Hogwarts: uma outra história escrita por LC_Pena


Capítulo 29
Capítulo 29. Sobre teorias estranhas...


Notas iniciais do capítulo

Perdoem Cesc, ele não sabe o que faz!



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Capítulo 29. Sobre teorias estranhas

Vice-diretor Brenam.

Quem é esse homem que de repente aparece e muda tudo em tão pouco tempo?

Bem, amigos, o Ocaso de hoje será única e exclusivamente sobre ele, que honra, cara!

Eustáquio Alastor Brenam, galês formado por Hogwarts em meados da década de 60, seguiu a carreira na área de Aritmancia, não pela vertente conhecida e tradicional criada pelo grande bruxo e adivinho Cornelius Agripa (o mesmo Agripa que você usa para amaldiçoar quando tira T de Trasgo nas provas de Gooding), e sim pela vertente Aramaico-Hebreia, conhecida como método Caldeu.

Não que haja nenhuma relevância para o momento, mas conhecimento nunca é demais:

O método Caldeu (aramaico) difere no de Agripa em basicamente uma coisa, ele não utiliza o nove (9), mas segue as relações numéricas latinas, devidamente corrigida para a sequência das letras do alfabeto hebraico.

1 2 3 4 5 6 7 8

A B C D E U O F

I K G M H V Z P

J R L T N W - -

Q - S - - X

Y

E é tudo que sabemos, lamentamos pessoal, mas o método utilizado em Hogwarts é o de Agripa, e isso foi só para tirá-los um pouco das trevas que é o Semanário das Bruxas e levá-los para algo mais Transfiguração Hoje, uma revista de cunho científico, para quem não sabe.

Mas as informações sobre o nosso vice-diretor não se encerram em sua formação. Como tudo mais no mundo bruxo, vamos atrás de quem ele é na fila do bandejão do Ministério, ou seja,“Você é filho de quem mesmo?”.

Pois bem, Brenam é filho de Samuel Brenam, anterior diretor do Departamento de Cooperação Internacional de Magia, célebre por passar de assistente a vice-diretor em 5 anos por conta de seu inegável carisma e grande capacidade de apaziguar conflitos interministeriais.

Que interessante que seu filho seja hoje um vice-diretor também, não? Mas antes de falarmos como foi a caminhada de professor de Aritmancia até a quase diretoria de Hogwarts, já que ele só aparece em datas comemorativas e olhe lá, falaremos do surgimento do cargo, que é muito recente, na verdade.

Após a apocalíptica batalha de 1997, protagonizada pelo ilustre Harry Potter e pelo infame Voldemort, algumas mudanças emergenciais foram tomadas na escola e a mudança de gestão do Conselho de Hogwarts, composto por ex-alunos, benfeitores e figuras proeminentes da sociedade britânica bruxa, fizeram com que algumas decisões vanguardistas fossem tomadas, tais quais:

—Aceitar alunos americanos enquanto o Instituto de Salem era reformado na primeira década do século XXI;

—Não gastar recursos na reforma de áreas não utilizadas do Castelo de Hogwarts, mas calma, nada estrutural, assim consta nos relatórios oficiais;

—Retirar alguns feitiços anti-tecnologia trouxa, aumentando o contato dos alunos com o mundo não-mágico;

—E a criação do cargo de vice-diretor, dentre outras mudanças nunca cogitadas nas gestões anteriores.

O cargo de vice-diretor consiste em substituir o oficial da diretoria em suas faltas e impedimentos, representar a instituição frente ao Ministério da Magia, outras instituições de educação mágica, a imprensa e a sociedade como um todo. Ou seja, atividades políticas.

Não nos leve a mal, política é essencial para as relações complexas dos bruxos, mas o que nos preocupa é que o atual diretor honorário passou mais tempo debatendo estratégias e números do que com os alunos de Hogwarts, isso não é opinião, é fato, já que ele só exerceu o cargo de professor adjunto por três anos antes de se torna vice-diretor.

Que ele tenha conseguido afastar a diretora McGonagall, alegando que um retiro para cuidar da sua saúde fragilizada pela idade era necessário, principalmente em um período de tanto estresse quanto esse de imprevistos mágicos acontecendo na escola, só nos deixa ainda mais de orelhas em pé.

Mas ainda não é sobre isso que estamos querendo falar. O nosso ponto chave é, algumas dessas mudanças nas regras já estavam em tramitação ANTES do episódio da Escadaria, tais como a supervisão dos grupos que utilizam as salas mágicas e o controle das atividades feitas em Hogsmeade, essas duas ainda não foram aprovadas, ainda bem.

Antes dos episódios bizarros de falhas mágicas, os conselheiros estavam reticentes em aprovar certas medidas inibitivas sugeridas pelo vice-diretor (maior controle dos processos internos de clubes, grupos de estudos, times de Quadribol, equipes de Xadrez bruxo, é um outro exemplo), por acreditar que a tomada de decisões faz parte do crescimento e aprendizado de um jovem bruxo, mas agora esse primeiro lote de regras foi aprovado e há um novo pacote de medidas sendo analisado nesse exato momento, que vão de encontro a esse pensamento.

Bem, não exatamente agora, mas vocês entenderam.

De qualquer forma, o que vimos aqui foi o uso da política para conseguir alcançar objetivos que não estão relacionados diretamente com o momento que estamos vivendo. Que o vice-diretor tenha usado os acontecimentos recentes para dar um passo à frente em seus projetos é preocupante, para dizer o mínimo.

Cabe à nós, alunos, deixar claro o que achamos dessas medidas implementadas e EXIGIR clareza nos processos das próximas regras a serem julgadas, sendo elas aprovadas ou não. Porque isso nos dá um diagnóstico da mente daqueles que estão decidindo o futuro da nossa educação.

Ninguém pode se preocupar com a nossa educação mais do que nós mesmos e é por isso que nós sugerimos a criação de um Diretório Acadêmico ou Conselho Estudantil ou Grêmio Estudantil, o que preferirem, mas precisamos de representação.

Urgentemente.

Com os nossos melhores votos de atenção e cuidado,

Os Iconoclastas

Nem ouse me olhar como se essa maluquice que saiu no Ocaso tivesse sido ideia minha. Eu não concordei com esse artigo precipitado. Para mim tínhamos que ter esperado um pouco a poeira baixar, mas os malucos por Quadribol que fazem parte dos Iconoclastas resolveram que tinham que chutar o balde e exigir a cabeça de Brenam numa bandeja de prata.

Deixei Scorp, Tony e Westhampton escreverem esse artigo, porque além de terem a indignação necessária, Tony conhece o vice-diretor das festas da avó, já que o cara é amigo do décimo quinto padrasto do pai dele e Scorp e John tem parentes no Conselho de Hogwarts.

Mas eu odiei esse texto. Odiei de verdade, porque tem muita raiva nele, os garotos não tem juízo nenhum! Suspirei pesado, fazendo Claire levantar os olhos do livro que estava lendo apoiada em mim.

—Qual o problema? - Ela me cutucou nas costelas e eu apenas a ajeitei melhor no meu abraço.

—Scorp e Tony estão bem transtornados com essas novas regras e esse maldito Ocaso não está ajudando... -Ela fechou o livro e retribuiu o abraço.

— Eles passaram um pouco dos limites, não foi? O Ocaso?

— Como assim?– Perguntei fingindo um interesse puramente a título de conversa sem relevância. –Estava me referindo ao fato dos dois só estarem focados no Quadribol e acharem que o vice-diretor passou dos limites...

— Eu entendi, mas eu acho que esse pessoal do Ocaso passou dos limites ao falar daquele jeito do professor.– Ela me olhou seriamente, tentando ler minha expressão. – Pode até ser verdade, mas se o cara é isso aí que eles disseram, ele não vai deixar barato.

— Eles foram no mínimo precipitados, mas eu não quero pensar nisso agora.– Ela sorriu para mim em concordância. –Preciso resolver como aquietar o facho daquelas duas crianças malucas, que chamo de amigos antes.

Ela bufou indignada, mostrando que não importa o quanto Louise tente, Claire nunca será um poço de elegância e feminilidade. Qual o problema agora, Deus?

— Seus amigos não são crianças! Eles podem se cuidar sozinhos!

A olhei, estranhando esse ataque meio fora de lugar. Claire sabe muito bem que quando se trata de Tony e Scorp, a infância está a apenas dois passos de distância e resolver o problema deles sempre estará em minhas prioridades.

Não disse nada em relação à isso, no entanto. Eu estou escondendo o fato de ser um dos Iconoclastas e isso já me faz sentir culpado o suficiente, não quero deixá-la chateada com algo tão estúpido quanto meus amigos mais estúpidos ainda.

Cara, namoradas são difíceis! A beijei, não porque queria distrai-la dessa conversa, mas porque queria mesmo e porque posso. Ela ficar calada e satisfeita é só um bônus.

—Todo mundo está estressado com essas novas regras, olha só!– Ela apontou para o pátio central, única área externa em que ainda podíamos circular. – Todo mundo está aglomerado aqui! Isso é tão chato, nem na guerra foi assim...

—Por mim eu estaria numa sala com uma lareira e poltronas bem quentinhas e não nesse banco gelado... - Ela me deu um selinho para provar o porquê de eu estar ali. Claire ama ler em ambientes abertos e aparentemente é mais confortável se tem um apoio humano no ambiente.

—Até Scorp está aqui! Por que ele está apontando para o relógio dele? - Ela parou na metade do aceno que pretendia fazer para o loiro controlador, com um parafuso à menos.

—Por nada, não poderia adivinhar o que se passa na cabeça dele nem em um milhão de anos.– Porque eu sei o que ele está pensando. Aparentemente minhas duas horas de exclusividade com minha namorada acabaram.

***

Scorp não manda em mim, então depois de deixar Claire na biblioteca, segui para a sala de estudos 3, no quarto andar para conversar com os outros capitães babacas à respeito dos treinos suspensos.

Os ditos cujos já estavam sentados em uma mesa no canto, mas para a minha eterna alegria, não estavam falando entre si, não sei se me aguardando ou apenas evitando uma possível briga entre eles.

A primeira opção é a mais plausível, não é como se o político Haardy, o melancólico Longbotton ou o anêmico Spark fossem brigar. O único elemento que conseguiria fazer essa combinação explodir seria eu. Como eu amo ser eu!

—Obrigado por me esperarem, senhores. – Eles levantaram o olhar para mim, com diferentes graus de desprezo e descaso. – Que bom que todos largaram seus afazeres para comparecer nesse encontro.

—Corta a conversa fiada, Fábregas. Por que nos chamou aqui? – Haardy falou de uma maneira entediada, mas eu sei que ele ainda está com raivinha de mim porque não aceitei me ajoelhar diante de sua magnanimidade.

—Chamei vocês porque meu time acredita que a suspensão dos treinos de Quadribol tenha sido somente uma forma de nos preparar para o cancelamento de todo o campeonato. – Quanto mais rápido eu me livrar desses mongos, melhor, por isso disse logo tudo de uma vez. – O que vocês pensam disso?

Longbotton me olhou seriamente e tomou a palavra enquanto Spark tomava coragem pra falar e Haady engolia metade do veneno para não levantar suspeitas da nossa relação prévia e romântica. Ha. Ha. Ha, não.

—Esse medo surgiu lá na Grifinória também... Mas procuramos a diretora da nossa Casa e ela nos garantiu que nenhuma decisão à esse respeito foi tomada e que ela não estava sabendo de nada. – Ele cruzou as mãos como se aquela desculpinha xoxa dada pela diretora da Grifinória fosse suficiente para aplacar as dúvidas deles. Minhas queridas serpentes não teriam engolido essa de jeito nenhum, mas não é como se Bradbury perdesse seu tempo nos dando satisfações...

—Spark? – Porque com a opinião de Haardy eu não me importo.

—Estamos aguardando... – Ele coçou o pescoço desconfortável. – Não sei, nosso jogo só acontecerá em março. Estamos torcendo para que tudo dê certo até lá.

Ele ficou fazendo que sim com a cabeça como se sua fala fosse o suprassumo da inteligência, mas não é. É com esse tipo de gente que eu tenho que lidar! Eu deveria ganhar o campeonato de W.O., por não comparecimento dos cérebros dos adversários...

—Spark, estamos em janeiro... O que acontece se chegarmos a março sem a Lufa-lufa treinar um só dia? – Eu perguntei apoiando o queixo nas mãos e os cotovelos na mesa, como um garotinho querendo ouvir uma história bonita.

—Bem...

—Exatamente. Suspender os jogos significa suspender o campeonato, porque se torna uma questão de tempo até a situação ficar insustentável! – Falei olhando para os três, mas falando especificamente com o obtuso do Spark. – Preciso desenhar?

—O que sugere, Fábregas? – Haardy me perguntou, não tendo dado ele mesmo sua contribuição. Mas nem esperava nada dele, com certeza os Corvinais estão bem na nossa frente em termos de reflexões e conclusões óbvias como essa do cancelamento dos jogos.

—Precisamos nos unir para conseguir das duas coisas uma: ou uma maneira de treinar que seja considerada aceitável pela diretoria ou uma decisão definitiva e honesta à respeito do campeonato. – Falei sinalizando com os dedos as duas preposições, à la Scorpius Malfoy.

—Não tem nenhuma ideia sólida? – Haardy perguntou cruzando os braços, de uma maneira desagradável, mas eu notei que nem Longbotton nem Spark caíram na pilha dele. Querido Martin, queremos encontrar soluções e sua picuinha infantil não vai colar.

—Foi para isso que ele nos chamou, Haardy, é uma reunião para pensarmos as coisas JUNTOS. – Longbotton manteve o seu jeitão tranquilo, mas entendi porque ele é capitão. O tom de voz não permite que você retruque sem parecer imaturo.

—Talvez... Talvez devêssemos pensar em um espaço interno para treinar. A sala precisa, quem sabe? – Spark falou meio inseguro, mas no fim das contas ele até que disse algo interessante.

—A sala precisa tem as reservas fechadas desde o início do ano letivo. – Haardy falou em um tom enfadado, porém cooperativo. – Daria certo apenas se conseguíssemos permissão para treinar em horários não convencionais.

—Bom... É uma possibilidade. – Eu falei, tentando mostrar boa vontade, apesar de achar que nem todos nós podemos saracotear por aí de madrugada que nem o dito cujo, Bradbury não me dará permissão para nada. – Mas não precisamos realmente dos elementos que a sala precisa oferece, precisamos apenas de espaço.

—E altura. Espaço e altura. – Longbotton disse já meio deitado na mesa, como a boa criança semidepressiva que ele é. – Que ambientes no castelo nos dá espaço e altura?

—Temos alturas decentes em basicamente todos os ambientes comunais, a sala de estudo 1 tem altura... Perfeito seria o Grande Salão! – Haardy falou mais animado com as perspectivas.

—Que tal o Hall de entrada do viaduto? – Eu sugeri, porque diferente daquelas sugestões todas, esse espaço sempre foi inútil e não teria que ser desocupado ou agendado.

—Tem uma corrente de ar desgraçada... – Haardy falou se apoiando nas pernas de trás da cadeira, que vontade de empurrá-lo. Mas não vou fazer isso. Isso seria... Ruim para os negócios.

—Se fosse para achar o lugar perfeito assim de cara, não perderia nem meu tempo olhando para a fuça de vocês. – Fui sincero, cruzando as mãos atrás da cabeça. Estou aceitando a dificuldade inerente ao processo, sou maduro, pois sim.

—Mfffff mfffff mfffff. – Longbotton tentou falar através dos braços dele e da madeira da mesa em que estava jogado, mas não sei como isso seria humanamente possível, mesmo usando magia.

—O quê? – Falei sem gritar, porque ainda estamos numa sala de estudo depois de tudo, mas esse meu cunhado é uma causa perdida, vou te dizer!

—Eu disse: não precisamos resolver tudo hoje. – Ele falou levantando a cabeça e logo depois do recado dado, voltando para sua posição de antes: largado na vida.

—Ah, dane-se! – Me levantei sem paciência nenhuma com todos eles, esses idiotas inúteis. – Vou falar com minha equipe e pegar as ideias deles, porque até no pior dia do meu jogador mais burro eu consigo coisa melhor!

No caso esse seria Streck. Ou Habermas? O páreo é duro.

—Vá se foder, Fábregas, mas no caminho vê se nos avisa antes de fazer alguma idiotice. – Haardy disse, se levantando para ir embora também.

—Levem essa demanda para seus times e não me apareçam antes de ter uma solução plausível. – Falei já fazendo minha saída com efeito. Haardy me deu as costas sem responder nada, Spark fez um aceno afirmativo seco com a cabeça e Longbotton fez um sinal de legal com a mão, sem nem sequer sair da sua posição de yoga da garça fracassada.

Minha irmã está saindo com esse cara... Por que, Merlin?

***

—Mas que diabos é isso? – Lily falou olhando surpresa para a entrada da nossa Sala Comunal, eu mesmo sem ver o que era, imitei a voz de Potter e seu jeito bronco, fazendo uma entonação anasalada e um sotaque britânico carregado.

—Olha a boca, Lily Luna. – Ela nem sequer me deu audiência, assim magoa, Pottinha! Virei para trás para ver o porquê de todo mundo, não só ela, estar olhando para lá. – Puta merda!

Meu querido amigo Antony Zabini estava fazendo cosplay de Jack-O’-lantern, a famosa abóbora de Halloween com uma vela dentro de uma cara esculpida. Os olhos, narinas, boca, ouvidos, ou seja, TODOS os buracos da cara estavam irradiando uma luz fantasmagórica esverdeada, fazendo até mesmo a cara demoníaca dele parecer patética.

—Não. Fale. Nada. – Ele disse para mim, mas poderia ter dito para toda a Sonserina. Em minha defesa, eu não falei nada mesmo, apenas cuspi nele com minha risada estrangulada. Crianças, não prendam a gargalhada, os efeitos são piores. Como se fosse toda a permissão necessária, o Salão em peso explodiu em risos.

Você vê, eu perco o amigo, mas não perco a piada!

Ganhei um soco no ombro, o que doeu para cacete, mas valeu a pena por conta de todos os abdominais que eu não precisarei fazer na vida! Pottinha estava se estrebuchando de rir no chão, toda vermelha e gritando coisas como, “Ai, ai, minha barriga, Merlin me leva”. Céus, perderíamos toda a nossa fama de marrentos com esse espetáculo circense.

—Estou aguardando você lá em cima. – Tony subiu para o nosso dormitório, porque ele é do tipo que não aguenta a brincadeira. Melhor assim, vai que ele resolve azarar alguém e mata a coitada? Estou falando de Lily, que tem os genes da ridicularidade Potter correndo nas veias e é sem sombras de dúvida a pior de todas aqui.

Já estou logo avisando que não vou visitar ninguém na cadeia, nem mesmo Tony, que fique registrado. Tenho para mim que as revistas íntimas com magia são ainda mais humilhantes, enfiando varinha em não sei onde...

Levei 15 minutos para segui-lo até o dormitório, 5 minutos para terminar de rir, porque vocês sabem o quanto crises de riso são difíceis de acabar e os outros 10 minutos tentando entender como não voltar a rir quando olhasse para cara iluminada de Tony de novo.

—Já acabou a palhaçada? – Ai Morgana, não estou sabendo lidar com isso. Estou aqui trancando a boca e evitando olhar para o rosto de meu amigo, porque tá difícil. – Cesc?

—Hum?

—Preciso que desfaça o feitiço. – Olhei sério para ele, imitando sua posição de braços cruzados.

—Agora, por que raios eu faria uma maldade dessas? Você está tão bonito... – Tony fez uma cara de maníaco e dessa vez eu me engasguei com a risada presa, misericórdia, Deus, não quero morrer por essa bobagem! – Por que... Como eu faria isso?

—Eu não sei! Você que é o metido a feiticeiro fodástico aqui! – Hey, eu não sou “metido”, eu sou fodástico! – Preciso que dê um jeito nisso, fui azarado!

—Sério? Achei que fosse...

—Para. – Ele falou, apontando um dedo severo para mim. Tá, parei.

—Foi azarado por quem, só por curiosidade? – Perguntei no meu melhor tom de negócios sérios. Sim, eu tenho esse tom no meu repertório. Só falta o monóculo e o bigodinho da década de 40.

—Se eu soubesse eu não estaria falando com você, estaria prestando depoimento para um auror por acusação de assassinato. – Viu? Tony não sabe brincar. Se fôssemos contar nos dedos quantas pessoas já foram azaradas por ele, não teríamos dedos suficientes, no entanto, aqui estamos nós todos bravinhos por causa de uma azaraçãozinha boba de nada... Muito bem feita, devo admitir.

Estalei os dedos e o pescoço, profissionalmente, pronto para o trabalho. Irei usar todo meu arsenal de feitiços e conhecimentos na área de feitiços reversos nessa missão.

—Tá, vamos começar.

***

Então... A coisa engraçada no termo “profissionalmente” é que aparentemente precisamos ser profissionais de verdade para usá-lo e no caso, eu não sou. Depois de uns tantos feitiços, eu só consegui mudar a luz interna de Tony de verde para roxa, o que o deixou muito bravo, só para constar.

“O verde pelo menos combinava com a gravata!”, que cara ingrato!

Encaminhei ele para o lugar que ele deveria ter ido desde o início, não, não foi para a casa da porra, foi para a Enfermaria. Agora estou aqui esperando dar a hora do jantar ou Scorp aparecer do seu clube de QuadriManager, onde você é o técnico de seu próprio time de Quadribol e joga com os jogadores reais e seus cards, o que acontecer primeiro.

Sim, QuadriManager é uma atividade boba. Joguinhos de cards é um negócio bem esquisito, ainda mais quando você vai dar uma olhada nas intricadas tabelas de pontos que levam em consideração aspectos como números de vitórias do time real, goles acertadas, balaços rebatidos, pomos capturados e o melhor item de todos: ossos quebrados.

Ossos quebrados são pontos negativos, que fique bem claro.

Não precisei esperar muito, mas ao invés de um loiro melindroso, recebi de Merlin uma morena capciosa. Como sou sortudo...

—Cesc, querido, que bom que te achei! – Rebeca entrou sem cerimônia, sem bater e cheia de bom humor. Ao menos um desses fatos é novidade para mim.

—Se não tivesse ninguém aqui, você ia fazer o quê? Se deitar na minha cama e se embolar nos meus cheirosos lençóis? – Ela me olhou com sua melhor cara de “Por favor, vadia, seje menas”, o que me fez dar risada.

—Estou aqui para te contar um baphão baphônico! – Rebeca está precisando de um melhor amigo gay. Não que eu me prenda a estereótipos, mas só isso para explicar o porquê dela acha que pode falar assim comigo.

—Fale.

—Primeiro tenho que saber o que me dará em troca. – Ela me falou com seu sorriso de garota travessa, sentada na cama de Scorp, balançando as pernas vestidas com meias 3/4.

—Estou te dando minha atenção, isso já não basta? – Ela me olhou com uma expressão de “Sério?”. Sério, minha querida, basta. Em algumas culturas minha atenção é considerada uma benção divina e sagrada. Bem... Essas culturas existem na minha imaginação somente, contudo se pensei, logo são reais, reais para mim! Rum.

—Que tal um beijinho pelos velhos tempos? – Ok... Agora, isso sim é muito estranho. Eu poderia tentar criar um manual de como entender a mente feminina, mas provavelmente a de Rebeca não se encaixaria em nenhuma categoria, acompanhem meu raciocínio:

Ela se sentiu traída por eu estar namorando uma garota que ela odeia, o que seria quase impossível de não acontecer, existe até um clube das “Odiadoras de Wainz” e não, dessa vez eu não estou inventando, é real para outras pessoas além de mim.

Ela chorou como uma bezerra desmamada, eu sinceramente não sei o porquê, já que fazia tempo que nós não tínhamos nada e Rebeca nunca foi apaixonada por mim.

Mas a coisa toda descamba para a loucura quando paramos para pensar que, ao dizer que realmente gostava de Claire e que não, ela não tinha me chantageado (o que em amizades normais não seria nem cogitado), Rebeca assumiu um tom maternal de “que gracinha de amor juvenil”.

O que nos traz de volta para o presente: por que diabos ela está me pedindo um beijo? Eu não entendo e olha que eu sou o mais esperto da minha ninhada!

—Um beijo? Sério? – Eu perguntei meio descrente e ela apenas apontou para os lábios pintados de um batom muito escuro hoje. Então tá, me inclinei e dei um selinho nela. Pronto, nada demais.

—O que foi isso, Cesc? – Eu olhei mais confuso ainda para sua expressão aborrecida. – Até quando tinha 11 anos você fazia melhor do que isso!

Revirei os olhos para a cara de pau dela. Eu era inocente aos 11 anos, devo lembra que foi Rebeca quem enfiou a língua na minha boca quando eu inocentemente estava tentando curá-la de um terrível vício de linguagem? Eu merecia um Nobel por aquilo.

Respirei fundo e segurei o rosto dela. – Espero que seja uma coisa realmente interessante. – E a beijei de verdade. Ah, vá! Não me olhem assim! Não estou traindo Claire nem nada do tipo, Rebeca é como uma irmã e provavelmente só estou tentando ajudá-la a provar um ponto em sua mente distorcida.

Quanto a isso vocês podem até me julgar, não deveria incentivar a loucura alheia, mas vejam bem, eu quero estar certo ou ter paz? Rebeca VIVE de teorias idiotas, assim como Tony, no fim das contas esse beijo é um ato de altruísmo da minha parte.

Ok, admito que estava com um pouquinho de saudades dela nesse sentido, ela é muito mais ativa e cheia de energia que Claire e gosta de arranhar de leve minha nuca, o que pensando bem, deveria pedir para Claire fazer, nada de mais em sugerir melhorias, né? É.

E ainda tem aquele aspecto de que o nosso primeiro beijo a gente nunca esquece, tenho certeza que Lia também terá seu lugar especial em minhas memórias... Olha só, sou um tolo sentimental no fim das contas, que lindo!

A larguei assim que senti que ELA estava se empolgando. É altruísmo, mas até eu sei que há um limite entre isso e a indecência completa.

—Pronto, pode falar. – Ela parecia uma gata muito satisfeita, limpando o batom borrado da boca. Teremos sérios problemas se ela estiver mentido sobre a história interessante...

—É a respeito das suas habilidades err... Em certos assuntos quentes. – Quanto eufemismo, meu Merlin! Viu que eu estava certo? Rebeca sabia sobre meu casinho de uma noite com Lia, quero saber o que essa garota não sabe nessa vida... – Thiollent tem sido bastante elogiosa na descrição da sua performance, não sei a troco de quê.

—Lia está falando sobre mim? Pra quem? Onde? Como... – Mas que merda, isso é muito constrangedor! E você pode tá pensando “Pelo menos ela tá elogiando”, mas velho, eu não queria minha vida sexual na boca dessas harpias de Hogwarts! Na verdade, eu quero voar o mais baixo no radar delas que seja possível!

—Calma, calma, calma! – Ela falou divertida, colocando as mãos pra cima em defesa. – Informações completas só mediante a outro pagamento, mas honestamente não acho que vocês esteja disposto a pagar o pre...

—Vá se ferrar, Rebeca! SOME DAQUI! - Paciência tem limites, mandei a monstra cair fora do meu quarto, que bicha treteira! Juro pra você, se ela tentar usar essa ceninha aqui para irritar Claire, ela vai ver só com quantos paus se faz uma canoa.

Um só, pra quem não sabe.

A ridícula que se diz minha amiga, mui amiga, tô vendo, saiu rindo sua melhor risada cantada, jogando o cabelo por cima dos ombros, provavelmente com sua teoria estúpida, que nem sequer me interessa, bem alimentada.

Meus pais não gastaram talco comigo pra eu ter que aguentar isso.


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Notas finais do capítulo

Gente, eu sou uma mãezona! A pessoa me diz "eu shippo Cesc e Rebeca" e minha mente estúpida vai lá e dá um jeito de encaixar uma ceninha assim na fic. Vamos lá, o que mais? Com Rose, com James, com Lily? Com Lily não, ninguém shippa os dois...