Hogwarts: uma outra história escrita por LC_Pena


Capítulo 142
Capítulo 142. Para os rebeldes, a prisão


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo não está tão bom quanto o 23 de Além do Castelo, mas dá para o gasto.

Não sabe qual é o capítulo 23? Aparentemente é o melhor de todos, acabando aqui, vão lá ler ele!

Recaptulando HOH:

— Os iconoclastas de Beauxbatons descobriram incongruências na administração da escola;
— Eles divulgaram as informações em uma reunião e no Ocaso mundi;
— Foram na casa de Carl Dolus e descobriram algumas pistas, que levaram Scorp a Rússia;
— Descobriram sobre a pesquisa de Bradbury e uma ligação com os FerrZ e os Dussel;
— A pesquisa de Bradbury leva a Azkaban e possivelmente a Lestrange;

Acho que é só.



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Eu e Fred estávamos sentados no meu querido carrinho mágico, assistindo nossos não tão queridos colegas se amontoarem na frente do setor da coordenação da escola. Meu caro amigo grifinório me passou um daqueles caramelos de manteiga salgada em que ele havia investido parte de sua mesada e nós continuamos assistindo ao fruto do nosso trabalho.

— Acha que devemos intervir? Às vezes me sinto culpado por ser tão diabolicamente bom em suscitar a treta no coração das pessoas. — Falei entre uma mastigada e outra, mas Fred levou seu tempo para apreciar o doce com aquele leve sabor de sal amanteigado antes de me responder.

— Não. — Ele sugou o dente para descolar o grude do doce dos molares, porque pelo visto a aula de Etiqueta já estava surtindo um ótimo resultado na vida dele. — Embora a gente tenha que furar a greve, o que me deixa muito chateado, de verdade.

— É uma droga, mas o orientador pedagógico ameaçou nos tirar o fim de semana e Deus sabe que a gente precisa de qualquer minuto possível longe daqui. — Falei me espreguiçando, saindo do carro e colocando meus óculos escuros contra o sol sempre radiante do céu enfeitiçado de Beauxbatons. Fred seguiu meu exemplo.

— Devia ser para descanso, mas o treinamento básico do estágio vai ser no sábado a tarde e a visita a A-Z-K-A-B-A-N pela manhã, então nada de moleza para mim. — Ele falou pesaroso e eu o encarei sem paciência.

— Pra que essa soletração de abelhinha? Você às vezes se parece com Albus, cheio de disfarce que não disfarça nada. — Falei sem paciência com Segundo, que sorriu antes de comer mais um caramelo. Apontei para Leiris ao longe discutindo algo com Gomes. — Vamos perguntar ao rei vampiro ali como andam as coisas e depois seguir direto para a aula, senhor da soletração. Sem tempo a perder hoje!

Nos aproximamos atentos ao humor de nossos colegas franceses e a maioria parecia comprometida o suficiente com a causa, a ponto das ameaças do orientador pedagógico com a suspensão do final de semana fora não surtirem efeito.

Alguns mais rebeldes já estavam até sentados no chão, enfeitiçando faixas pedindo... A cabeça do coordenador de esporte e cultura em uma bandeja de prata?

— Sebastian, obviamente a reivindicação de vocês está saindo do controle em um ritmo alarmante! — Apontei para o boneco com o terninho de risca de giz característico do suposto funcionário corrupto queimando e requeimando em chamas azuis como o brasão da escola. O esgrimista olhou para tudo com um interesse distante. — Você vai tomar alguma providência?

Segundo havia se afastado para conversar alguma coisa com Louise, que enfeitiçava uma revoada de algemas feitas de pergaminho, voando como pássaros vingadores atrás de bandidos para jogar atrás das grades. O pessoal está bastante criativo hoje, isso não dá para negar.

— Já falei para a equipe de esgrima voltar às aulas, mas foi mais uma sugestão do que ordem, vou fingir que não vi essa rebelião, se eles compareceram no treino mais tarde. — Ele deu de ombros pouco abalado com o caos implantado no corredor. — Podem faltar aulas, mas não aos treinos!

Ok, então. Aparentemente estou diante de um homem com prioridades bem definidas. Assistimos a agonia do boneco/professor por mais alguns segundos antes de tomarmos o caminho da classe de Etiqueta. Olhei para Sebastian com uma dose extra de respeito.

— Vocês franceses são bastante elegantes, mas quando se estressam... Fico feliz de não ser o inimigo da vez. — Falei com diversão e Fred se aproximou como quem não quer nada.

— Toda vez que os franceses traçam um alvo, sai da frente, porque... Estão sentindo esse cheiro? — Fred se interrompeu para fungar o ar e eu e Sebastian o imitamos, porque tinha cheiro de coisa queimada, dessa vez algo bem longe do fogo azul de mentirinha. — Ah sim, nas revoluções recentes na França, o povo sempre toca fogo... Em carros.

NÃO!

Me virei horrorizado para o lugar onde tinha estacionado meu lindo presente, já imaginando ter sido uma das vítimas dos efeitos colaterais da paralização misturada com uma inveja deslavada de alguns colegas sobre o meu veículo, mas no lugar da cena de filme de terror, encontrei minha irmã odienta queimando um papelzinho com a ponta da varinha.

Fred e ela riram feito hienas, eles armaram para mim!

— Que tipo de monstros fingem que queimaram um carro? — Falei com a mão no coração, porque a dor que eu estava sentido bem poderia ser um infarto. Fui traído! — Não se finge um incêndio de carros na França, o medo é muito real para isso!

— Com incêndios não se brinca, qualquer coisa pode virar uma ideia, um estopim. — Sebastian alertou, depois sorriu, prendendo os lábios. — Mas admito que teria sido bom ver seu carro ridículo pegando fogo.

— Nossa, quanta inveja! Vocês nem disfarçam mais, vou até mandar benzer o pobrezinho! — Não benzi ele, mas enfiei a mão pela janela aberta para ativar o feitiço furtivo com a luvarinha, camuflando ele com a paisagem.

— Quem está descendo para o inferno de tobofogo não pode pedir para benzer nada! — Minha irmã cretina falou isso, então soprou as cinzas do pergaminho para mim. A fuzilei com o olhar e dei as costas para ir para a classe. — Hey! Aonde é que vocês vão?

— Estudar, ué! A professora hoje vai passar uma lista com os...

— VOCÊS ESTÃO FURANDO A GREVE? — A estúpida da Louise gritou horrorizada, mas poderia ter gritado “CÉREBRO FRESCO" no meio de zumbies, que o resultado teria sido o mesmo.

Maldita!

— Senhores, se não quiserem sentir a verdadeira fúria dos franceses, eu sugiro que corram. — Sebastian disse isso com bastante dignidade, mas depois saiu correndo mais rápido que um foguete soviético.

Eu e Fred nos entreolhamos e eu admito, senti saudade de Scorp ao ver um loiro pálido correndo e me largando para a morte... Saudades das minhas aventuras em Hogwarts!

Mas a saudade durou pouco, porque não ficamos lá para deixar os grevistas nos amarraram nas colunas da frente da coordenação como exemplo, corremos e chegamos a tempo de sermos escrutinados por um Beaumont pouco amistoso, no lugar disso.

— Confesso que estou surpreso em vê-los aqui, sendo vocês tão cheios de... Ideias. — Ele pronunciou ideia como se fosse uma coisa podre, Fred até confirmou se havia entendido a palavra corretamente, para vocês entenderem o nível do entojo do irmão de Anne.

— Onde está o resto da turma? — Fiz a pergunta mais cínica de todas, porque eu sei muito bem onde estavam, mas a surpresa era meio que real: só estava eu, Fred, Beaumont, Leiris e Gomes na classe.

— O resto da turma está encrencado, mas não se aborreçam, vocês acabaram de ganhar uma oportunidade de ter uma aula praticamente particular! — A professora, surgida das nossas costas como um encosto, falou isso como se fosse uma coisa boa, então eu mordi a língua para não responder uma besteira.

É tão ruim precisar ser uma pessoa bem comportada... Não recomendo.

No fim das contas, a aula de Etiqueta praticamente particular foi tão ruim quanto pensamos que seria, talvez até pior pelo mal humor com que Fred saiu de lá, mas pelo menos o restante das aulas foram suspensas para uma reunião extraordinária de professores.

Finalmente, senhores e senhoras!

Vamos deixar bem claro que chegamos a essa situação somente porque a indignação e as provas formais de que havia algo errado na gestão do atual coordenador de esporte e cultura foram se acumulando e ele não é exatamente o cara mais querido da escola, principalmente se você for parar para pensar que os investimentos de esporte vão todos para a esgrima e o de cultura para o ballet e só.

Claro que o Ocaso deu aquele pontapé inicial na confusão toda, mas a corriqueira zumbisisse dos gestores dessa adorável escola francesa contribuiu e muito para a proporção que as coisas tomaram nesses últimos dias.

Mas voltemos para minha situação, porque a verdade é que eu adoraria mesmo estar ajudando com as manifestações, mas, a pedido de Enrique, me mantive fora dos protestos para ganhar o meu direito de sair da escola nos finais de semana.

De quebra, ainda vou ajudar a tirar a atenção dos professores de cima dos alunos de Hogwarts em geral, afinal, estamos aqui na condição de visitantes, não é? Então, o que é que eu estou fazendo com meu tempo livre de fura-greve? Vocês devem estar se perguntando.

Bem, podia estar estudando para os NOM, mas ao invés disso estou fazendo uma coisa útil, porque eu faço isso de vez em quando: estou estudando o feitiço da pena de repetição rápida que Louise aprendeu, para ver se consigo aplicar um feitiço identificador nela, assim, quando um iconoclasta falar, a pena irá reproduzir a caligrafia de quem está falando para aqueles que não tem tecnologia trouxa ainda.

Já Fred, ao invés de estar estudando para os NIEM dele, estava desenhando alguns itens que estão faltando no nosso quadro de investigação fodástico: a sede dos FerrZ, a cara sem noção de Lia e os fantasmas possivelmente assassinados, Haardy e Dolman.

Falando nisso, embora eu tenha concordado com Segundo de que até o mínimo detalhe conta, não sei se me sinto confortável com essa linha de raciocínio de Sev, de que Bradbury foi capaz de matar dois adolescentes e tudo mais, quero dizer, assassinato é algo muito mais pesado do que uma corrupção ou venda ilegal de produtos, não é?

Faz sentido, lógico, mas trabalhar nessa hipótese transforma o problema em algo acima da nossa liga, digo, por mais espertos que os iconoclastas sejam, ainda somos um bando de crianças ranhentas aos olhos da sociedade e, no meu caso, uma criança ranhenta e problemática.

Fred me olhou e eu soube que eu estava fazendo alguma cara esquisita, que ele obviamente iria fazer questão de me deixar saber qual, então só esperei para ouvir a asneira que ele iria falar dessa vez.

— Primeiro estágio da doença sarapintose ou está tentando pensar? — Ele falou enquanto se espreguiçava, então achei melhor ser direto em minhas dúvidas, até porque vai ser legal ver ele se sentir culpado por não pensar nas consequências de nossas “aventuras", como este sonserino responsável aqui.

— Na verdade estou apenas morrendo de medo de encarar um assassino dessa vez. — Falei tranquilamente e coloquei a pena que estava tentando enfeitiçar de volta na mesa da sala de estudo. Ele me olhou com seriedade. — Talvez essa seja a hora que a gente deva levar as nossas suspeitas para as autoridades, tipo o seu tio Potter. O que acha?

— Nós não temos provas, não temos... Não temos quase nada, para ser sincero. — Fred pegou a pena que estava usando para desenhar e a encarou distraído. — E se for algo relacionado a uma profecia mesmo, tio Harry é a última pessoa que devemos acionar, porque ele sabe muito bem que sermos jovens não vai mudar nada, a gente vai ter que fazer o que tiver que ser feito.

— Não tem que ser sobre nós...

— Talvez não sobre a gente, mas e se for sobre Bella, por exemplo? Talvez não seja sobre você, mas com certeza é sobre mim e Anne, que nos metemos com a caixinha ou com Tony, se envolvendo com os FerrZ ou... — Ele parou de falar e eu o encarei incomodado, porque talvez não fosse sobre mim, pela primeira vez na história, mas era sobre pessoas com quem eu me importava, então dava no mesmo. — Não vou julgar se você quiser pular fora, mas precisa fazer isso logo, para a gente saber com quem podemos contar.

— Não seja ridículo, Segundo, não vou pular fora, só estou dizendo que... Isso não é um jogo. — Eu falei apontando para os desenhos dele, que logo tomariam forma e ganhariam contornos cada vez mais detalhados e sombrios. — Vamos visitar Azkaban e temos que lidar com a possibilidade de que Haardy e Dolman talvez tenham sido mortos fazendo a exata coisa que estamos fazendo agora. Por que teremos sucesso onde eles falharam?

Fred estava prestes a me responder, quando parou para ler algo surgindo no pergaminho em que estivera desenhando nos últimos vinte minutos. Me inclinei para ver quem estava falando, mas Fred me informou, para me poupar do trabalho de tentar decifrar a letra de cabeça para baixo.

— É Malfoy. — Ele continuou lendo e eu esperei até que ele entendesse tudo e me fizesse um resumo, não estava afim de me empoleirar no ombro dele. — Ele disse que vai enviar um relatório completo amanhã no final do dia, mas adiantou que conseguiu dar um jeito de ir na escola russa ver o que Dolus está aprontando por lá.

— Merda, tinha esquecido disso. Espero que Scorp não se arrisque muito. — Maneei a cabeça com desgosto, porque pior do que ter que ir fazer uma merda colossal, era ver alguém certinho como Scorp se metendo em encrencas em outro país!

— Ainda acha que não é sobre nós? Dolus esteve na nossa escola, deu um jeito de Aizemberg nos chamar lá em seu circo. Nós, o Ocaso! Isso sem falar da idas suspeitas dele a Uagadou. — Fred bateu na mesa irritado e eu agradeço por estarmos sozinhos, porque se não isso teria sido muito suspeito. — Daí a gente descobre que há a possibilidade do dono anterior da caixa ser francês e você quer que eu acredite que tudo não passa de coincidência? Cesc, eu vim para a França atrás de um impostor, quando na verdade a caixa me fez vir até o dono dela!

— Ou a caixa... — Eu parei de falar, a mente indo para milhões de lugares diferentes. — Ou a caixa esteve nos avisando esse tempo todo que o francês é o impostor, não o dono dela!

Fred parou para me olhar, então para os desenhos de Dolman, Haardy e a sede dos FerrZ. Ele apontou para o lugar na América do Sul, com aquela energia nervosa dele e um sorriso de maníaco surgindo em seu rosto.

— Sim, mas é óbvio! Como não vimos antes? O melhor de tudo é que já sabemos quem ele é na verdade e como ele se conecta a nós, Cesc, sabemos tudo! — Fred riu como um louco e eu tô meio assustado, porque eu até que achei que estava acompanhando o raciocínio no começo, mas agora tenho minhas dúvidas. — A gente já tem a história toda nas mãos, tá tudo aqui!

— Mas quem exatamente seria o nosso cara? Você acha que é... — Comecei, com muito medo da confirmação. Sim, amiguinhos, chegou o dia em que eu finalmente tenho medo de estar sempre certo!

— Bradbury! Só pode ser ele! Veja bem, nós do Ocaso temos uma história inacabada com ele, todos de Hogwarts tem, porque ele literalmente fugiu da escola bem debaixo de nossos narizes, sem pagar por suas merdas!— Ele falou empolgado e aquela sensação ruim que me atinge toda vez que eu penso nesse cara apareceu novamente.

— Acho que você está colocando os testrálios na frente da carruagem de novo, porque a opção certa não necessariamente precisa ser a primeira coisa que a gente acha que é. — Minha tentativa de ponderação soou fraca até para os meus próprios ouvidos, imagina para os de Fred, que estava mais do que convencido de sua linha de raciocínio.

— Depois do que Tony disse, toda a história fecha: Bradbury usou a caixa para escapar de Hogwarts no corpo de Dolus, a gente só precisa que Scorp encontre alguma evidência que sustente isso! E antes, ele estava lá na escola se escondendo dos FerrZ e nós, no caso, vocês da Sonserina, desmascararam ele. — Fred falou como se estivesse vendo a final da copa do mundo de Quadribol e eu fiz uma careta sofrida. — Ele deve ter dado um jeito de pegar a caixa dos Lestrange quando trabalhou em Azkaban, usou o corpo de Dolus para fugir da justiça e até que tentou pegar a caixa de volta em Uagadou, mas não conseguiu.

— Espera, de onde você tirou essas merdas todas? Onde ele pegou o corpo de Dolus? O que ele fazia em Uagadou? Ou em Koldovstoretz? Ou... Como ele conseguiu falar com Lestrange, para início de conversa? Pelo que Skeeter disse em seu livro, o comensal esteve isolado na ala de segurança máxima de Azkaban, sem contato com o mundo exterior por 20 anos, até o dia em que foi transferido para Olhoaren e fugiu. — Eu questionei tentando colocar juízo na cabeça de Fred, mas ele sorriu ainda mais vitorioso.

— Lestrange fugiu. — Ele apontou convencido e eu fiz minha melhor expressão de desentendimento. — Bradbury deu um jeito de negociar a caixa pela liberdade de Lestrange, foi assim que ele a conseguiu!

— Não sabemos disso. — Tentei, mas Fred estava irredutível. — Você hoje está atirando mais do que uma metralhadora desgovernada! Não. Sabemos. De. Nada. Disso.

— Mas vamos saber, assim que formos a Azkaban amanhã! — Ele falou animado, como se estivéssemos planejando um piquenique no campo e não a ida para um dos piores cenários de toda a Europa!

Por que os grifinórios nunca tentam ser razoáveis?

— E quanto a Uagadou e Koldovstoretz? — Falei o nome da segunda escola com facilidade, o Marduk de alguma forma havia gravado esse xingamento russo só para jogar na cara de Fred agora. — Por que Bradbury, supostamente no corpo de Dolus, ainda vai para escolas e o mais importante: como ele consegue sustentar a transformação por tanto tempo? Tá vendo que isso não faz sentido, Fred?

Isso deu algo para ele pensar, mas eu não estou exatamente satisfeito, porque eu também ganhei muito o que pensar: Bradbury passou de um “o que ele está fazendo nessa história toda?” para um “principal suspeito, sem sombras de dúvida” muito rápido e isso não me agrada nada, nada, porque me coloca em uma posição muito desconfortável nessa história.

Ele foi um inimigo direto meu e não da para simplesmente ignorar isso.

— Eu não sei qual é o problema dele com escolas, talvez ele queira... Eu sei lá, podemos ficar vigilantes quanto a isso: na escola em que ele estiver, a gente tem que estar também. — Fred falou ansioso e depois deu de ombros. — A profecia disse que nós temos igual poder, então talvez seja isso, podemos estar em qualquer lugar que ele esteja, como sombras!

— Que péssima escolha de palavras, eu não quero estar em nenhum lugar perto desse cara e, digamos que você esteja certo e a gente tenha finalmente descoberto o rosto por trás da profecia, ainda não sabemos o mais importante, que é como detê-lo. — Fui enfático e Fred acenou afirmativamente.

— Você está certo, isso é definitivamente o mais importante. — Ele juntou os desenhos e então me olhou nos olhos, determinado. — É por isso que vamos para Azkaban e Albus vai investigar o suposto laboratório secreto dele em Hogwarts, porque isso pode nos dar mais respostas!

Ponderei os planos com grandes chances de dar merda, mas quer saber? Que se foda, não parece que temos muita chance de escapar do destino quando se trata de profecias. Não consegui escapar do plano de Erick, quanto mais dos planos do mundo!

— E quanto a transformação? Como Bradbury consegue ficar tanto tempo no corpo de Carl Dolus? Você e Anne só conseguem ficar o tempo equivalente ao número de vezes que giram a chave da caixa, certo? — Eu lembrei e Fred fez que sim com a cabeça, cada vez menos seguro dos nossos avanços. Um passo para frente e dois para trás, como tem que ser! Ele refletiu um pouco, mas depois sua expressão mudou completamente.

— Quando eu encontrei a caixa, ela estava quebrada ou talvez... Ele a tivesse danificado de propósito! — Ele falou como se tivesse acabado de descobrir a pólvora novamente e eu me joguei de volta na cadeira, porque esse cara não tem salvação. — Sim, só pode ser isso!

— Mas danificar a caixa de propósito seria o mesmo que abandonar o próprio corpo para sempre! Que tipo de pessoa faria isso? — Eu perguntei horrorizado e Fred me olhou com uma expressão indecifrável.

— Se o corpo estiver comprometido, for procurado pelos aurores e pelos ex patrões mafiosos... Talvez não seja exatamente uma má ideia. — Ele disse e eu ainda estava tendo muita dificuldade para lidar com a hipótese, admito.

— Não, Fred, estamos falando de abandonar o corpo com o qual você nasceu e... É uma parte sua que não... Isso é completamente abominável! — Eu falei exasperado e Fred parecia concordar, embora talvez até fosse capaz de fazer algo assim, se fosse necessário. — A gente vai mesmo colocar ele nessa categoria de gente? Não liga para a vida dos outros, não liga nem para a dele... Que tipo de ser humano é esse com quem a gente está lidando agora?

— Não surte, a gente não precisa descer tão fundo na mente dele para derrotá-lo. — Lá vem esse estúpido discurso grifinório corajoso demais para ser sensato. — Confesso que me inquieta não saber a verdadeira motivação dele, mas ao que tudo indica, Bradbury eliminou as pontes do passado, Dolman e Haardy e agora está fazendo uma nova trajetória. Saber para onde ele está indo nos ajudaria a descobrir como impedi-lo.

— Não dá para saber se é uma trajetória nova ou se ele está em busca de vingança. — Falei sem emoção, meio que anestesiado pela simples hipótese. — Se for esse o caso, eu, Enrique, Romeo, James... Nenhum de nós está seguro de verdade, enquanto ele estiver solto.

— James? Por que James? — Dessa vez consegui deixar Fred confuso, o que de certa forma me deu uma satisfação mórbida, estava cansado dele todo animado com a perspectiva de enfrentar um cara terrível como esse Bradbury novo que estamos pintando.

— James foi o responsável pela poção de Haardy ter sido tomada pela própria Corvinal na armação dele, o que fez Bradbury ser desmascarado, acho até que isso foi dito no Ocaso da época... Mesmo que não tenha sido, Haardy sabia e ao que parece, Bradbury foi a última pessoa que esteve com ele em vida ou seja, nem mesmo seu primo James está seguro. — Falei e dei de ombros, talvez assim Fred me desse ouvidos e concordasse com a ideia de falar com um adulto.

— Isso não muda nada, James ou você ou até mesmo Enrique e Habermas... Se não é seguro para um, não é seguro para todos. Para mim essa é uma motivação ainda maior para não dar ouvidos aos nossos medos e apenas fazer o que tem que ser feito. — Ele falou com convicção e eu odiei ainda mais ele e sua alma obviamente Grifinória.

Por mais genial que seja, Fred não tem como negar as raízes, nunca teria sido um bom Corvinal.

— Que seria?

— Ir até Azkaban, descobrir que tipo de cara Bradbury realmente é e então tomar o controle das mãos dele em seu próprio jogo. — Concordei com ele, mas Fred ainda não tinha acabado. — O objetivo dele agora pode ser viver em uma casinha nas Bahamas ou ser um pastor de ovelhas na Irlanda, eu não dou a mínima! Ele roubou vidas, de mais jeitos do que deveria ser possível fazer e nós só vamos parar quando ele estiver pagando por isso, de acordo?

Ew, Deus, socorro, um juramento corajoso, eu não mereço isso!

— Sim, claro. — Falei a contragosto, com uma careta de nojo para essa grifinorice. — Supondo que tudo aí que você disse não seja simplesmente uma merda de hipogrifo sem fim.

Espero que um dia isso tudo vire uma história divertida para contar para as crianças, algo tipo “teve uma vez que eu e meus amigos achávamos que teríamos que derrotar um grande vilão...” e não algo macabro como “Fred Weasley Segundo foi um dos caras mais corajosos que eu conheci, uma lástima que tenha morrido tão cedo".

Mas eu saindo vivo, acho que não me importo tanto assim com o desfecho, se quer saber.

***

No final do jantar foi divulgada as listas de quem poderia sair da escola nos murais de cada dormitório. O pessoal do Depaysér, um bando de sem noção, já sabia que a do nosso grupo seria bem curtinha e com apenas o meu nome, o de Fred, os das monitoras e o de uma ou outra pessoa que ninguém se importa, todos nos olharam feio.

— Fred tem estágio e eu tenho um namorado que não estuda aqui, a gente ajudou como deu e pronto, não vou me sacrificar nem mais um pouquinho por vocês, seus ingratos! — Me defendi como pude, assim que terminei de ler meu nome no quadro. Uma garota do terceiro ano iniciou uma vaia, mas antes que o som ganhasse corpo, Louise pediu para ela se acalmar.

— Cesc tem razão, eu sei que soa egoísta da parte dele e de Fred não participarem do movimento, mas nós respeitamos as escolhas dos nossos colegas, ainda que sejam as erradas. — Ela falou e eu a encarei sem paciência. — Okay, okay, não erradas, mas diferentes.

— Mas dissidentes enfraquecem o movimento, todo mundo sabe disso. — O meu vizinho de cama da Lufa-lufa, que nem o Marduk se deu ao trabalho de decorar o nome, falou com sentimento e eu o encarei com vontade de matá-lo.

— Sim, mas Fred e Cesc não são realmente dissidentes, eles me ajudaram a descobrir tudo que deu início ao movimento e eles realmente precisam sair de Beauxbatons, tem coisas muito importantes para fazer lá fora. — Louise ponderou e algumas pessoas até aceitaram sua explicação, mas outras só a encararam indignados.

— Importante tipo dar uns beijinhos no namorado e descolar um emprego? — A terceiranista falou de novo com deboche e depois complementou com raiva. — Todos aqui estamos fazendo sacrifícios, mas só os pobrezinhos tem carta branca para fugir da responsabilidade?

Ah, ok, com deboche e raiva eu já estou acostumado e sei lidar.

— Vamos deixar claro uma coisa, menininha: eu não dou “beijinhos", eu dou beijos e faço sexo de verdade, ok? E Fred não tá atrás de emprego, ele tá indo aprimorar as habilidades geniais dele, para quando ele estiver ganhando a ordem de Merlin por serviços prestados a comunidade, gente como você estará espumando de inveja. — Comecei, mas Fred me parou com um toque no ombro.

— Assim você não está ajudando...

— Como assim não estou ajudando? O que há de errado com essas pessoas? O que há de errado com vocês? — Parei de responder a Fred para apontar para meus colegas reunidos no salão principal do Depaysér. — Democracias são feitas de escolhas e eu estou ciente de que estou fazendo algo que não deveria, mas vocês estão caindo no jogo deles, culpando a gente por uma punição que eles deram para vocês, não nós!

— Cesc tem razão, isso é um clássico. — Louise cruzou os braços e deu de ombros. — O sistema tenta manter a lealdade de quem consegue e faz os rebeldes se virarem contra aqueles que na verdade podem somar na causa, desviando toda a atenção do que é mais importante.

— Não perdemos o foco e não tente nos manipular para proteger seu irmão, Fábregas, é muito irritante que ele seja famoso por ser rebelde e quando a gente precisa da rebeldia dele, ele foge porque não é conveniente no momento! — A francesinha falou emburrada, cruzando os braços e eu fiquei meio que impressionado com a esperteza dela, para uma garota de 13 anos.

— Qual o seu nome mesmo, garota?

— Marie Carpentier. — Ela disse em um tom de desafio e eu olhei para Fred com um sorriso de “Olha só que boa candidata para o Ocaso", ele revirou os olhos para minha obviedade.

— Certo, Carpentier, tudo que você falou está muito correto e eu não mudo uma vírgula, mas realmente não é conveniente ajudar vocês nesse momento. — Falei com sinceridade e até mesmo aqueles dispostos a esquecer o assunto começaram a resmungar, criando um burburinho na sala. — Somos pessoas normais e não mártires e o mais importante, estamos conscientes de que a causa é nobre, então isso significa que já temos meio caminho andado.

— Como assim? — Carpentier perguntou confusa e até Fred me olhou sem entender.

— Passado o final de semana, eu e Fred voltamos a ativa e faremos tudo que estiver ao nosso alcance para ajudar vocês, principalmente porque eu não acho que esse negócio de tirar o final de semana se sustente por muito tempo. — Sorri malicioso e os francesinhos e alguns alunos de Hogwarts se entreolharam ainda sem entender.

— Cesc tem razão, primeiro porque o convencimento foi baixo, 7 alunos de 25? Muito pouco eficiente... — Fred começou e eu completei, para finalizar a nossa defesa.

— Segundo que deixar vocês sem ir para o final de semana é um verdadeiro crucius no pé. Se fosse eu ou Fred, podem ter certeza que nossos pais nem se perguntariam o porquê da punição, mas tenho certeza que alguns aqui estão ficando sem esse direito pela primeira vez... — Deixei a ideia no ar e alguns até sorriram, se tocando do que eu queria dizer, mas a maioria me olhou com cara de cachorro vendo truque de mágica.

— O que Cesc quer dizer é que talvez esteja na hora de mandar uma cartinha para nossos pais, explicando o motivo de estarmos sendo tão levados hoje. — Louise completou com um sorrisinho travesso e um novo fôlego foi dado ao movimento.

Ah sim, se tem uma coisa que os alunos de Hogwarts são muito bons, é em provocar o caos.

***

Anotem aí no diário de vocês, já que eu não tenho nenhum aqui comigo: dia 30 de outubro de 2021, sábado, primeiro dia de Fred Weasley II, Cesc Fábregas e Enrique Dussel em Azkaban.

— Tony e Scorp sempre disseram que esse dia chegaria, mas eu não imaginava que seria tão cedo. — Falei enquanto sentia o ar marítimo durante o deprimente passeio de barco até Azkaban.

Quando finalmente pegamos a chave de portal em Beauxbatons, fazia um sol muito bonito, mas o clima pareceu mudar assim que embarcamos no único transporte que levava a isolada ilha da prisão bruxa mais temida de todas, no meio do mar do Norte.

Tudo bastante deprimente até agora, devo dizer e olha que ainda nem chegamos lá!

Enrique me olhou com um olhar julgador por trás de seus óculos de sol e Fred deu um sorriso irônico, enquanto apertava ainda mais o sobretudo contra o corpo. Estava frio, um céu escuro digno de filme de apocalipse e ventos castigando as velas do barco.

— Não brinque com isso, porque ao menos hoje você pode sair e tentar nunca mais voltar. — Meu namorado falou mal-humorado e eu resolvi ficar quieto e calado, já que os outros viajantes estavam no maior silêncio de todos também.

A nossa companhia estava na mesma vibe de Enrique, haviam muitos bruxos e bruxas de rostos encovados e expressões sérias por ali: pais, mães e filhos indo visitar seus entes queridos em um dos lugares mais tristes da Terra.

A nossa turma era a exceção do perfil de viajantes, não somente pela idade, mas pela vitalidade e cara de quem ainda tinha alegria de viver, não necessariamente nesse exato instante, claro. Me encolhi mais um pouco no fundo da embarcação, para chamar menos atenção.

Embora no barco com a gente houvesse mais ou uma dúzia de pessoas, cercadas por três aurores devidamente identificados e de cara fechada, o embarque tinha sido relativamente tranquilo, com uma revista rápida e poucas perguntas, afinal, não havia muitas razões no mundo para uma pessoa ir por livre espontânea vontade até um lugar como esse.

E no fim das contas não era difícil entrar no barco e muito menos em Azkaban, especialmente alegando propósitos comerciais, como foi o caso de Enrique. Ele usou a desculpa perfeita e real da pesquisa de Bradbury na prisão, executada nos laboratórios de sua empresa e ninguém parecia surpreso de ver um Dussel ali, para ser sincero.

Enrique alegou que havia sido designado pelo pai para checar e estudar pessoalmente antigos trabalhos pouco lucrativos da empresa, para aprender na pele com os erros da família e pela carta que havíamos recebido como resposta, os responsáveis pela prisão não duvidaram de nada, nem por um segundo.

Um Dussel sendo um Dussel.

Claro que essa visita não havia sido relatada a nenhum dos irmãos dele ou a Ciaran Dussel, mas o pessoal de Azkaban não precisava saber de nada disso, né?

Assim que o grande obelisco negro comprido, com lados afiados formando um prédio de paredes triangulares, apareceu entre as brumas do escuro mar do norte, me desapeguei da minha última esperança de qualquer pessoa ali desistir de pisar os pés no nosso destino.

O barco aportou em um cais de pedra e madeira molhada, com aparência de pouco seguro, sob o incessante ataque de ondas violentas. As mulheres, até mesmo as com aparência de mais frágeis, se equilibraram no porto precário, como se já estivessem acostumadas a não receber ajuda de ninguém.

Enrique me manteve perto, na sua frente e Fred seguiu os passos cadenciados dos aurores com atenção, como em uma daquelas brincadeiras de criança, se afastando da gente um pouco.

Os aurores não olhavam o chão e nem paravam para conferir se alguém havia caído no mar revolto cuspindo espuma ao nosso redor na tentativa de destruir as ripas de madeira, então me certifiquei de não dar um mergulho naquelas águas geladas.

Algo me diz que minhas aulas de natação no clube perto de casa seriam de zero ajuda nesse mar.

Entramos com os visitantes no primeiro nível escuro e pouco convidativo da prisão. Fomos vistoriados, varinhas apanhadas e questionário criminal e de intenções respondido sob juramento mágico - uma variação dos infames votos perpétuos - e assim que cada pessoa foi sendo encaminhada para encontrar seu parente prisioneiro nos diferentes andares, nós fomos ficando para trás, aguardando uma posição de algum funcionário.

Sentamos em uma fileira de bancos escorados na parede, sem conforto algum, com vista para o mar revolto lá fora. Fred se inclinou para frente em seu lugar, para que pudesse falar conosco com mais intimidade.

— Achei que isso estaria menos acabado, por causa da gestão firme e decente de Shakebolt no Ministério. — O grifinório falou com um tom de certo desgosto, então Enrique o encarou com sarcasmo.

— Só porque aqui não é mais um ninho de dementadores, não quer dizer que a dor e a agonia impregnadas nas paredes por séculos saíram de uma hora para outra. — Ele falou de um jeito quase cruel, sem paciência, então me perguntei o quanto aquela energia negativa estava mexendo com ele.

— Então não há mais dementadores? Pensei ter visto em algum lugar que uma pequena colônia havia se reinstalado por aqui há mais ou menos uma década. — Falei incerto, porque embora eu adorasse brincar e usar o nome de Azkaban em vão, eu sabia muito pouco sobre o funcionamento do lugar, basicamente o que os livros didáticos contavam.

— Há boatos, mas o Ministério nunca confirmou, porque iria pegar mal com o pessoal dos direitos dos bruxos. — Fred falou inquieto, olhando ao redor em busca de alguém para nos atender, provavelmente porque o que quer que estivesse preso naquela ilha além dos prisioneiros, não fazia bem a ninguém. — Vamos torcer para que seja só invenção de tabloides sensacionalistas.

Continuamos sentados e calados, admirando o teto de pedra escura, o barulho do mar querendo nos afogar e as paredes nuas, já que nem os quadros deveriam querer passar um tempo de qualidade nesse lugar esquecido por Deus.

Um homem atarefado finalmente despontou de uma porta sem graça, logo de frente para a recepção cinzenta, com cheiro de maresia e umidade em que estávamos. Enrique se levantou para cumprimenta-lo lentamente, como se aquela demora em ser atendido não tivesse atingido seus nervos.

Eu e Fred nos levantamos também, mas não oferecemos a mão para o cara, porque éramos meros acompanhantes do “senhor Dussel”, claro. Enrique havia falsificado a assinatura de Helena Romansek nos papéis, avisando da nossa visita fora do comum, então agora era só ele seguir com a própria mentira.

Molezinha!

— Senhor Diouf, correto? Imagino que minha irmã já tenha adiantado o motivo de minha vinda aqui. Vocês já separaram os itens solicitados? — É impressionante como Enrique consegue assumir, de uma hora para outra, uma postura séria, de adulto responsável e poderoso. Eu, nos meus melhores dias, pareço apenas um garotinho que colocou a gravata do pai de brincadeira.

— Bem, sim, recebemos a mensagem da senhora Romansek e separamos os arquivos do senhor Michael Bradbury, mas infelizmente não podemos liberar os documentos anexos da pesquisa. — O homem começou com cautela, mas depois levantou as mãos em defesa própria ante o olhar irritado de Enrique. Sinceramente, eu nunca imaginaria um sujeitinho nervoso desses trabalhando em Azkaban. — O senhor pode ver a papelada e anotar o que quiser, mas retirar os anexos da pesquisa vai contra nossos protocolos.

— A pesquisa é mais nossa do que de vocês e a verdade é que há uma grande chance dos protocolos utilizados aqui terem sido a causa do fracasso retumbante desse negócio. — Eu e Fred continuamos sem expressão, enquanto Enrique acusava o homem e toda a equipe da prisão de incompetentes, basicamente. — Como deve saber, senhor Diouf, os Dussel não costumam fracassar com frequência e essas descontinuidades de projetos só deixam nossos investidores desnecessariamente ansiosos.

— Senhor, eu... São normas da prisão, você entende, certo? Posso entregar as coisas do doutor de vocês, mas o que a senhora sua irmã me solicitou, as fichas dos presos utilizados na pesquisa, isso é sigiloso, só o pesquisador em pessoa poderia ter acesso, mas ninguém. — Ele afirmou, depois acrescentou o restante como uma oferta de paz. — O outro pessoal, os estrangeiros, eles aceitaram dar só uma olhada nos documentos e pronto, há alguns anos, isso ajudaria?

Os estrangeiros? Nós três fingimos que aquilo era completamente ok, mas a verdade é que aquilo era bem sinistro! Os estrangeiros que ele estava falando só podiam ser o pessoal dos FerrZ e aparentemente eles não desistiram da pesquisa de Bradbury após o abandono dele, como Yolanda Calixto deu a entender para Tony.

Mas, por que não levaram o projeto adiante com outro pesquisador? Ou não se apropriaram do material da pesquisa, já que o estudo era patrocinado por eles, embora houvesse essa pequena parceria com os laboratórios de Hector?

Esse era o tipo de coisa que acrescentava mais mistério a essa história toda, mas que talvez não levasse a lugar nenhum, então provavelmente não focaríamos muito nisso. Enrique olhou para o homem de cenho franzido por alguns segundos compridos, depois fez um gesto de conformismo com a cabeça.

— Aceito os documentos da pesquisa que vocês ainda têm e aceito somente olhar as fichas, sem levá-las. A verdade é que não pretendo voltar aqui novamente por livre espontânea vontade. — Deus, Enrique é muito filho da puta. Vai voltar aqui como? Algemado? Os Dussel só podem ter um tesão em criminalidade, toda hora flertando com o perigo, tô pra ver!

— Senhor, devo avisá-lo que os documentos anexos pertencem a área de alta periculosidade, eu até mostraria para você pessoalmente, mas o acesso é só para pessoas autorizadas, porque, o senhor sabe, é a nossa única área que ainda tem... Dementadores. — O tom de voz do homem baixou um pouco ao falar das criaturas das Trevas e eu devo ter feito alguma expressão estranha, porque Fred me cutucou de leve.

Dementadores, minha gente, eu não tenho nem roupa para uma morte horrível dessas! Esses bichos não tinha sido proibidos? Fred acabou de dizer que sim, por causa dos direitos humanos bruxos e eu não sei mais o quê! Cada dia um tapa na minha cara diferente...

— Suponho que vocês consigam controlar esses poucos que te restam, não? Se for esse o caso, iremos ver os documentos, porque analisar a pesquisa sem saber quem participou dela seria apenas uma perda de nosso tempo, já que ela não foi concluída. — Enrique falou sem emoção e o homem olhou de cenho franzido para mim e para Fred.

— Eles também vão? Eles não são muito...

— São meus estagiários. — Meu namorado falou sério, então completou com uma dose de sarcasmo. — Você não espera que eu mesmo vá revirar os arquivos poeirentos de vocês, hum?

— De maneira alguma, senhor. — O homem deve finalmente ter entendido que com esse aqui é mais fácil fazer logo as coisas do jeito dele. Ele flutuou os tais documentos de Bradbury para Enrique e nos encaminhou para o portão gradeado e reforçado com alguma magia negra, do lado oposto da entrada dos visitantes. — Brait, leve os senhores até o arquivo da ala dos prisioneiros de alta periculosidade, por favor.

O auror bateu continência e eu tentei imaginar que tipo de cara se alista para servir em Azkaban e se ele sequer era um auror, porque podia ser uma profissão diferente, mas obviamente não tive coragem de perguntar nada a ninguém.

Fred, no entanto, não encontrou nenhum constrangimento para fazer suas próprias perguntas assim que atravessamos o portal de segurança, que separava a recepção do restante da prisão.

— Com licença, senhor! Vamos poder ver os dementadores pessoalmente? — Ele perguntou com uma curiosidade mórbida e o homem respondeu sem nem sequer olhar para trás.

— Os dementadores se concentram no topo da construção, não iremos passar por eles, embora vocês possam sentir o efeito de suas presenças ainda assim. — Era uma voz robótica, bem típica de quem sofria esses tais efeitos todos os dias, sem cessar.

Continuamos seguindo por um corredor de paredes ásperas e teto baixo, de uma cor cinza chumbo e iluminação indireta, não muito diferente da recepção. Não entendia porque a prisão tinha que parecer tão inóspita até mesmo na área de circulação dos funcionários, a menos que eles estivessem ali cumprindo algum tipo de pena alternativa ou algo do tipo.

Aquela era uma boa hipótese.

Eu estava ciente que nos tempos antigos, anteriores a última guerra bruxa, aquele lugar era controlado por dementadores, os carcereiros da prisão, que se refestelavam com o banquete sustentado pelo governo a base de centenas de almas enviadas para cá todos os anos, então a aparência feia era justificada.

Mas isso foi até as criaturas das Trevas se associarem a Voldemort e, após sua queda, se espalharem pela Grã-Bretanha em ninhos localizados em áreas muito azaradas e impregnadas de dor e sofrimento. A prisão poderia muito bem ter passado por uma modernização estrutural nessa época, mas ninguém deve ter levantado essa bandeira.

O que estudávamos nas aulas, era que a estrutura organizacional de Azkaban precisou passar por uma reforma de urgência depois disso, tanto para abrigar todos os presos de guerra, quanto para sustentar a estrutura sem as principais figuras punitivas do lugar, mas o prédio permanecera o mesmo.

No livro de Rita Skeeter também havia uma ou outra passagem sobre a prisão, afinal, várias famílias puro-sangue tiveram seus membros jogados em Azkaban por associação com o Lorde Voldemort e Rita insinuou mais de uma vez que o lugar agora era praticamente uma colônia de férias para nobres, se comparado com o que era antes, então imagino que a ideia de reforma não fosse popular.

De qualquer sorte, não faço ideia de como era naquela época, mas agora não tem nada que lembre remotamente a uma colônia de férias, isso eu posso garantir. Seguimos por um corredor mais externo, de tempos em tempos subindo lances de escada de pedra, ouvindo os sons do mar quebrando na encosta abaixo, de novo e de novo.

Haviam grandes janelas quadradas na parede externa, onde guardas estavam parados, varinhas a postos, mas nenhum sinal de portas ou corredores ou presidiários na parede oposta.

Provavelmente haviam feitiços de ilusão, que escondiam as entradas para cada ala, mas nem tínhamos tempo para olhar nada e confirmar, porque outra escada aparecia e a gente seguia sem olhar para os lados, até porque os aurores pareciam mais e mais enfezados de uma ala para outra.

A medida que ficávamos cada vez mais alto, um frio estranho crescia. Ele parecia esfriar de dentro para fora, então arrisquei uma pergunta em voz baixa, para quem quisesse me responder.

— Vamos receber algum tipo de proteção contra os dementadores ou... — Comecei a perguntar, mas Enrique me olhou com seriedade, então eu calei a boca.

Não sabia o porquê exato de não poder falar, mas não era como se eu estivesse com energia suficiente para argumentar com qualquer um. Eu estava ficando cansado rápido, o coração batendo acelerado sem motivo.

Finalmente chegamos no topo da construção, ali não havia janelas com vista para o mar. Seja pela subida de escada ou pelo vapor congelante que se desprendia de nossos lábios, eu estava com um aperto no peito, que dificultava a respiração.

O auror usou a varinha para abrir uma passagem para que finalmente entrássemos nas entranhas do prédio e eu juro que pensei que agora seria o momento em que veríamos os dementadores, mas o homem nos guiou apenas para uma sala cheia de arquivos de metal enfileirados e duas mesinhas, também metálicas, de frente uma para outra.

— Esse é o escritório que os auditores usam quando nos vistoriam e que o cientista usou em seu trabalho há dez anos. — Ele falou em seu tom sem vida de antes, então apontou para um dos arquivos com a cabeça. — A ficha dos presos de 2010, 2011 e 2012 da ala de alta periculosidade estão daquele lado. Quando estiverem prontos para ir, estarei lá fora, é só dar dois toques na porta que eu atendo.

Ele saiu e assim que fechou a porta, eu dei um grito mudo, fingindo que estava arrancando minhas roupas de tanta agonia. Fred colocou as mãos no joelho, tentando normalizar a respiração e Enrique literalmente se deitou em uma das mesas.

Se o auror voltasse agora, iria encontrar uma cena e tanto.

— Gente, eu não... Não tô conseguindo... — Ah, foda-se, eu sei que eles estavam entendendo que eu não estava conseguindo respirar direito, esses filhos da puta fingindo costume e eu achando que eu estava pirando sozinho!

Arrastei uma cadeira e me joguei nela, ainda tentando superar a pressão horrível no peito e o frio interno, que fazia meus dentes baterem, embora eu estivesse agasalhado o suficiente para enfrentar a neve!

A sensação era de uma agonia intensa, como se o mundo do lado de fora tivesse deixado de existir e jamais nada fosse voltar a ser colorido, doce ou bom outra vez! Aquilo era aterrorizante!

Senti um cutucão no ombro, nem percebi que havia fechado os olhos. Era Fred me entregando uma barra de chocolate enorme, pelo que fui grato. Enrique já comia a dele, tendo dado uma mordida tão grande, que estava até com dificuldade de mastigar.

Fred pensa em tudo!

— Vamos ser rápidos, antes que a gente seja realmente afetado pelos dementadores. — Ele falou de boca cheia, abrindo a pasta que Enrique havia jogado de qualquer jeito na mesa em que havia sentado. — Deixa eu ver... Deixa eu ver... Ah! Achei!

Ele lambeu os dedos, antes de tirar cuidadosamente o pergaminho certo da pasta. Me aproximei da mesa em que os dois estavam, para ver melhor o documento.

— Achou o que? — A voz de Enrique soou fraca, então a minha teoria de que as paredes estavam afetando ele mais do que a mim e a Fred ficou ainda mais plausível. Fred não pareceu notar a apatia dele, porque respondeu sem grandes alardes.

— Ele usou um sistema aleatório de seleção para escolher as cobaias, números sorteados, a ordem está aqui. — Ele apontou para o pergaminho na mesa, mas eu ainda estava checando um Enrique comendo o chocolate como se a vida dependesse disso. — Cesc, eu vou ditar os números e você busca no arquivo, ok?

— Certo. — Falei distraído. Apertei o joelho de Enrique, tentando passar algum conforto e me satisfiz com um quase sorriso sujo de chocolate dele. Comi a minha barra sem sentir o gosto de verdade, já me encaminhando para a frente do grande armário de metal que o auror havia apontado antes.

Fred ditou o primeiro número, então eu o mentalizei e usei um feitiço convocatório com a luvarinha. O grifinório sorriu malicioso para o fato de eu ter quebrado - sem querer, juro - as regras de segurança da prisão, mas sério, o quão absurdo é o fato deles não conseguirem detectar um artefato mágico óbvio desses?

— Cesc, você vai acabar ganhando um apartamento aqui. — Fred falou um pouco mais animado, mas deixou o sorriso morrer, provavelmente sentindo os efeitos da prisão novamente. — Droga... Mantenham o humor controlado, a sensação fica pior quando você fica com o mínimo de sentimentos positivos.

— Claro que sim, inclusive é capaz de você estar atraindo dementadores para cá, fazendo essas suas piadinhas idiotas! — Enrique falou cansado, seu chocolate já havia acabado. — Devemos estar brilhando como faróis para eles aqui.

— Vai dizendo os números, Fred, quanto mais rápido formos, mais cedo vamos poder dar o fora desse lugar horrível. — Falei ansioso e Segundo concordou com a cabeça. Pisquei para Enrique aguentar firme só mais um pouco.

Fred ditou os números e eu fui convocando e olhando os nomes nas pastas, alguns famosos prisioneiros de guerra, mas nenhum que chamasse minha atenção particularmente, até o quinto prisioneiro usado como cobaia por Bradbury.

— Aqui está: Rabastan Lestrange. — Falei assustado com a enormidade daquilo, a pasta dele parecia pesar mais do que a dos outros prisioneiros que deixei flutuando ao meu lado. — Só eu acho bizarro o quanto estamos acertando nos nossos palpites para a profecia? É como se o destino quisesse que a gente chegasse até ele mais rápido, só para ele ver a gente se fodendo logo!

— Faz sentido, eu disse a você que estávamos no caminho certo! Agora traz o arquivo aqui. — Fred chamou e eu atendi, jogando a pasta para ele, enquanto reorganizava o resto de volta nas gavetas de metal, com o feitiço de organização de documentos que aprendi no meu estágio no hospital para criaturas mágicas.

Alguma coisa útil eu tinha que aprender naquele buraco! Na verdade... Nunca mais vou reclamar daquela punição alternativa, está decidido!

— Não vamos analisar o arquivo aqui. — Enrique falou irritado, se levantando da mesa sem problemas. Ainda bem.

— Então o que sugere? Eles foram claros ao dizer que não podemos levar nada. — Eu cruzei os braços, ansioso com a perspectiva de finalmente sair e deixar todo aquele frio para trás. Me sacodi, meio que sem nenhum motivo explicável.

— Foram claros em dizer para não trazemos varinha, mas você trouxe a sua, então apenas faça uma cópia do arquivo e camufle ela no resto da pesquisa. — Enrique deu de ombros e eu o olhei assustado, porque aquilo sim poderia me fazer ser jogado em alguma cela de Azkaban. — Você achou mesmo que a varinha que Erick te deu seria simplória o bastante a ponto de seus feitiços serem detectados em uma revista padrão?

— Sim! — Respondi exasperado e dessa vez meu namorado deu uma risadinha muito escrota para meu gosto.

— Faça a cópia e relaxe, ninguém vai desconfiar de um adolescente de 15 anos tão malicioso a ponto de trazer uma varinha ilegal para fazer um feitiço debaixo do nariz dos guardas de Azkaban. — Enrique falou convencido e o meu queixo deve ter ido no chão com esse plano diabólico.

— Falando assim dá até para pensar que nós somos os verdadeiros vilões da história! — Fred disse divertido de novo, depois ofegou e se apoiou na mesa. — Merda! Malditos dementadores...

Essa foi minha deixa para pegar o arquivo de Rabastan Lestrange das mãos dele, fazer o feitiço de cópia mais simples do mundo, com o coração acelerado e a culpa em forma de bile subindo na garganta, para então misturar os pergaminhos novos naqueles que Enrique tinha o direito de levar embora.

Ao menos meu estado de nervos terrível fez com que eu não fosse mais um alvo tão interessante para as criaturas das Trevas a literalmente alguns metros da gente, do outro lado dessas paredes de pedra crua.

Enrique pegou a pasta de volta e pôs debaixo do braço, então olhou para mim e para Fred, que havia terminado de retornar o arquivo de Rabastan Lestrange de volta para o lugar manualmente. Deu dois toques na porta, sendo atendido de primeira.

— Acabamos aqui.

Eu nunca rezei tanto para que duas palavras fossem reais.


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Notas finais do capítulo

Esse capítulo foi um pouquinho mais tenso, mas né, Azkaban! Espero que Cesc reveja esses planos de ser um meliante agora.

Só me resta perguntar: acham que a teoria de Fred está toda certa? Tem algum furo? Ou vocês têm algo diferente disso aí passando pela cabecinha de vocês?

Bjuxxx



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