Hogwarts: uma outra história escrita por LC_Pena


Capítulo 144
Capítulo 144. O prisioneiro de Azkaban


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente bonita, gente formosa!

Primeiro vamos começar desejando feliz ano, década, século, milênio das mulheres para todas nós, que seja um tempo de luta, mas principalmente um tempo de vitórias para a gente!

Segundo vou dedicar esse capítulo para OLBY (já dediquei o de Adc, mas quem tá reparando nisso?), porque ela recomendou a fic recentemente e para Lily Almeida, só pq fiquei muito feliz de receber notícias dela hoje, tava sumidinha a bichinha.

Hoje eu não vou recapitular as coisas, porque Cesc faz esse trabalho no capítulo, com direito a datas (ano) e tudo, olha que chique!

Então, espero que curtam o capítulo, que se passa no dia seguinte ao capítulo 24 de Além do Castelo, no dia 07 de novembro de 2021.



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Capítulo 144. O prisioneiro de Azkaban

Ok, preciso fazer uma lista de todas as coisas que eu tenho que resolver na vida.

Vou começar com a coisa mais simples, que é estudar para o simulado dos NOM’s. Beauxbatons encontrou um jeito de tirar uma parte dos estudantes de Hogwarts dos protestos contra a direção da escola e esse jeito foi colocar todos os alunos do quinto e sétimo ano para estudarem mais do que todo o resto.

Quando eu digo que francês nenhum presta “Ai, não pode, você está sendo preconceituoso...”, queria eu estar sendo só preconceituoso!

Claro que tendo passado um mês, a greve geral dos futuros ateadores de fogo em carros diminuiu um pouco o ímpeto também, porque nem para badernar eles estão servindo mais, mas ao menos os rebeldes franceses conquistaram o afastamento do coordenador de esportes e cultura e uma investigação de seu tempo no cargo.

Conseguiram isso porque os pais também ficaram insatisfeitos com o modo como as coisas estavam sendo geridas, mas no fim das contas eles apoiaram os professores, que pediram para que as atividades fossem retomadas enquanto a direção esclarecia esse bordel que eles chamam de administração.

Pais sendo pais.

Os professores, por vingança, nada vai me tirar isso da cabeça, retomaram as atividades com mini testes surpresas e trabalhos de 30 centímetros de pergaminho para ocupar os nossos fins de semana, na tentativa de ocupar todo espacinho de tempo que a gente pudesse usar para protestos. Já para os alunos de Hogwarts, os simulados ainda foram como um bônus, por termos começado toda a bagunça.

E eu achando que estava me comportando bem e merecendo bônus e brindes de verdade, como a vida nos engana...

Pelo visto o meu bom comportamento ainda tem espaço para melhorar, mas de qualquer forma o foco agora será nos  estudos, porque eu não quero ter que repetir o ano quando voltar para Hogwarts, como alguns dos meus colegas estão sendo ameaçados de ter que fazer.

Então durante a semana vou focar em fazer as lições e vou parar de dar pitaco na capitania de Lo Presti, embora os jogadores dela sejam mais preguiçosos do que talentosos e o estilo general da italiana cause mais arruaça do que resultados efetivos.

Claro que eu não vou falar isso em voz alta na frente de Sebastian, não agora que ele está todo colaborativo ou ao menos o máximo de colaborativo que um vampiro rei pode ser. Os dois capitães não estão exatamente se dando bem, mas se toleram, o que já pode ser considerado um legado da minha passagem pelas terras francesas, então definitivamente está na hora de abandonar esse navio problemático.

Entram os simulados, saem os treinos com a equipe de Quadribol de Beauxbatons, até porque eles serão nossos adversários logo mais, se tudo der certo e o Ocaso conseguir pressionar o Conselho de Hogwarts a permitir mais uma equipe meia boca - Grifinória, você por aqui? - em nosso campeonato.

Então eu vou estudar mais e me distrair menos, se é que isso é possível, porque eu sou uma máquina de estudos e responsabilidade, já sabem. Mas vamos para o problema número dois da lista:

O risco de Enrique ser jogado em alguma cela fedida de Azkaban.

Ok, isso é mesmo um problemão e eu ainda não faço ideia do que eu vou fazer para resolver. É aquela coisa, Enrique e James disseram que iriam me ajudar com o lance do djinn, mesmo contra minha vontade e lá estava o grifinório idiota me defendendo no tribunal e o outro, meu namorado, fazendo um contentor para garantir que Erick não caísse no mundo e enviasse todos nós para uma era de caos e trevas.

A parte chata disso tudo é que entre o “não se metam" e a ajuda providencial de ambos, eles fizeram várias coisas que culminaram com a boa ação deles no final e eu até queria poder fazer isso por Enrique também, mas eu ainda estou empacado no “como”.

Seria bem mais fácil se só minha boa intenção de ajudar contasse.

Evidentemente eu estou tentando cuidar do assunto apesar dos pesares e já meio que estou ficando por dentro do caso porque, óbvio, não estou esperando que o mundo gire como eu quero.  

E ao menos para isso a ultra cobertura dos jornais sobre os Dussel está servindo, porque agora eu sei que não é toda a Uagadou que está mantendo o julgamento de pé contra o idiota do meu namorado e sim apenas a apanhadora deles, a pequenina lá, Warsan Shire.

Enfim, aquela praga mirim cansou de ser um pesadelo em campo e agora está se mostrando um terrível pesadelo fora dele também, porque ela tem certeza que a vassoura dela não quebrou de velha ou com a super força de Enrique, o que venhamos e convenhamos, o mundo todo só aceitou como versão oficial porque era conveniente.

O problema todo é que eu não consegui pensar em uma explicação plausível para Enrique ter conseguido quebrar a vassoura dentro das regras do jogo! Fora das regras eu consigo pensar em um monte, mas todas elas nos custariam o título e me julguem, mas eu ainda não estou pronto para abrir mão do meu título de campeão mundial.

Vamos deixar essa opção horrível como plano Z, mesmo a gente nem tendo o plano A formulado ainda.

Acho que não vai ter muito jeito, vou acabar tendo que envolver algumas pessoas na história, talvez Fred e Tony, que são os principais interessados em manter o título e os que têm menos escrúpulos se comparados com o resto do time.

Romeo também é uma boa opção, porque ele adora ser campeão e é o melhor amigo de Enrique, ele seria perfeito para ajudar, se não fosse uma porta de madeira maciça envernizada com bosta de gnomo.

Outra opção interessante é Lia, mas pelo pouco que John tem falado, aquela doida de pedra está apenas semeando o caos em Uagadou, o que poderia fazer dela uma aliada incrível, quero dizer, já pensou o inferno que seria a vida dela caso ela perdesse o título ainda estando na casa dos adversários?

Mas sei lá, não sei se estou pronto para fazer um pacto novo com aquela demônia, eu realmente achei bonitinha a nossa despedida, queria que fosse para sempre ou o mais perto disso possível. Isso soou cruel, porém é de Lia Thiollent que estamos falando, pessoal! Eu não vou retirar nenhuma palavra.

Tá, então vou ter que me contentar com Tony, Fred e Romeo. Dessa vez vou deixar Scorp de fora, porque o lance da Rússia foi pesado, acho que ele tem que se recuperar de uma ida ao mundo da ilegalidade, antes de mergulhar em outra contravenção potencialmente ruim para os antecedentes criminais.

O que nos leva ao último problema da lista: a profecia.

Scorp e Rebeca tem trabalhado no último mês com um dos diários de Jacob Thompson, o que eles encontraram com Macmillan lá na Rússia nas coisas de Carl Dolus, também conhecido como Bradbury duas caras.

Eles ainda não fizeram muitos avanços, parte porque os escritos parecem em códigos ou com uma lógica muito acima da liga de ambos e parte porque os dois estão focados na tal competição de Poções que eles vão participar no final do ano.

Estão fazendo duas coisas horríveis ao mesmo tempo, deixando as coisas da profecia de lado e focando em algo terrível como poções em uma competição na Rússia! Mas eu não vou dizer nada para os pombinhos, porque todo mundo tá vivendo e fingindo que tem um futuro, mesmo com a ameaça do vilão acabar com a gente logo mais, por que eles também não poderiam fazer o mesmo?

Já lá em Uagadou, John diz que está trabalhando no caso, ele deu uma olhada no outro diário de Jacob Thompson que Bella guardou como lembrança. Segundo ele, só tem um monte de desenhos dela por cima das anotações do cara, que em algum momento desistiu de tentar fazer uso do seu próprio caderno, provavelmente dando de presente para a irmãzinha pentelha.

É uma ótima lembrança de um irmão bem mais velho e morto, mas infelizmente para todos os envolvidos, bastante inútil e um pouquinho deprimente, se a gente for parar para pensar que o cara tinha vinte e poucos anos e um futuro brilhante pela frente quando morreu.

Tá, mas coisas deprimentes a parte, vamos tentar colocar a cronologia dos  acontecimentos em ordem, baseado em que tudo que já descobrimos e rezando para que todos os nossos palpites estejam certos, o que nos dá 12% de confiabilidade na teoria atual:

Primeiro, Bradbury faz um acordo com os FerrZ e promete que vai curar um bando de jogadores degenerados, mas talentosos, usando uma poção doida que ele vai experimentar nos prisioneiros de Azkaban, lá por volta de 2010.

Segundo, já em Azkaban, ele conhece Rabastan Lestrange e como ele fica brincando de reprogramar memórias, ele deve descobrir nesse período, 2011-2012, sobre a caixa ou melhor, as caixas da família Lestrange em alguma lembrança do cara.

Ok, alarmante, principalmente porque a gente chega em um furo na teoria: Bradbury passa a usar os laboratórios Dussel para seus estudos em 2012 - e ninguém sabe como, nem o porquê -  e é lá que ele conhece Thompson, que o ajuda a corromper a caixa um, vamos chamá-la assim, mas não sabemos para quê.

Sabemos porra nenhuma dessa coisa que Thompson fez, próxima parte da teoria:

Thompson e Bradbury se desentendem, Thompson morre no mesmo ano, ou melhor, desaparece e Hector Dussel fica preso por uma semana, por ser o principal suspeito do crime, mas é liberado por falta de provas.

Estranhamente os aurores nem suspeitam de Bradbury nessa época, talvez seja interessante a gente se perguntar o porquê disso, mas de toda forma, é nesse momento que o nosso asqueroso mestre em Poções dá um pé na bunda dos FerrZ e começa a sua carreira em Hogwarts.

Até onde sabemos, ele não consegue sair totalmente ileso de seu acordo com os FerrZ, não fazemos ideia do porquê ele abandonou todo o projeto - culpa pela morte de Thompson talvez? - mas agora ele é obrigado a ajudar a empresa latina a abrir mercado na escola da gente.

Tá, essa parte é mais especulação do que as outras, mas combina direitinho com o fato de que Bradbury colocava para dentro da escola poções de melhoramento de desempenho, quase como uma forma de viciar e começar uma cultura de uso dessas poções em Hogwarts, um dos poucos polos de exportação de atletas que não faz usos de suplementos mágicos.

Perfeito para os FerrZ, se eles seguirem a mesma lógica da Yakuza, sugerida por Aidan.

Então ele faz lá o tal esquema com Haardy e Dolman, os dois ficam ambiciosos e estragam tudo, fazendo ele ter que cair fora da escola, quando Enrique e Streck abrem o bico no fatídico jogo de 12 horas contra a Corvinal, em 2020, ano passado. Ele já tinha abandonado lá a coisa toda com a caixa, mas ele usa ela mais uma vez, agora para assumir o corpo de Dolus, do circo de pulgas.

Ele vai para Uagadou - o Satanás sabe o porquê - por volta de outubro, se bem me lembro, e perde a caixa no poço dos desejos, onde o filho da mãe do Segundo rouba, só porque ele é um azarado, que suga todo mundo para o buraco negro do caos e agonia que são os seus “Veja bem".

Tem alguma coisa antes disso com Cassandra White perdendo a memória e sendo transferida para Ilvermorny em 2019 e Aizemberg, cuja família pode ter uma das caixas iguais a de Fred, se metendo com o Ocaso e nos arrastando para o circo em dezembro do ano passado, mas eu não sei bem como esses dois se encaixam nisso tudo.

Há uma leve suspeita de que Bradbury sabia sobre a minha participação no Ocaso, mesmo quando ele tinha apagado minha memória e talvez por isso ele fez o garoto medonho, vulgo Samuel Aizemberg, nos chamar pelo símbolo de comunicação dos iconoclastas, mas que as harpias parentes de Sebastian carreguem minha alma, eu realmente não sei se isso tem a ver com qualquer coisa!

Voltando para o que já sabemos, a caixa fica avisando Fred que havia alguma coisa errada, fica falando sobre Carl Dolus, depois fala para ele aguentar firme no jogo que ele estava quase morrendo e por fim Fred adultera meu Marduk e eu ouço os “cinco dias", que culminaram naquela desgraça toda que se abateu sobre Hogwarts na última primavera.

De acordo com Erick, ou seja, fonte menos confiável do que o mendigo que anuncia que o fim do mundo está próximo na esquina do HECCMA, esse lance de Hogwarts estar morrendo permeia toda a história, tipo quando ele usou os soluços de magia da escola para matar Enrique, mas não chega a estar envolvido diretamente com a profecia.

Eu queria que ele abrisse logo a boca e falasse tudo que sabe, mas aí não seria Erick, né, minha gente?

Em todo o caso, Anne levantou a hipótese das mensagens da caixa não serem premonições e sim um alerta só, espaçado, talvez enviado para seu dono ou algo assim. Só que a mensagem “Carl Dolus, o insectologista, aguente firme cinco dias, impostor, fonte Flamel”, não faz sentido nenhum!

A gente tem que levar em consideração que Bradbury quebrou a pobre caixa um, talvez para a transformação dele ser fixa, então pode ter bugado o sistema dela de mensagens, porque isso obviamente não é coisa de um artefato em plena posse de suas faculdades mentais, não mesmo.

E agora, para concluir o raciocínio, Scorp conseguiu confirmar que Dolus tem mesmo algo a ver com a caixa um e provavelmente é Bradbury. Ele descobriu ainda que há um comparsa meio robótico - talvez o corpo do próprio Bradbury com a alma do coitado do Dolus presa - e por fim, ele e Macmillan colocaram o nosso querido vilão sem cara no caminho certo para nos destruir.

Eba.

Já a minha visita com Fred e Enrique até a horrenda Azkaban confirmou a ligação entre Bradbury e Lestrange e ainda nos deu um pouco mais de detalhes sobre o que aquele demônio fazia lá com os presos.

As Annes se voluntariaram para ler os documentos da pesquisa dele, alguns dados nem sequer haviam recebido tratamento ou análise, mas isso não diminuiu a empolgação daquelas duas francesas desocupadas. Pelo que elas entenderam, ele trabalhou criando poções casadas com feitiços que conseguem suprimir memórias específicas dos presos.

Nos escritos dele, ele fazia uma filtragem de possíveis memórias bases, que causaram o distúrbio ou a distorção de caráter ou, no caso dos ex-comensais, as memórias que começaram os preconceitos contra trouxas e nascidos-trouxas e apagava, na tentativa de deixar os presos só com lembranças positivas.

Não vou dizer que o estudo não tem seu mérito, principalmente se você pegar o caso de Erick e ver como ele é um terrorista em potencial só pelo fato dele ter memórias nefastas naquela mente milenar dele, então o projeto até que poderia ser útil para todo mundo.

Claro que no mundo trouxa a ética dessa pesquisa seria questionada, quero dizer, reprogramação de memória? Isso tem um potencial enorme de dar merda, vide o quão bom Bradbury ficou em brincar com a memória de todo mundo que desagrada a ele de alguma forma.

Ok, acho que isso é basicamente tudo que temos, vou parar por aqui, até porque Louise está entrando agora na sala de estudos e, se Deus quiser, ela vai trazer boas notícias da excursão de Sev ate Hogwarts atrás do laboratório secreto de Bradbury ontem.

— Boas notícias? — Perguntei assim que ela se sentou na minha frente e ela deu de ombros, inexpressiva. — Sev já escreveu alguma coisa?

— Não, mas outro Potter me escreveu. — Ela falou enigmática, então eu troquei de posição, a perna já estava dormente, só para me distrair antes dela continuar. Louise adora pausas dramáticas, infelizmente. — James finalmente me pediu desculpas pelo lance com Frank.

Que lance com Frank?

Louise me olhou com irritação, mas o que ela esperava? É domingo de manhã, o café ainda nem assentou no meu estômago e... Ah. O lance da separação dela com Frank, claro! Mas por que ele tocou nesse assunto agora?

— Por que esse garoto está falando disso agora? James não tem mais o que fazer na América não? — Perguntei exasperado com a aleatoriedade desse garoto. Sério, ele fica lá no quarto dele pensando “que coisa ridícula do meu passado distante eu vou resgatar hoje"?

— Ele falou na carta que houve uma mensagem no Hall da vergonha há algumas semanas, que fez Frank desconfiar que ele só me dedurou porque estava afim de mim. — Ela revirou os olhos para a idiotice da fofoca e eu a olhei de cenho franzido, porque de onde esse pessoal do hall teria tirado isso? — Depois disso, Frank, que já tinha mostrado um milhão de sinais de arrependimento pelo término, brigou feio com ele e até agora os dois não estão se falando.

— Espera! Frank acha que James mentiu para ele sobre a suposta traição para poder ficar com você? — Eu estou meio chocado com a loucura grifinória, mas não dei risada em respeito ao sofrimento da minha irmã. — Tá, continua. Tenho observações a serem feitas no final.

— Ok... Onde eu estava? Ah, sim! Os dois brigaram feio e aí James comentou com Albus, que foi o informante da época e o nosso querido amigo apenas disse que pediu ao irmão para não contar nada sobre o acontecido entre nós dois a Frank, coisa que James não respeitou.

— Que acontecido? — Perguntei intrigado, porque essa história da suposta traição de Louise estava ganhando contornos esquisitos. Então o amante era Sev? Sério? Bem que James disse que confiava no irmão, quando eu disse que confiava em Louise. Ou o contrário, sei lá, não me lembro mais dos detalhes.

— James nos viu em um armário de vassouras. Pela época do término, suponho que tenha sido no dia do plano de Tony para reaver o Prime de dentro da caixa de John apreendida por Brenam, aquele plano que você ficou de fora. — Ela me refrescou a memória com paciência e eu acenei meu entendimento. — Fora que eu não ando me metendo em armários de vassouras por aí, então só podia ter sido naquela vez mesmo.

— Se eu tivesse participado do plano, nada disso teria acontecido. — Falei só por falar e ela me olhou cética.

— Provavelmente teria sido ainda pior. — Respondeu com um sorrisinho cruel, mas depois voltou ao seu drama. — Enfim, dessa vez Al falou com todas as letras que nada tinha acontecido entre nós e que na época era melhor que James achasse que nós estávamos sendo infiéis do que descobrisse o que ele estava fazendo, o que nós sabemos que é verdade, mas James não sabia de nada disso, então agora ele veio me pedir desculpas por ele e por Al, mesmo que só ele esteja arrependido.

— Sev fez o que precisava fazer, teria sido pior se ele tivesse tentado dar alguma outra explicação diferente da verdade. Ele provavelmente sabia que James não iria acreditar em outra coisa, porque um casal dentro de um armário só tem um significado em Hogwarts. — Eu defendi Sev, porque teria feito o mesmo, infelizmente. — Mas ele podia ter te alertado sobre o problema com o irmão.

— E do que teria adiantado? Meu término com Frank não foi porque James viu qualquer coisa, foi porque ele não confiou em mim! — Louise falou exasperada, ainda demonstrando que não tinha superado essa história com Longbotton, acabando com meu humor dominical. — Eu dei uma chance a ele, disse claramente que não tinha feito o que ele estava me acusando de fazer e que era isso, se ele não quisesse me ouvir agora, não ouviria mais!

— Justo. — Concordei com o posicionamento, porque nós Fábregas nos garantimos e não toleramos que coloquem nossa palavra em cheque.

Meu Deus, eu peguei esse negócio de “nós da família X fazemos Y" dos Dussel! Que horror.

— Frank nunca confiou em mim, Cesc, ele sempre se perguntava e me perguntava o porquê de eu estar ali com ele e eu... Eu achava que era uma brincadeira, uma forma de me elogiar, mas ele... Ele acreditava mesmo nisso! — Ela falou com os olhos marejados e eu dei de ombros  porque esse era o tipo de assunto que ela devia estar discutindo com uma das amigas, não comigo, que sou péssimo com sentimentos em geral.

— É... Pesado. — Dei toda a minha contribuição para o assunto, o que aparentemente foi o suficiente.

— Depois que acaba, você vai repassando todos esses momentos na cabeça e percebe o quanto foi estúpida! — Ela desabafou, parecendo estar furiosa com a Louise do passado. — Como eu não vi isso antes? Ele literalmente estava o tempo todo desconfiando dos meus motivos para estar com ele! Frank nunca achou que os meus sentimentos por ele eram reais!

Ela concluiu furiosa e eu só arregalei os olhos, porque EU NÃO SEI COMO PROCEDER AQUI, MINHA GENTE! Brinquei com a pena que estava usando para escrever o resumo do brega da profecia, antes de dar a minha opinião embasada em nada.

— Quando as pessoas dizem uma coisa repetidas vezes, é melhor você acreditar nelas, mesmo que elas sempre pareçam estar brincando. — Tentei, depois fiz uma careta, porque não sei se esse conselho é útil agora. Louise acenou com a cabeça enfaticamente.

— Sim, você tem razão! Argh, me dá uma raiva só de pensar que eu interpretei uma crítica a minha honra como um elogio! — Ela esbravejou por entredentes e eu a olhei meio confuso.

— Honra? — Quem ainda tem honra em pleno século XXI?

— Em pensar que eu gastei minhas lágrimas com esse idiota, Cesc! Dá vontade de me lançar uma maldição pelo espelho, só para eu deixar de ser tonta! — Ela se levantou indignada e eu fiz menção a dar apoio a isso, mas né, desisti no último segundo, talvez não fosse uma boa ideia.

— O importante é que você aprendeu sua lição e não vai querer ver ele nem pintado de ouro, certo? — Falei como quem não quer nada, até porque eu até que vou com a cara de Longbotton agora, mas não para ficar com minha irmã.

— Não vou mesmo! — Ela bateu o punho na mesa, fazendo os outros alunos olharem para ela ao redor da sala, mas Louise estava indiferente a isso. — James demorou esse tempo todo para me pedir desculpas porque não sabia da verdade antes, mas Frank... Ele me devia confiança!

— Pois é! Eu não sei como alguém deve confiança a outra pessoa, porque confiança meio que tem que ser merecida, mas o raciocínio está certo, continue. — Estou tentando fazer ela concluir que não é para pensar em Frank nunca mais, mas me falta o traquejo sentimentalista, infelizmente.

— Eu fui leal a ele, Cesc e ele nem me deu uma chance para eu me explicar! Que tipo de namorado faz isso? — Eu estava pronto para respondê-la, mas ela ainda não tinha acabado. — Se Enrique fizesse isso com você, você o perdoaria?

— Desconfiar de mim? Enrique foi bem educado, se ele um dia ousar desconfiar de mim, ele que saia correndo da minha frente, porque eu vou quebrar a cara dele! — Falei com sinceridade, depois aliviei um pouco o peso das minhas palavras com um sorriso. — Metaforicamente falando, é claro, porque eu não sou de recorrer a violência física.

Mentira, mas vamos fingir que sim.

— E Frank nem sequer me pediu desculpas! — Ela falou indignada e eu fiz que sim com a cabeça, porque ele não tinha pedido mesmo não. — Ele foi se reaproximando de mim, como se quisesse ser só amigo, mas no fundo, Cesc, pensa aqui comigo: no fundo ele estava pensando “Ain, ela é desleal, mas eu ainda amo essa garota, vou relevar a deslealdade dela!”.

— Tenho certeza que foi exatamente isso que ele pensou... — Falei, colocando lenha na fogueira. Louise me olhou decidida.

— Então está resolvido: mesmo que ele um dia me peça perdão de joelhos, eu ainda sim não vou voltar para ele, porque ele desconfiou da minha lealdade, aquele traste! — Ela esbravejou e eu bati palmas.

— É isso aí, irmã, não era nem para você cogitar voltar para ele antes! Isso com Sev foi o destino tentando te dar uma segunda chance, acho até que você poderia investir nele, em Sev, digo, porque ele é um partidão. — Pousei o queixo sobre as mãos e Louise me olhou com uma careta. Ela voltou a se sentar, ainda me olhando estranho.

— Você acha? — Ela me perguntou com um tom de quem precisa de confirmação para algo que nunca havia cogitado antes.

— Namorar um Potter pode ser útil de várias maneiras e Sev é o único Potter possível, então... — Dei de ombros e ela me olhou curiosa.

— E quanto a James? — Ela perguntou com o cenho franzido, como se não fosse óbvio a resposta para isso. Se ela tivesse me perguntando “por que não Lily?” eu ficaria menos chocado com a audácia. — Eu não devo mais lealdade a Frank e se ele e James não são mais amigos, eu bem que poderia namorar com ele, não acha?

— Nossa, tem tanta coisa errada nessa frase, que eu nem sei por onde começo! — Falei ultrajado com a mera ideia desse casal absurdo se formando na minha mente. — Não pode ficar com James, porque ele era amigo de Frank e isso te deixaria amarrada ao seu ex! Não pode namorar com ele, porque ele realmente foi o pivô da sua separação, querendo ficar com você ou não e certamente eu te deserdaria se você ousasse cogitar beijar James Potter, que fique bem claro isso!

— Ué, por que? Qualquer um no mundo vai dizer que James tem uma boca bem beijável! Eu até entendo os argumentos da amizade e da separação, mas não sei porque eu não poderia ficar com ele, tipo, secretamente. — Ela sorriu marotamente e eu soube na hora que ela estava fazendo isso só para me irritar.

— Experimente ficar com ele pra você vê o que te acontece! — Eu ameacei, mas ela apenas levantou da mesa com um olhar travesso. — Louise, eu estou falando sério, você não se atreva!

— Louise Potter, olha que nome fantástico! — Ela anunciou rindo e eu a fuzilei com o olhar. Não iria dizer que a parte mais bizarra dessa ideia era ela ficar com um cara que já teve uma queda por mim, mas iria deixar claro meu ponto.

— James Potter está fora dos seus limites, ok? Se quiser ficar com um Potter, vai ser com Sev ou com Lily, James Potter não, estamos entendidos? — Falei com seriedade e Louise levantou uma sobrancelha muito parecida com a minha, infelizmente.

— Enrique sabe desses meus “limites”? — Ela perguntou sarcástica e eu apontei para ela com irritação.

— É por isso que a gente não tem mais conversas de irmão para irmã, porque você é uma pessoa horrível, que fica pondo olho gordo na relação alheia! — Eu apontei e ela colocou a mão no peito, ofendida.

— Isso tudo porque eu queria saber o motivo de não poder ficar com um cara muito bacana, a despeito dele ter me magoado e feito o meu ex idiota terminar comigo... Ok, eu nunca ficaria com James, mas isso ainda não justifica essa sua proibição para cima de mim! — Ela falou indignada e eu pus os olhos em fenda, porque eu já sabia o que vinha a seguir. — Eu vou descobrir o porquê disso, Cesc, você não perde por esperar.

— Pois eu não vou ficar esperando nada, porque eu tenho mais o que fazer. — Voltei a folhear minhas anotações, ouvindo o risinho debochado dela e os passos para fora da sala de estudos. — Filha da mãe!

É por essas e outras que eu detesto corvinais, eles não podem aceitar orientações com classe, tem sempre que ficar questionando e fazendo perguntas inconvenientes!

Mas quer saber? Foda-se Louise e James, um casal moldado no inferno que nunca vai acontecer, porque eles dois não me dizem respeito, quero dizer, se ela quer se iludir com um cara que só ficaria com ela porque ela é parecida comigo, azar o dela, né? Eu bem que tentei avisar!

E Louise pode ser uma descarada, mas James com certeza tem esse senso de fidelidade e nobreza dos grifinórios, ele não vai ficar com uma ex do ex melhor amigo, ainda mais que tem muitos “ex" nessa frase para ser uma coisa boa.

Bem, se a gente não pode contar com a sensatez de Louise, que ao menos a gente possa contar com a... Não é que tem gente que tem isso? A gente pode contar com a honra de James Potter, que coisa maravilhosa!

Me espreguicei, então catei todas as minhas coisas para jogar na mochila, ia aproveitar o dia livre - ou não, tenho certeza que devia estar estudando para alguma coisa - para tentar uns novos botões e alavancas do meu carro lá fora na neve, lugar em que eu recebi permissão para usar ele sem restrições.

Tem sido meio entediante dirigir ele de um lado para o outro a 10 km/h, entediante e patético, então eu solicitei a escola a mesma autorização que eles deram a Sebastian para ele ir ver a avó e antes que vocês me julguem por colocar o nome dele no pedido, o rei vampiro conseguiu que a escola “sugerisse” que eu desse uma carona a ele toda semana até a casa da veela velha, que é a senhora avó dele.

Todo mundo saiu ganhando!

Antes de chegar ao meu carro, que por sinal está precisando de um apelido, meu celular tocou em uma vídeo chamada, mas não consegui reconhecer o número na tela. Atendi só porque não sei de nenhum telemarketing que usa vídeo para fazer propaganda.

— Olha só que triozinho mais bonitinho! E então Sev, o que manda de novo? — Cumprimentei Sev, Lily e Katherine, a amiguinha americana deles, antes de abrir a porta do carro, mas não deixei eles responderem, lembrando de algo importante. — Ah, foi até bom você ligar, Sev. Que merda é essa com o Hall da vergonha mexendo até no lance do término de Louise e Frank, hein?

Ele fez uma careta antes de responder, então aproveitei o tempo para me ajeitar no banco e colocar o cinto. Dei partida no carro ao mesmo tempo que Sev explicava a situação real de Ilvermorny.

— Isso já faz algum tempo, foi lá na primeira vez que as letras escarlates apareceram. — Ele falou diminuindo o caso, mas eu ainda estava muito curioso e não tinha tido a oportunidade de discutir isso com Louise, porque ela tinha que ser uma grande pentelha.

— Imaginei que tivesse sido, mas seu irmão desenterrou esse assunto agora, pedindo desculpas para Louise, inclusive em seu nome. — Ele ia falar alguma coisa, mas eu o interrompi. — Tá, todo mundo já sabe que você não sente muito, mas vamos focar no que é importante: como esses caras do hall tinham essa informação?

— Que informação? — Sev perguntou confuso e eu revirei os olhos para a lerdeza dele. Pus o celular em seu já estabelecido local de apoio no painel do carro.

— A de que você e Louise estavam no armário de vassouras! — Apontei irritado e ele me olhou ainda sem entender. — Esse pessoal definitivamente é de Hogwarts, do contrário não teria como saberem sobre isso.

— Eles não sabiam sobre essa coisa minha e de Louise, só mencionaram a parte de um namoro que acabou porque um amigo quis a namorada do outro e inventou uma história de traição. — Albus esclareceu e agora quem ficou confuso fui eu. — O hall nem sequer citou nomes, apenas usou a desconfiança de Frank contra ele, porque ele não sabe se a história publicada é do término dele mesmo e nem se é verdade a história que James contou antes, mas pouco importa, porque ele é um estúpido!

— Mas ele tem razão para se indignar, coitado, a história realmente é falsa! Louise já tinha dito isso e todos sabemos que aquela criatura não conseguiria uma garota como minha irmã de novo nem em um milhão de anos, então ele queria voltar para ela e achou uma desculpa para pôr a culpa em James agora. — Eu analisei e depois acrescentei o final com um sorriso no rosto. — Mas ela não quer mais nada com ele e eu lembrei a ela que você é um partido muito bom, Sev

Pisquei para ele, fazendo Lily e Katherine rirem do meu excelente trabalho como cupido. Sev só me olhou com condescendência, sem demonstrar se tinha ou não interesse em levar o bilhete premiado que é a minha querida irmã debochada para a casa.

— Bem, isso não vem ao caso agora, já que te ligamos porque temos três notícias para contar e decidimos que o melhor é fazer isso por partes e não para todos os iconoclastas de uma vez, o que causaria aquela balbúrdia que já conhecemos. — Ele anunciou, fazendo Lily revirar os olhos ao seu lado.

— Você decidiu. — Ela disse entediada e ele a olhou irritado.

— Sim, eu decidi, porque eu sou o mais velho dos iconoclastas nos Estados Unidos e conheço o grupo muito bem para saber que contar essas notícias para todos juntos só iria causar confusão! — Ele falou mais para ela do que para mim, em tom do bronca, então voltou a atenção para a câmera do celular. — O que acha, Cesc?

— Acho que isso de passar a informação de pouquinho em pouquinho pode acabar que nem aquela brincadeira trouxa que simula o sistema de fofocas: o último a receber a informação vai ter os dados todos distorcidos. — Lembrei com cuidado e Albus descartou a hipótese com um gesto de mão.

— A gente não vai passar a fofoca de um para o outro, eu estava pensando em você falar com Enrique, Tony, Louise e Fred separadamente e eu contar para Aidan, John e o pessoal da Durmstrang, assim todo mundo ia saber em primeira mão, mas teria seu tempo para refletir e falar depois com o resto do grupo.

— Ah tá, desse jeito pode funcionar sim... Mas que notícias tão bombásticas são essas, que não dá pra contar para todo mundo de vez? — Perguntei curioso, então Sev deu de ombros inexpressivo.

— Você com certeza não vai gostar de nenhuma delas, então Lily aqui sugeriu contar da menos pior para a pior de todas, ela disse que você gosta desse esquema. — Ele meio que deu a palavra para a irmã caçula, então eu fiz questão de perguntar a ela o mais importante.

— Você já melhorou a sua diferenciação entre uma notícia horripilante e uma tenebrosa? — Perguntei com seriedade, porque ainda me lembro que ela confundia os conceitos na hora de organizar as notícias que ia dar.

— Já sim! Eu decidi que vou começar pela horrível, depois vou para a tenebrosa, que por sinal tem a ver com Hogwarts, que nem as notícias que eu te dei no ano novo e por fim, vou finalizar com a horripilante mesmo, porque ela é de arrepiar todos os pelinhos do corpo! — Ela falou empolgada e eu até estacionei o carro na ponta da saída da estufa para o vale nevado lá fora, para ouvi-la com atenção.

— Você sabe que eu gosto de começar pelas piores notícias, não sabe, Lily? — Questionei, mas ela deu de ombros sem ter muito o que fazer quanto a isso.

— Ah, mas não vai dar para começar pela pior, né, Kath? A horripilante vai transformar seu cérebro em mingau, a gente precisa começar pela mais leve. — Ela e Kath acenaram com as cabeças freneticamente e mesmo as duas sendo duas garotinhas fofas, eu senti a implicação dessa maldade toda na minha vida.

— Ok  meninas, digam logo o que tem que dizer, arranquem o curativo logo de uma vez! — Pedi corajosamente e Sev só sorriu sarcástico, cruzando os braços para assistir ao espetáculo.

Traste.

— Começamos com a horrível notícia de Salem e Ilvermorny terem se juntado em uma verdadeira caça às bruxas, com o perdão do trocadilho, contra os alunos de Hogwarts! — Lily falou simulando um microfone nas mãos e eu olhei sem entender nada para ela. — E o que mais, Kath?

— Além disso, Lily, eles acham que os iconoclastas estão por trás do Hall da vergonha e isso não é tudo! — Katherine seguiu a linha de apresentadora de talk show e eu tive que colocar as mãos na cabeça com a loucura das duas.

— Não mesmo, Kath, eles acham que os estudantes de Hogwarts estão todos mancomunados com o Hall da vergonha e querem nossas cabeças em estacas de madeira, porque as de ferro tão caras no mercado! — Eu tive que dar risada dessa palhaçada de Lily e da amiga, depois pedi informações reais a Sev.

— Como assim? Explica melhor isso, cara! Como o Ocaso passou a ser suspeito de conspirar com o infame Hall da vergonha e por que estão perseguindo os alunos de Hogwarts? — Perguntei exasperado e as meninas sossegaram um pouco para ouvir a explicação do grifinório.

— Salem nunca superou a derrota para a gente no campeonato, então na primeira oportunidade de envenenarem Ilvermorny, foi o que eles fizeram! — Albus começou e eu já o interrompi.

— A gente perguntou se eles queriam jogar mesmo abalados com o lance da escola deles e eles toparam! — Eu lembrei a todos de um fato muito importante, mas Sev só jogou as mãos para cima.

— Eu sei disso! Mas eles são uns merdinhas e o pior, o pessoal de Ilvermorny é muito manipulável e estão chateados com todo esse lance de Lavoie ter seu segredo lupino revelado, enfim, agora a gente virou os vilões do jogo! — Ele falou exasperado e eu amaldiçoei aquelas almas perdidas de Salem.

Péssimos perdedores!

— Tá, mas por que eles acham que o Ocaso tem algo a ver com o Hall? — Esse era o tipo de pergunta que poderia nos dar uma ideia de como resolver o problema, então coloquei na frente das outras.

— Porque eles chegaram na mesma conclusão que você, que as coisas reveladas só podiam ter saído da cabeça de um britânico e eles acharam o método de exposição das verdades parecidos. Você sabe, letras desaparecendo e tudo mais. — Lily falou simplista e eu fiz uma careta para a idiotice dos americanos.

— Letras nas pedras e um pergaminho que vira cinzas não é a mesma coisa, que gente perturbada do caralho! Desculpe pelo palavrão, Katherine. — Falei meio envergonhado, já que a menina não tinha culpa de nada, não merece que eu desça o nível assim, na segunda vez que me vê na vida.

— Não vai pedir desculpas para mim, não? Eu também sou uma dama! — Lily perguntou indignada e eu a ignorei na maior, pelo amor de Deus, Pottinha já tá mais envenenada do que Julieta no último ato da peça de Shakespeare!

— Isso do método ser diferente pouco importa para quem quer forçar a barra! Mas a boa notícia é que o pessoal de Hogwarts nos defendeu, a má é a retaliação das duas escolas, mas a gente já falou sobre isso. — Sev ponderou, porque era um conjunto complexo de boas e péssimas notícias.

— Sev, você precisa descobrir quem está por trás dessa merda de Hall! Não me faça ter que ir aí chutar umas bundas americanas! — Apontei irritado e ele me olhou com sua cara de pateta Potter de sempre.

— Vou cuidar disso, não foquei nisso antes porque estava enrolado com a visita à Hogwarts, mas deixa eu esclarecer minha opinião sobre o assunto: não acho que a gente deva abrir isso para as outras escolas, quero dizer, tudo que a gente não precisa é levar a desconfiança dos americanos para o restante do mundo. — Ele falou sensato e eu tive que concordar.

— Certo, vamos manter isso abafado. Tem algo mais a dizer sobre o assunto, Lily? — Ela estava olhando estranho para o irmão, então não pude deixar de perguntar. Ela fez que não com a cabeça. — Ok, essa notícia foi bem horrível mesmo, qual é a próxima? A tenebrosa, certo?

— Isso, a tenebrosa! — Pottinha se animou novamente e eu não sei de onde inferno ela tá tirando tanta empolgação! — Albus esteve em Hogwarts ontem e advinha: ninguém está trabalhando no conserto da escola!

— E não é só isso, meus caros, as estruturas estão exatamente do jeito que vocês a deixaram: estádio com a zona norte desmoronada, a floresta secreta com a borda toda queimada e nem os aurores estão se arriscando a ir lá dentro! — Katherine completou no seu programa fictício de TV, mas dessa vez eu estava muito preocupado para achar graça.

— Floresta Proibida, amiga, não secreta. — Lily consertou a americana, mas eu a cortei logo.

— Hogwarts não está sendo consertada? — Perguntei com gravidade para Sev, que me olhou igualmente sério.

— Não está e o Ministério está tratando o assunto com ultra sigilo, por isso eu não soube antes. —Ele justificou sua falha de espião, depois continuou, ainda incomodado. — Meu pai vinha mandando poucos aurores para o local, sempre os mesmos e eu achei que era porque a obra já estava acabando, mas ao que parece é o oposto, a obra nem começou e ele fez isso para evitar riscos desnecessários.

— Riscos? — Perguntei alarmado e ele confirmou com a cabeça.

— Até onde sabemos, Hogwarts havia se transformado em um sumidouro de magia, se ela não está sendo consertada, pode ser que ela ainda seja um. — Coloquei as mãos na cabeça com a notícia, porque isso não pode estar acontecendo! Sev continuou falando, porque ele não tem coração. — Não quis arriscar a minha magia ou a de Lexa e Cassie, então não fomos ver o laboratório de Bradbury, mas calma, não foi uma viagem perdida!

— Não me peça calma, não quando você me coloca ante a perspectiva de nunca mais poder pisar em Hogwarts! — Falei nervoso, porque as palavras de Lia estavam voltando para mim agora: o tempo da nossa geração em Hogwarts acabou. — Sev, o Ministério nos deu um prazo, eles prometeram que Hogwarts estaria pronta até o Natal!

— O Ministério obviamente prometeu algo que não estava no alcance deles, mas eles já corrigiram isso, mandando aquela carta com o adiamento da nossa volta. — Fiquei fazendo que não freneticamente com a cabeça, porque não quero acreditar nessa merda. Sev me olhou com pena. — Cesc, não adianta nada ficar desesperado, a gente tem que ser racionais agora!

— Você não entende, eu não aguento mais Beauxbatons! — Ok, estou sendo dramático, mas não deixa de ser verdade, porque chega um momento na viagem que tudo que você quer é voltar para o aconchego da sua casa! — Eu estava tolerando todas as idiotices e frescuras dos franceses, porque tinha em mente que isso era algo passageiro, mas se eu tiver que passar todos os meus anos escolares aqui... Eu vou acabar matando alguém!

— Calma, não mate ninguém ainda! A gente vai resolver isso! — Pottinha me disse colocando as mãos para frente, como se quisesse acalmar um touro bravo no meio das ruas de Sevilla via vídeo chamada. A olhei com irritação. — Você se lembra que me disse que nós do Ocaso não podíamos ajudar Hogwarts, que era melhor deixar nas mãos de quem entendia das coisas? Pois bem, eles falharam, então a gente...

— Não, nada disso, Lily! Não vamos nos meter com um sumidouro de magia, pode ir tirando o seu hipógrifo da chuva! — Albus a cortou sem paciência e ela o encarou com raiva. — O Ministério está tomando providências, eles chamaram os Dussel e seu tio djinn, Cesc e ele parecia muito certo de que tudo iria se resolver.

Ah não, eles meteram Erick na história?

— Como você sabe que ele está envolvido nisso? — Perguntei exasperado, quase arrancando minhas sobrancelhas de tanto que esfregava a testa para acalmar uma dor de cabeça que estava começando a aumentar.

— Porque ele, Heitor Dussel e aquela assistente sinistra dele estavam lá na escola e eles saíram de dentro do Castelo, sem medo algum, então eu confio bem mais neles do que nos covardes dos aurores de meu pai. — Sev falou com desdém dos pobres homens, se esquecendo que ele também não quis arriscar a magia dele lá em Hogwarts.

— Você só confia em Erick porque é um idiota! Ao menos você descobriu o que eles faziam lá? — Perguntei temeroso, porque era estranho ver esses três dando um passeio pelas ruínas da escola sem motivo aparente.

— Você acha mesmo que qualquer um deles iria me falar qualquer coisa? Mas pelo menos eles nos deram uma carona para Ikley Moor e de lá pudemos ir até o Ministério e então voltar para Ilvermorny em segurança. — Ele falou satisfeito, eu não sei porque, já que isso não nos serve de nada.

— E o que tem de bom nisso? Você tinha um trabalho a fazer e só voltou com mais um problema para a nossa conta! — Acusei só porque ainda estou bravo com toda essa coisa de Hogwarts, mas Sev continuou com seu sorrisinho de merda.

— Bem, tem de bom o fato de eu ter conseguido fazer o que seu namorado não conseguiu mesmo estando todos os dias no estádio da família dele: pus as mãos no bilhete de suicídio de Martin Haardy! — Ele anunciou orgulhoso e eu o olhei com impaciência, porque não era para ele estar tão feliz por ter lido um bilhete de suicídio! Severus precisa melhorar essa psicopatia dele antes de tentar entrar na minha família!

De doido já basta Erick!

— E daí? Obviamente não te deu nenhum senso de empatia, então não me parece que serviu de muita coisa. — Falei debochado e ele sorriu sarcasticamente para mim.

— Pois o bilhete tinha uma mensagem secreta de Martin, que Cassandra decifrou parte, o que a fez recuperar a memória roubada por Bradbury. — Ele anunciou com um sorriso perverso e eu franzi o cenho para a enormidade da informação.

A lacuna que essa memória perdida de Cassandra White pode preencher nas nossas teorias sobre o esquema de Bradbury é bem grande, então eu tenho que ir com calma nisso aí. Vamos ouvir o que meu futuro cunhado meliante tem a dizer.

— Ela lembrou de tudo? — Perguntei ansioso, porque tinha me lembrado que a última notícia era a pior de todas, segundo Lily, era a horripilante.

— Lembrou e... Não, não vou contar! Faça as honra, Lily! — Ele falou se divertindo malignamente com meu sofrimento e Lily também se mostrou igualmente perturbada. Ela tomou fôlego animada, mas depois olhou em dúvida para o irmão.

— Devo contar a notícia logo ou primeiro contextualizo para ele entender como a gente chegou a essa informação? — Ah, pelo amor de Morgana, Lily! Corta a enrolação.

— Como você preferir. — Sev falou satisfeito com o meu nervosismo e se ele estivesse aqui, eu teria dado um soco nele agora!

— Ok, então lá vai: Bradbury é na verdade Rabastan Lestrange. — Lily falou com empolgação e eu fiquei olhando para ela, sem reação. — É isso. Essa é a notícia horripilante, você não vai surtar?

— Como eu vou surtar por algo que não tem o menor cabimento e nem a menor chance de ser verdade? — Falei sincero e Sev olhou para as meninas com um olhar de... Sei lá, pena de mim?

— Ele está em choque, vamos ter que explicar com calma. — O tom de voz usado por ele e a condescendência de duas terceiranistas acenando sua concordância levaram a melhor sobre mim.

— PAREM DE SER IRRITANTES, EU NÃO ESTOU EM CHOQUE! — Lily e Katherine pularam em suas cadeiras com meu grito, depois olharam assustadas para Severus. — Vocês três não podem vir falando uma sandice dessas e esperar que eu acredite e entre em desespero! Isso foi baseado em quê? Na mirra mofada que vocês fumaram em um cachimbo de Salem? Me ajudem aqui, pessoal, eu trabalho com fatos!

— Ihhh, ele surtou... — Katherine falou fazendo uma careta e eu olhei para ela muito puto da minha existência.

— Você é novata, é estagiária, então fique quieta! Não quero ouvir mais nenhuma palavra vinda de você, estamos entendidos? — Ordenei do mesmo jeito que fazia com os pirralhos da minha escolinha, quando eles me tiravam do sério. A garota americana fez que sim com a cabeça, mas Lily resolveu tomar as dores dela.

— Não pode falar assim com Kath, você não... Mmhmgmmm! — Ela parou de falar assim que percebeu seus lábios selados magicamente. Olhou para o irmão e para a amiga, ambos fizeram caras de confusão para a situação.

Que orgulho, seu primeiro feitiço ábdito, sobrinho!

Meu o que? Ignorei a voz animada de Erick na minha cabeça e olhei para o meu polegar e indicador ainda parados na posição de estalar os dedos dentro da luvarinha. Depois olhei horrizado de volta para uma Lily que apontava acusatoriamente - e muda - para mim.

— Eu não fiz isso! — Me defendi como pude, mesmo soando incerto até para meus próprios ouvidos.

Soou incerto, porque você sabe que fez. Não se preocupe, a gente vai trabalhar melhor essa sua... Falta de noção mágica, pois algumas pessoas poderiam até pensar que você é perigoso, coisa que você não é. Ainda.

Erick, isso é algum tipo de pegadinha sua? Você está me transformando em alguma... Algum tipo de versão sua?

— Cesc, dá pra você, por favor, desfazer o feitiço que você fez remotamente em Lily? — Albus falou pausadamente, quase que do mesmo jeito que eu e John falamos com Erick naquela primeira vez na caverna de Uagadou.

Ele está falando comigo como se eu fosse a porra de um gênio da lâmpada!

Bem vindo ao meu mundo, sobrinho. Não se preocupe, eu cuido disso.

Eu não faço ideia do que está acontecendo aqui, mas pelo menos Lily voltou a abrir os lábios e respirar como se tivesse acabado de sair de debaixo d'água. Ela me olhou indignada, mas Sev falou antes dela.

— Obrigado. — Eu o encarei exasperado, porque esse tom de respeito forçado era absurdo.

— Olha... Isso foi sem querer, Lily, eu não estou nem certo se fui eu mesmo ou não que te calei, mas de qualquer forma, desculpa! Pode falar o quanto de besteira você quiser! — Falei com sinceridade, depois peguei a varinha oca para recolocar o disfarce da luvarinha, que havia escorregado.

— Obrigada, oh, Cesc, o magnânimo! — Ela falou irônica, depois cruzou os braços chateada. — Nunca mais faça isso comigo, entendeu?

— Ok, Lily, ele entendeu, agora cala a boquinha voluntariamente, vai! — Albus falou sem paciência para a irmã caçula, depois voltou a me olhar com seriedade. — A gente pode continuar a falar de Lestrange?

— Tá, fala aí. Me explica de onde White tirou essa ideia de que Bradbury na verdade é Lestrange disfarçado. — Falei conformado, até porque eu sei que Sev não ia tirar uma informação do nada.

Mas mesmo assim, ainda não estou disposto a acreditar que isso é verdade, pode ser só mais um palpite louco dele.

— Quando nós tivemos acesso ao bilhete de Martin, eu procurei por alguns padrões antigos que a gente, eu, ele, James, John, Hugh e outros amigos da época da creche do Ministério, usávamos nos nossos jogos. — Sev falou e eu só consegui pensar nesse lugar medonho cheios de filhotes de aurores, eww! — Um dos mais simples apareceu, ele usou o código das pausas.

— O que seria um código das pausas? — Perguntei, porque do jeito que Sev é prático, capaz dele nem querer se ater a essa explicação.

— É um código bobo que usa algum sinal de pontuação para mostrar quais letras formam a mensagem que você quer mandar. A gente até criava uma linguagem própria, com símbolos engraçados, mas para nos comunicarmos sem nossos pais saberem, com a mensagem na vista de todos, marcávamos a letra certa com uma vírgula ou um ponto em cartas disfarce e pronto.

— Tá e como você soube que era mesmo o tal código, o bilhete formou alguma frase relevante, tipo “Lestrange é o vilão”? — Perguntei cético e Albus me olhou sem paciência.

— Não, não formou uma frase certinha, o cara tava morrendo, precisava pensar em algo rápido, mas que ao mesmo tempo desse conta do recado. — Ah é, foi um bilhete de suicídio né? Albus sorriu maldosamente da minha culpa por ter sido tão leviano com a morte alheia. — Formou pelo menos uma palavra que a gente conseguiu reconhecer, corbeau, a outra, malair, a gente não sabe do que se trata.

— Malair... Essa palavra não existe, só se for uma gíria ou expressão, o Marduk não se atenta a vocabulário muito novo, mas parece francês também. Corbeau é bem óbvio o que é, significa corvo. — Falei didaticamente e Sev fez que sim com a cabeça.

— E qual família puro-sangue tem o corvo, em francês ainda por cima, como símbolo? — Ele lançou a pergunta, feliz porque já sabia que eu tinha lido o capítulo dos Lestrange no livro de Skeeter, então só tinha uma resposta para isso.

— É uma extrapolação muito grande se você deduziu que é Lestrange no corpo de Bradbury só por causa disso. — Falei cético, o fazendo respirar fundo para a minha teimosia.

— Não é só por isso, até porque eu nunca faria essa associação sozinho, tava mais fácil pensar que Martin estava falando da caixa, que pertencia a família corvo! — Ele falou exasperado e eu o olhei ainda não confiando no seu bom senso para interpretar as pistas. — De toda sorte, a gente já sabe que ele tinha alguma ideia sobre esse lance da troca de corpos, porque ele menciona isso no bilhete, mais para o final, lembra? Foi o que me chamou atenção para uma possível mensagem escondida aí.

— Não tive acesso ao bilhete completo, então... — Dei de ombros e ele me olhou com irritação.

— Estava na parte que você teve acesso, para de ficar com má vontade, porque isso não vai mudar os fatos! — Ele esbravejou e eu ri, sonso, porque era bem isso que eu estava tentando fazer. — Quem fez a conexão entre a palavra corvo e Lestrange foi Cassie, ela lembrou de tudo, porque esse é o patrono dela e era o do mentor dela, Bradbury, ou melhor, Lestrange no corpo dele! Esse era o segredo que a fez ser afastada de Hogwarts.

Ahhhh, isso sim, infelizmente, faz sentido.

— Hum. — Falei, porque né, é o que temos para hoje, mas Sev ficou me encarando, até aproximou o rosto do celular para me ver melhor.

— “Hum" o que, Cesc? Isso é tudo que você tem a dizer? — Ele perguntou indignado, mas antes de eu responder, Lily falou curiosa.

— Mais importante: você não vai surtar? — Ela perguntou como se surtar fosse algo que eu fizesse a toda hora, o que não é verdade. Aquele lance da boca dela grudada foi uma exceção.

— Na verdade não, quero dizer, não me entendam mal, saber que a gente está lidando com um criminoso do grau de Rabastan Lestrange, duas guerras, décadas em Azkaban por crimes como tortura e assassinato é realmente horripilante, mas de certa forma é bom, né? Agora pelo menos a gente sabe quem é!

Falei mais otimista do que realmente estou, porque eu sei que assim que eu deitar a cabeça no travesseiro hoje a noite eu vou ficar muito louco com todas as implicações dessa revelação.

— Sabemos? Quem é Rabastan Lestrange? Um terço do trio mais odioso da última guerra bruxa, um dos responsáveis por acabar com a vida dos avós de Frank e Sarah, um cara que odeia trouxas e nascidos-trouxas, alguém que...

— Não necessariamente, a gente conheceu um pouco desse cara em Hogwarts e ele não era exatamente assim. — Interrompi Sev, porque aquele Lestrange que ele estava descrevendo não parecia muito com o que nós conhecemos. — White disse que Lestrange já estava no corpo de Bradbury quando ela foi transferida, não foi?

— Isso, nós não fomos atrás dela ainda para conseguir os detalhes, mas está na minha lista de coisas a fazer ainda essa semana. Ela deu a entender que ele era o mentor dela, Lestrange, e quando ela descobriu isso, foi aí que ele a mandou para os Estados Unidos. — Sev explicou e eu franzi ainda mais o cenho, porque tinha algo ali que não se encaixava.

— Estranho... Eu e Fred já tínhamos descartado a possibilidade de Lestrange ter algo a ver com a caixa logo que descobrimos que ela pertencia a família dele, pelo simples fato do cara só ter fugido de Azkaban no verão do ano passado, em 2020! — Eu comecei, tentando ajustar a cronologia dos fatos. — Bradbury usou a caixa para fugir alguns meses antes disso e orientou White ainda mais para trás no tempo, no nosso segundo ano, entre 2018 e 2019!

— Ele tem razão, Albus, não tem como Lestrange ser Bradbury, se quando ele fugiu todos os eventos que fizeram dele o vilão da profecia, mentor de Cassandra e tudo mais já haviam acontecido! — Lily falou olhando diretamente para o irmão, então virou de supetão ao ver Katherine levantar a mão, pedindo a palavra. — Pode falar, não precisa disso não, Kath.

A americana me olhou com receio e eu revirei os olhos, com impaciência, porque é ruim quando os pirralhos não me obedecem, mas é ainda pior quando eles obedecem.

— Pode falar, Katherine, não precisa pedir permissão. — Acrescentei, mesmo a fala de Lily já sendo o suficiente. Ela umedeceu os lábios com certo nervosismo antes de falar.

— Eu não conheço muito de Bradbury ou Lestrange, então tive que dar uma olhada mais detalhada nas informações que temos sobre eles, para poder anunciar a notícia horripilante junto com Lily. — Ela falou, se justificando antes mesmo de explicar seu acréscimo a discussão.

— Ok e o que  você achou nesses estudos? — Perguntei com calma, para incentiva-la, porque a menina devia estar com a pior impressão sobre mim possível.

— Há uma parte da história que a gente juntou que é um pouco mais confusa do que as outras e eu acho que a troca de corpos nesse momento explica o porquê. — Ela falou cautelosa, mas Sev a incentivou a falar com um aceno de cabeça breve. — A mudança brusca de profissão, de pesquisador para professor, acho que foi aí que um assumiu a vida do outro.

Oi?

— Isso meio que faz sentido... Quero dizer, a gente nunca soube exatamente o que fez Bradbury largar os estudos em Azkaban. — Sev falou, mas eu ainda estou tentando acompanhar o raciocínio.

— Mas como... Por que Bradbury, o real, iria tentar usar a caixa para trocar de corpo com um prisioneiro? Sim, porque não tem como Lestrange ter tido acesso a caixa sozinho nessa época, ele não poderia ter sido o cabeça da troca! — Eu falei, não tentando negar a hipótese de Katherine, mas sim aprofundar a discussão.

— Acho que talvez a gente nunca descubra todos os “comos” e “porquês”, porque só Bradbury, Lestrange e o irmão morto de Bella Thompson sabem a verdade do que realmente aconteceu. — Lily falou e trouxe de volta mais um nome importante, mas ela pareceu não notar. — Acho que a gente tem que focar no que Kath disse, no fato de que Bradbury largou a pesquisa importante e patrocinada dele e foi ensinar crianças, o que, querendo ou não, é mais fácil do que reinventar a pólvora!

— Sim, se Lestrange ganha um novo corpo, com um futuro promissor pela frente, faz sentido que ele saia de uma área muito específica de Poções e vá para outra onde o conhecimento básico e algum tempo de estudo possa lhe dar uma carreira segura. Com o currículo de Bradbury, não deve ter sido difícil conseguir uma vaga lá na escola.

Sev complementou o raciocínio de Lily e embora eu concorde com tudo isso, eu tenho que retomar um ponto que está me incomodando.

— Tá, eu concordo com o raciocínio, mas volto a ponta solta ainda não respondida na nossa teoria: qual é o papel de Thompson nisso tudo? Ele trabalha para os Dussel, ele tem um estudo de Poções e cicatrizes espaciais e um monte de coisa genial demais para a gente acompanhar... O que diabos esse homem fez para ser assassinado? Será que tem a ver com a troca de corpos efetivamente? — Perguntei para mim mesmo e para quem quiser responder, porque acho que esse é o tipo de pergunta que, se respondida, nos colocaria no caminho certo.

— É uma pena que ele tenha morrido há dez anos, se fosse mais recente... Alguns feitiços conseguem remontar cenas de algumas horas e até mesmo de dias atrás a partir de objetos encontrados no lugar. — Lily falou como a boa filha de auror que é, mas deu de ombros para a impossibilidade da coisa. — Mas dez anos é complicado mesmo.

— Seria bom ter um feitiço desses... Mas talvez a gente não devesse ver um cara sendo assassinado com todos os detalhes sangrentos. Enfim, vamos focar no que a gente tem, o que já é bem ruim por si só. — Respirei fundo antes de explanar o resto das minhas conclusões. — Se Katherine estiver certa quanto ao momento da troca corpórea e eu acho que está, é possível que a gente nunca tenha conhecido o Bradbury real. O que isso significa no plano geral das coisas?

Deixei que todos absorvessem a enormidade da minha pergunta. Todos os anos em Hogwarts, todas as broncas, tiradas sarcásticas, testes surpresas e provas cruéis de Poções, tudo, até mesmo o trambique no Quadribol e a morte de Haardy e Dolman, absolutamente tudo foi feito por Rabastan Lestrange.

Inclusive o roubo das minhas memórias.

— Eu... Ainda não tinha parado para pensar nisso. — Sev murmurou chocado, como todos nós deveríamos estar e completou o raciocínio com uma careta. — Eu não acredito que eu enrolei na prova de um ex-comensal da morte, que eu o cumprimentei, que eu... Todo esse tempo e a gente estava dividindo o mesmo teto com um assassino, um torturador!

— Ai meu Merlin, ele podia ter me matado! — Lily falou com horror, colocando as duas mãos no rosto. — Ele odiou meus apontamentos sobre poções solventes!

Eu tive que rir, mesmo sendo uma coisa séria e de todos aqui, eu ter sido o que ficou mais perto desse lado sombrio do homem, afinal, eu e Romeo tivemos nossas memórias apagadas sem dó, nem piedade por ele.

— Ok, gente, acho que estamos perdendo o foco. Sim, Kath, não precisa levantar a mão sempre que você for falar. — Eu sorri para ela e ela abaixou a mão, tímida.

— Tem uma coisa importante que Lily falou e que eu acho que poderia ajudar bastante. — Ela falou, então olhou para amiga, antes de olhar novamente para mim através da câmera. — Ela disse que só três pessoas sabem realmente o que aconteceu e isso é importante para a gente achar um jeito de acabar com a profecia, então isso nos deixa com um vilão, um morto propriamente dito e um... Fugitivo, que poderia, talvez, ser encontrado.

Meu Merlin, ela tem razão!

— Sim, o terceiro é o Bradbury verdadeiro, que conseguiu escapar dos aurores a caminho de Olhoaren! — Eu falei empolgado, porque Katherine é a garota mais esperta do mundo todo. — Se a gente encontrar o Bradbury verdadeiro, a gente acha finalmente uma pessoa que pode nos ajudar a encontrar um meio de deter Lestrange e cumprir a profecia!

— Calma lá, pessoal! Inocente ou não, Bradbury ainda está no corpo de Lestrange e é procurado em toda a Grã-Bretanha como tal. Como a gente vai achar ele, coisa que nem mesmo os aurores conseguiram fazer? — Sev perguntou exasperado com a minha arrogância, parecida com a de Lily ao achar que pode consertar Hogwarts sozinha.

— Mas a gente sabe algo que os aurores não sabem. — Ela mesma, Lily, a otimista arrogante, falou e sorriu para o irmão ao ver sua expressão de desentendimento. — A gente sabe que Lestrange não é Lestrange e isso deve mudar bastante as coisas a nosso favor.

— Muda tudo, Lily tem razão. — Sorri animado com isso. Olha, não esperava ficar tão feliz em descobrir que estou lidando com um ex-comensal da morte perigosíssimo, mas cá estamos nós, como o mundo dá voltas! — Talvez a gente consiga algum rastro dele, pelo simples fato de que a gente sabe que tem algo que Michael Bradbury quer acima de qualquer coisa no mundo todo: provar sua inocência e conseguir sua vida de volta!

Todos me olharam refletindo sobre o que eu havia acabado de dizer e um a um foram chegando no mesmo entendimento que eu: a gente não precisa caçar diretamente o perigoso Lestrange, porque um dos ditados mais velhos do mundo se aplica perfeitamente a nossa causa nesse exato momento:

O inimigo do meu inimigo é meu amigo.

Sim, meus caros, que comece a busca ao prisioneiro de Azkaban.


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Notas finais do capítulo

Olha como tá esse menino, gente! Não está nem abalado com a descoberta de Lestrange, perdeu o medo de morrer de vez... Então, que caminhos vocês acham que os iconoclastas devem percorrer para achar o prisioneiro (infelizmente não é Sirius Black)? Acham que essa é uma boa ideia?

Bjuxxx



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