo.

Encarei Louise pelo espelho da frente, com o já característico terço de prata dependurado. Ela sorriu para mim, porque certas coisas simplesmente não mudam. Partimos em direção a essa tal Associação na sede do Ministério Espanhol em Madri.

***

Olha, até que as coisas não estavam tão ruins, quero dizer, tinha comida - tudo na Espanha envolve comida e eu ficarei bem longe das tortas de Louise - e tinha bruxos da nossa idade, a grande maioria estudava ou na Beauxbatons ou em escolas regionais de menor prestígio.

Havia ainda um par de alunos da Durmstrang, mas só eu e Louise de Hogwarts, o que é sempre uma alegria, quanto menos gente souber dos meus feitos, mais chances tenho de sair ileso e não direto para Olhoaren— prisão bruxa espanhola de segurança máxima, para quem não sabe.

Sorrimos cordialmente, ou ao menos Louise fez e quando todos estavam já naquela atmosfera social tranquila e confortável, eis que começa um burburinho no segundo andar do antiquado, porém brilhante, Ministério da Magia Espanhol.

A nossa ministra da magia, Petra Conde, uma bruxa baixinha e gorda, quase que um tamborete de vestes vermelhas rubi, entrou sorrindo simpaticamente e acenando para a horda de fotógrafos desocupados que a aguardavam.

Seus puxa-sacos de praxe ajudaram-na a subir ao palanque montado no meio do átrio e eu tive que trocar um olhar divertido com Louise. Ela apenas sorriu e me deu uma leve empurrada com os ombros, para que eu prestasse atenção no discurso da mulher.

Eu poderia até dizer tudo o que ela disse, mas foi basicamente, “o mundo bruxo está de braços abertos à todos, blá, blá, blá, daremos apoio a todos aqueles que tiverem crianças bruxas e queiram saber como potencializar suas habilidades, blá, blá, blá, a associação tem como objetivo garantir uma rede de segurança e compreensão para as nossas adoradas crianças, blá, blá, blá”.

Bem, a Espanha sendo um dos berços da Santa Inquisição, me surpreende que tenha demorado tanto tempo para pensar em algo assim. Louise pareceu ler meus pensamentos, porque sussurrou em meu ouvido discretamente.

— Nuestro padre piensa que lo está haciendo para evadir la atención de las noticias de los presos de Azkaban.[Nosso pai acredita que ela está fazendo isso para desviar a atenção das notícias dos prisioneiros de Askaban.] – Olhei para ela sem entender e ela apenas revirou os olhos. – A de los 24 presos transferidos para Olhoaren, pero que sólo 23 llegaron en tierras españolas! [A dos 24 presos transferidos para Olhoaren, mas que só 23 chegaram em terras espanholas!]

— ¿Quiere decir que hay un prisionero suelto entre nosotros? [ Você quer dizer que há um prisioneiro solto entre nós?]– Eu virei completamente para ela, estragando aquele lance de discrição. Nossa mãe nos lançou um olhar de soslaio venenoso.

— Lamentablemente, ninguno que es capaz de matarlo. [Infelizmente, nenhum que possa te matar.] – Ela virou pra frente e eu fui obrigado a continuar ouvindo o discurso da ministra depois dessa. Ao que tudo indica, politicagem não é algo restrito apenas ao Ministério mágico inglês, meus caros.

***

Assim que acabou o discurso e que alguns pobres espectadores tiveram suas cabeças explodidas pelos doces de Louise, nós abandonamos o Ministério, com as barrigas doendo de tanto rir, porém vazias.

— Ustedes dos, ¿eh? Tenían que avergonzarme! [Vocês dois, hein? Tinha que me envergonhar!] – Louise ainda massageava a bochecha dolorida de tanto rir e eu estava grato que dessa vez, só dessa vez, eu era inocente e por isso minha mãe incluía ambos na reclamação.

— Va a decir que no se rió de la equipo de seguridad de la ministra que pensó que el niño gordito era un terrorista suicida? [Vai dizer que não riu da equipe de segurança da ministra que pensou que aquele garoto gorducho era um homem-bomba?] – Ela me olhou com um sorriso divertido, não me dando uma resposta, apenas recolocando os óculos escuros no rosto.

— Por estas y otras no sé si te dejó ir al final del campeonato británico de Quidditch con Antony... [É por essas e outras que não sei se te deixo ir à final do campeonato britânico de Quadribol com Antony...] – Minha progenitora disse tudo com um tom falsamente cansado, entrando no carro logo em seguida.

Ela disse o quê?

Louise piscou marotamente para minha boca aberta, dando uma corridinha para se sentar no banco da frente. Nem me dignei a brigar por isso, tenho coisas mais importantes para cuidar.

— Espera, madre, lo que insinúas? [Espera, mãe, o que está insinuando?] – Ela me olhou pelo retrovisor, com um sorrisinho enigmático no rosto, já ajeitando o cabelo claro no ombro.

— Ponga la cinta, cariño. [Ponha o cinto, querido.]

Ela deu a partida no carro e eu dei a partida no meu interminável discurso implorativo para ir para a final do campeonato inglês de Quadribol. Pelo conjunto da obra, acho que merecia ir à lua, sendo eu esta criança tão bem-comportada e adorável que vocês já conhecem.


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Notas finais do capítulo

Bônus Rose x Tony, everyone!

https://fanfiction.com.br/historia/700876/Contos_eroticos_de_HOH/capitulo/3/