Hogwarts: uma outra história escrita por LC_Pena


Capítulo 44
Capítulo 44. O resultado que importa


Notas iniciais do capítulo

Devia estar fazendo meu compilado do projeto de pesquisa, mas estou aqui postando, por que? Porque sou uma sem vergonha e porque recebi duas recomendações: de Moony e de Snowy! Brigada, serumaninhos lindos! Mas chega de enrolação pq esse é um capítulo decisivo, espero que gostem!



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Capitulo 44. O resultado que importa

A chuva aumentou no campo e agora havia um vento vindo da direção da Floresta Proibida que estava praticamente arrancando todos nós das vassouras. Apenas uns poucos corajosos resistiam à isso na arquibancada.

Nunca odiei tanto está certo nas minhas previsões.

— TONY?— Eu gritei, sem conseguir identificar quem era quem, os feitiços anti-embaçamento não estavam mais funcionando nos meus óculos. Maravilha.

— O QUÊ?— Ele se aproximou e eu agradeci o senso de direção dele, que era obviamente melhor que o meu.

— VOCÊ VIU DUSSEL? - O vento estava tão forte, que não havia outra opção a não ser gritar para se fazer entender. Ele se desequilibrou momentaneamente, mas logo voltou a ficar na posição vertical. Mais ou menos.

As vassouras sendo arrastadas, a chuva acabando com toda a visibilidade, o barulho de tempestade, tudo fazia com que este fosse o pior cenário para um apanhador. Meus treinos não parecem tão loucos agora, não é?

— DA ÚLTIMA VEZ QUE EU O VI, ELE ESTAVA...— Um balaço passou zunindo no espaço exato onde antes estava a minha cabeça e a de Tony. – ESTÁ VOLTANDO, EU PEGO!

Mergulhei um par de metros para dar mais espaço para Tony manobrar. Ele enviou o balaço errante em direção ao gol da Corvinal, mas com esse vento, era mais fácil ele ter acertado uma das janelas da Grifinória!

— CUBRA DUSSEL, ACHE A PORRA DO POMO!— Não precisei falar mais nada com minha voz enrouquecida pela exposição ao frio, ele deu um giro de 180°, indo atrás de Dussel.

Eu estava pronto para voltar a cobrir meus artilheiros agora, Streck teria que se virar sozinho por enquanto. De todos, eu sabia que ele era o único que não deixaria um balaço o atingir em troca de uma boa jogada.

Bom senso em um jogador de Quadribol é uma falha terrível, que fique claro.

Ouvi dois apitos curtos, sinal de que madame Hooch tinha parado o jogo e queria falar com os capitães. Guiei a vassoura para onde deveria ser o centro do campo. A essas alturas, só achar o chão de uma maneira não letal já me deixaria feliz.

Haardy já estava ao lado da professora quando eu consegui atravessar toda a lama do campo e no instante que fiquei a um metro deles, o ruído e a chuva cessaram. Queria poder utilizar esse feitiço no estádio inteiro.

— Capitão, a chuva não vai passar tão cedo e daqui a 20 minutos completaremos 12 horas de jogo.— Tirei meus óculos de proteção e passei a mão no cabelo para tirar o excesso de água.

DOZE FUCKYING HORAS!

Encarei Haardy e ele parecia exausto também. Esse não era um daqueles momentos em que as pessoas diziam "passou tão rápido que eu nem senti", tinha certeza que todos nós tínhamos sentido cada uma dessas horas.

Haardy percebeu meu olhar e se empertigou, não querendo demonstrar fraqueza. Otário.

— Precisamos decidir o que deve ser feito, garotos.— A juíza olhou de um para outro e o capitão da Corvinal apenas deu de ombros.

— Por mim continuámos.— Merlin, eu vou dar um soco na cara dele.

— Acho que deveríamos dar uma pausa, a visibilidade está muito ruim, a chance de alguém se machucar é maior do que a de achar o pomo.

— Bem, Fábregas, isso é Quadribol, se você queria segurança, devia ter se inscrito no clube de xadrez!

Fechei os olhos e respirei fundo, minha mão de segurar o bastão estava pronta para acertá-lo na cara de Martin Haardy, mas não poderia garantir que faria um grande dano, ela estava tremendo.

Meu corpo todo estava, esses minutos longe da ação eram uma tortura. É aquela coisa, quando você deixa o corpo esfriar, todos os problemas do mundo te atingem! A voz de Hooch soou imperiosa, o que me fez abrir os olhos.

— A Sonserina irá usar o seu tempo? — Acenei com a cabeça em afirmação. Haardy sorriu como se eu tivesse assinado minha desistência.

— Quanto tempo será?— Ele disse, cruzando os braços, parecendo subitamente revigorado.

— Como dita as regras oficiais: cada time poderá pedir um tempo de até duas horas, no interstício de doze horas. — Eu respirei fundo, Dussel precisava pegar esse pomo assim que voltássemos. – Lembrem-se que podem emendar o intervalo de um time no do outro, somando quatro horas.

— Não, estamos bem. Usaremos apenas o tempo que a Sonserina precisa.

— Ok, garotos, agora são exatamente 04 horas 51 minutos, quando o relógio marcar 06 horas e 51 minutos, o time que não estiver aqui será desclassificado. VÃO!— Ela não precisou pedir duas vezes, assim que apitou, nosso time estava no chão, indo para o vestiário.

— Quanto tempo temos? — Lia perguntou, torcendo os cabelos compridos e encharcados.

— Um pouco mais de uma hora e meia.— Não iria dizer duas horas, para não arriscar chegar atrasado. Eu estava exausto e ninguém estava em uma situação melhor. Romeo sentou no banco como um velho, se curvando para descansar.

— Eu vou procurar algo para comer, tô faminto! — Tony levantou de supetão, mas eu o parei.

— Vou pedir algo para a gente comer, fiquem aqui, descansem, mas não durmam.— Streck abriu um dos olhos quando Heidi aplicou um feitiço de secagem nele. — NÃO DURMAM!

Romeo pulou de susto e ainda pude ouvi-lo me xingar enquanto eu saia atrás de comida.

Quando finalmente cheguei na cozinha, não foi um elfo feio e cabeçudo que encontrei providenciando os arranjos de uma refeição decente e sim um humano feio e cabeçudo, metaforicamente falando, claro.

— Potter, a que devo a honra? - Ele estava debruçado em uma das bancadas e os elfos pareciam frenéticos com a mera presença dele. Nossa, que poder. Sim, estou sendo irônico.

— Tomei a liberdade de pedir algo para vocês comerem.— Ele sorriu e eu cocei a sobrancelha, desconfortável, não queria ter que agradecê-lo. Maldito Potter e sua gentileza fora de lugar!

— Tem comida para um batalhão aí!— Ele riu, Merlin sabe o porquê.

— É porque pedi para a Corvinal também.— E é assim, amigos, que você perde toda a gratidão de uma pessoa. – O quê? Eles precisam comer!

— Entreguem no vestiário.— Falei para as criaturinhas verdes com um tom definitivo, porém rouco, porque a minha garganta era a parte mais arrasada do meu corpo nesse momento. Os elfos acenaram afirmativamente e James meneou a cabeça. – Já acabei com você, Potter.

Ele respirou fundo e se aproximou o suficiente para colocar uma das mãos no meu ombro. Triste, mas não tive forças para pará-lo.

— Não vou discutir com você, está obviamente cansado.— Essa frase é o eufemismo do ano. O olhei sem paciência, mas ele apenas continuou no seu tom de amansador de feras. – Apenas saiba que estou de olho em Haardy. Qualquer movimento em falso dele e eu saberei. Confia em mim?

Confio.

— Que seja, Potter, faça o que quiser da sua existência patética.— Ele respirou fundo, sabendo que esse era o mais perto que eu chegaria de concordar com algum plano dele. Voltei para o vestiário para tomar um banho quente e acalmar meus jogadores.

Em algumas situações, tudo que podemos fazer é dar o nosso melhor e esperar que seja o suficiente. E acho que é por isso que James não forçou a barra, me deixando ir. Já na saída da cozinha, dei de cara com o escroto do Haardy. Ele sorriu com superioridade.

Sua hora está chegando, seu marginal!

— A cozinha é toda sua! — Fiz um gesto falsamente cortês. Ele passou por mim sem dizer nada, apenas com um olhar de diversão cruel, o que foi pior do que se realmente tivesse respondido algo. Odeio quando me fazem sentir como se estivesse deixando passar alguma coisa.

Voltei para o vestiário e recebi na cara um feitiço de secagem muito mal executado, digo isso porquê eu quase fui sufocado com a rajada de ar.

— HEIDI!

— Foi mal, estava apenas tentando ser útil!— Sinceramente, às vezes me pergunto como essa garota veio parar na Sonserina. O chapéu estava bêbado no dia da seleção dela, só pode, obviamente ela é uma lufana!

Dispensei a desculpa dela com uma mão e comecei a me despir para tomar um banho quente. Isso terá que bastar por hora para relaxar meus músculos. Olhei para frente e encontrei Enrique sentado no fundo do vestiário, já com aparência de mais limpo. Ele piscou para mim e eu revirei os olhos.

— E a comida?  Cadê? – Tony me perguntou, com olheiras já aparecendo por sob a pele negra. Ao menos ele parecia estar mais faminto do que cansado, o que era um problema a menos, diferente de Habermas e Streck, por exemplo.

— Potter está providenciando.— Ele fez uma expressão de “Eu ouvi bem?”, dei de ombros, o que não foi uma boa ideia na atual circunstância. Meu Merlin, quem inventou essas regras de Quadribol? Todos os meus músculos estavam doloridos. – Ele está fazendo o mesmo pela Corvinal, como o bom samaritano que é.

Tony fez um meneio de descrença, continuando seu trabalho de colocar os protetores do uniforme de volta ao corpo. Ele parou a ação, como se tivesse precisado desse tempo todo para perceber realmente o que eu havia dito.

— Potter é um cara estranho.— Eu revirei os olhos com a obviedade da resposta, tentando tirar as botas de jogo, sem muito sucesso, porque faltava equilíbrio. Tony estendeu o braço para eu me apoiar e continuou a falar. – Depois que você passou a ajuda-lo com aquele lance, ele ficou mais simpático até mesmo comigo.

Não precisei acompanhar o movimento de cabeça dele para saber que ele se referia ao lance de Romeo e a Weasley apagada, o artilheiro estava cochilando às minhas costas e nenhum de nós queria que ele desconfiasse que estávamos falando dele.

Mas não pude deixar de responder a esse novo fato.

— Isso é bem estranho mesmo... Simpático como? – Já tinha conseguido me livrar de todos os equipamentos e estava indo em direção aos chuveiros. Tony deu de ombros, como se o assunto já tivesse perdido a importância para ele.

— Semana passada fui pegar alguns livros na biblioteca, mas havia esquecido de devolver um volume... Não me olhe assim, esqueci em casa no Natal, mas minha mãe já mandou de volta! — Eu o olhei acusador, não é como se Tony fosse o senhor leitura para andar levando livros para casa assim. – Enfim, ele me viu nessa situação e me deixou pegar os livros na conta dele.

— Sério?— Falei impressionado. Isso é um grande voto de confiança, ainda mais para uma pessoa que irá fazer os NOMS em breve, quero dizer, ficar com o nome sujo na biblioteca nessa época seria suicídio!

— Pois! De qualquer forma, tratei de devolver tudo antes do prazo, nunca se sabe quando essa amabilidade dele vai acabar. — Para ilustrar a tal “amabilidade Potteresca”, a comida apareceu por magia ao nosso lado. Tony sorriu como se tivesse ganhado um pônei de Natal. – Mal ele não está fazendo!

Fui tomar meu banho sem ter como responder a isso. Realmente, mal ele não estava fazendo.

Quando todos estávamos devidamente limpos e alimentados, – descansados, nem perto – aproveitei para dar um daqueles discursos motivacionais que a gente tanto vê nesses filmes de esporte. Pena que sou ótimo apenas nos discursos chutadores de bunda.

— Ok, pessoal, sei que estamos todos destruídos, o gordinho mais do que os outros... — Habermas me deu dedo, sem nem abrir os olhos e eu soltei um riso pelo nariz, não podia perder a piada, desculpa. – Mas a verdade é que isso que estamos sentindo, a Corvinal também está sentindo. A diferença é que nós queremos mais essa vitória do que eles. Precisamos mais do que eles!

Todos os meus companheiros de time estavam prestando atenção total agora e eu não queria ter que apelar para esse lado, mas Merlin sabe que eu preciso.

— Foi em um jogo igual a esse que nós perdemos nossa credibilidade como Casa, alguns aqui até como indivíduos. — Streck, Habermas e Dussel desviaram o olhar nesse momento, mas eu continuei. – Eles não são melhores do que nós, não estão mais preparados do que nós e hoje, finalmente, podemos dizer que eles não merecem essa vitória mais do que nós!

— É ISSO AÍ!— Misericórdia, Tony entrou no espírito louco competitivo destrutivo e o restante da equipe sorriu para isso. Misericórdia para os corvinais, claro. – Não vamos sair desse campo sem a vitória e nós não vamos sair desse campeonato sem aquela taça!

Como bons sonserinos cheios de ambição e vontade de estar sempre no topo que somos, dissemos um amém para isso e saímos do vestiário com muito mais gana de vencer do que havíamos começado o jogo.

E as 06 horas e 49 minutos de uma chuvosa manhã escocesa, nós fizemos o velho Salazar Sonserina ter certeza de que valeu apena desejar os mais ávidos e gananciosos alunos em sua Casa, porque às 07 horas e 32 minutos, nós ganhamos o maldito jogo!

***

A parca torcida da Sonserina, que havia voltado a tempo de ver Dussel pegando o pomo aos 43 minutos da volta da partida, estava comemorando com a gente na lama, como se houvéssemos ganhado o campeonato e não só a maldita partida contra a Corvinal.

Isso porque eles nem sequer sabiam de tudo que havia rolado nos bastidores desse jogo, o drama de Haardy, as poções, minha memória perdida e tudo mais. O melhor de tudo foi que na hora da disputa, Haardy não se fez de rogado, tentou pegar o pomo com o mesmo ímpeto do nosso apanhador, mas Dussel - metade focado no pomo, metade tentando arrancar Haardy da vassoura, em uma vingança tardia – conseguiu levar a melhor hoje.

O jogo foi ainda mais disputado na volta, do que no início, quando tínhamos fôlego. A Corvinal parecia ter ouvido seu próprio discurso motivacional inflamado, porque os reflexos e força deles estavam dobrados. Mas no fim das contas não deu outra:

770 a 420.

Eu poderia dar um beijo em Enrique por isso, mas a Weasley francesa já estava cuidando do filho da mãe sortudo. Eu nem acredito que esse pesadelo todo acabou, nós estamos na final, livres de Haardy! Isso é bom demais pra ser verdade!

E era mesmo.

Dois apitos curtos soaram novamente e pouco a pouco nos voltamos para a juíza Hooch. E para o time todo da Corvinal, com Martin Haardy e seu sorriso cruel a frente. E para Edward Lupin.

Droga, isso não pode ser bom!

— Juíza, o que está acontecendo?— Estava morrendo de medo de saber, mas a pergunta tinha que ser feita.

— A equipe da Corvinal exigiu um exame de doping em sua equipe, capitão. — Eu olhei indignado para ela, só pra ela, ignorando os murmúrios surpresos de minha equipe atrás de mim. — Eles estão no direito deles.

Não pude dizer nada, porque estava abismado.  “Eles estão no direito deles”, essa frase nunca mais sairia da minha mente. Claro que eles estavam no direito deles, era da Sonserina corrupta que estávamos falando afinal.

Não tive que responder minha indignação a isso, porque Bradbury – que eu nem tinha visto chegar – finalmente assumiu sua posição de diretor de Casa e, pela primeira vez na história, nos defendeu.

— É bom o senhor Haardy ter uma boa justificativa para esse pedido, além da incapacidade de sua equipe de aceitar uma derrota. — Ouvi Romeo abafar um riso, mas não pude compartilhar do bom humor de meu colega de time.

O capitão da Corvinal engoliu em seco, ficando visivelmente mais pálido, mas ainda parecia bastante confiante, como sempre. E isso só serviu para me deixar mais nervoso. Mas ele não teve a oportunidade de se defender.

— Senhores, nada disso precisa ser resolvido aqui.— Lupin disse e todos concordamos. Os olhares curiosos eram muitos e as chances das notícia chegarem distorcidas eram grandes.

Mas se algo acontecer essa manhã, eu quero que todos saibam apenas a verdade.

Nos encaminhamos para a sala de DCAT, onde Lupin começou o procedimento padrão para checar o nosso possível doping. Todos estávamos nervosos, mesmo sabendo da nossa inocência, porque Haardy fazia parecer como se tivesse um bom motivo para estarmos todos ali.

Lupin colocou os sete vidrinhos com um líquido transparente em cima da mesa do professor e um por um, nós fomos deixando uma gota de nossos sangues nos frascos. Precisávamos aguardar apenas cinco minutos, mas sinceramente, esse tempo pareceu até mais longo do que as 12 horas de jogo.

Tony trocava o peso de um pé para o outro e se ele estava demonstrando nervosismo, era porque estava percebendo algo muito alarmante, que me escapava. Não ousei olhar para a expressão vitoriosa que Haardy ostentava desde que entramos na sala, ao invés disso, fiquei encarando os meus sapatos, como se fossem a coisa mais interessante do mundo.

— Estão limpos.— Lupin disse, com um sorriso na voz, que eu pude comprovar ao encará-lo. – Todos limpos, uma vitória justa, ao fim e ao cabo.

— Impossível!— Haardy não gritou, mas seu murmúrio raivoso soou como um brado e fez todos olharem para ele. — Não tem como eles não estarem dopados!

— Senhor Haardy, por favor, não ofenda o auror Lupin, nem nos faça perder mais tempo.— Bradbury falou no seu tom de corvo, que só hoje, estava me fazendo muito bem. O loiro calou a boca, ainda visivelmente inconformado.

O diretor da nossa Casa, assim como o da Corvinal, a juíza Hooch e Lupin foram discutir quaisquer que fossem as formalidades pós-procedimento, deixando cada capitão para lidar com sua equipe. Haardy parecia estar tendo problemas para conter os ânimos das águias, o que era delicioso.

— Fábregas!— Esperava que qualquer um fosse o primeiro a verbalizar o alívio do time, mas na verdade, Streck parecia longe de estar aliviado. – Exija o exame na Corvinal.

— O que?— Estava louco para acabar logo com essa palhaçada e dormir até não poder mais, nossa, eu vou dormir muito e Streck ainda quer render essa história?

— É justo! Vamos fazer esses desgraçados passarem pelo mesmo constrangimento! — Romeo estava de volta com toda a adrenalina que só a possibilidade de irritar um pouco mais o inimigo nos dá. Eu revirei os olhos, mas Tony segurou meu braço.

— Faça.— Ele apontou Lupin com a cabeça e eu olhei bem nos olhos castanhos escuros dele. O que diabo Tony estava vendo que eu não? — Faça, pelo amor de Merlin!

Não entendi a urgência, mas me encaminhei até onde os adultos estavam terminando de discutir os pormenores do caso, não era como se tivéssemos algo a perder, né?

— Senhor Lupin, desculpe interrompê-lo, mas, já que o senhor já teve o trabalho de vir aqui, porque não fazer a avaliação de doping na Corvinal também?— Continuei falando, mas dessa vez encarando madame Hooch. Nós estamos no nosso direito de exigir.

Edward Lupin percebeu o que eu estava fazendo e deu um simples sorriso travesso, muito parecido com o de Potter, ficando difícil até lembrar que o parentesco deles não era consanguíneo.

Ele se encaminhou para a equipe adversária e contou a decisão tomada de última hora. Recebi com muito carinho e amor, todos os olhares tortos, xingamentos e pensamentos de morte vindo das águias.

A vitória da gente agora era oficial e a irritação deles um bônus inesperado. Ô, glória!

Olhei para Dussel e ele parecia estar saboreando o momento também, encarando Haardy tendo que se submeter a leve picada na ponta do dedo, assim como toda a sua equipe. A sensação do dedo picado não era nada comparada a desconfiança que o teste ilustrava.

Ficamos aguardando o resultado, Romeo apoiado em Tony, contando alguma piada ridícula, que fez meu amigo rir daquele jeito suíno dele. Eu ri da risada dele, como sempre. Dessa vez os cinco minutos da poção passaram muito mais rápido do que os anteriores, porque quando Lupin deu o veredicto, nenhum de nós estava preparado.

— Estão todos... Dopados.— Ele saiu da frente da mesa, deixando os presentes na sala verem por si mesmo o resultado das poções reveladoras. Os sete frasquinhos estavam ostentando uma coloração roxa vibrante, que não dava margem para erro.

— Puta que pariu!— Romeo resumiu a opinião de todos os presentes nessas três palavras e depois começou a dar risada, provando que a senhora Habermas colocava whisky de fogo na mamadeira dele.

— Não, não, NÃO! ISSO É IMPOSSÍVEL! – Vou te dizer, o chilique de Haardy não foi uma coisa bonita de se assistir, ele colocara a mão na cabeça e ficou andando meio desvairado, não falando com ninguém em particular.

O restante do time da Corvinal olhava entre o totalmente surpreso e o fodidamente horrorizado. Sienna gata do nome impronunciável, já dava sinais de choro e só por isso não pude acompanhar Romeo em sua crise de riso.

— Isso não faz o menor sentido! Os corvinais não teriam pedido esse exame se estivessem envolvidos nessa transgressão!— Madame Hooch já estava na minha lista de pessoas que merecem a MORTE por serem imparciais, vai se foder, mulher!

— Claro que faz, principalmente se pararmos para pensar que esse foi exatamente o cenário em que fomos pegos no ano passado: contra a Corvinal.— Haardy parou de andar de um lado para o outro e trouxe o seu olhar furioso para Dussel.

— Nem se atreva a se fazer de vítima, Dussel! Nós dois sabemos que naquele jogo vocês se travaram voluntariamente.— Enrique levantou uma sobrancelha, marca patenteada dos sonserinos quando achavam um argumento perfeitamente fodástico para trabalhar.

— E no jogo de hoje teria sido o quê, Martin? — O corvinal travou o maxilar pelo uso do seu primeiro nome, bem como os punhos, mas nosso apanhador ainda não tinha terminado e tão pouco tinha medo do perigo, pois se aproximou a uma distância indecente do loiro. – Contra a nossa vontade?

O capitão da Corvinal riu, empurrando Dussel pelo peito e se afastando como se não pudesse acreditar na petulância do setimanista.

— O que você quer que eu diga, hum? Que eu planejei para que vocês fossem pegos? — Ele falou para todo mundo, como se nos convidasse a rir do absurdo da ideia, mas não parecia nada absurdo para mim, se quer saber. – Por favor, gente, não vamos esquecer quem são as vítimas aqui e quem sempre são os vilões! Se tem uma equipe que faria um plano tão ardiloso como esse, essa equipe seria a das serpentes!

— Que palhaçada! No nosso plano “ardiloso” contaríamos com a cooperação de vocês para serem uns péssimos perdedores e pedirem nosso doping? Conta outra, Haardy! – Lia, rainha da minha vida, pegou o argumento ridículo do grande desgraçado e jogou por terra num piscar de olhos.

— Garotos, estamos todos cansados, não temos que discutir nada agora...- O diretor da Corvinal - que MERDA! Eu nunca sei o nome - tentou colocar panos quentes, mas aí todo mundo da Sonserina, inclusive eu, começou a argumentar com ele.

Se fosse o contrário, não teria nem o que discutir, porque nós estaríamos agora prestando depoimento para as autoridades e a Corvinal comemorando a sua vitória roubada! Os corvinais, bastante alterados e se sentindo “oh coitadinhos, tão injustiçados” vieram bater boca com a gente também.

A confusão só foi parada quando Romeo saiu do bate-boca, para dar um gancho de direita na cara de Haardy, Merlin, eu amo meu artilheiro! Amo toda a minha equipe!

— JÁ CHEGA! — Madame Hooch criou uma barreira entre as duas equipes, mais do que acostumada a lidar com esse tipo de situação. – Se mais alguém falar ou fizer qualquer coisa agora, será suspenso do campeonato!

Ahhh mulher escrota do caralho! A única equipe que ainda está no campeonato é a nossa, então a punição só vai pegar pra gente mesmo! Deu vontade de atirar meu bastão na cabeça dela, mas eu sou muito maduro e equilibrado.

— Senhor Lupin, por favor!— Lupin se aproximou muito sério do epicentro da discussão, olhou para mim e olhou para Haardy, como se nos desafiasse a falar ou fazer algo. Não fizemos.

— Creio que temos muito o que conversar...— Ele olhou para mim e deu uma piscada que me deixou meio sem entender. – Senhor Haardy.

O loiro olhou para o auror, como se não estivesse entendendo o que estava se passando, mas qualquer um que o conhecesse bem, sabia que ele estava dissimulando.

— Não sei como posso ajudá-lo, senhor.

— Comece falando como me ofereceu uma poção revigorante a um par de anos atrás, Martin.- O loiro não parecia mais tão seguro agora, Daniel Streck, por outro lado, estava crescendo bem diante dos olhos de todos. — Ou como me ofereceu uma poção para melhorar meu jogo na partida passada.

— É a sua palavra contra a minha, Streck. — O corvinal o olhou, como se o desafiasse a dizer o contrário.

— E a minha.— Dussel disse com um sorriso ladino. Ai meu, Merlin! Essa é provavelmente a primeira vez que vejo ele assumindo seu envolvimento na história toda, nem quando me chantageou ele foi tão claro! – E a de Romeo, a de Alistair... Acho que Paul não vai se importar em dar um pulinho aqui para esclarecer as coisas também. O que você acha, Daniel?

Enrique fez uma expressão falsamente pensativa, mas só o seu discurso foi o suficiente para empalidecer o capitão da Corvinal. Meu Deus, que dia glorioso! Eu disse que pegaríamos ele, não disse? Era isso que estava faltando antes!

Daniel esqueceu de mencionar que ele aceitou comprar a poção na minha mão para melhorar o desempenho de merda dele no último jogo, não foi, Streck?— Haardy tinha chegado naquele ponto que admitimos que estamos fodidos e agora tudo o que queremos é arrastar o máximo de gente para a merda conosco. Até que isso foi rápido e simples.

Merda! Devia ter falado com Dussel antes de qualquer coisa!

— Comprei mesmo. — O goleiro suspirou pesado e olhou diretamente para Lupin quando disse o resto. – Comprei e eu assumo meus erros. Faço tudo para que essa praga seja extirpada de uma vez por todas de Hogwarts.

— Bem, se é para extirparmos toda a “praga” de Hogwarts, vamos começar pela árvore mãe, não é mesmo?— Ele estava tresloucado, seja pelo cansaço ou pela loucura de finalmente ser pego, Haardy estava falando tudo com um tom bem-humorado, beirando a histeria. — Professor Bradbury, nos brinde com toda a sua magnificência!

Todos nós viramos sincronizadamente para o local onde Bradbury esteve durante todo o episódio, porque, o que Haardy está dando a entender não pode ser verdade! O cara é um mala, mas ele nunca faria...

Ele não estava lá.

— Mas o qu... Ele estava atrás de mim o tempo todo!— Lia disse, tão confusa quanto o resto de nós. Um riso fora de lugar soou, dessa vez vindo de Haardy.

— Eu não estaria me divertindo tanto se fosse você, senhor Haardy. — Lupin o pegou pelo braço, se certificando de que ele não desapareceria como o nosso diretor de Casa. – Sua situação não está nada boa.

— Você não entende, não é mesmo? Ele se foi!— Haardy ria, mas era um riso desesperado, que estava me causando náuseas. – Ele desaparatou!

— Isso é impossível, ninguém pode aparatar ou desaparatar em Hogwarts.— O diretor da Corvinal disse cético e o loiro apenas limpou as lágrimas de riso com a mão livre, eu estava começando a entender a história e ficar com pena dele. Ele era só uma marionete sem importância.

— Ele me usou para desativar a aparatação para ele! Me disse que era para facilitar o transporte do material... Merlin, ele me enganou direitinho! Eu perdi minha monitoria por causa disso!

E tudo fez sentido. Olhei para Tony e ele me devolveu a mesma expressão de incredulidade. Weasley não fazia ideia do que estava mexendo quando apertou Haardy naquela noite a tantos meses atrás com essa informação sobre a monitoria.

Nós não sabíamos em que merda estávamos nos metendo!

Passei a mão no cabelo, sem acreditar no que estava ouvindo. Haardy havia dado a chave para que Bradbury, seu mentor, saísse impune e o deixasse arcar com todas as consequências do crime!

Eu estava com a minha mente dando curto, pensamentos, suposições e fatos se misturando em um só vórtice com memórias que eu jurava que estavam perdidas para sempre. Tudo isso está me deixando louco.

— Eu preciso sentar um pouco.— Puxei uma das cadeiras que estavam por perto e me joguei nela, tentando acalmar a minha mente. – Bradbury... Foi ele... Eu...

— Ah, sim, tem isso! — A voz de Haardy soou distante, mas clara o suficiente. – Se pegarem Bradbury, podem prendê-lo também por tirar a memória de um aluno. Quero dizer... Alunos.

Depois disso eu não vi mais o que aconteceu, porque Lupin levou Haardy embora, assim como os outros corvinais, provavelmente vítimas de seu líder sem caráter. Nós sonserinos sabemos bem como é ser comandado por alguém sem escrúpulos.

Senti Tony se abaixando na minha frente e tirando minhas mãos, que pressionavam os olhos, na tentativa de fazer todas aquelas memórias sobrepostas pararem de me infernizar.

— Não se preocupe, Cesc, tudo acabou agora. — Eu fiz que sim com a cabeça, tudo tinha acabado. Ele sussurrou no meu ouvido a última parte, para que só eu pudesse ouvir. – E fará muito mais sentido amanhã, no Ocaso.

Eu mal posso esperar pelo Ocaso amanhã, mas hoje, vou passar o dia inteiro dormindo, porque eu não tenho mais forças para lidar com nada. Porque no fim das contas, ganhamos mais do que uma simples passagem para a final do campeonato.

Ganhamos a tão esperada justiça.


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Notas finais do capítulo

YAY!!! A pessoa mais enrolada da história conseguiu fechar, depois de 14 capítulos (mentira, q isso é apenas o tempo de Cesc sem memória) um plot central!!! Tô tão feliz!

Não sei se notaram tudo que foi dito hoje, mas não se preocupem, próximo capítulo tem mais esclarecimentos!

Mas vamos ver quem prestou atenção mesmo: o que aconteceu para que a armação de Haardy não desse certo? Hum? HUM? kkkkkkkkk

Até o próximo.