Hogwarts: uma outra história escrita por LC_Pena


Capítulo 111
Capítulo 111. A finalista escrita nas estrelas


Notas iniciais do capítulo

Um título desses, bicho, em pleno feriado! Faz alusão a duas coisas importantes no capítulo, uma delas está bem óbvia, rsrsrs



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Capítulo 111. A finalista escrita nas estrelas

Eu fiquei me achando o cara mais sortudo do mundo vendo meu adorável namorado escrevendo coisas muito profundas e esquisitas - ele fica tão lindo escrevendo todo concentradinho - usando meu presente até que o rosto dele se iluminou e ele resolveu escrever um discurso de agradecimento aos convidados de sua festa.

Olha. A. Merda.

Eu acho que só preciso dizer que começou com um “obrigado mãe e pai por terem feito esse jantar, mas no próximo ano eu vou querer uma festa com tema montanha-russa e algodão-doce” e terminou com um “ e gostaria também de agradecer a todos os presentes por não terem me matado! Achei que não sobreviveria até a sobremesa, que dirás até o fim da noite.”

Admito que ri muito junto com Jweek e Tony - fomos discretos, claro - porque nós fomos os únicos que entendemos as referências trouxas e só me desculpo ao universo pelo desastre que foi o final da festa, porque, de fato, eu não devia ter discutido com a prima Bertie Selwyn por ela ter dito que eu era uma má influência trouxa para o pobre menino Enrique.

Nem devia ter dito que o nome dela de vaca não precisa influenciar ela a ser uma, mas vocês sabem, nem todos estão prontos para a verdade.

Mas eu acho que os Dussel, no geral, gostaram de mim! Claro que eu já conhecia a maioria deles, mas Helena me deixou supervisionar com Tony a busca de borboletas noturnas de Mirela no jardim do avô  e a mãe de Enrique - que me pediu para chamá-la de Eileen - me deixou passar a noite.

Dormi lá, mas dormir nunca é demais, então dormi quando cheguei em casa também, afinal, as minhas férias estão acabando e daqui a pouco começa o meu trabalho voluntário para o qual eu não me voluntariei, que fique bem claro.

Ainda estava no meu quase despertar, naquele momento gostosinho em que a realidade ainda se mistura com o reino dos sonhos, quando o som da minha própria voz me acordou.

— Como assim sangue de Lupin não po... - Abri os olhos para dar de cara com minha mãe com a mão suspensa, pronta para me acordar. – ...De? O que está fazendo? 

— O que é um “lupinho”? Lembra o sobrenome de um dos netos do senhor Weasley... - Ela me olhou desconfiada e eu tirei a importância de uma palavra aleatória saída de um sonho louco do qual nem lembro. Não acredito que herdei essa merda de falar dormindo do djinn!  – Certo, deixa para lá, mas eu preciso que você levante!

— Por quê? - Voltei a me aconchegar na cama e coçar o olho com preguiça. Para quê serve ganhar dois meses a mais de férias se minha mãe vai ficar me acordando nos únicos dias que eu realmente tenho livres?

— Estava planejando os meses de junho, agosto e setem... - Ela estava sentada na cadeira da minha escrivaninha, com o rosto apoiado na mão e o cotovelo na mesa, como se estivesse pensando em algo importante, pernas cruzadas e tudo. – Não, junho, julho e agosto e minhas ideias acabaram, é muito tempo para lidar com vocês!

— E o prêmio de mãe do ano vai para...

— Enviámos o formulário de vocês devidamente preenchidos e recebemos os assuntos que cairão no teste do Ministério e, embora tenha muita coisa para estudar, vocês ainda tem muito tempo livre. - Pisquei confuso para ela, porque a informação de um teste me pegou desprevenido. Como assim a única coisa boa na morte de Hogwarts não existe mais? Que mundo sombrio é esse? – Muito tempo mesmo.

— Você não vai fazer um quadro pra isso também? Tipo, um quadro cheio de adesivos e sei lá mais o quê... - Gesticulei tentando simbolizar os tais adesivos dela e minha mãe apenas me olhou de esgueira como se eu não a tivesse levando a sério. – Qual é o problema? Por que me acordou tão cedo? Seu estoque de quadros de atividade não está dando conta?

— Você já perdeu a manhã toda dormindo, Cesc e eu não te acordei, mas preciso que pense comigo.  - Ela falou muito pensativa e suspirante e eu percebi de onde Louise tirou tanto cinismo. Desde quando dormir é perda de tempo? – O que vamos fazer com todo esse tempo livre?

— Vai ser assim todos os dias da minha vida, Deus? - Perguntei para Deus, todo poderoso, mas Ele não me respondeu diretamente, porém, como eu sou uma boa pessoa, eu vou resumir o que aconteceu nos meus dias seguintes.

Coloquem uma música animada de sua preferência, aquela com uma batidinha marcante, que te faz feliz automaticamente. Colocou pra tocar ou pensou?  Vamos ao meu videoclipe de momentos felizes nas férias!

Primeiro dia:

Minha mãe se vestiu de flamenca - assim disse ela, com seu cravo na cabeça e xale nos ombros - e nós fomos para a “feira de abril” que eu tinha falado antes e como foi a primeira vez de Enrique e de uma amiga de Louise vinda do norte, fizemos todo o roteiro tradicional.

Foi bem divertido e até deu tempo de comermos uma porção gigantesca de mini-churros com chocolate antes de minha mãe começar a fazer o discurso dela contra os maus-tratos de animais nas touradas - eu havia me esquecido dessa parte do passeio, essa batalha épica costumava ser um clássico da minha infância  - e meu pai nos tirar de lá em nome da segurança dos transeuntes.

Segundo dia:

Fizemos a grande faxina da primavera, nos livrando de tudo o que não tinha mais serventia na nossa casa para doar para quem realmente precisa e como eu não sou um acumulador, obviamente que a parte difícil mesmo foi mexer no closet da minha mãe, porque ela é toda “fazer circular a energia” com as coisas dos outros, com as dela é outra história. 

Tive que chamar reforços nesse dia e Scorp daria um ótimo apresentador de programas de autoajuda, porque ele foi bem convincente e no fim do dia tínhamos conseguido juntar do closet de minha mãe, mais sapatos para doar do que uma pessoa precisaria usar na vida!

Claro que meu pai recuperou alguns pares das caixas de doação assim que meus amigos foram embora,  porque vocês sabem como ele é uma marionete, não é? 

Terceiro dia:

Fomos ao dentista e eu acho que essas três palavras resumem toda a dor e sofrimento da experiência. 

Quarto dia:

Era um domingo, então fomos em um dos grandes parques de Sevilha aproveitar que nós moramos em uma das cidades mais bonitas da Europa e ignorando o fato de que Louise conseguiu fazer todos os balões de um pobre trabalhador subir aos céus e gastar toda a sua mesada para recompensar ele e que um gato de rua me arranhou na cara e eu tive que ir correndo para o hospital tomar uma vacina antitetânica e antirrábica, diria que o dia foi...

Ok, obviamente isso de resumo não está dando certo pra mim, então vamos pular para o acontecimento legal desse fim de abril:

Durmstrang x Uagadou!

Senhoras e senhores, finalmente chegou o grande dia de sabermos quem irá nos vencer na grande final! Brincadeira, quero dizer, não inteiramente porque, né, mas enfim, não vou começar com o derrotismo, porque eu já escapei de situações bem mais desesperançadas, o que é jogar contra uma das favoritas do campeonato que acabou de ganhar da outra favorita? 

Nada, então vamos prosseguir.

Não fomos convidados para Durmstrang e tão pouco compramos as benditas esferas Dussel para assistir o jogo na segurança de nossos lares, muito pelo contrário,  treinador Harry Potter se compadeceu pelo time e resolveu que seria interessante que assistíssemos a partida juntos, apenas a gente.

Ele alugou uma das salas do famoso pub Felix Felices, provavelmente porque sabe que precisamos de toda a sorte que podemos usar hoje e também porque queria dar algo do que falar para a imprensa. 

Então fiz o meu trabalho e disse a eles “não sei se alguém já disse isso em voz alta alguma vez, mas no jogo de hoje, eu espero que vença o pior”. Treinador Potter deu aquele sorriso amarelo de sempre e trancou a sala com duas voltas na fechadura.

Tenso.

— A gente já se ferrou de tantas maneiras diferentes, que não tem como não nos sagrarmos campeões desse campeonato! - Tony falou otimista e eu o olhei com condescendência, mas nem precisava, já que Scorp estava bem ao meu lado se aconchegando em sua poltrona.

— Você obviamente está subestimando o poder do azar nas nossas vidas. - O loiro falou consertando agora um botão que insistia em sair da casa em seu casaco e por isso mesmo não viu a careta de Tony. – Mas mudando de assunto, quais as chances de você ir para a Durmstrang, Cesc? Meu pai está bastante convencido de que é a minha melhor opção...

— É um negócio difícil de dizer, porque eles não são exatamente os mais melindrosos, então minha história com Erick não seria um grande problema, mas eles não são tão permissivos com nascidos-trouxas, então não vejo porque eles me escolheriam, podendo escolher tantos outros. - Falei, dando de ombros.

— As chances maiores são que Cesc vá para Beauxbatons, se eu entendi bem, o que me deixa em uma grande encruzilhada: qual dos dois vai ter o prazer da minha companhia? Disputem no tapa! - Tony falou brincando e eu até ri, mas o assunto era sério. Scorp baixou o tom para falar o que achava.

— Vocês estão aí voando, mas sabe que temos um futuro interessante se desenhando a nossa frente? - O senhor Malfoy Jr. falou em tom conspiratório, então automaticamente eu e Tony nos inclinamos para ouvi-lo melhor. – Estive conversando com Rebeca e, por mais que me doa me separar de vocês, não diria nem que é dor, é mais uma coceira irritante, enfim, talvez a separação seja para o melhor.

A minha cara e a de Tony foram cópias uma da outra, um misto de indignação com traição com “mas que lombriga fria e sem coração!”, no entanto Scorp levantou as mãos, como se pedisse calma.

— Eu sei que o cérebro dos dois pensa de maneira igual e lenta, então reflitam sobre o destino de todos no nosso grupo de estudos e o que isso pode significar a longo prazo. - O loiro falou isso, ao mesmo tempo em que as luzes do ambiente diminuíram e a transmissão oficial começou. – Não direi mais nada, por hora.

Olhei para cara de Tony e o dito cujo me sussurrou um “você já refletiu? Já sabe do que ele está falando?”, que é exatamente o que ele faz todas as vezes que temos uma tarefa difícil pra fazer: ele leva dois segundos inteirinhos para me perguntar o que foi que eu respondi e eu dou um tapa na nuca dele, claro!

Falando em chatice, Romeo colocou sua cabeçona bem na nossa frente e depois não gostou quando eu o forcei a sentar do lado dos grifinórios, mas a verdade é que ele nem devia estar aqui, um insuportável desses, era para estar em Azkaban ou algo assim...

O amiguinho dele, o senhor Dussel, estava lá na Durmstrang como um responsável empregado de sua empresa, verificando se o espetáculo iria acontecer dentro dos conformes e não, ele disse que não havia possibilidade dele conseguir ingressos para assistirmos o jogo lá. 

Espero que ele já esteja escrevendo um pedido de desculpas na máquina dele!

Mas voltemos a reflexão de Scorp com sua digníssima monstra sobre o futuro do nosso “grupo de estudos”: o que sabemos até agora? Bem, sabemos que Albus e Lily, minha estagiária, estão provavelmente indo para a América, assim como Aidan está indo para o Japão...

Ok, eu estou chutando isso, porque eu me lembro que os avós paternos e o pai dele são japoneses e a mãe é trouxa, então toda a magia da família dele vem da terra do sol ao contrário, logo... Err... Vamos ignorar o fato do unicórnio não entender nada de japonês, porque isso é só um detalhe. Ele vai para o Japão e essa é minha resposta final!

Então temos eu e Louise possivelmente, com muita sorte e piscadas de olho da senhora Dussel, indo para Beauxbatons, Scorp e Rebeca na Durmstrang e Tony só Merlin é quem sabe para onde vai!

Quem sobra? 

Ah sim, John e Fred II, os mais insuportáveis. Bem, é óbvio para onde John vai, estamos vendo a apresentação dos jogadores de sua nova escola ao vivo e a cores, porque se aquele corvinal irritante tem uma chance mínima que seja de ficar com a garota dos seus sonhos, não consigo vê-lo perdendo ela, então ele vai para Uagadou.

E Segundo... Essa criatura é sempre uma incógnita, ele pode estar indo para os EUA com os Potter, ou para Durmstrang e em um último caso, ele pode até conseguir ir para Uagadou e não, não é porque ele é afro-ruivo e sim porque ele pareceu bastante interessado em Vossa Alteza e seus segredos quando a conheceu, vide a maldita caixinha de música adivinha.

Ok, então é essa a reflexão a se fazer: assim como Hogwarts, os Iconoclastas estão espalhados por aí, o que teoricamente não é um problema para gente, estamos até em uma situação melhor do que o restante da escola, quero dizer, nós temos as penas e um segredo que nos une, o que os outros tem?

— Eu vejo o seu ponto, estamos tão separados quanto o restante de Hogwarts e se isso não for problema o bastante, não vamos nem ter do que falar, já que a escola não existe mais! - Sussurrei para Scorp ao meu lado, aproveitando que nós três estávamos no fundo da sala, com uma boa visão do holograma e dos nossos colegas hipnotizados pelo jogo prestes a começar.

— Não foi o que eu quis dizer e não foi o que você disse na última edição do...

— As duas mandrágoras choronas podem, por favor, calar a boca? - Connor resmungou ao lado de sua companheira de Casa igualmente pedante e eu fiz um gesto obsceno para ele. – Algumas pessoas vieram assistir a um jogo!

— “Ogumas pensoans vieram assinstir aum jongon!” - Tony imitou a voz de Connor Ginns de um jeito hilariamente ultrajante e o corvinal apenas revirou os olhos e voltou a assistir a primeira partida de Quadribol em silêncio de que se teve notícias! Que babaca sem noção! – Cesc, o que Scorp quer dizer, é que cabe a nós salvar Hogwarts!

Tony falou enfático e Scorp deu um tapa na própria testa. Eu apenas ri de como os meus amigos podem ser tão iguais e ao mesmo tempo tão diferentes. Nós nunca concordamos com nada, não sei nem como a gente se aguenta, sinceramente.

— Não foi o que eu quis dizer!

— Vocês receberam o berrador de Lily e... - Eu e Scorp encaramos Tony profundamente decepcionados em saber que ele estava baseando sua argumentação com as maluquices de Lily. Da minha parte a decepção era com ele e pelo fato de que Sharam não jogaria hoje, que ridículo, Uagadou! – Sabem que não dá para fazer como ela quer, mas a cobrinha ruiva tem razão, nós temos uma responsabilidade com a escola!

— Você está soando como um grifinório. - Falei enojado, jogando um olhar para James, Frank, Lexa e Fred sentados na primeira fila de cadeiras, próximo ao holograma e alheios a todo o resto do mundo. 

— E como você bem disse em seu artigo solo, hoje Hogwarts somos nós. - Tony completou, como se eu não o tivesse ofendido mortalmente. – E se não podemos salvar aquele montão de pedras descascadas e quadros de gosto duvidoso, ao menos podemos manter a nossa escola unida! E podemos fazer isso com o...

Olhei para Tony pedindo para eu completar mentalmente sua fala e depois para Scorp, que agora tinha um sorrisinho satisfeito no rosto. Ok, deixa eu pensar, perdi meu tempo tentando descobrir como salvar Hogwarts em um surto megalomaníaco, mas a resposta para meu drama é bem simples: eu só preciso fazer exatamente o que já estou fazendo! Que é...

O Ocaso!

Se realmente formos separados a ponto de cada um estar em um canto diferente do globo, talvez o nosso jornal rebelde possa funcionar como uma espécie de cola que grude todos os estudantes de Hogwarts por tempo suficiente, até que o castelo volte a ser nosso!

Podemos fazer da nossa existência algo menos miserável, manter todo mundo atualizado das notícias sobre o castelo e ainda poderemos falar das experiências em outras escolas, tudo com o lembrete de que Hogwarts não acabará enquanto houver quem se lembre dela!

Uau, isso soou bem Potteresco, meus parabéns, Cesc, sua transformação em um molusco com ares de herói foi concluída com sucesso!

— Agora sim você chegou ao ponto que eu queria, Tony, embora com valores morais bem melhores dos que os meus e os de Rebeca... - Scorp fez uma careta culpada, mas depois sorriu determinado. – Temos trabalho a fazer, L.P.’s!

— Eu já disse a vocês o quanto vocês são geniais?

***

Esqueça a genialidade de Tony e Scorp, estávamos assistindo a História acontecer bem diante dos nossos olhos!

Uagadou e Durmstrang estavam fazendo aquele tipo de jogo épico que será citado nas rodas de conversa daqui a algumas décadas e não vai aparecer ninguém que não concorde que aquilo sim era Quadribol de verdade, bons tempos, bons tempos...

Nosso time já havia esquecido que teria que vencer o vitorioso desse confronto, porque a beleza do esporte, era justamente essa fascinação que podia criar quando bem jogado. Sienna e Maggie estavam sentadas sobre suas pernas tão próximas do holograma, que se as vassouras fossem reais, teriam acertado o nariz das duas incontáveis vezes.

Romeo e Connor haviam decidido torcer abertamente pela anfitriã, que dominava com maestria o mau tempo que sua escola mandava para cima dos visitantes: a chuva de açoite levantava as capas dos africanos como se fossem bandeiras flamulantes e uma e outra vez os gigantes do norte puxavam elas quando o juiz não estava olhando.

Eu e Tony havíamos comprado o lado dos nossos amigos africanos, afinal, de vez em quando filmavam as tribunas e lá estava Sharam, parecendo xingar a mãe até da décima geração do juiz, bonita para caralho, mesmo parecendo uma louca de pedra. 

Vimos John de relance ao seu lado algumas vezes, ele era um dos convidados de honra do time africano - assim como Clara foi minha convidada no jogo contra Castelobruxo - então confirmamos que sim, é para Uagadou que ele vai no próximo ano letivo.

Garoto de sorte.

Aqueles que estavam torcendo por Vossa Alteza gemeram em uníssono quando Dabcov furou o incrível paredão africano, colocando 20 pontos de vantagem no placar. Essa diferença não seria nada para um bom time, mas em um jogo que cada goles no aro estava levando quase meia hora para acontecer, isso poderia ser uma tragédia anunciada.

— Deviam ter colocado Sharam nesse jogo, a rapidez dela teria dado conta de parar Dabcov. - Tony resmungou nervoso, balançando a perna direita e estalando todos os dedos das mãos, de novo e de novo. 

Isso porque eu tomei a varinha dele que ele estava girando entre os dedos, quase me acertando no olho quando ela escapuliu. Respirei superficialmente, porque eu estava tão tenso que o ar não completava os pulmões. 

Era como assistir uma cobrança de pênaltis numa final da Copa do mundo de futebol, já indo para os lances alternados, multiplicando a sensação por dez! Aquele frio na barriga a cada goles tomada, a cada lance mais duro, me fazia quase ter um treco!

— Não sei nem se é justo Dabcov estar jogando, porque ele tem 18 anos e o pai dele é dos Vratsa, quero dizer... - Falei com os dentes quase batendo em um movimento involuntário, já que minha mandíbula estava tão apertada. Tony riu. – Ele é profissional por associação! 

— Não existe essa coisa de profissional por... Olha lá! Elhillo quase acertou ele! Aquele balaço teria sido fatal! - Scorp, como sempre, era uma doninha do diabo, torcendo para sua futura escola sem nem disfarçar.

Tá, eu não o culpo, ele não tem nenhuma obrigação de torcer pelo meu time, mas não deveria parecer tão malditamente satisfeito quando o ataque africano esbarrou novamente com a defesa de Durmstrang!

— Teria que ter sido Sharam ou a outra batedora que eu esqueci o nome, porque a velocidade delas teria mudado completamente a cara do jogo... - Tony suspirou e me olhou de soslaio, então eu dei de ombros.

— Se o Quadribol aceitasse substituições, limitadas, como no futebol, poderíamos ter jogos bem pautados na estratégia. - Scorp torceu a boca em desdém, então eu sabia que lá vinha merda.

— São sete jogadores, ao invés de onze, ficar colocando sangue novo na partida seria como alimentar... - Eu o interrompi, porque eu não valho o prato em que como.

— Justamente!  Quanto menos pessoas em campo, maior o número de substituições! No hóquei, no voleibol, no basquete... - Comecei a contabilizar nos dedos todos os esportes trouxas que tinham substituições infinitas, mas parei, porque o número era igualmente infinito. – É nessa hora que a equipe técnica decide a partida, porque precisa mexer a peça do xadrez com maestria!

— O Quadribol trabalha com a estratégia antes! Um bom técnico precisa antever os movimentos adversários e preparar o seu time para a batalha. - Scorp falou enfático e depois rosnou irritado com o ponto que Uagadou fez com seu capitão assim que ele terminou de falar. 

Eu e Tony, mais toda a Grifinória, comemoramos, porque Fred II tinha catequizado direitinho seus colegas de Casa para torcer pelo lado da paz e da justiça e... Upile Chisala não deveria ter passado sobre a tribuna de Durmstrang fazendo um gesto de gozação. 

Eu e Tony mordemos os lábios com caras idênticas e divertidas de “Ops! Ignore isso, eles ainda são os heróis da história”. Scorp cruzou os braços revoltado e eu ri discretamente. 

— Vocês ainda estão perdendo, se não notaram, seus idiotas! - Agora eu ri maldosamente, porque Scorp não sabe perder, já ia provocá-lo, mas Lia se sentou ao meu lado e enganchou os braço no meu.

— Sabe que ele tem razão, não é? As estratégias tem que ser feitas com antecedência e esse é basicamente o problema de Uagadou. - Ela me olhou muito séria, como se fosse começar a discursar sobre uma daquelas coisas de adivinhação dela. – Dizem que Durmstrang tem um preditor com eles, um cara da Suécia que estuda as probabilidades e puff, monta o time de um modo a neutralizar o adversário. 

— Isso são só boatos, Lia, se fosse assim, nós seríamos uns depravados que não podem ver um copo de bebida ou de poção de cogumelo alucinógeno. - Eu e Lia olhamos para Scorp com nossos melhores olhares sarcásticos e ele ficou um pouco na defensiva. – O que está bem longe de ser a verdade!

— Mas perto o suficiente para se ter alguma verdade. - Lia apontou o fato de um jeito que fez Scorp estalar a língua nos dentes desdenhosamente, porque ele acreditava em adivinhação, só não acreditava que a santa Durmstrang poderia trapacear!

Eles tem Viktor Krum como professor de Contos Nórdicos, eles já nasceram trapaceando!

— Isso quer dizer que você vai para o Norte, ter aulas de adivinhação com o trapaceiro da Durmstrang? - Falei já virado para Lia fazendo questão que Scorp me ouvisse, mas ele não deu retorno, estava me dando um gelo.

— Não tenho o menor interesse, você sabe que minha ascendência premonitória é da Tunísia, que é norte, mas norte da África.  - Ela riu divertida e depois me encarou com seus olhos caramelos muito bonitos para estar em um rosto tão cínico. – Escolhi passar meu último ano escolar em Uagadou, quero dizer, não é Hogwarts, mas fez minha mãe muito feliz, porque é o tipo de escolha esperada em uma família com uma linhagem feminina poderosa.

— Você é muito convencida mesmo... - Ela abriu um sorriso com todos os dentes e eu revirei os olhos, divertido. 

— Não vou voltar para Hogwarts, mesmo que ela me implore, não estava mentindo sobre o meu tempo ter acabado lá... - O tom meio baixo e de alguém que sabe muito sobre tudo me chamou a atenção e me fez a olhar completamente, ignorando os grunhidos de meus colegas com o jogo difícil. – Mas você, por outro lado, pode escolher...

— O que isso quer dizer? - Agora ela estava olhando para frente, com seu sorrisinho de merda, típico da velha Lia que adora ser o centro das atenções, ainda mais de um cético como eu, porque eu ainda não sei bem o que eu acho sobre toda essa coisa de adivinhação. 

— Você tem uma linha muito obscura, Cesc, acho que seria difícil de ler mesmo que eu soubesse como fazer exatamente. - Olhei para ela, porque esse é o tipo da coisa que Erick me diria, se eu desse essa intimidade toda para ele. Lia sorriu. – Eu dou uma espiada no futuro de todos só para matar o tempo e a sua linha é bastante oscilante, só não é pior do que a de Enrique...

— E a de Hogwarts? Consegue ver com clareza agora? - Perguntei querendo afastá-la desse assunto de futuro em branco e bagunça djinnesca, mas Lia sorriu para a minha tentativa de mudança de assunto, como se soubesse que isso iria acontecer. 

Ela está ficando cada vez mais perigosa, seja por conta do poder da adivinhação ou pelo bom e velho poder da intimidação sonserina mesmo.

— Sempre esteve claro, embora não seja uma pessoa e coisas e lugares sejam sempre uma incógnita, quero dizer, as ações de terceiros e mudanças de rumo podem influenciar um castelo sólido de maneiras que não há como um adivinho prever... - Ela deu de ombros, desinteressada. – A maioria nem tenta, porque não há nada mais entediante do que olhar o futuro de um montão de pedras que podem...

— Hogwarts é mais do que isso e você sabe, Lia. - Falei irritado e ela apenas me deu um olhar condescendente, bem típico das cobras da minha amada Casa verde e prata.

— Eu só sei que agora a janela dela ficou um tiquinho mais interessante de se olhar, mas o futuro dela nunca esteve nas pedras, não é mesmo? - Ela falou enigmática e eu a olhei com um renovado respeito, percebendo que ela sempre soube que não tínhamos como salvar o Castelo, por outro lado, temos como salvar Hogwarts. – Ah, vejo que você entendeu! Tenho certeza que na próxima vez que olhar seu futuro, ele não estará mais tão incerto.

A garota virou para frente com um olhar satisfeito de gata com os lábios sujos de leite e eu também me virei, bastante impressionado com o tanto que a minha amiga traiçoeira havia evoluído em sua arte. 

De uma simples curiosa aprendiz de cafeomancia, Lia parecia agora ter encontrado de verdade o tal dom da família dela e eu sabia que, embora não fosse mais vê-la em Hogwarts, essa seria uma amizade que eu iria querer manter por todos os motivos egoístas possíveis - essa garota vai longe e pode ser uma bela de uma aliada em qualquer caminho que eu escolha - mas principalmente porque vou sentir falta dessa coisinha pedante e cheia de verdades.

Voltei a prestar atenção no jogo, que estava empatado em 70 a 70, com os dois times tendo ficado bem mais ofensivos e pouco preocupados em fechar suas defesas. Era como se todos os jogadores tivessem recebido uma descarga de adrenalina, como se o vento tivesse soprado que a qualquer minuto o jogo iria acabar e só um punhado de estrelas brilharia mais forte.

Dito e certo: as câmeras começaram a seguir a pequena e mais que oficial apanhadora de Uagadou - Warsan Shire, com seu meio metro de puro atrevimento - que havia jogado todos os jogos de sua seleção e agora voava com um destino certo. 

Sienna se levantou do chão e ficou saltitando na frente da projeção - definitivamente é da Corvinal uma praga dessas - e eu fui obrigado a arranca-la de lá antes que um dos nossos colegas revoltados tentassem matá-la.

A puxei pela cintura e ela ficou se debatendo como uma barata deslumbrante e loira derrubada com as patinhas para o ar, mas parou assim que Shire conseguiu pegar o pomo antes mesmo que o apanhador da Durmstrang se desse conta do que estava acontecendo, assim como Enrique, ele era do tipo que gostava de se meter no jogo que não lhe concernia.

Meus braços ficaram sem tônus, então acabei deixando Sienna cair no chão, mas nem isso foi o suficiente para quebrar o silêncio que havia se instaurado no estádio, naquela sala e provavelmente no mundo todo.

Quando o som voltou, ele veio com tudo porque a torcida da Durmstrang vaiou e gritou enraivecida e as câmeras focaram na pequena torcida de Uagadou que fazia uma festa bem condizente com o tamanho da conquista deles.

Na nossa sala isolada, metade da Seleção de Hogwarts comemorava feito loucos - eu e Sienna inclusos, já que nos abraçávamos e pulávamos, eu nem sabia que ela estava torcendo para Uagadou! - e a outra metade era um bando de perdedor chorão! 

Tentei ver se filmavam Sharam e John na tribuna, mas o treinador Potter colocou o holograma em pausa com um aceno de varinha e nós todos o olhamos como se ele tivesse desligado os aparelhos da nossa avozinha no hospital!

Filho de uma trasgo manca!

— O que aprendemos sobre a nossa adversária nesse jogo de hoje? - Ele falou de braços cruzados e com um sorriso de Satanás bem condizente com sua atitude.

Já levou um balde de água com gelo bem no meio das fuças? Sentiu o líquido gelado queimando seus olhos, escorrendo pelos seus cabelos e entrando com um ardor azul ciano por entre suas vestes até congelar o seu cerne?

Bem, foi essa a sensação poética que eu senti ao ser lembrado que teria que jogar contra a minha escola favorita.

— O senhor é um dementador disfarçado de gente! - Tony apontou lá do fundo e até mesmo o primogênito do Testa-rachada concordou, porque aquela pergunta foi desnecessária demais!

Potter nos ignorou retumbantemente e chamou a nossa atendente, pedindo uma rodada a mais de chá verde com dose extra de cafeína e suco de abóbora com pastelões de todos os sabores disponíveis no cardápio, porque agora começaríamos o nosso primeiro treino tático fora de casa.

Nem tente, Harry Potter, você não pode comprar o seu perdão com comida!

 


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Notas finais do capítulo

Yay, quem tá empolgado com a final do campeonato?

Olha aqui, eu não sou só feita de bagunça e atrasos não, também trago cultura para o povo, então devo dizer que todos os nomes de jogadores de Uagadou foram retirados de uma maravilhosa lista de poetisas africanas*, que vocês podem conhecer através desse link:

http://ovelhamag.com/7-poetas-africanas-para-conhecer/

Bjuxxx

*Edit: por algum motivo tinha colocado americanas antes.