Hogwarts: uma outra história escrita por LC_Pena


Capítulo 143
Capítulo 143. Palpites e perspectivas


Notas iniciais do capítulo

Depois de muita pressão, segue a recapitulação:

— Fred, Cesc e Enrique estiveram em Azkaban atrás de pistas sobre o trabalho de Bradbury;

— Enrique ofereceu um estágio de final de semana para Fred conhecer e usar os leitores de assinaturas Dussel;

— Scorp e Chris Macmillan estiveram na escola Rússia atrás de pistas no circo de Carl Dolus (Além do Castelo, capítulo 23);

— Encontraram um dos diários de Jacob Thompson e escaparam por pouco do circo;

Acho que isso é tudo, lindezas!



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Capítulo 143. Palpites e perspectivas

Passar pela revista na saída de Azkaban, pegar o barco de volta, então uma chave de portal para Ikley Moor havia deixado todos nós exaustos. Enrique pediu um almoço rápido para Ekti já em seu escritório de gente grande e assim que terminamos de comer, Fred seguiu para seu treinamento básico do novo estágio.

Aproveitei o tempo a sós para finalmente ver se estava tudo bem de verdade com o Senhor Dussel, muito adulto para ser real, claro, porque encarar o nosso lar futuro não é para qualquer um, precisa ter estômago forte!

Brincadeira, eu disse que ia parar com essa história de falar de prisão e vou mesmo, juro.

— Ei, você pareceu meio mal em Azkaban... Tá melhor agora? — Eu não faço muito a linha namorado preocupado, mas eu tenho meus momentos, vai! Enrique não precisava me olhar tão surpreso. — Sim, eu notei que você ficou mal, não precisa me olhar com essa cara.

— Não, não é isso, eu tava... Acabei me distraindo um pouco. Mas sim, já estou melhor, não se preocupe. — Ele falou aéreo, então levantei da minha cadeira para me sentar na mesa dele, mas perto de onde ele estava.

— Estava pensando no quê?

— Nesse tanto de coisa que a gente descobriu, quero dizer, o que um cara como Bradbury estava fazendo aqui? — Ele abrangeu o espaço do escritório e por consequência de todo o estádio com os braços, mas se questionou mais para si mesmo do que para mim, então não respondi. — Por que Hector permitiu isso?

— Pelo que eu entendi foi só um empréstimo de laboratório, meio que um ato de camaradagem com a FerrZ, deixando um deles usar o laboratório de vocês, mesmo depois deles terem sabotado o mercado de Poções todo... — Parei ao perceber a conclusão em que Enrique havia chegado sozinho — Na verdade... Você tem razão, não faz sentido.

— Hector nunca gostou de Poções particularmente, embora seja bom nisso também, mas aí você entende que ele contratou Thompson para cuidar do setor por ele? Ele nunca tinha feito nada do tipo e, bem, deu no que deu. — Enrique suspirou frustrado e eu não posso culpa-lo, os Dussel não são uma família simples de entender. — Só queria saber porque ele manteve Thompson e como Bradbury veio parar aqui...

— Não tem que ser tão complicado, Thompson era bom e por isso seu irmão não quis deixar ele ir, já Bradbury... Não faço ideia de que tipo de pessoa ele costumava ser, mas sou adepto da ideia de que os vilões não nascem vilões ou ao menos não nascem tão ruins quanto ainda podem vir a ser. — Dei de ombros, não tão certo disso, porque essa lógica se assemelhava muito mais com a de Erick, sobre a inexistência de bem e do mal, do que com a minha.

— Eu não consigo entender ele, sabe? Toda essa história de Thompson desaparecendo... Eu tinha certeza que os tabloides estavam certos e que tinha sido ele mesmo que tinha matado o cara, mas... E se tiver sido Bradbury? — Ele perguntou de cenho franzido. — Essa era uma das minhas certezas sobre Hector: ele tentou me matar e ele já matou um homem. E se isso não for verdade?

— Será algo ótimo! Quero dizer, não para Thompson, que morreu, mas vai ser bom para vocês dois. — Falei animado, porque aquela era uma boa perspectiva para se olhar. — Há grandes chances de Bradbury ter matado duas pessoas e se Fred tiver razão e ele estiver no corpo de Dolus... Aquele bilhete que encontramos assinado por Thompson ligaria um ao outro, isso faria de seu irmão apenas uma vítima das circunstâncias. Lugar errado, na hora errada.

— Então Hector seria apenas o dono do laboratório onde os dois se conheceram? Eu não sei... Será que ele é tão inocente assim? Talvez Bradbury tenha posto o último prego, mas será que Hector não o ajudou de alguma forma? — Ele insistiu na infame história do irmão vilão e eu revirei os olhos para a teimosia.

— Não vai dar para saber nada disso se não falar com Hector. Vê? Pode ser bom para os dois e poderia nos ajudar bastante na profecia! — Apontei com esperteza, porque talvez assim esses dois conseguissem se entender de uma vez por todas.

— Não é tão simples... — Ele se mexeu desconfortável na cadeira, como a boa criança birrenta que é, então pulei da mesa e apontei para o quadro da família que ele havia colocado na parede atrás de si.

— Claro que é! Olha só para esse quadro, ele é literalmente o seu subconsciente gritando por ajuda, você quer Hector na sua vida! — Sinalizei a família Dussel pintada recentemente, a tão pouco tempo que Enri já estava no colo da mãe, fazendo uma careta fofinha, olhando para o pai, atrás da cadeira de Helena.

As mulheres estavam todas sentadas com seus maridos atrás, menos Jweek, que estava ao lado de Heitor, olhando com uma sobrancelha arqueada para o pintor, então um sorrisão compartilhado com o noivo, que parecia satisfeito de tê-la ali ao seu lado.

Franzi o cenho, porque agora que parei para notar que havia muita gente não-Dussel na pintura: Jweek, por exemplo, estava ali porque passou do status de namorada para noiva de Heitor, os jornais já haviam anunciado a exaustão a futura união das famílias Rosier e Selwyn-Dussel.

Claro que a informação chegou a França com menos força, mas Louise ainda assina o Profeta Diário, então eu fiquei sabendo na mesma semana, porque se dependesse de Enrique para me contar...

“Ah é, ficaram noivos sim, acho que vão se casar em dezembro, antes do ano novo.”

Acho que Enrique pensa que eu consigo adivinhar tudo que se passa na família dele ou então ele está tão cercado de tanta mídia desde sempre, que deve ser estranho para ele alguém que não sabe o que está acontecendo com eles automaticamente.

Enfim, voltando para cá, me aproximei da tela para olhar melhor para a mulher sentada na frente de Hector. Assim que Enrique notou para onde eu estava olhando, se ajoelhou na cadeira, se apoiando no espaldar para ficar quase da minha altura. Achou por bem me explicar quem ela era.

— Essa é Mirian Adhara Black Tugwood. — Ele disse com um sorrisinho sarcástico que eu não entendi. — É a esposa de Hector.

— Que?

— Ah sim, essa foi a exata cara que a gente fez quando ele a apresentou. Até Helena e Heitor ficaram surpresos e veja que eu não falei namorada ou noiva, eu falei esposa, com a papelada assinada e os votos todos já feitos. — Ele disse, me olhando de esguelha. — Ninguém entende Hector, já disse.

— Ele só casou, é isso? Por que ele casaria assim, do nada? — Perguntei sem entender que tipo de coisa faria um cara tradicional desses casar as escondidas, ainda mais com uma garota bonita como essa. Era para ele ter feito uma super festa para esfregar na cara da sociedade! — Será que ele foi chantageado por ela?

Enrique riu e eu sorri para ele, porque aquilo era bom de ouvir depois do dia de cão que tivemos.

— Mais fácil o contrário, a garota é legal, de boa família. — Ele agora sorria e eu olhei interessado na descrição. — Ela parece do tipo inquieta, cheia de planos, adora falar, fala bem sobre tudo, aí se lembra que Hector e esse casamento deles existe e fica confusa, como se não tivesse pensado nas implicações das coisas todas com ele.

— Como assim? — Eu olhei de perto, uma última vez, para a garota bonita, de cabelos escuros como a maioria dos Dussel, antes de voltar a sentar na mesa.

— Ela tem um projeto de resgate de sobrenomes tradicionais, algo simbólico e no caso dela, com a intenção de assumir a cadeira Black na Câmara dos lordes, mas aí ela para de tagarelar e fala “Hector concorda, não é, Hector?” e é como se ela não tivesse certeza, como se eles nunca tivessem falado sobre isso. Ou sobre nada, se quer saber.

— Se eles casaram correndo, algumas coisas ainda não foram ditas e conversadas. — Tentei amenizar a estranheza da coisa, mas Enrique só estalou a língua nos dentes, cético. — Ele ao menos concorda com o que ela fala?

— Concorda, concorda de uma maneira que chega a ser irritante, Jweek até falou “Tá vendo, Heitor, é para você me apoiar assim e não dizer que minhas ideias não fazem sentido!” — Ele imitou a cunhada - e minha ídola nas horas vagas - o que me deixou curioso.

— Que tipo de ideia?

— Ela queria fazer o casamento no meio de um dos jogos dela, ela de uniforme e tudo. — Enrique falou divertido e eu tive que rir, imaginando a indignação de Heitor Dussel com essa ideia. — Então sugeriu que fosse no meio do pub de Courtie e meu pai disse que adoraria ver a cara das Selwyn lá.

— Eu adoraria também... — Falei, imaginando a cena da família mais fresca da Grã-Bretanha casando um dos seus em um pub, depois lembrei de uma coisa muito importante. — Espera! Eu vou ser convidado, não vou? Porque eu até entendo o porquê de não terem me pintado no quadro, eu sou só um namorado de adolescência, mas não ser convidado para um casamento seria muita baixaria!

— Ficou chateado por não estar no quadro? — Ele me perguntou de cenho franzido e eu o olhei com impaciência.

— É claro que não, não estava te mandando uma indireta! Imagino que não teve nenhum dos namorados e namoradas de seus irmãos registrados para sempre quando eles tinham 19 anos, né? E não é como se eu não te colocasse nos cantos das fotos com minha família... Qualquer coisa é só cortar você e a foto continua perfeita. — Fiz o gesto de tesoura com diversão e Enrique fez uma careta de falsa indignação, eu ri.

— Então é por isso que eu estou sempre na ponta? — Ele perguntou e eu fiz que sim com a cabeça. Tentei fugir, mas foi tarde demais, ele me agarrou pela cintura e me puxou para seu colo. — Essa premeditação toda é muito ofensiva, senhor Fábregas...

Ele sussurrou muito perto, com um sorriso de quem iria me punir pela ousadia, então o beijei logo, antes que ele pensasse em algo. Parei de beija-lo e encostei minha testa na dele.

— Não se ofenda, também coloco Erick na ponta. — Falei, então ele me apertou mais perto, me fazendo rir, antes de me beijar de novo.

Aproveitamos aquele tempinho antes de Fred voltar do treinamento e ser apresentado para o restante da empresa por Enrique, para só ficar ali, juntos, na sala de adulto dele, com vista para o campo vazio de Ikley Moor.

Tenho que admitir, antigamente achava estúpido os casais e seus momentos sem sentido de só ficarem juntos, sem fazer nada de muito divertido ou simbólico. Com Claire eu gostava de ser um namorado, de estar com outras pessoas e ser colocado em outra categoria, mas com Enrique é diferente, gosto de ficar só com ele.

Eu estava agora descrevendo a minha visão de casamento perfeito para Jweek, com direito a presença de todos os atletas listados no Ranking de melhores do ano da Pena Esportiva, mas fui interrompido por uma parede que foi transformada em laboratório.

Me levantei do colo de Enrique, assustado, ao ver Hector Dussel distraído, assinando alguns pergaminhos na prancheta de outro homem. Misericórdia, será que ele estava aí o tempo todo e nos ouviu fofocando sobre ele e sua esposa?

— O que foi dessa vez , Hector? — Enrique falou mal-humorado, mas o homem só o respondeu quando o cara engravatado saiu de seu laboratório.

— Sabe quem era aquele? Um oficial de justiça reclamando da sua viagem para o Japão! — Hector apontou para a porta dramaticamente e Enrique respirou fundo, antes de responder ao irmão e chefe.

— Você sabia que eu tinha essa coisa aí na justiça e também estava lá no Japão comigo, o que você quer que eu diga? — Ok, a respiração não serviu de nada, porque ele continuou soando petulante. — Espera, por que ele deu os papéis para você assinar? Eu já sou maior de idade, não preciso de um responsável legal!

— Você está de brincadeira comigo? Se você agisse como alguém maior de idade na mesma quantidade de vezes que você fala sobre isso, nós estaríamos bem! — Hector colocou as mãos na cintura irritado e eu me perguntei se era agora que ele ia atirar uma azaração na cara de Enrique, porque na minha experiência com gente de pavio curto com as mãos na cintura - minha mãe - essa era a hora que as coisas desandavam de vez.— Eu assinei, porque EU fui intimado a depor.

Opa, como assim? Até Enrique ficou confuso com a nova informação.

— Te intimaram para que? Eu fui a trabalho, mas a viagem ao Japão foi ideia minha, não precisavam te envolver nisso. — Enrique falou na defensiva e Hector o encarou com impaciência.

— Se eu estivesse indo para justiça por causa de algo que é sua responsabilidade e apenas sua, a conversa estaria sendo bem diferente... Não, fui intimado na condição de um de seus familiares, para esclarecer fatos a respeito das suas possíveis “habilidades mágicas”.

Hector falou com deboche e eu encarei Enrique com nervosismo, porque não era um bom sinal essas coisas do processo estarem entrando nessa linha de acusação. Por que inferno Uagadou ainda não desistiu disso, hein? Perdeu, perdeu! Que pessoal insuportável!

— Eles estão intimando todo mundo? — Enrique perguntou mais comedido, testando terreno.

— Possivelmente, eu não sei. Só sei que estou em uma rotina regrada de poções, Enrique, você sabe muito bem que eu não posso tomar a blindagem, então vou acabar tendo que falar a verdade! — O homem falou jogando as mãos para o ar dramaticamente, como se não pudesse fazer nada sobre isso.

Mas do que diabos ele está falando? O que seria essa “blindagem"? E qual é a verdade que ele não pode esconder? Ele tá falando sobre...

— Heitor te contou sobre meu mimetismo? — Enrique perguntou indignado e Hector fechou as mãos em punhos ao lado do corpo.

— HEITOR SABE?

Ah bom, não dá para ficar pior do que isso, discretamente me preparei para ter que usar a luvarinha para fazer um escudo contra o que quer que Hector fosse atirar na cabeça do irmão caçula.

— Não foi ele quem te contou? Então como... — Enrique estava confuso, só falando merda, o que estava deixando o irmão dele mais e mais irritado.

— Eu vi quando você contou esse seu segredinho sujo para seus amiguinhos japoneses! — Ele acusou e eu fiz uma careta involuntária. Merlin, Hector estava lá, Enrique contou sobre o mimetismo no meio de uma avenida movimentada, foi? — Achei que você fosse apenas do tipo idiota, um cachorrinho carente que abre a boca para qualquer um que se diz seu amigo, mas já vi que a única pessoa que não sabia do segredo era eu, então que se dane, vou contar na audiência!

— ESPERA! Você não pode fazer isso! Qual é, Hector? Ainda é um segredo, só meus pais e Heitor sabem da nossa família, você não pode falar isso para mais ninguém! — Mesmo sendo um imploro, Enrique tinha uma habilidade incrível de fazer isso não parecer com um.

— E fora da família? Seu namoradinho sabe? — Ele apontou irônico para mim e eu desviei o olhar. — Com isso a lista cresce: o namorado, os japoneses... Por que não a justiça bruxa? Espera um minuto... Ele pode me ver?

Eu poderia responder um “Claro que posso te ver, a menos que você seja uma alucinação pós-estresse de Enrique, aí eu não posso não, porque não sou maluco!”, mas ninguém me deu a oportunidade de falar.

— Se eles souberem, vão me enquadrar no Estatuto do dom! Você sabe o que é isso? Eles dão penas mais duras para bruxos com habilidades fora do comum... Eles vão me mandar para Azkaban, Hector! — Dessa vez havia medo na voz de Enrique e eu fiquei assustado também, o que era esse tal de Estatuto?

— Não seria o primeiro Dussel lá... — O homem rebateu fazendo pouco caso, então olhou para o irmão sem muita compaixão. — Pare de drama, você ficaria no máximo uma semana, até um bebê chorão como você aguenta isso. Eu aguentei! Ou você acha que nosso pai moveu uma pena para impedir minha prisão preventiva?

Enrique parecia confuso com a informação, então maneou a cabeça, ainda meio chocado com a ideia de que Hector achava que estava tudo bem ele passar um minuto que fosse em Azkaban.

Qual é o problema dessa família?

— Foi diferente, você era só suspeito, eles... Eles devem ter te mantido no primeiro andar, fora da... Hector, eles vão me fazer de exemplo! Há anos que um mimetista não é registrado, eu diria séculos! Todos vão associar meus poderes com o crime!

— Não seja tão convencido, seu mimetismo não é algo tão raro e certamente você não foi o primeiro mimetista atrás das grades. — Hector cruzou os braços, depois analisou o irmão de cima abaixo. — O que? Ciaran não te contou? Achei que você fosse o favorito dele, que surpresa interessante...

— Contou o que? Do que você está falando? — Era irritante como Enrique estava caindo no jogo do irmão, se deixando ser provocado, mas eu resolvi que não iria interferir, até porque Hector estava mesmo abrindo o bico.

— Do nosso querido avô, Dian Dussel, um dos bruxos mais sortudos que se teve notícias na Baixa Saxônia. — Hector sorriu, parecia ainda mais contente que nós não fazíamos ideia de onde era isso. — Alemanha, Enrique. É de lá que viemos, suponho que ao menos isso você saiba, certo? Pois bem, nosso avô veio para a Inglaterra com sua fortuna misteriosa, minérios, ouvi dizer.

— Ouviu dizer? O que está insinuando, Hector? Que nosso avô era... Era como eu? — Enrique perguntou soando mais como ele, o que fez Hector sorrir sarcástico.

— Não faço ideia, só sei o que todo mundo sabe: ele foi preso por não ter como prestar contas sobre a origem de sua fortuna, que não parava de crescer. Você sabe muito bem como nós somos, não é? Não importa que já tenhamos o mundo, nunca é o suficiente.

— E o que isso tem a ver com a situação de Enrique? Então o avô de vocês era um malandro que provavelmente roubava tesouros por aí? E daí? — Dessa vez eu intervi, porque toda essa história não estava levando a lugar algum.

— E daí que a hipótese de mimetismo também foi levantada no caso dele e, embora não tenham encontrado provas ou sequer uma evidência de que esse tipo de habilidade existe, ele foi condenado por vender uma mina de ouro que não tinha ouro. — Hector deu de ombros. — Ao que parece só tinha ouro quando ele estava por perto.

— Se ele fosse mesmo um mimetista, o que não dá para saber com certeza, por que ele faria isso? Venderia uma mina ao invés de ficar produzindo ouro indefinidamente? — Perguntei curioso, mesmo sabendo que aquilo não ajudava muito na situação de Enrique.

— Negociar e vender ouro dá trabalho e nosso avô não gostava tanto disso, de trabalhar, digo. Essa é uma coisa que sempre valorizei no nosso pai, a despeito de tudo que minhas tias tinham a dizer de ruim sobre ele: Ciaran gosta de trabalhar. — Hector falou com diversão.

— E você está me contando isso tudo por que, Hector? — Dessa vez Enrique falou cansado, se largando em sua cadeira e encarando o irmão fazendo pouco caso.

— Porque se começarem a mexer a fundo no nosso histórico familiar, não vai ser difícil descobrir como o nosso avô viveu. Ou pior, como morreu. — Hector agora avaliava o irmão, como se este fosse uma criatura exótica muito interessante. — Sabia que as paredes de Azkaban são tão antigas e impregnadas de dor e sofrimento que isso se tornou parte das pedras que a compõe?

— Sabia. — Enrique falou sem expressão.

— Nosso avô não durou nada na prisão, eu achava que tinha sido porque ele era um fanfarrão, minhas tias diziam para a gente não se preocupar, que não tínhamos herdado a fraqueza de caráter que parecia estar no cerne dos Dussel. — Ele continuou, como se estivesse sopesando as próximas palavras. — Mas vendo seu medo de ir para lá passar umas férias de uma semana, imagino que seja algo além de fraqueza de caráter... Você sentiria as pedras, não?

Olhei para Enrique, em busca de confirmação. Também achei que fosse algo nesse sentido, o motivo para ele ter parecido ser mais afetado pela prisão do que eu e Fred, mas com Hector falando em voz alta, isso tudo parecia mais real.

Enrique não pode voltar naquele lugar nem por um dia, o que dirás por uma semana!

— E você ainda se pergunta porque eu não contei a você sobre meu mimetismo. — Ele finalmente falou mexendo em um peso de pergaminho em sua mesa, depois levantou o olhar para o irmão, com raiva nos olhos. — Fale o que quiser para o Ministério, não vai ser a sua compaixão que eu vou me apegar. Não a do cara que já tentou me matar quando eu era apenas um bebê!

Hector deu um riso seco e eu imaginei que era agora que ele iria ser cruel, exatamente do jeito que todos os jornais, revistas e periódicos bruxos o apresentavam. Ele olhou para mim e depois para o irmão com um sorriso cínico no rosto.

— Acho que estamos todos perdendo o ponto hoje, a questão central é: você cometeu o delito ou não? — Ele perguntou com um tom de troça, fazendo Enrique revirar os olhos. — Já está mais do que na hora de parar de agir como o bebezinho fugindo do irmãozão assustador, não está? Eu particularmente vou gostar de ver o filhotinho de Ciaran, o protegido, que supostamente deveria ser o melhor da colheita tardia, sendo trancafiado em Azkaban. Que ironia...

— Deixa de ser ridículo, olha o absurdo que você está falando! — Falei irritado, porque aquela conversa já tinha tomado um rumo muito estúpido para eu continuar deixando esses dois conduzi-la sozinhos. — Enrique é seu irmão e tem o risco de ir para Azkaban, um lugar que faz mal para ele em um nível letal! Para de ser um babaca ciumento e engole essa merda de frustração com seu pai! Por isso ele contou para Heitor, ao menos o cara sabe quando é a hora de parar e ajudar de verdade!

— Cesc, por favor, não...

— Não, deixe ele falar, Enrique. Quero ouvir o que o senhor Fábregas tem a dizer. Se ele tiver metade da engenhosidade do tio, e pelo visto tem, já que burlou o nosso sistema de comunicação interno, você vai conseguir reverter o jogo e talvez até jogar a garotinha de Uagadou em Azkaban no seu lugar. — O homem falou com um sorriso com covinhas, o que deveria deixar ele mais bonito, mas no momento o fazia ainda mais cruel. — Vamos, garoto, fale!

O que eu poderia falar? Ele tinha um ponto, Enrique cometeu mesmo um crime, ele quebrou a vassoura da apanhadora de Uagadou na frente de milhares, talvez milhões de bruxos. Foi estúpido e imprudente e talvez ele merecesse ser punido, mas não desse jeito.

— A gente tem que pensar em alguma forma de você ser punido, mas sem significar ir para Azkaban. — Falei com cuidado, ainda sem completa certeza do que queria dizer com isso. — Talvez você deva assumir o erro, sem revelar sobre o mimetismo.

— Não posso fazer isso, Cesc, isso custaria o nosso campeonato. — Enrique falou com calma e eu senti a pontada no meu peito. Droga, eu havia esquecido disso! Respirei fundo, antes de falar de novo.

— Tem que ter um jeito de...

— Não, o que você falou está certo, Fábregas, se acharem um jeito de devolver o campeonato para Uagadou, seus problemas com Azkaban acabam, irmãozinho. — Hector disse simplista, depois começou a mexer na mesa na sua frente, que dividia o laboratório dele e o escritório de Enrique. — Faça isso, nos poupe da inconveniência de ter que depor a seu favor. Faça o de costume: primeiro Enrique, o favorito, depois o restante do mundo.

— Isso não é sobre vocês, Hector. Um dia você vai ter que deixar de ser um idiota e parar de culpar Enrique por escolhas que seu pai fez! — Sorri com sarcasmo para ele, que me olhava com uma expressão indecifrável. — Você literalmente culpou e estava disposto a punir um bebê por um suposto favoritismo, é de se questionar o porquê de você só ter passado uma semana em Azkaban, era para terem te trancado lá e jogado a chave fora!

Falei com veneno e, de um sonserino para outro, consegui angariar algum respeito do meu cunhado, porque ele deu um sorriso com um quê melancólico, de quem sentia falta daquele tipo de comentário direto. Suponho que sentia mesmo, quem em sã consciência iria falar isso para um cara como ele? Só um doido como eu!

— Bem, Fábregas, não posso discordar de você hoje, mas acho que você devia saber disso, já que está tão empenhado em defender um Dussel. Nossa vida se resume a uma única coisa: um minuto de inconsequência, para uma vida inteira de arrependimentos. — Ele sorriu e levantou o braço, como em um aceno. — Boa sorte com isso, garotos.

O laboratório desapareceu, voltando a ser uma simples parede do escritório de Enrique. Olhei para ele, ainda confuso e irritado com essas merdas de “família tal faz isso", ainda bem que essas idiotices não eram comuns no mundo trouxa, se não eu ia ter que mandar muito parente meu entrar em um rio de lava só de roupa de banho!

— Ainda bem que ele foi embora, agora a gente pode finalmente pensar em uma solução razoável para o problema. — Falei tentando imprimir esperança no meu tom de voz, mas Enrique só sorriu sem muita sinceridade.

— Não se preocupe com isso, vou pensar em alguma coisa. — Ele falou com uma calma que eu sabia que não era real, ainda mais depois dessa discussão encenando a guerra fria com Hector. Agora sei porque ele sempre fala que é complicado lidar com os irmãos, eu nunca tinha visto essa dinâmica tóxica de acusações e anos de raiva sendo colocadas em frases cruéis.

Nem em meus piores dias eu seria capaz de dizer algo para magoar Louise de verdade e olha que minha irmã chega no limite do aceitável muitas vezes!

— Mas eu posso... — Me interrompi, porque alguém bateu na porta. Depois de um “Entre" de Enrique, um Fred com cara de tédio entrou no escritório, se jogando em uma das cadeiras vagas da sala.

— Nem de longe foi tão ruim quanto pensei, o treinamento foi só um holograma apontando a hierarquia da empresa e as normas de segurança. Cara, Ikley Moor parece uma joia da arquitetura bruxa, tô aqui só tentando imaginar todas as camadas de feitiços que foram necessários para isso tudo funcionar perfeitamente! Há alguma chance de eu conseguir pôr as mãos na planta baixa? — Fred nos bombardeou com um monte de besteiras, então quando eu estava prestes a falar sobre as más notícias do campeonato, Enrique me interrompeu.

— Não acredito que Heitor libere, mas tenho algo melhor para você. — Ele se levantou da cadeira e como fez menção de sair pela porta, nós nos levantamos para acompanhá-lo. — Heitor está trabalhando com a leitora de assinaturas mágicas hoje, quer dá uma olhada?

— Sim! Sim, mil vezes sim, cara! — Fred falou em uma empolgação tão grande, que quase pude ver a caixa de onde Enrique havia tirado a sua cortina de fumaça para esconder o assunto incômodo da nossa possível perda do título do campeonato de Quadribol. — Agora sim você está falando a minha língua! Vamos, o que estamos esperando?

Fred saiu na frente, ansioso como só um gênio perturbado ficaria ante a possibilidade de mexer em um novo brinquedo tecnológico, então aproveitei para puxar Enrique de lado e deixar as coisas bem claras.

— Ainda não terminamos a conversa, não pense que vai se livrar de mim tão cedo. — Falei com irritação e ele me deu um sorriso debochado.

— Claro que não me livrei, espero te ter por aqui por muito tempo ainda, relaxa. — Ele me abraçou de lado e eu o fuzilei com o olhar.

Odeio quando ele me trata com condescendência, como se só precisasse me dizer o que eu quero ouvir e depois pudesse fazer o exato oposto! Mas vamos ver se ele vai conseguir se safar dessa do mesmo jeito que ele fez na época do meu julgamento.

Veremos se ele vai gostar quando eu me meter e resolver a merda em que ele se meteu!

***

Heitor havia feito um muxoxo irritado típico de corvinal ao nos ver invadir seu território, que eu carinhosamente apelidei de “salão do fim do mundo”, mas ninguém ligou para ele realmente. O apelido para o lugar era bem merecido, porque parecia que os Dussel estavam planejando uma dominação mundial antes da virada do ano:

O cômodo era uma grande sala redonda e rebaixada, rodeada por um balcão metálico mais funcional do que bonito, porque tudo ali era prático de uma maneira arcaica, era definitivamente um ponto onde a gente ia para se sentir superior, admirando o quadro geral de uma posição privilegiada.

As paredes superiores do lugar eram cobertas de mapas, diagramas e fluxogramas de coisas escritas em inglês, runas e outros símbolos que não faziam o menor sentido, mas trocavam de lugar assim que piscávamos olhos. Na parte de baixo do lugar havia uma metade da parede de escaninhos e medidores e a outra de réguas e artefatos estalando e marcando pontos em um ritmo ora rápido, ora devagar.

Mas o que mais chamava atenção era o que eu só posso comparar com aquelas máquinas de tecelagem antigas. Havia pelo menos uma dúzia delas trabalhando silenciosamente, com três mulheres circulando entre elas.

Os fios escuros, dourados e prata se cruzavam e se separavam em padrões intrincados no lugar onde deveria haver tecidos, nem sequer formavam desenhos bonitos, mas deviam ter algum significado, porque Heitor observava tudo de braços cruzados, da varanda onde estávamos.

— Que coisa linda. — Fred suspirou, se debruçando na mureta de metal como se estivesse apreciando um pôr do sol caribenho. Olhei para ele com diversão.

— Vai dizer que você sabe o que está acontecendo aqui? — Desafiei e ele me olhou muito ofendido.

— Eu sei muito bem o que está acontecendo aqui! Elas estão decodificando feitiços, você vê? Naquele tradutor você transforma as linhas em runas e a partir delas você consegue entender a matriz mágica de qualquer coisa! — Ele respondeu empolgado, então Heitor o olhou com interesse renovado.

— Gosta de matrizes mágicas cruas, senhor Weasley? — O corvinal perguntou com uma sobrancelha levantada, então Segundo sorriu com aquele convencimento que a gente já está cansado de saber como funciona.

— Adoro matrizes cruas, vim aqui apenas para ter a oportunidade de colocar minhas mãos em uma máquina dessas...

— Mas não vai, porque você é meu estagiário e seu papel aqui é trazer café para a gente! — Enrique falou maldoso e antes que Fred fizesse alguma besteira, tipo empurrar o patrão da sacada, Heitor fez sinal para que o seguíssemos.

— Vamos dar uma olhada mais de perto. — Descemos a escada em caracol atrás do corvinal, recebendo um olhar levemente interrogativo da profissional mais perto de nós, ocupadas com suas tarefas apocalípticas. — Esta leitora aqui está livre? Vou pegá-la emprestada por alguns minutos.

A moça havia acenado negativamente para a pergunta, mas agora assentiu e se afastou do grande tear tecendo tecidos feios, que davam a volta em si mesmo e voltavam para a ponta da máquina para começarem o processo todo novamente.

Heitor fez sinal para que nos posicionássemos ao redor do aparelho.

— Vocês possuem algum feitiço ou artefato mágico que tenha curiosidade de conhecer mais a fundo? — Definitivamente prefiro mil vezes Heitor do que Hector, porque ele não era sonserino como nós, mas ao menos era educado, prestativo e gentil na maior parte do tempo.

Antes que Fred falasse, me antecipei sem nenhum constrangimento por roubar sua chance de ouro de brincar com aqueles aparelhos esquisitos, porque sim, eu tenho um feitiço que gostaria de conhecer mais a fundo, futuro senhor Jweek Rosier.

— Eu tenho o meu Marduk, que, não sei se o senhor lembra, mas foi hackeado pelo meu desalmado tio Erick e depois por... — Olhei para Fred com minha melhor cara de acusação. — Um meliante ainda pior.

— Você é muito ingrato... — O grifinório resmungou por baixo do fôlego, mas todos ouvimos, os irmãos Dussel se entreolharam com um sorriso conhecedor e eu me controle para não chutar o tornozelo dele.

— Gosto do comunicador de Uagadou, acho que tenho a matriz dele guardada aqui em algum lugar... — O senhor Jweek falou em dúvida, então sacou sua varinha de um tom marfim estranho, com arabescos bem desenhados. — Accio vasikó archeío Marduk.

Heitor Dussel pronunciou o feitiço comprido como se dissesse esse tipo de coisa todo dia, antes de tomar seu café da manhã dos campeões. Enrique não pareceu impressionado, mas Fred estava de cenho franzido, então esclareci logo as coisas para o pobre coitado.

— Ele convocou o registro da matriz do Marduk em grego. — Sorri convencido e o homem a nossa frente nos olhou intrigado. — Sim, meu Marduk está ativo fora de Uagadou e sim, agora eu consigo identificar o exato idioma que estou ouvindo, embora a tradução continue sendo simultânea, como se eu estivesse ouvindo tudo em espanhol.

— Interessante... — Heitor me olhou avaliativo e eu achei por bem não descrever mais nenhuma das funções novas do Marduk adulterado, vai que o dono da sala do fim do mundo resolve abrir meu cérebro para ver como tudo está funcionando agora?

Até arriscaria se fosse o de Fred, mas meu cérebro é muito precioso para ser cobaia de cientistas malucos!

O corvinal havia capturado o pequeno pedaço de... Vamos chamar de tecido, embora não houvessem fios suficientes para sermos tão generosos com aquele troço... Ok, estava mais para um trapinho, vai! Vou chamar de trapinho.

O trapinho marrom escuro, dourado e prateado deveria ter a largura de um palmo e o comprimento umas duas vezes isso e tinha as pontas irregulares, acompanhando a trama intricada que o compunha.

Heitor fez alguns feitiços não verbais com sua varinha incomum – se bem me lembro feita pelo mesmo senhor bonito, limpo e com cara de cidadão de bem que fez a minha luvarinha e a varinha oca – então a máquina se pôs a tecer um novo conjunto de trapinhos.

O irmão de Enrique olhava ora para o trapinho flutuante, ora para aquele produzido em seu tear mágico. Fred espiava tudo atentamente e eu até toquei meio que sem querer no Marduk atrás da minha orelha, só para saber se eu o sentiria mais quente com a investigação ou não, mas nada mudou.

— Interessante...

— Só te sobrou essa palavra no vocabulário, irmão? — Enrique provocou, mas o homem não lhe deu atenção.

— A matriz sofreu algumas alterações significativas... A passagem de Erick é quase imperceptível, ele tem um jeito muito peculiar de trabalhar através das brechas, quase como um fio de água escorrendo pelas rachaduras do feitiço. Conseguem ver? — Heitor agora estava sinalizando um trançado fino, marrom e dourado, fazendo um caminho pelo padrão como erva daninha crescendo nas frestas de um paralelepípedo.

Bem a cara de Erick.

Fred se aproximou o suficiente para ver tanto o trecho da matriz ainda preso no tear, quanto aquele flutuando como comparativo. Ele apontou para duas áreas, uma em cada trapinho.

— Essas partes deviam ser iguais, mas tem padrões completamente distintos. — Ele apontou curioso e Heitor apenas sorriu para ele.

— Embora seja obviamente um feitiço derivado, esse aqui nem sequer pode ser classificado mais como Marduk. — O homem concluiu traçando um pequeno perímetro ao redor do trecho da tecelagem que o interessava, no caso, o que não era completamente bege sem graça, como papiro velho.

Aquela deveria ser a matriz do meu Marduk avariado, então Heitor a descolou do tear, a trouxe para perto do rosto, sussurrou algo para ela e então deixou o trapinho voar para longe de nós. Seu irmão trapinho original seguiu o caminho com um aceno da varinha provavelmente ilegal logo depois.

— Ok, isso significa que eu tenho que me preocupar? Tenho um Marduk que não é um Marduk grudado no meu cérebro, quero dizer, é agora que eu começo a surtar e tento arrancar isso com um maçarico? — Perguntei para todos, porém mais especificamente para Heitor Dussel, que entende dessas coisas e até onde eu sei, tendo visto sua defesa ferrenha da minha vida no Winzegamot, se importa com o que acontece com minha vidinha medíocre!

— Eu não faço ideia do que é um maçarico, mas eu não tentaria arrancar nada, se fosse você. O cerne de segurança está intacto e as alterações deixaram o feitiço mais robusto, um pouco pesado para meu gosto, mas inofensivo até que se prove o contrário. — Ele falou confiante e eu o olhei cético.

— Até que se prove o contrário? — Repeti a última frase para ver se mais alguém detectava o problema.

— Quando o senhor diz que ficou mais robusto, significa dizer que foram adicionadas novos elementos a matriz? Porque o feitiço que eu criei e apliquei no Marduk de Cesc era para ser um feitiço matriz de permutação de vetor de dimensão 3 simples, não era para inserir nenhum elemento novo entre as linhas e colunas do feitiço!

Que?!?!

Eu e Enrique olhamos para Fred como se ele tivesse xingando as nossas mães, mas Heitor pareceu entender toda essa merda que ele acabou de dizer. Espera um minuto... Segundo não tinha dito que o feitiço que aplicou no meu Marduk era apenas uma espécie de botão reset, que devolvia o feitiço para suas funções primárias?

Que merda é essa agora de dimensão do não sei o que?

— Você não adicionou nada, mas alterou a ordenação dos elementos de maneira cíclica. O feitiço original provavelmente era muito pesado, então eles tiveram que cortar alguns elementos na coluna para se adaptar aos alunos. Porém isso... — Heitor começou a explicar, mas foi interrompido.

— De maneira cíclica? Ordem cíclica, enquanto propriedade de matriz, significa dizer que toda vez que eu alterar o feitiço, eu só vou variar dentro das seis possibilidades postas, certo? Então quer dizer que se eu reverter a ordem dos elementos seguidamente, eu posso trazer o feitiço de novo para o padrão atual e simplificado? — Fred questionou curioso e mal-educado, mas Heitor só deu de ombros.

E eu Enrique só fingimos que estávamos entendendo tudinho que eles estavam falando.

— Exato. Entretanto seria uma pena desfazer uma alteração como essa, porque no fim das contas foi muito bem feita. — Ele falou com uma dose de tristeza de cientista sem escrúpulos, depois olhou para mim como se eu pudesse salvar aquele experimento arriscado.

— É uma pena mesmo, mas se tem que ser feito... — Comecei a me defender, mas Heitor me interrompeu.

— Não precisa ser feito, porque não é todo mundo que tem magia para sustentar um encantamento com essa robustez, mas aparentemente você pode... Tem tido sangramentos nasais ou tem visto coisas que supostamente não deveria estar vendo, senhor Fábregas? — O corvinal me olhou com um semblante avaliativo, então eu consertei minha postura realmente irritado.

— Não! — Olhei para Fred com todo meu ódio e ele desviou o olhar para o teto, muito cínico. — Esse é o tipo de efeito esperado com essa merda que ele fez? Porque se dá para reverter antes do meu cérebro virar mingau, vamos reverter!

— É o esperado em nascidos-trouxas, quero dizer... Granger-Weasley não terá minha cabeça em uma estaca hoje, mas se eu tivesse permissão de trabalhar com a linha de raciocínio escandinava, eu diria que quanto mais gerações mágicas um bruxo possui em seu cerne, mas resistência a feitiços ele possui. — Ele falou sério, de braços cruzados. Concluiu com uma expressão de quase constrangimento, que o deixou parecido com o irmão caçula. — O seu caso seria um desvio da curva, porque suponho que a alteração já tenha algum tempo, correto?

— Essa coisa de força mágica não é uma regra, nem sequer é um consenso, se quer saber, vide tudo que sabemos sobre abortos! Meu tio Harry está aí para provar isso, assim como a mãe dele, ambos fortes além de qualquer contestação, embora de origem trouxa muito próxima. — Fred falou sensato, sem responder quando e em que circunstâncias o feitiço hacker foi feito e a minha raiva dele passou um pouco.

Bem pouco mesmo.

— Harry Potter tem uma capacidade mágica fora do comum, obviamente o esperado era que a maldição lançada nele fosse refratada pelo feitiço sacrifício da mãe, mas por algum motivo que ainda não sabemos, e talvez nunca venhamos a saber, ele absorveu aquela magia das Trevas e...

— Isso porque não era uma magia das Trevas, Heitor. Vocês crianças do século XXI são tão irritantes, continuam com essa visão tacanha e maniqueísta de bem e mal... — Todos viramos para trás ao som da voz grave, de coisa antiga e maligna, mas Erick preferiu cumprimentar a mim primeiro, que dia de sorte... — Olá, querido sobrinho.

— Olá, tio. — Pronunciei o parentesco como se fosse um xingamento desprezível, mas ele sorriu encantado.

— Erick, sempre bom te ver fora do seu covil. — Heitor o cumprimentou com um sorrisinho de quem havia percebido algo que nós, reles mortais, não havíamos notado. — Junte se a nós na discussão: estava aqui falando ao seu sobrinho que ele , embora seja um nascido-trouxa, tem suportado com elegância o fardo de um feitiço ligeiramente pesado e mal dimensionado, o que acha?

— Sim, ele é uma coisinha especial nascida em um meio árido, não é mesmo? Tenho trabalhado na tentativa de estimular um pouco mais a magia dele, forçando os limites. Meu pai costumava dizer que nossa magia é muito volátil para ser controlada e muito perigosa para não ser contida. — Erick sorriu saudoso, me olhando a ponto de só me restar revirar os olhos para ele. — Precisamos exercita-la sempre.

— Se trabalhado na minha magia você quer dizer hackear o Marduk para ficar lendo meus pensamentos, esse é o tipo de fisiomagia que eu dispenso! — Descobri cumprindo pena no HECCMA essa área de cura mágica que trabalha na recuperação e fortalecimento da magia em criaturas e bruxos doentes, só que Erick estava fazendo tudo errado comigo, claro!

— Você é um rapazinho muito ingrato mesmo! — Ele apontou com diversão. — E aquele empurrão que eu te dei lá no acampamento Roma, que você usou espontaneamente hoje no feitiço Dussel de comunicação? Ou o controle sobre o Marduk envenenado do senhor Weasley? E quanto as suas emissões involuntárias de magia, hum? Quantas você teve no último ano?

Droga!

— É verdade, Cesc, teve uma época que você estava bem descontrolado. — Fred apontou desnecessariamente e Enrique concordou com a cabeça com uma expressão de “contra fatos não há argumentos". Foda-se os dois.

— Mas tudo bem, não vim aqui em busca de reconhecimento, crianças. Cesc e Louise vêm de uma linhagem poderosa, porém interrompida, logo é normal que eles tenham dificuldades de lidar com nossa magia, foram quase 11 anos de ignorância no momento mais crucial da educação básica de um jovem bruxo. — Ele se lamentou e eu o encarei com todo meu sarcasmo.

— Se não veio aqui para ganhar aplausos, veio para que então? — Perguntei apenas para fazer com que ele dissesse a que veio e desse logo o fora daqui. Erick me sorriu com seu melhor sorriso malicioso.

— Vim aqui apenas para lembrar ao senhor Weasley para pedir para Heitor dar uma olhadinha na sua pequena Pandora. — Ele apontou com o nariz para algo no sobretudo de Fred, que tentou proteger o que quer que fosse com uma das mãos.

— O que sabe sobre a minha caixa, senhor Fábregas? — Ah é, havia esquecido que para Fred meu suposto tio era um “senhor” e tinha esquecido da maldita caixinha de música também.

Por que Fred a carrega para todo lugar? Ele levou mesmo esse treco para Azkaban?

— Não sou onisciente, Weasley, tenho tanta curiosidade sobre esse objeto quanto você. — Erick sorriu, não de todo verdadeiro. — Mostre a Heitor a caixa que encontrou nas entranhas de Uagadou, ele é realmente bom lendo as entrelinhas do destino.

— Destino, que palavra tola. — O corvinal estalou a língua nos dentes, com uma certa dose de desprezo. — Sabe que eu trabalho com a ciência, Erick, nada de adivinhações, trabalho com linhas temporais, probabilidades, causas e efeitos...

— Chame do que quiser, mas faça a leitura. — Os olhos do ex-djinn brilharam levemente mais amarelos do que o normal, mas ele ainda mantinha o mesmo sorriso sem emoção no rosto. — Eu não discuto com seus resultados, Heitor e aprecio enormemente a força que suas crenças na ciência dos homens lhe dá, porém não temos tempo a perder. Vamos, vá em frente!

O noivo de Jweek olhou para meu tio um pouco contrariado com a condescendência no tom, mas aceitou a caixa que Fred lhe entregou com uma dose de hesitação. Eu e Enrique nos entreolhamos, porque não era lá muito bom envolver Heitor no lance da profecia, pior ainda ter a curiosidade de Erick nisso.

Isso podia significar problemas ainda mais complexos.

— Infelizmente as coisas ganharam contornos intricados sim, sobrinho, também não tenho gostado do que tenho visto. — Ele falou com naturalidade, respondendo a um questionamento nunca feito em voz alta. — Ou melhor, do que não tenho visto.

— É algo que te envolva diretamente, Enrique? — Heitor perguntou sem olhar para o irmão, ainda concentrado nos detalhes da caixa. Deu um leve toque no objeto com a ponta da varinha, devolvendo-a para Fred. — E então?

— Possivelmente. — Que resposta cretina, mas nem posso culpar Enrique por isso, a gente não sabe de merda nenhuma sobre os envolvidos. Heitor não gostou de ouvir isso, no entanto. — A gente tem feito progressos interessantes, mas é o tipo de coisa que é bastante... Vaga.

— Envolve djinns que te mataram e trouxeram de volta a vida, na tentativa de roubar a alma de seu namorado para colocá-la no lugar da sua em uma lâmpada amaldiçoada? — Heitor perguntou debochado e Erick riu sem vergonha.

— Eles não tem tanta sorte assim. — O dito ex-djinn, assassino confesso, vamos lembrar, respondeu com diversão. — Quantas oportunidades de liberar um bruxo charmoso e injustiçado essas crianças terão na vida?

— Nenhuma, pela minha contagem. — Falei com veneno, depois olhei para Heitor impaciente. — E então? O que dá para saber sobre a caixa?

A máquina de tecer matrizes nunca havia parado de nos dar seu tecido básico, indo e voltando sem resultados, mas agora ela havia voltado a imprimir as linhas de três cores sobre o padrão bege de sempre.

A largura do desenho era muito maior do que a do Marduk, tomava quase a extensão do arco formado pelos braços de Heitor, que havia se apoiado na máquina para ver o trapinho melhor. Fred se aproximou do corvinal para ficar no mesmo ângulo de visão dele.

— Consegue ler sem traduzir para as runas? — Ele perguntou impressionado, então o homem apenas maneou a cabeça de leve, ainda focado na trama a sua frente.

— Algumas informações importantes, mas não muito detalhadas. — Ele falou concentrado, depois apontou para que pudéssemos ver o que ele estava vendo. — Cerne complexo, ligado à magia negra de sangue, bem carregada, percebe-se.

—Magia de sangue? Tem certeza? — Fred olhou para mim e para Enrique confuso, porque nenhum preço de sangue havia sido cobrado.

Ai, ai, preço de sangue, uma das belezas criadas pelos bruxos antigos, que nunca sai de moda... Mas deveria.

Eu me lembro bem daquele feitiço em Castelobruxo, que Aidan precisou dar seu sangue em troca do enigma na porta da frente da escola. Aquilo era tanto uma forma de sacrifício muito apreciada pelo povo que propôs o desafio, quanto uma forma de identificar aquele que fora merecedor do prêmio prometido, embora eu tivesse conseguido dar meu jeito de sair com um tesouro apenas por associação direta nos eventos.

Mas a caixa de Fred nunca tinha precisado de nada disso, então aquela informação era no mínimo alarmante.

— Certeza absoluta. Percebe esse padrão Chevron ali? — Heitor apontou para algo na linha superior do tecido. Parou a máquina com um aceno de varinha e foi para ao lado de onde estava o tal padrão.

— Se refere a essa parte em ziguezague? — Fred perguntou com o cenho franzido e eu também fui para lá ver do que eles estavam falando, mesmo não entendendo merda nenhuma.

— Sim, ziguezague, que seja! Vê? Não é muito sutil, pelo contrário, é um padrão agressivo, corrosivo na trama... — O homem passou os dedos com leveza pelo lugar onde observava com atenção. — Um crime cruel contra um artefato tão poderoso, se me perguntarem.

— Consegue ver que tipo de magia foi feita? Ou o que foi danificado? — Essas perguntas saíram dos lábios de Erick, então as respostas ganharam ainda mais importância, porque podia ser algo muito esclarecedor para a gente e para o mistério da profecia como um todo.

Erick podia ser um merda, mas nunca fazia perguntas desnecessárias.

— A magia foi... Específica, feita sob medida, dada a simetria do dano, mas o que havia aqui antes... — Heitor falou concentrado, como se o trapo fosse contar a ele todos os seus segredos apenas por conta da força dos seus olhos azuis Dussel. Consertou a postura, vencido. — Não dá para ser lido, infelizmente. Talvez se eu tivesse acesso aos outros artefatos?

— Que outros artefatos? — Eu perguntei já sentindo todos os meus músculos travando de medo. Então havia mesmo a possibilidade de haver mais de uma caixa e do vilão ter uma também nesse exato momento?

— Consegue ver outras caixas? A gente poderia isolar a assinatura mágica delas e rastreá-las? — Fred perguntou empolgado com a perspectiva de estarmos um passo a frente do vilão, graças a tecnologia Dussel. Mas ninguém respondeu a minha pergunta ainda!

— Você sabia da possibilidade de ter outras geringonças como essa soltas por aí? — Enrique perguntou indignado, uma pergunta também muito válida, por sinal, mas Fred desfez da acusação com um gesto de mãos.

— Sempre houve a possibilidade, a profecia fala de um poder que tanto o mocinho quanto o vilão tem. — Fred lembrou e é, infelizmente era meio que óbvio mesmo.

— Uma profecia? É disso que se trata? — Heitor perguntou com nojo, depois revirou os olhos para o semblante sombrio de Erick. — Geralmente profecias são só refugos de nós nas linhas temporais, se você ignorar, há uma grande chance das possibilidades normalizarem e a linha seguir seu fluxo normal.

— Você acredita mesmo nessa bobagem, Heitor? — Erick perguntou ofendido, então o corvinal revirou os olhos. — E não me venha com seus fatos científicos: um bando de homens medíocres distorcendo a verdade para caber em seus raciocínios limitados!

— Trabalho científicos têm metodologia, Erick, você pode questiona-los, aproveitar partes, descartar outras e até mesmo subverter todo um estudo, mas diferente de adivinhações e sussurros do além, linhas temporais podem ser provadas!

— Você é muito melhor do que qualquer um desses cientistas que segue e eu entendo que as baboseiras deles te trouxeram até aqui, mas agora elas te aprisionam e não dão mais conta de explicar aquilo que você pode ver e eles não. — Erick falou sério e Heitor o olhou com impaciência.

Pelo visto essa discussão desses dois não vinha de hoje, se a cara de tédio de Enrique sugeria alguma coisa. Eu e Fred ficamos apenas assistindo todo o diálogo filosófico dos dois com um interesse educado e distante.

Porque somos educados e distantes, claro, as aulas de Etiqueta já estão surgindo efeito, já sabem.

— Sou um homem da ciência, Erick. Aprecio seu olhar de outros tempos sobre os fenômenos que estudo, mas a era de deuses e criaturas de outros planos já se encerrou! — Ele falou como se estivesse concluindo a discussão agora, mas meu tio ainda tinha algo a dizer.

— Seu pai tem razão... Você está preso da mesma forma que seu irmão mais velho está desancorado no mundo. — Erick se lamentou, mas depois maneou a cabeça com um sorriso melancólico. — Mas vamos voltar para o que temos em mãos: consegue localizar as outras caixas?

— Consigo, mas não de uma maneira legal. — Heitor olhou no rosto de cada um de nós e então concluiu. — Não é permitido usar nossos equipamentos para rastrear assinaturas mágicas fora de nossa alçada, a menos que o Ministério formalmente nos solicite isso.

— Então basicamente demos de cara com mais uma parede? — Perguntei inconformado, mas o irmão de Enrique sopesou a resposta daquele jeito aristocrático dele.

— Não necessariamente. — Ele sorriu, então apontou para as bordas de cada lado do padrão. — Embora a lei não me permita rastrear nada sem um mandato, não significa dizer que eu não possa descobrir a quem as caixas pertencem, elas obviamente são parte de um conjunto e, se não me falha a memória, bordas similares dos dois lados significa que a magia é complementar.

— O que quer dizer? — Enrique perguntou tentando enxergar o que o irmão havia mostrado no tecido trançado.

— Que o artefato funciona sozinho, mas quando unido aqui e aqui, tem sua magia potencializada e a matriz duplicada ou triplicada, formando uma padronagem nova, que pode nos dar um resultado completamente diferente do que já conhecemos. — Heitor finalizou simplista, mas assim que eu coloquei meu queixo caído de volta no lugar, perguntei ao mesmo tempo que Fred fazia seu próprio questionamento.

— Então há mesmo mais duas caixas soltas por aí?

— Você está nos dizendo que essa caixa é parte de um quebra-cabeças ainda maior? — O grifinório soou animado em seu questionamento atropelado, então Heitor sorriu para nós dois.

— Sim e sim. Uma pena não sabermos a quem pertence esse joguete, os bruxos antigos sabiam mesmo fazer uma magia sofisticada. — Ele falou agora olhando para Erick, em uma espécie de pedido de desculpas de gênios esquisitos. Meu tio acenou com a cabeça em reconhecimento.

— Mas acontece que sabemos de quem é essa maluquice. — Enrique falou do nada e antes que eu pudesse fazer um não desesperado com a cabeça, ele falou mesmo assim. — Essa caixa era de Rabastan Lestrange!

Puta merda, que garoto mais estúpido esse que eu namoro!

Aquele silêncio incômodo caiu sobre o salão do fim do mundo. Só dava para ouvir as outras máquinas tecendo as matrizes de outros feitiços bem menos sinistros e os passos das três mulheres que, até então, trabalhavam em um silêncio sepulcral.

Heitor encarou o irmão com um olhar de morte, Fred tratou de apertar ainda mais a caixa bem segura sob seu sobretudo e eu apenas tive que me contentar em ouvir a voz de Erick dentro de minha mente.

Lestrange... Esse é um nome que me é vagamente familiar.

Não faço ideia de onde você poderia ter ouvido, mas é uma família puro-sangue de origem francesa, você acha que isso ajuda na nossa causa?

Perguntei com cuidado, porque eu não quero realmente depender de um veredito de alguém como Erick, seria quase como assinar meu atestado de vilania.

Você sabe que eu posso ouvir esses seus devaneios cruéis, não sabe? Enfim, lembrei de onde conheço, há um cofre aqui com esse nome... Ou devo dizer “não há um cofre aqui com esse nome"?

Que?

Olhei para a cara cínica do ex-djinn, que decidiu que estava na hora de verbalizar seus pensamentos, ou melhor, seus não pensamentos. Ok, isso de negar o que acabou de dizer é uma bosta mesmo, vou deixar para Erick.

— Ikley Moor guarda alguns artefatos Lestrange, não é assim, Heitor? Quais as chances de revirarmos os cofres deles e achar outra caixa dessas? — Meu tio perguntou divertido e Heitor encarou o irmão mais um pouco, depois olhou para Erick com irritação.

— Eu diria que a chance é nula, todo mundo sabe que o patrimônio Lestrange que não foi roubado antes do grande expurgo acabou nas mãos de seus herdeiros diretos, os Bertrand e os Aizemberg. — Eu fiz minha melhor cara de “nossa, essa informação não é nem um pouco relevante, nem sei do que você está falando". Heitor não parecia disposto a entrar em mais detalhes dessa mentira oficial dele.

— Então tudo que não está com essas duas famílias foi perdido para sempre? — Fred perguntou cínico e o corvinal logo sacou qual era a dele. Não tem como não reconhecer o tom debochado de Fred, né?

— Não devia ter sido perdido para sempre, um erro histórico que eu terei o maior prazer em consertar: senhor Weasley, me daria a honra de manter esse seu brinquedinho Lestrange interessante seguro em nossos cofres? — Heitor perguntou mais como uma cobra do que como a águia que ele parecia tão orgulhoso de ser. Fred sorriu de um jeito inocente.

— Não daria não, mas obrigado pelo oferecimento. — Ok, falsamente inocente, não há um osso ingênuo no corpo desse garoto. — Eu criei um grande apego com a caixinha e como o tio de Cesc disse, há uma profecia rolando, então...

— Que seja! Esteja aqui amanhã às 8 horas para seu estágio supervisionado. — O irmão de Enrique falou hermético, mudando completamente de assunto para um espectador desatento, mas Fred deixou o sorriso morrer no rosto, percebendo a mudança de humor do homem. — Farei questão de te ensinar o máximo que puder nessa sua estadia conosco.

Fred respirou fundo ante a ameaça clara que dizia “vou pegar essa caixa de você, nem que para isso tenha que matá-lo”, mas ele não era grifinório a toa, eu já teria entregado a caixa. Claro, daria um jeito de roubar de volta depois, mas a princípio entregaria sem hesitar!

— Não vejo a hora, senhor Dussel.

***

Saímos dos domínios de Heitor com todos os dedos das mãos e dos pés, alguns de nós com alguns neurônios a menos, mas até que o dia tinha sido bastante proveitoso, tínhamos mais informações do que nunca, embora nenhuma fizesse muito sentido antes de uma grande organização no quadro investigativo.

— Fico feliz que minha interferência tenha sido tão útil, agora, se me permitem opinar mais uma vez, diria que o melhor caminho a seguir é procurar os responsáveis pelo legado dos Lestrange na Inglaterra, as duas famílias que podem estar com as duas caixas restantes. — Erick sorriu para a gente, se divertindo com a nossa confusão. — Duas famílias para duas caixas, que matemática perfeita!

— Ok, Erick, você tem razão quanto a isso, mas... Por que está se envolvendo? Tão importante quanto analisar tudo que descobrimos até agora, é entender porque alguém como você de repente se interessou por toda essa confusão. — Enrique falou sério, então meu tio o olhou com uma expressão similar.

— Já disse que não consigo ver profecias abertas, que dependem de uma série de pequenos detalhes e decisões vitais. — Erick começou com calma, mas depois olhou nos olhos de cada um de nós antes de continuar. — Mas esse não era um problema meu até o resultado dela começar a influenciar em outros resultados que eu tinha como certos.

— A profecia está afetando um futuro que você já havia previsto? — Perguntei com cuidado, porque aquilo era assustador.

— De fato, é bastante assustador sim, Cesc. — Ele falou sem fazer grandes alardes, mas isso era ainda pior do que se ele tivesse feito um de seus dramas espalhafatosos. — Ultimamente, olhar eventos adiante tem sido como olhar diretamente para o sol.

— Talvez esteja perdendo seu jeito longe da lâmpada. — Enrique tentou, mas recebeu um olhar frio de seu colega de apartamento.

— Seria menos pior se esse fosse o caso, mas muito pelo contrário, estou começando a me adaptar a esse mundo, estou finalmente conseguindo trazer coisas do meu universo para cá, então... O que quer que estejam fazendo, crianças, estão fazendo de um jeito que está deixando o adversário de vocês mais irritado e mais forte. Ao que parece, a raiva é um grande motivador para ele.

Olhamos para Erick sem entender, cansados de seu jeito misterioso, mas Fred, que ainda tinha uma boa imagem dele, fez questão de levá-lo a sério, mais do que ele merece, vamos combinar! Odeio quando ele fica com esses enigmas de esfinge.

— Então o vilão da profecia sabe da nossa existência? — O grifinório perguntou com uma falsa tranquilidade, mas meu tio prolongou o silêncio até ser quase desconfortável antes de responder.

— Se não sabia antes, os amiguinhos de vocês acabaram de deixar isso bem claro hoje. — Ele sorriu de um jeito pouco animado. — E isso, para o nosso azar, mudou os planos dele de um jeito que não nos favorece em nada.

— Está se colocando como um de nós? — Enrique perguntou desconfiado, então Erick respondeu com um olhar condescendente.

— Que amiguinhos? — Fiz a uma pergunta ainda mais importante do que saber se Erick estava ou não ao nosso favor nessa loucura toda! Mas advinha qual das duas perguntas ele respondeu...

— Me refiro a nós, enquanto sociedade ligeiramente civilizada. — Ele concluiu sério, depois olhou para mim com mais ênfase. — Para o meu eterno descontentamento, serei obrigado a mexer em fios que eu não estava disposto a puxar ainda, para defender o mundo bruxo tal qual o conhecemos.

— O que isso significa? — Perguntei contrariado, porque as pergunta que fazíamos, Erick não respondia e as respostas que ele nos dava, não faziam sentido sem as perguntas certas!

— Pessoal... — Fred chamou com um tom ansioso, então eu e Enrique nos viramos para ver do que se tratava. Ele estava lendo um pergaminho pequeno, do tamanho de uma folha de bloco de notas. — Acho que sei a qual amiguinhos ele está se referindo como tendo nos colocado no radar do vilão: Malfoy e Macmillan fizeram bagunça na Rússia!

— Macmillan? — Perguntei com o cenho franzido, fazendo Enrique dar de ombros sem entender nada também.

— Scorpius está mandando o relatório completo da missão, vamos ler com cuidado e preencher o quadro com as novas informações. — Fred falou com seriedade e eu concordei, mas Enrique suspirou pesado, já ignorando o agouro que Erick havia soprado em nossos ouvidos.

— Que dia sem fim!

***

Erick havia voltado para seu covil sem esclarecer mais nada, fazendo muito bem o seu papel de esfinge dos enigmas sem solução. Eu, Enrique e Fred voltamos para o escritório do senhor caçula Dussel, onde estendemos uma cópia do quadro de Beauxbatons na mesa para colocar as coisas em ordem.

— Ok, o que temos agora com esse relatório de Scorp? — Perguntei prático e Fred fez o resumo, antes que anotássemos qualquer coisa no quadro.

— Malfoy e Macmillan encontraram um diário de Jacob Thompson que Dolus, possivelmente Bradbury, estava lendo. Foram descobertos, embora achem que as identidades ficaram em segredo e descobriram que o homem tem um capanga. — Fred concluiu, com um ar de quem não estava satisfeito com os dados.

— E se o capanga for Jacob Thompson sob alguma maldição de controle? — Enrique perguntou sinistro e eu o encarei assustado com o palpite vindo do nada.

— Onde ele esconderia o cara por tanto tempo enquanto ensinava em Hogwarts? Não... É provável que Thompson esteja mesmo morto e esse corpo seja o de Bradbury com Dolus dentro. — Ok, o palpite de Fred foi tão bizarro quanto, não há uma versão em que o cara é apenas um empregado assalariado?

— Então digamos que Bradbury esteja mesmo no corpo de Dolus, porque ele iria para a Rússia? O que tem lá de tão importante? — Perguntei desorientado, porque nada nas ações desse cara fazia sentido.

— Segundo Scorp, ele estava lendo o diário de Thompson, que agora nós temos acesso graças a Chris, então talvez esteja nessas anotações a resposta do que aconteceu com a caixa que Fred achou!— Enrique começou e respirou fundo ante minha cara de ignorância completa. — Thompson era um pocionista talentoso, Bradbury precisava dele para adulterar a caixa, Merlin sabe o porquê, então isso explica a agressão na matriz que Heitor viu e justifica também a presença de Bradbury aqui: ele usou o laboratório e o nosso cientista para seu plano do mal!

— E então Thompson deixou de ser útil e foi morto? — Tentei sem convicção, porque eu não gosto de palpites macabros.

— Não sei se foi esse o caso, Bradbury parece procurar algo do trabalho de Thompson, então ele não deve ter se tornado um inútil e... Acho que ele pode mesmo ter matado o cara, mas poupou a tal da White que Albus mencionou há algumas semanas, por exemplo, então eu acho que ele apenas mata quando a pessoa se torna um risco para ele, vide Haardy e Dolman. — Fred falou e Enrique concordou.

— Então Thompson deixou de valer o risco, embora ele fosse talentoso. Talvez ele tivesse ficado ambicioso, querendo mais do que o prometido ou quem sabe moralista, questionando tudo... Qualquer uma das alternativas seria indigesta para alguém como Bradbury. — Enrique cruzou os braços, observando o quadro ainda incompleto sentado na ponta da sua mesa.

— Moralista me parece ser uma opção mais dentro do perfil dele e, bem, isso nos deixa com o mistério de White e o que Bradbury ainda precisava obter de Thompson. Acho que ela era talentosa o suficiente para ajudá-lo com essa tarefa e depois que ele conseguiu o que queria, ele a dispensou. — Fred apontou e eu fiz que não com a cabeça.

— Não acho que ele estaria na Rússia se tivesse conseguido o que queria... A menos que ele tenha finalmente descoberto a peça que faltava nos trabalhos de Thompson e agora esteja procurando as outras caixas para juntar tudo e conseguir o poder mirabolante que Heitor mencionou! — Falei empolgado, depois cai na real que isso seria uma merda horrível para nós. — Ou não, sei lá. Tô confuso...

— Não, acho que você está parcialmente certo, quero dizer, faz sentido o lance de juntar as caixas, mas não o de ir até a Rússia para achar qualquer uma delas, porque o mais provável seja que elas estejam com os Lestrange remanescentes aqui. — Fred falou pensativo, tentando encaixar as teorias no lugar.

— Ok, mas e se ele estivesse errado? — Enrique perguntou e nós o encaramos sem entender. — Erick disse que ele agora estava em um caminho melhor do que antes, para ele, pelo menos, então... E se ele tivesse ido atrás de uma pista falsa na Rússia, mas ao ver Scorp e Chris, tenha consertado o rumo?

— Isso seria uma grande merda. — Conclui exasperado, porque era só o que faltava! Nós insistimos para Scorp ir até a Rússia e agora que ele foi, isso tinha colocado Bradbury no caminho certo? Que merda colossal!

— Ver Malfoy e Macmillan muda o quê na realidade de Bradbury? Ele descobre que está sendo caçado? Que alguém chegou perto o bastante para desconfiar de seu disfarce? — Fred tentou, mas Enrique respondeu as perguntas retóricas por ele.

— Descobre que alguém chegou perto o suficiente para saber que o diário de Thompson tem valor, afinal, foi a única peça roubada dele. — Ele falou com cuidado e eu fiz que sim com a cabeça, aquele era um bom caminho a seguir.

— Para Bradbury, quem poderia fazer isso? Quem saberia de Thompson? A irmã dele? Hector, talvez? — Cogitei meio sem ideias, mas Fred descartou as hipóteses sem pestanejar.

— Não acho que seja esse o caminho... Caçar Hector Dussel não levaria a lugar nenhum, Bella também não sabe quase nada sobre o irmão mais velho, tinha apenas quatro anos de idade quando ele desapareceu! Não, Bradbury tem uma visão melhor do jogo do que lhe estamos dando crédito e agora ele está no caminho certo.

Ficamos todos calados por um momento, remoendo as possibilidades. Me sentei na cadeira de frente a Enrique, olhando para o quadro de sua família sem realmente ver o rosto de ninguém. O que estamos deixando passar sobre Bradbury fantasiado de Carl Dolus?

— Teve o lance do circo de pulgas em Hogwarts! — Lembrei num estalo e Fred me olhou interessado. — Aizemberg descobriu o enigma do Ocaso para nos convocar, certo? E agora temos a confirmação que a família dele e a de Juliet podem ter caixas idênticas a sua, Fred! Não pode ser só coincidência...

— Por Morgana, isso já faz anos e sempre volta para me assombrar! — Fred falou inquieto, não exatamente discordando da minha hipótese. — Na época do show eu me lembro que estava completamente intrigado com esse nome e depois que tudo acabou e nada aconteceu, eu nunca superei a frustração de não ter entendido o que a caixinha estava tentando me dizer!

— Samuel nos convocou naquele dia e a família dele tem uma das caixas... Será que... Não, não acho que seja isso. — Descartei a ideia absurda, mas Enrique me olhou curioso.

— Não esconda o jogo agora, não podemos descartar hipóteses, por mais absurdas que elas sejam, lembra do que Erick disse? — Ele aconselhou e eu fiz que sim com a cabeça.

— E se Bradbury usou Aizemberg do mesmo jeito que usou Haardy e Dolman? Digamos que ele tenha descoberto o mesmo que nós, que há mais duas caixas além da que ele perdeu em Uagadou e, sei lá, Aizemberg pode ter um jeito de rastrear a relíquia da família! — Falei forçando a barra, porque a minha teoria tinha muitos furos para ser aceitável.

— Talvez ele possa rastrear e Bradbury pode ter manipulado ele, mas eles convocaram o Ocaso, não a mim, que realmente estava com a caixa! — Fred apontou e eu fiz uma careta para a lógica certeira.

— Mas você faz parte do Ocaso! — Enrique contrargumentou, só que Fred não deixou barato.

— Mas como Aizemberg poderia saber disso?

— Talvez não Aizemberg, mas Bradbury... Ele pode ter manipulado o garoto para te atrair, para então pegar a caixa de suas mãos mortas. — Enrique falou de um jeito pouco expressivo, depois finalizou tudo com um sorriso macabro. — A única tristeza é ele não ter conseguido antes de você meter a gente nessa bagunça.

— Concordo, mas não posso dizer que estou triste, enterro coletivo é melhor do que individual. — O grifinório disse rindo e eu encarei aqueles dois palhaços com vontade de ajudar Bradbury a jogar terra no caixão de ambos.

E quer saber do que mais?

— Vocês dois são muito idiotas, cheios de hipóteses bestas, mas o que ninguém aqui parou para pensar é que, segundo Erick, o cara trabalha com raiva, então talvez a resposta seja a mais simples possível: naquele dia ele chamou Samuel pela caixa e chamou a gente porque ele detesta o Ocaso!

Falei com exasperação, porque nas histórias de detetives quando a gente não consegue descobrir qual é a ligação entre duas coisas, é que na verdade elas são separadas mesmo! Tá, eu não consigo lembrar de uma história assim, mas tenho certeza que essa regra é real.

— Ele não detesta o Ocaso... — Enrique falou meio cético, mas sem argumento algum.

— Detesta sim e eu posso provar: nós fomos responsáveis pelo início da queda dele, lá no nosso primeiro trabalho que a gente falou de Dolman, um assunto que ele já tinha dado como resolvido. — Eu comecei e tanto Fred quanto Enrique tiveram que dar o braço a torcer para isso.

— Certo, você tem um ponto, mas não acho que faz sentido ele culpar exatamente o Ocaso por isso, quem colocou o ponto final na história de desmascarar ele foram vocês do time da Sonserina. — Fred apontou coçando o queixo daquele jeito irritante dele, depois fez uma careta engraçada. — E vocês são... Ok, pode ser real, porque vocês são sonserinos irritantes e são do Ocaso, dá para querer a cabeça da turma toda pelos dois motivos: a de vocês dois, mais a de Tony e Scorp.

— Ele pode nos odiar o quanto quiser, mas não consigo ver ele fazendo a ligação entre nós e o Ocaso, até porque eu nem gostava disso naquela época. — Enrique lembrou e deve ter vindo na memória o início da chantagem dele para conseguir que eu lhe desse uma chance, porque ele sorriu maliciosamente para mim. — Para ser sincero, eu era um dos que detestava toda essa história de contar verdades por aí.

— Então a gente volta para o mesmo ponto: ainda não sabemos que tipo de associação pode haver entre Aizemberg convocar o Ocaso para o show de Dolus e o fato dele ser da família que tem uma das caixas restantes. — Falei frustrado, mas Fred fez uma cara de “ou será que não” irritante.

— A gente tá esquecendo de uma coisa importante! Você teve sua memória apagada por Bradbury. — Nossa, é verdade! Como eu posso ter esquecido? Ok, essa pergunta por si só é uma puta ironia: como eu posso ter esquecido que perdi a memória? — Se eu bem me lembro, Albus me contou que você não se lembrava nada do esquema de Haardy e de tudo relacionado ao Ocaso.

— Chegamos a conclusão de que foi mais um efeito colateral do que qualquer coisa: como ele apagou minhas memórias referentes ao esquema de Haardy, que foi o que fez a gente começar o Ocaso para início de conversa, eu acabei esquecendo tudo. — Expliquei com calma, porque eu não quero ser o elo entre Bradbury e seu ódio gratuito contra a gente!

— Mas na época Brenam suspeitou de você, então mesmo que ele não tenha visto nada na sua mente, tinha um letreiro luminoso na sua testa apontando você como um dos iconoclastas. — Ô Enrique desgraçado, não tá vendo que eu tentando me eximir da culpa?

— Assim como John e Rose! Por que ele iria achar que justo eu era o palpite certo de Brenam? — Falei irritado, fuzilando Enrique com o olhar, mas depois me lembrei de uma coisa meio que... Ah droga! — Apesar de que...

Parei de falar, porque eu quero ser inocente! Que custa me deixar ser inocente?

— Apesar do que, Cesc? — Enrique me incentivou a falar, mas eu não estou afim não, fala sério!

— Apesar de que... Bradbury parecia bem irritado comigo naquele dia da acusação de Brenam, ele definitivamente não ajudou em nada na minha defesa. — Falei chateado, porque a hipótese dele achar que eu era um iconoclasta mesmo é bem real agora. — Me lembro de comentar com o pessoal que, meio que foi graças a ele que eu acabei tendo a pior punição dos três acusados.

Enrique e Fred se entreolharam e isso me deixou mais chateado ainda. Cansado do mundo girando em torno de mim, só para variar, Bradbury bem que poderia escolher outro para desgraçar a vida, não?

— Tudo indica que ele sabe que você é um iconoclasta, que descobriu sobre Dolman, sobre Haardy e se naquele dia do show ele conseguiu descobrir sobre o resto de nós... Ninguém está realmente seguro com ele a solta. — Enrique concluiu e eu o olhei exausto.

— Então o que a gente escreve para os outros? "Se avistarem Carl Dolus a um quilômetro de distância, saiam correndo, implorando por suas vidas"? — Perguntei para os dois caras supostamente adultos na minha frente. Fred ficou calado, reflexivo e Enrique resolveu dar sua contribuição madura para a situação.

— Não sei vocês, mas eu vou escrever: “se eu não broxar hoje, depois desse dia de cão, eu não broxo nunca mais!”. — Ele falou isso rindo, então atirei a primeira coisa pesada que eu achei na mesa, por coincidência o celular dele. Ele desviou e o objeto acertou o quadro da família Dussel. — Cara, meu celular! Ainda nem acabei de pagar!

Fred deu risada, não sei se por conta da minha cara de quem não daria a oportunidade de Enrique broxar tão cedo ou pela piadinha do garoto rico e mimado dizendo que ainda não pagou pelo celular trouxa.

Fuzilei os dois com meu pior olhar de morte.

— Estou quase ajudando Bradbury a enterrar os dois e tacar fogomaldito na cova rasa! — Esbravejei e os dois quadrúpedes riram ainda mais.

É oficial: vou me juntar ao vilão nessa merda!


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Notas finais do capítulo

Não se preocupem se não entenderam as maluquices de Fred, é só para vermos o quanto ele é esperto.

Bjuxxx



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