Hogwarts: uma outra história escrita por LC_Pena


Capítulo 46
Capítulo 46. Sobre a nobreza, não a de espírito, claro


Notas iniciais do capítulo

Estou postando com a exata frequência com a qual comecei, de 4 em 4 dias, mas não se acostumem, é só pq estou feliz com todos os comentários. :)



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Capítulo 46 Sobre a nobreza, não a de espírito, claro

Rebeca tinha ido buscar as luvas de manipulação que havíamos esquecido nas estufas. Eu teria ido no lugar dela, com todo o prazer, mas a monstra foi mais rápida e sussurrou em sua saída “você não pode perder uma vírgula do que o professor vai dizer, já sabe”. Ela foi sarcástica, mas não há nenhuma mentira aí, não posso perder mais nada mesmo.

— Como podem ver, as beladonas se adaptam muito bem a esse solo úmido do lago, rico em nutrientes. – Professor Longbotton estava abaixado na beira do Lago Negro, mostrando sua adorável plantação de beladonas, plantas horríveis usadas em antídotos para venenos igualmente perigosos. — Aqui temos plantas em três estágios, que precisaram de três tipos diferentes de poda, quem pode me dizer quais?

Algumas mãos foram levantadas, inclusive a de Rose Weasley - que não pode deixar uma oportunidade de se fazer de sabichona passar - mas Longbotton é muito metido a bom moço para favorecer sua afilhada desse jeito, então ele escolheu Scorp. Que também é um excelente nerd e puxa-saco, que fique registrado.

— As podas seriam a de formação, a de produção e a de limpeza.— O professor acenou satisfeito para a resposta do loiro, o que nos rendeu 10 pontos. Viva! Um dia eu consigo algo assim.

Provavelmente não.

— Irei demonstrar as três podas nos estágios correspondentes e depois vocês assumirão a tarefa de podá-las com muito cuidado.— O ex-grifinório nos encarou sério e depois chamou a filha com a mão – a melhor amiga de Rose Weasley – que passou um pequeno estilete para ele, como se fosse uma instrumentista auxiliando um grande cirurgião. — Essas plantas estão na fase da poda de formação, quem sabe me dizer porque devemos fazê-la?

Eu revirei os olhos, quem é o professor aqui? Eu hein, depois reclamam quando eu digo que as aulas são todas desnecessárias, bastam os livros e a comida, que a gente se vira muito bem sozinhos, obrigado.

— Senhor Fábregas, sabe nos dizer o porquê dessa poda? — Droga, ele deve ter visto meu desdém super discreto. Hummm... Olhei para as plantinhas recém-saídas do solo, com os olhos franzidos. Elas bem que poderia me sussurrar a resposta, não? — O senhor pode se aproximar se quiser.

Eu voltei a posição ereta, da qual nem percebi que havia saído antes. Eu me aproximar do Lago? Deus que me livre! Ainda tenho pesadelos com essa coisa horrorosa que deveria ter uma faixa de perigo em todo ele, não só ao redor dessa pseudo-horta mortífera.

— Não, estou bem confortável aqui professor, obrigado. – Sarah Longbotton o chamou, falando algo baixinho em seu ouvido, o que foi toda a distração que eu precisava para Scorp me soprar a resposta: “é para corrigir o curso do crescimento, Cesc”.

— Ah, sim, o senhor esteve no fatídico episódio do Lago congelado, perdoe-me, não precisa se...

— Mas eu sei a resposta, professor. — Coloquei o meu sorriso mais inocente, de menino traumatizado, porém atento as aulas. — Fazemos a poda de formação para corrigir qualquer problema no curso do crescimento das mudas.

Scorp fez que sim com a cabeça e Weasley bufou indignada. Mais 10 pontos para a Sonserina, baby! O improvável veio rápido hoje! Palmas, pessoal!

Quando Rebeca voltou, eu já tinha conseguido um lugar com as plantas em fase de colheita, o que significava que não teríamos que ficar atolados na lama até os calcanhares, perto daquelas águas malditas.

— Por que demorou tanto, monstra?— Ela deu um sorrisinho de canto e não me respondeu, tratando de se preparar para começar a poda de produção que - acabei de aprender - é aquela feita para aumentar a produtividade da planta. Pena que eu vou esquecer isso assim que voltarmos para o castelo.

Como nada em Hogwarts é tão simples quanto parece, as folhas e bagos de beladona são venenosas no nível 6 - o que eu não faço ideia se é fraco ou não - então eu não vou arriscar, vamos colocar as luvas!

Só para contrariar meu recém-adquirido extinto de preservação, Lexa Prutt puxou agressivamente um dos galhos mortos da planta, em sua suposta “poda de limpeza”, o que fez a bicha espirrar um muco que quase me acertou.

— Pelo amor de Deus, garota, isso é veneno!— Passei bem rápido o unguento de acanto no corte feito pela ogra, para acelerar a cicatrização da pobre planta. Me chamem do que quiser, mas não de torturador de vegetais!

— Ah, desculpe!— Ela fez uma careta divertida, tentando limpar minha capa com as mãos ainda sujas com a seiva venenosa e eu desviei, irritado. – Nossa, eu tô só piorando as coisas.

— Você é obviamente um perigo nessa aula! E eu achando que era só na de poções...— Diferente do estouro esperado, a artilheira grifinória apenas riu da minha observação espirituosa, o que me deixou surpreso. — Você está bem, Prutt?

— Tô sim, aliás, queria falar mesmo com você sobre aquele assunto.— Levantei uma sobrancelha em questionamento. Eu não tenho assuntos com grifinórios! – Sobre as faculdades, digo. Graças àquela conversa que tivemos no outro dia, tomei coragem para dizer aos meus pais para se danarem, vou para a faculdade que eu quiser, no mundo que eu quiser!

— Não me lembro de ter te aconselhado a mandar seus pais se danarem...— Eu falei, não muito interessado em continuar esse papo, mas claro que meu desejo não foi atendido. Lexa Prutt me olhou de rabo de olho, ainda de bom humor.

O que há de errado com essa garota?

— Não aconselhou, mas fiz de todo jeito e me sinto bem melhor agora!

— Espero que não tarde para seus pais te enviarem uma daquelas maldições telegrafadas que estão tão na moda nesse final de ano letivo.— Sim, só essa semana três alunos receberam maldições contratadas, que variam de língua presa anti-conversa inútil, até a maldição dos olhos confusos - que não deixa você ler nada que não seja do assunto que o amaldiçoador decidiu.

— Meus pais são completamente trouxas, eles não entendem disso.— Ela falou satisfeita e eu soltei um suspiro pesado. Mais um sonho não realizado, pobre eu. Por isso que sou obrigado a partir para a ação.

— Seria uma pena se alguém mandasse para seus pais as instruções de como encomendar uma dessas maldições por correio...— Ela parou seu péssimo trabalho de arrancar galhos fracos - tinham uns bem bonzinhos nas mãos assassinas dela - para me encarar.

— Achei que você tivesse mais o que fazer do que tentar infernizar a vida dos outros, Fábregas.— Ela me disse, não realmente acreditando que eu faria uma coisa dessas. Prutt obviamente não me conhece, coitada.

— Aparentemente não... Olha só! Estou aqui fazendo jardinagem como se fosse uma ninfa do bosque estúpida!— Ela já ia retrucar, mas Rebeca se pronunciou pela primeira vez em quase meia hora de trabalho.

— Querida, tem algo aqui...— A monstra fez sinal para o nariz, o que foi prontamente imitado por Prutt, com a manga das vestes. Eu olhei mais atentamente para o rosto da menina, não havia nada. – Ah, desculpe, é só sua cara feia mesmo, achei que dava pra tirar.

— Rebeca! - Que desnecessário, a menina não estava fazendo nada demais!

— Vadia.— Prutt sibilou, pegando seu cesto com os restos de planta, seguindo raivosamente para perto dos seus colegas de Casa, que terminavam de limpar o outro lado da plantação.

— Pensei que ela não fosse embora nunca! — A monstra tirou a luva e jogou no nosso próprio cesto. – Que foi?

— Por que fez isso?

— Ora, Cesc, estava te salvado da sua própria estupidez.— Fiz um gestual exagerado que dizia claramente “o que diabos você quer dizer com isso, sua maluca?”, ela revirou os olhos. – Esse é exatamente o tipo de gente que costumava falar mal de você a dois dias atrás.

— E...

— E que, agora, só porque o Ocaso disse que você é legal, eles estão todos “oh, vamos conversar com os sonserinos como se fossem iguais a nós”.— Ela falou, com um tom conclusivo. Meu Merlin, só internando essa criatura! Falar a verdade e fazer todos perceberem que somos iguais não é a razão de ser do Ocaso?

— Mas não é o que queremos?

— Eca, não! Não quero me misturar com essa gentinha falsa.— Olha, eu desisto. Peguei o cesto e dei as costas pra essa sandice. – Irá me agradecer um dia, Fábregas.

— Não, não vou não.— Ela deu uma corridinha breve para me alcançar e entrelaçar nossos braços.

— Só não vai, porque é um ingrato. — E Rebeca é uma maluca, mas até aí, qual a novidade? Sorri, correspondendo o olhar bem-humorado dela. Temos que saber escolher nossas batalhas e essa definitivamente não vale a pena lutar, então deixarei que ela se saia com as suas.

Dessa vez.

***

Nos sentamos para o almoço, como sempre, famintos, mas Tony não atacou a comida, o que foi bem estranho. Só não foi mais esquisito do que o elfo da cozinha que se materializou atrás dele com uma bandeja enorme, sob uma tampa prateada, digna de um rei.

O elfo o serviu pela esquerda, como manda a etiqueta.

— Mas o que diabos está acontecendo aqui?— Scorp fez a pergunta que passava pela cabeça de todos.

— Eu não queria dar essa notícia pra vocês ao mesmo tempo que a ralé fica sabendo, mas acontece que... Eu estou doente.— A boca de Scorp se abriu em uma expressão de surpresa e eu apenas levantei uma sobrancelha para a revelação "bombástica". — Uma doença horrível, a propósito.

Tony abriu a bandeja que continha toda sorte de pratos, um mais incrível que o outro e isso fez a expressão de Scorp mudar de surpresa para cética.

— Que doença seria essa, Tony?— Eu perguntei, não acreditando nem um pouco nessa história, Tony Zabini era a viva imagem da saúde, meus caros.

Borreliose de Lyme, uma enfermidade terrível e debilitante.— Ele disse com um tom pomposo, quase ao mesmo tempo em que atirava uma azeitona sem caroço na boca.

— Tenho certeza que é terrível e debilitante para quem a tem.— Scorp disse, colocando a comida fornecida pela escola, sem nenhum enfeite, no prato.

Eu comecei a me servir do almoço de plebeu, porém com dignidade, diferente de Tony, que se deliciava com os melhores pratos já feitos pelos elfos de Hogwarts, indignamente. Tudo na bandeja dele parecia mais brilhante e cheiroso que a nossa refeição de pobre.

Assim que o restante de Hogwarts voltou a cuidar de sua vida, Tony continuou com sua historinha para boi dormir.

— Meu pai enviou uma carta ontem para o diretor Brenam, avisando da minha nova situação.— Scorp revirou os olhos e a prova cabal de que Tony não estava doente veio no riso divertido do filho da mãe. — Daqui até o fim das aulas, comerei apenas uma comida fresca e vigiada, nada de alimentos expostos ao relento e a poções de ex-namoradas vingativas.

Ah, agora tudo faz sentido.

Tony piscou feliz com o seu plano genial de defesa contra os ataques de Harmond. Foi uma ideia brilhante, tenho que admitir. E tenho certeza que nem foi preciso muito para convencer o pai doido dele a mandar a carta, no máximo um "tem uma garota psicopata tentando me envenenar!".

Tio Draco gosta de contar essa história de que Blaise Zabini era um sonserino sério e fechado, o que ainda devia ser na maioria das ocasiões formais, penso eu, mas a verdade é que eu nunca conheci esse lado dele realmente, então é fácil imaginá-lo como um lunático.

Igualzinho ao filho.

Assim que o assunto morreu de vez, Lily Luna, minha discípula mais fiel e única, pra ser sincero, chegou, como manda a etiqueta sonserina, sorrateiramente, roubando um dos pêssegos com chocolate de Tony.

Que doente tem pêssego com chocolate no almoço, pelo amor de Circe?

— Que ultraje! Fábregas, diga a Potter fêmea que ela não pode roubar a comida de um pobre moribundo!— Tony disse tudo isso com uma afetação digna do Royal Opera House.

— Quem está doente, menino?— Lily falou com a boca ainda um pouco suja de chocolate, o qual ela limpou desajeitadamente com a manga das vestes, como a bela dama que é.

— Tony está, mas é algo crônico e incurável, todos nós já estamos acostumados com a enfermidade dele.— Scorp disse sarcástico, o que, claro, rendeu aquela discussão dos infernos, que todos nós precisamos para continuar o dia cheios de energia maligna.

Falando em maligno, percebi um olhar insistente em minha direção, quase no final do almoço e como o lorde discreto que também sou, olhei na direção de Dussel, sem chamar atenção, claro, só para ver o que é que estava pegando.

— O que tanto olha, Cesc?— Lily me perguntou com aquela inconveniência típica dos da sua família e idade, um combo muito perigoso para uma pessoa tão diminuta.

A ignorei completamente, óbvio. Dussel fez um sinal sutil com o queixo, apontando para a saída, o que me fez abaixar o olhar e sorrir, dizendo não com a cabeça.

— O que eu disse de tão engraçado? 

— O quê? — Perguntei confuso. Pottinha me olhou como se estivesse falando com um Tony da vida.

— Você está tão estranho...

— Sempre fui estranho, você que não havia notado antes, garotinha.— Concluiu, zombeteiro. Ela me olhou com uma sobrancelha levantada, que daria orgulho em qualquer Weasley-Potter sem expressão, mas não fiquei muito tempo mais para apreciar esse milagre da genética. – Com sua licença, tenho afazeres importantes...

— Não dou licença nenhuma! Preciso falar um neg... Cesc! Eu estou falando!— Lily disse, fazendo seu escândalo diário, só para não perder o costume. Dei uma piscadinha para ela por sobre o ombro.

— Pedi apenas por educação, Lily!— Ela cruzou os braços emburrada, Tony olhou com uma expressão desconfiada e Scorp com um sorrisinho malicioso, porque isso é tudo o que esse loiro é, fazer o que?

Segui meu caminho para fora do Salão Principal, sem ter um rumo definido, porque a verdade é que eu não estava realment... Fui puxado para dentro de um dos infames e inúteis armários de vassouras de Hogwarts. Inútil no sentido de guardar vassoura, porque para outras coisas...

— Bom saber que seus "não" significam "sim".— A voz desencarnada e maliciosa no ambiente ainda escuro para meus olhos desacostumados, disse muito perto do meu ouvido esquerdo.

— Meus "não" significam "não", Dussel. Não seja um escroto. — Ele riu e me puxou para mais perto, o que me fez tropeçar em meus pés.

— Ok, desculpe, entendi errado os sinais lá no almoço...— O riso em sua voz mostrava que ele realmente acreditava que eu havia saído para procurá-lo. Idiota. – De qualquer forma, não foi para isso que te puxei aqui.

Me ajeitei melhor naquele espaço apertado, Enrique era muito grande, então estava meio difícil não o tocar acidentalmente.

— Me “puxou” por que, então?— Questionei e ele suspirou pesado, o que fez com que os pelos do meu pescoço se arrepiassem com o hálito quente. Coloquei uma mão no abdômen dele, para aumentar a distância. Não foi lá meu movimento mais inteligente, porque ele tencionou o corpo de leve.

— Só queria dizer que...— Ele falou com outro suspiro desnecessário e mais desconforto para todos os envolvidos. Ou ao menos para mim, que já estava ficando impaciente com essa situação. — Gostei do último Ocaso. Foi... Honesto.

— Sempre é honesto e ajuda o fato de que estávamos do lado certo dessa vez.—  Expliquei, ele deixou um riso irônico escapar, não completamente feliz com minha escolha de palavras, mas dane-se, estou mentindo por acaso? – Não é como se precisássemos de sua aprovação, no entanto.

Ele definitivamente não gostou da minha atitude, porque agarrou os fios da minha nuca com violência me trazendo para mais perto.

— Sério, Fábregas? Da última vez que eu chequei, minha opinião importava um pouquinho.— Engoli em seco, queria dizer que foi por causa da ameaça implícita, mas na verdade, era a mão dele na minha cintura que estava me deixando... Desconfortável.

— Você disse que não iria me chantagear...— Queria também que minha voz não tivesse soado tão vulnerável e com certeza queria que ele não tivesse aumentado o aperto na minha nuca e cintura.

Estava querendo demais hoje.

— Bem... Eu menti.— O apanhador me beijou sem cerimônia e não sou hipócrita ao ponto de dizer que resisti, porque fiz bem o contrário disso.

Que um raio parta minha cabeça por eu ser um molequinho com tão pouca resiliência, mas Enrique Dussel tem alguma coisa que faz com que as pessoas não fiquem no seu melhor juízo.

Indignamente o puxei para mais perto, assumindo de vez a minha quase síndrome de Estocolmo, excitado com a ideia de "oh, pobrezinho de mim, estou sendo chantageado, cedendo apenas pelo bem maior!".

Ele me prensou na parede estranhamente limpa de vassouras, rodos e... Sei lá o que guardam nesses armários além de segredos sujos!

Deixei que ele tivesse todo o controle, porque a) ele sabia o que estava fazendo, sendo esse, de longe, o melhor amasso de todos e; b) ele, de fato, me controlava uns 10% com esse lance da chantagem.

Os outros 90% era só desejo meu mesmo.

Ok, já aceitei e internalizei que gosto das duas coisas, caras e garotas, obviamente não todos os caras e garotas, porque eu tenho critérios. Gosto do princípio de barba de Enrique fazendo um atrito com a pele sensível da minha garganta, gosto do cheiro mais forte dele e das mãos ásperas...

Nenhum elemento feminino aí, mas então era Enrique Dussel agora, cuja fama o precedia, mesmo que ele tentasse ser discreto, logo era aceitável que tudo - até mesmo as coisas mais sem sentido - parecessem incríveis nele.

Ele desceu a mão para minha bunda, esfregando nossas pélvis, mas dessa vez eu não o impedi. Pelo contrário, deixei escapar um som não identificável de agrado.

— Hummm... Hoje você está bem mais receptivo. Não tem mais namorada, não é?— Calei o tom arrogante dele com mais um beijo, porque Dussel calado é um poeta. — Espera... Calma, eu quero falar mais uma... Quieto!

Ele segurou minhas duas mãos na parede do armário, o que me fez finalmente prestar atenção no que ele estava falando. Minha respiração estava ofegante e obviamente não havia oxigênio suficiente no meu cérebro para eu chegar nesse ponto de alienação.

Eu geralmente sou mais racional que isso.

— Lia me contou da sua proposta.— Ele me disse tudo num fôlego só e isso fez com que meu rosto esquentasse involuntariamente. Ainda bem que estava escuro o suficiente para que ele não notasse. — Por que raios você colocou ela no meio dos nossos assuntos?

— Achei que... Achei que pudesse gostar de um bônus.— Dei um sorriso ladino, que provavelmente foi perdido naquele breu, mas não o meu dar de ombros naquela posição submissa.

Ele estalou a língua nos dentes em desaprovação. Não disse mais nada por um tempo, apenas passou o nariz pela minha orelha, maxilar, garganta... Me apoiei melhor na superfície sólida atrás de mim. Era muito pedir que Enrique fosse mais objetivo e menos sedutor?

— Sabe muito bem que se eu quisesse Thiollent nua na minha cama, eu a teria sem problemas.— Se fosse qualquer outro cara ou qualquer outra garota, eu até reviraria os olhos, mas nesse caso específico, é bem verdade. – Mas tudo bem, façamos como você quer. Thiollent, eu e você, para começar...

— Começar o quê?

— A comemoração do campeonato que vamos ganhar. A taça será nossa.— O tom foi tão certo, que até me fez compartilhar dessa certeza por um minuto. Ele soltou minhas mãos para que eu pudesse corresponder o beijo dele por completo, coisa que eu fiz prontamente. – E você vai ser meu, Capitão.

Não neguei nada, afinal, há 50% de chance de que a Lufa-lufa leve a Taça e que eu não caia ainda mais fundo na rede de um dos alunos mais perigosos de Hogwarts. Quem são Haardy e Dolman na fila do bandejão do Ministério mesmo?

***

Entrei apressado na aula, dessa vez de DCAT. A professora nem se deu ao trabalho de me perguntar o porquê do meu atraso. Logo hoje que eu tinha uma resposta perfeitamente adequada para dar! Obviamente que eu ia dizer que ainda estava meio adoentado por causa do jogo, poções revigorantes não fazem milagre, já sabem.

— Você nem disfarça mais a sua sem vergonhice, hein?— Continuei olhando para frente, para não dar ousadia para Rebeca. E pelo termo muito Weasley para meu gosto, que péssima escolha de palavras! – Já se olhou no espelho? Está parecendo que esteve no olho de um furacão!

Savage nos mandou um olhar severo do centro da sala, de onde estava consertando a postura de ataque de Lexa Prutt, então a monstra calou a boca. Estranho, geralmente nem noto essa garota de cabelos curtos, mas hoje ela está toda falante e cheia de energia, está em todo lugar!

Talvez a artilheira esteja se sentindo mais livre sem o peso das faculdades mesmo, o que é bem estranho, porque só temos 13 anos de idade. Prutt iria duelar hoje com Samuel Aizemberg, um colega de Casa meu, que me lembrava sempre um furãozinho, todo curvado e desconfiado.

Não me surpreenderia nada se descobrissem que ele é cleptomaníaco, só dizendo.

— Quem foi a azarada da vez?— Rebeca ainda está nisso? A olhei de rabo de olho e ela apenas aumentou o sorriso perigoso. – Ou azarado? Ouvi dizer que você tem pendido para esse lado ultimamente...

— Ouviu de quem, monstra? — Agora foi a vez de ela fingir prestar atenção na aula, mas ainda com um sorriso nada simpático no rosto.

— As paredes de Hogwarts gostam de sussurrar muitas coisas, nem todas verdadeiras, mas, de vez em quando...— Ela deu de ombros delicadamente, como a boa dama que fingia ser.

Não disse mais nada a Wainz, apenas continuei apreciando o belo duelo que estava em curso. Prutt era agressiva em tudo o que fazia, já Aizemberg era esquivo que só. Ele desviou no último segundo de um feitiço da artilheira, que acabou ricocheteando na cadeira de Weasley. Ela fez um escândalo, o que fez com que todos nós ríssemos.

— Aproveitando a deixa e porque não quero que você fique chateadinho comigo, mesmo sem motivo... Toma.— Ela me passou um bilhete discretamente por sob a cadeira. – Weasley mandou.

Fábregas, nós tínhamos um acordo de exclusividade! Se eu souber que você ou Zabini falaram com o Ocaso sobre Haardy, eu vou denunciá-los para Brenam, estou falando sério! Me encontrem debaixo da tribuna dos professores às 17 horas em ponto. Não se atrasem.

Olhei para cima, para ver o que Rebeca achava disso, mas ela parecia bastante alheia a tudo. Um outro bilhete chegou, dessa vez vindo da minha esquerda.

Stoddard não havia me pedido para passar adiante, então era para mim mesmo. Procurei discretamente quem havia me mandado e encontrei o olhar do Potter que menos prestava no clã. Ele desviou os olhos rapidamente.

Abri o bilhete, bastante impressionado com como as preocupações podiam mudar de tom de uma hora para outra.

Rose está muito desconfiada. Precisamos dar um jeito nela agora.

Passei os dois recados pra frente, para Tony e Scorp. O ombro de meu melhor amigo tencionou visivelmente. Ele devolveu o bilhete de Weasley com um recado próprio no verso.

Estaremos lá às 17h, deixe Sev avisado.

E pela primeira vez na história, eu temi por Rose Weasley, porque Albus, Tony e Scorp não são do tipo de gente que aceita ultimatos elegantemente.

***

Assim que saímos da última aula do dia, eu, Rebeca, Scorp e Tony caminhamos resolutos, como se tivéssemos indo para um grande evento.

Mas nós só estávamos indo ver a Weasley, que decadência.

O que diabos diríamos para ela? Tony jurava que tinha tudo sobre controle, que já sabia qual seria sua abordagem, mas eu não estava levando muita fé nisso, que ele não me ouça dizer.

Weasley estava provando ser uma adversária mais complicada do que eu me lembrava.

Saco.


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Notas finais do capítulo

E então? Comentários?