Hogwarts: uma outra história escrita por LC_Pena


Capítulo 110
Capítulo 110. Presentes


Notas iniciais do capítulo

Era para ter postado mais cedo para vocês terem um consolo depois do Enem, mas eu sempre me esqueço quando faço promessas, cruzes, que pessoa horrível!

Pelo menos o capítulo tá grandinho!



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Capítulo 110. Presentes

Eu estava rilhando os dentes de ansiedade porque hoje finalmente iríamos passar um dia totalmente trouxa em um parque de diversões, mas depois eu rilhei os dentes de raiva mesmo, porque Enrique tinha que vir me buscar parecendo um cosplay de Assassin's Creed!

Lá se vai uma roupa nova e perfeitamente boa ajustada magicamente para caber nesse traste sem noção. 

— É como se um trouxa tivesse vomitado em mim! - Enrique parecia que tinha ganhado um unicórnio encantado e eu o olhei de cima abaixo: é até que essas botas bruxas combinaram com o visual. – Meus pais vão ter um ataque quando me virem assim!

Demos tchau para os meus velhos dissimulados, que até queriam nos levar até a lareira que nos mandaria direto para o parque em Terragona, mas para quê, se eu tenho um jovem perfeitamente licenciado e permitido de aparatar aqui do lado?

Fora que eu sabia que os dois iriam aproveitar para ficar com os amigos na grande Feira de Abril, - que perdi por três anos estando na escola - um negócio animado daqui de Sevilha, onde podíamos fingir que éramos espanhóis de raiz uma vez por ano. 

No resto do tempo a gente volta a fingir que nunca tentou dançar - e falhou miseravelmente - flamenco na vida, claro.

— Você parece bem legal agora, parece fazer parte desse século e... Vocês Dussel não eram todos a favor dos trouxas e eu não sei mais o quê? - Perguntei verdadeiramente intrigado, porque eu já tinha visto vários produtos deles com um toque bem de tecnologia trouxa. – Por que eles se assustariam?

— De quando em quando Heitor e Hector se aventuram nos estádios e campos trouxas para ver o que é que está pegando, mas de resto, somos muito tradicionais. - Ele sorriu depois de arregaçar as mangas da minha jaqueta bomber novinha até os cotovelos - não dá para fazer isso com as vestes bruxas, suponho - e completou com um ar traquinas. – Jweek nos chama de hipócritas. 

— Jweek está certa, como sempre! A propósito, espero que ela esteja convidada para a festa de hoje... - Disse como quem não quer nada, porque eu já havia contado para todo mundo que eu pude com a pena do Ocaso que eu iria jantar com ela. Contei de um por um, para Enrique não ver e me desmentir, bem a cara dele fazer isso comigo...

— Ela vai sim, você sabe que ela está saindo com Heitor e dessa vez toda a família vai! - O olhei surpreso, porque ele fez uma ênfase estranha no “toda” que fez até um par de amigas com cravos vermelhos presos no cabelo olhar para gente com interesse do outro lado da calçada.

— Hector vai?

— Eu disse TODA a família. - Ele fez o gesto de novo e eu o desviei de um carrinho de bebê, começando a me perguntar onde iríamos aparatar. – Até a parte Selwyn, tipo as tias horríveis da família da mãe dos meus irmãos e os primos Rowle...

— Tony vai? Ele não disse nada, achei que era um negócio mais íntimo... - Resmunguei para mim mesmo, porque não é como se eu estivesse chateado por Tony ir, mas... Não, é por isso mesmo, ele seria a pessoa para quem eu mais iria me gabar!

— E era, mas de repente as confirmações foram chegando e minha mãe ficou tão encantada que eu não tive coragem de dizer a ela que eles estariam em maioria e que provavelmente acabaria tudo em um banho de sangue. - Enrique falou cínico. – Estou feliz que você esteja lá para igualar os números.

Uma família toda paramentada com trajes ciganos passou por nós e Enrique nem achou estranho - talvez ele não seja tão inculto e saiba que existem outras festas no mundo além do seu aniversário  - mas eu sorri educado para o pequeno toureiro mesmo assim, preciso fazer as pazes com as crianças do mundo!

— Não acho que eu vá igualar alguma coisa, mas vou deixar a varinha a postos. - Disse solícito, parando em um cruzamento até que o sinal fechasse e os carros parassem de passar a toda velocidade.

— Quis dizer que estou feliz que vamos morrer juntos. - Eu ri e revirei os olhos, mas Enrique me puxou para perto assim que os pedestres começaram a atravessar a rua. – Vem cá, vai demorar muito para chegar a esse parque?

— Depende... Quando nós vamos... - Estalei os dedos e ele me olhou estranho, então sussurrei discretamente.  – Você sabe, aparatar. Quando vamos?

— Ah, mas que coisa, você estava esperando isso? - Ele deu risada para si mesmo e eu o olhei com a minha melhor expressão “não me diga que eu dispensei uma carona de carro dos meus pais a toa!”. – Eu não gosto de aparatar, me sinto estranho, acho que é por causa daquela minha condição atípica...

— Está falando de sua constipação?  - Falei sarcástico e ele me deu um olhar irritado. – Por que você não me disse antes que não sabia aparatar? Eu já estava todo feliz aqui achando que iria aparatar pela primeira vez, mas não, nada pode ser como Cesc quer!

— Eu sei aparatar! E Cesc tem que lembrar que hoje é meu aniversário, então as coisas tem que ser como Enrique quer! - Ele falou gesticulando numa imitação péssima do meu jeito e nós dois ficamos nos encarando, enquanto a calçada voltava a ficar cheia de pedestres prontos para atravessar a rua de novo. Depois de uns 20 segundos nessa situação ridícula, nós dois acabamos dando risada.

— Ok, deixa eu olhar como a gente faz para chegar até a lareira de Santa Cruz então... - Me encaminhei até um banquinho na esquina para mexer no celular em busca de rotas de ônibus para lá. Enrique ficou espiando por cima do meu ombro e eu fiz questão de sorrir para ele.  – Na verdade, isso é perfeito! Você vai viver uma experiência bem trouxa agora.

Eu podia ter achado um carro pelo aplicativo do celular - mesmo sabendo que seria um inferno com tantos turistas na cidade para ver as touradas tradicionais da feira de abril - ou até mesmo ter parado um dos táxis que estavam passando vazios pela rua em que estávamos, mas daí eu não teria vivido a experiência de ver Enrique de pé em um ônibus, nem teríamos parado para comer em uma taperia qualquer porque o grande bebezão estava com fome por causa da longuíssima viagem de 25 minutos.

Acabei usando o cartão que meu pai me deu para emergências para sacar mais dinheiro, porque se isso era uma amostra do que seria esse dia, precisaríamos de muito mais grana para ônibus, comida e fraldas!

Mas tudo bem, porque hoje é aniversário de Enrique e eu não vou me estressar com ele...

A menos que ele entre no primeiro ônibus que viu pela frente assim que nós colocamos os pés nas ruas de Barcelona! Meu Deus, como os bruxos ainda não foram extintos com tamanha burrice?

— Como eu poderia saber que isso aqui não é como como o Knight Bus, que leva a gente para qualquer lugar? - Ele me perguntou ofendido, enquanto já estávamos no trem - e não ônibus - graças a Deus! Seria uma bela viagem de um pouco mais de uma hora pela costa de Tarragona, mas ao menos Enrique estava acostumado a trens. – Deu certo no primeiro.

Não explicaria a ele que eu sabia o que estava fazendo no primeiro, tendo confirmado a linha pela rota traçada no mapa do meu celular! Eu obviamente havia me fingido de turista no segundo ônibus, pedindo desculpas em inglês quando tivemos que descer sem pagar a passagem, porque assim a vergonha passa a ser algo adorável e compreensível. 

— Você já andou de Knight Bus por acaso? - Preferi perguntar isso, do que jogá-lo pela janela, como o meu lado diabólico queria fazer. 

Um trio de estudantes ficou dando risadinhas para gente e eu me perguntei que sistema falido de educação é esse onde os alunos estão fora da escola em plena quarta-feira pela manhã. Tinha que ser falido igual ao bruxo, no mínimo! 

— Nunca precisei, mas eu sei bem como funciona, se é isso que quer saber! - Ele cruzou os braços arrogante. Sorri para isso. Pobre criança rica!

— Eu não costumo andar muito de ônibus também, fazia mais quando era criança e meu tio-avô vinha nos visitar... - Sorri saudosista olhando para a bela vista da janela do trem, porque andar com meu tio era sempre uma aventura. – Dá uma sensação de independência pegar os transportes públicos por aí, né, sem destino.... Apesar de que nós temos um!

— Estamos muito atrasados? - Enrique perguntou de cenho franzido, já que já tínhamos passado por um monte de coisa antes mesmo de chegar no parque. Olhei para o relógio, ainda não tinha dado nem 10:30 h, então dei de ombros e falei mais tranquilo.

— Ainda temos tempo e o nosso ticket nos faz ter o poder de passar na frente das pessoas em qualquer fila! - Enrique olhou novamente encantado. – Louise sabe fazer as coisas direito, não tem nada pior do que ficar esperando no sol quente por sua vez no brinquedo...

— Como você pode por um preço no tempo das pessoas desse jeito? - Olhei para a expressão fascinada do meu namorado e ri, porque no mundo bruxo até rola uns privilégios, mas nós trouxas conseguimos pôr um preço nisso! – Vocês trouxas são impressionantes!

— Você ainda não viu nada, meu caro.

***

Finalmente havíamos chegado!

O grande PortAventura Park brilhava aceso começando os seus trabalhos antes do verão propriamente dito, já com um bom número de turistas e visitantes, mesmo ainda estando um pouco longe da alta temporada.

Entreguei nossos tickets e ganhámos pulseiras de identificação e assim que passamos pelos detectores de metal - expliquei rapidamente a Enrique que era questão de segurança - demos de cara com as ruas de uma grande parte do complexo que tinha desde parques de diversão para diferentes grupos e parques aquáticos, a resorts com restaurantes de alta gastronomia.

— Então, por onde você quer começar? México? Velho Oeste? Ou quer pular para o prato principal e ir direto na montanha-russa que eles acabaram de inaugurar? - Enrique parecia meio sobrecarregado de informação, mas eu sabia que isso não ia durar muito tempo, então escolhi enquanto podia. – Vamos de montanha-russa nova então! 

Ele me seguiu como se eu realmente soubesse para onde estava indo, mas essa era a primeira vez que eu estava vindo aqui também. Ninguém precisa saber disso e eu imagino que o cheiro da pipoca e cachorro-quente prontos para destruir os nossos estômagos, mais aquelas crianças com seus balões coloridos, deviam estar causando uma comoção e tanto no pobre bruxo inocente ao meu lado, então era melhor eu conduzir meu carneirinho.

O olhei com pena e um medo real de ter feito mais mal do que bem tendo o trazido aqui bem no dia do seu aniversário, mas ele parecia mais curioso do que assustado.

— O que são essas espumas coloridas que as pessoas estão comendo? - Levantei o dedo, pedindo a ele um segundo, porque era melhor mostrar do que explicar.

— A quantos séculos eu não comia isso! - Tinha comprado um algodão-doce do tamanho da minha cabeça e agora oferecia um pouco para Enrique experimentar. Já podia sentir a glicose aumentando no sangue! 

É de se pensar que haveria alguma hesitação em provar uma nuvem azul espetada no palito, mas enquanto caminhávamos pelas ruas do parque seguindo as setas até a nossa querida montanha arqueológica, Enrique devorou tudo como se aquilo fosse super comum na vida dele.

 Arqueei uma sobrancelha quando ele educadamente colocou o palito na lixeira em forma de algum personagem bizarro e me olhou satisfeito.

—Parece com o que as delícias gasosas deveriam ser: leves, fofinhas e reconfortantes! - Ele sorriu com a parte interna dos lábios manchadas de azul e eu nem pude ficar muito bravo por ele ter comido tudo praticamente sozinho.

Essa é uma criança feliz, senhoras e senhores! 

— E extremamente açucaradas? - Perguntei na ponta dos pés, sem encará-lo,  porque a entrada do nosso primeiro brinquedo já aparecia depois da grande fila de adultos animados como crianças. – Na verdade é açúcar puro, sabia?

— Eu não sabia e agora já posso colocar no meu relatório de ideias novas para a empresa! - Ele sorriu conspirador e eu o olhei cético. Sério mesmo que ele ia roubar coisas trouxas na minha frente? – Não acha que as crianças bruxas vão adorar comer isso em Ikley Moor?

— Eu acho que elas vão perder os dentes todos antes dos 18 anos, não é como se vocês britânicos fossem grandes fãs do asseio bucal... - Falei divertido, mais ainda ao ver a expressão dos primeiros da fila que logo entenderam o que as nossas pulseiras significavam.

Ah, parem! O parque nem sequer está cheio, vocês vão na mesma viagem que a gente!

Assim que o brinquedo parou e os passageiros saíram meio histéricos, com o rosto afogueado e rindo como tontos, eu vi o interesse de Enrique aumentar para um nível lisonjeador, finalmente dando o devido valor a toda essa experiência trouxa. 

Na verdade foi porque um cara de uns 30 anos precisou ser conduzido por um dos agentes do parque, já que estava quase desmaiando, mas a gente finge que meu namorado presta e só se diverte com o lado bom das coisas.

Eu poderia ter dito a ele que aquela montanha-russa era do tipo invertida e por isso os nossos pés ficariam completamente soltos no ar, poderia ter falado do abaixo-assinado que estava correndo na internet para fechá-la por ser tão ridiculamente assustadora - se não quiser ir, não vá, que saco! - mas eu preferi ser prático, enquanto o funcionário do parque nos ajudava com todas as travas de segurança.

— Tem algo que possa soltar ou cair? Onde está sua varinha? - Ele bateu na lateral da perna e eu soube que estava bem presa no coldre dele de sempre, bem disfarçada com um feitiço glamour. Tirei os óculos escuros dele assim que me dei conta, colocando no bolso interno da minha jaqueta. – Ok, agora sim.

Fechei minha própria trava, sabendo que meu celular e carteira estavam seguros nos meus bolsos bem fechados com zíper. Não era os meus melhores jeans, mas eram os mais seguros. Olhei para Enrique, cheio de expectativa. 

— Está pronto? - Perguntei animado, me segurando firme naquelas espumas que revestiam a estrutura do brinquedo na altura do peito.

— Eu não estou bem certo de ter entendido o que acontece agora... - Ah, isso vai ser muito divertido!  Ele se assustou um pouco quando começamos a nos mover.  – Cesc, o que acontece agora?

— Agora a gente sobe e reza... Sério, reza! - Apontei para ele, que fez uma careta para o sol espanhol que nos banhou assim que saímos da plataforma. A subida finalmente havia começado e Enrique olhava para trás e para os lados, para as centenas de pessoas no parque, ficando cada vez menores com uma expressão alarmada.

— Eu tinha uma ideia diferente, achei que seria uma montanha realmente, isso aqui não parece tão assustador. - Ele falou com arrogância, mas estava segurando firme no apoio, que ele não é besta.

— Espera só... - Falei com um sorriso sádico, porque estava quase no topo. Deus, quando chegamos no topo os nossos pés ficaram completamente soltos no vazio, com todo o parque visto de cima! – Pode gritar se quiser, não faz vergonha.

— Por que eu grita.... - Hahaha, ele gritou e eu morri de rir, mas para ser sincero eu não consegui fazer meu pescoço virar para olhá-lo e ter a experiência completa desse mico, porque a gravidade é muito cruel!

A primeira descida foi insana e emendou com um looping onde um flash nos cegou - vou comprar essa foto! - e depois nós mergulhamos na caverna arqueológica, cuja a evolução das espécies passava tão rápida com todas as viradas bruscas e luzes piscantes, que eu não poderia me lembrar de nenhum dos fósseis decorativos! 

Saímos novamente a luz do sol, só para encarar mais um looping que terminava em uma cascata paleolítica, com direito a gases tóxicos saindo por entre as pedras e respingando água na gente.

O brinquedo finalmente parou - depois de mais algumas viradas bruscas e uma subida tremulante que pode ter feito meus dentes racharem - e estávamos todos ofegantes. Ouvi um resmungo exausto de Enrique ao meu lado, soou como um “acabou?”, mas pode ter sido um “blobobô”. Já que eu não sei o que é o segundo, eu vou responder ao primeiro palpite. 

— Ainda tem a volta. - Fiquei surpreso por minha voz ter saído firme e um nano segundo antes do brinquedo nos puxar para trás e fazer todo o caminho inverso.

Quando finalmente voltamos para a plataforma, as pernas tremiam e parecia que eu tinha usado todas as drogas do mundo, mas era só a adrenalina correndo nas veias. A sensação era fantástica, ajudei Enrique a sair da frente das pessoas ansiosas para tomar o nosso lugar, comprei nossa foto de recordação e só paramos quando achamos um banco livre pra sentar.

— Primeiras impressões? - Perguntei animado, mas ele só sacodia a cabeça, parecendo um cachorro molhado. Olhei para a foto, que estava horrorosa, os dois de boca aberta e braços no ar. Com um pouco de magia, teremos um belo gif para guardar de lembrança.

— Você podia ter me avisado! - Ele acusou divertido e é verdade, eu poderia ter explicado melhor, até mostrado alguns vídeos, mas eu tenho certeza que as sensações foram amplificadas pela completa ignorância dele.

— Avisado o quê? Você já fez pior em uma vassoura, se não se lembra! - Falei rindo, enquanto devolvia os óculos dele. Ele passou a mão no cabelo comprido e aceitou o objeto de volta. Pus a foto no bolso antes ocupado pelos óculos escuros.

— Mas nunca fiz isso amarrado, sem poder usar minha varinha e completamente a mercê de uma engenhoca trouxa! - Ele soou meio histérico ainda, mas o brilho nos olhos era de quem tinha curtido muito. – Quantas pessoas já morreram nesse troço?

— De queda? Nenhuma. - Ele me olhou com um sorriso desconfiado e eu completei. – E acho que de nenhum outro modo também, é um brinquedo perfeitamente seguro!

— Ok, eu acredito. Qual é o próximo da lista? - Ele esfregava as mãos com ansiedade e eu dei de ombros, porque podia ser qualquer um agora.

— Que tal almoçarmos? - Perguntei como quem não quer nada e ele me olhou esquisito.

— Isso é algum tipo de jogo trouxa? Por que eu comeria antes de ter minhas tripas reviradas em uma dessas geringonças cheias de parafusos e metais retorcidos? - Apontei com um sorriso malicioso pra ele, que piscou confuso.

— Garoto esperto! Sabia que ia aprender rápido! - Me levantei e espalmei minha roupa, que parecia mais amarrotada do que o de costume. – Levanta, temos muita coisa para ver ainda.

Ele não precisou de um incentivo maior, porque Enrique não era exatamente um grifinório, mas adorava qualquer coisa que parecesse remotamente perigosa e para a nossa sorte, havia várias dessas belezinhas por aqui.

***

Voltei para casa no início da noite para trocar de roupa e violar as regras mágicas diminuindo o presente de Enrique até colocá-lo em uma sacola que cabia na parte interna das vestes. Os Dussel haviam me mandado uma chave de portal a ser ativada às 19 horas e eu quase a perdi tomando banho, mas fazer o quê? Cheguei na mansão deles de cabelo molhado mesmo, faz parte do meu charme.

Como a maioria das casas de bruxos cismados, a aparatação ou simples aparição no meio da sala era terminantemente proibida, então me vi na frente de uma grande porta escura, com entalhes intricados, que bem poderiam ser alguma maldição para um visitante nada bem-vindo.

— Agora essa... O que eu falo para o mordomo? - Bati na aldrava meio inseguro, trocando o peso de um pé para o outro, mas parei de fazer isso assim que a porta abriu.

— Nós não temos mordomo, Cesc, você não tem que falar nada. - Enrique falou com um sorriso sacana no rosto e eu ri, entrando na casa de rico dele.

Olha só para isso! Então é assim que é uma mansão de bruxos modernos? 

A casa era visivelmente nova, já tinha reparado, porque dava para ver isso desde os jardins com um paisagismo artístico até a entrada, com heras bem aparadas ao redor das colunas brancas, quase brilhantes de tão acetinadas.

Mas o átrio era outra história... Se o exterior poderia passar tranquilamente por uma moradia de um magnata trouxa, o interior não deixava dúvidas: era uma casa mágica. Os Dussel pareciam adorar os contrastes, porque havia um teto claro e alto, tão brilhante com seus cristais e candelabros polidos como diamantes contra um piso escuro, que poderia guardar um portal direto para as profundezas do submundo.

Acho até que vi algo se movimentando sob os nossos pés!

— A sua casa é muito... Uau! - Eles tinham uma daquelas paredes de água flamejantes como em Ilkley Moor, mas aqui dividia o saguão da espaçosa sala de visitas e dava um toque de charme insinuante e aconchegante a todo o lugar.

Era extravagante, sem parecer exagerado e combinava a perfeição com os convidados da festa. 

Enrique me conduziu através da sala e eu até vi rostos conhecidos - Heitor e Hector estavam conversando algo em um canto, com Jweek assistindo tudo a uma distância educada - principalmente o de Tony, que apontava para sua ídolo, como se dissesse “você viu quem está aqui?”, mas eu não pude parar para falar com ele.

Tínhamos um destino certo.

Próximo as portas francesas que deviam dar nos jardins de trás, estava o já muito conhecido e intimidante Ciaran Dussel, com uma mulher loira de aparência delicada, mas que tinha o mesmo queixo teimoso de Enrique e...

E Erick.

— Aí está o meu sobrinho favorito! - Se eu ganhasse um galeão para cada vez que essa criatura demoníaca me diz isso... Sorri falsamente para ele, porque podia sentir o olhar escrutinador de minha sogra, única naquele círculo que não me conhecia. 

— Que surpresa vê-lo aqui, Erick. - Uma resposta perfeitamente neutra e então um sorriso encantador para os meus sogros.–  Senhora Dussel, senhor Dussel, como vão? É um prazer finalmente conhecê-la, senhora!

— Ah, mas o prazer é todo meu! Ouvi falar muito de você. - Ela olhava de mim para Enrique com um olhar avaliador e era loira como minha mãe, pequena como ela, mas seu sorriso tinha um toque de encantamento que falta no sangue do meu sangue.

Acho que nós nunca conseguiremos sorrir com tamanho brilho feliz e puro.

A senhora Eileen Dussel era exatamente o tipo de esposa troféu que faria um viúvo mais velho cair de quatro a seus pés, mas tinha um brilho inteligente no olhar, muito parecido com o de Enrique, que nem parecia ser seu filho de tão alto que era ao seu lado.

— As pessoas tem tendência a exagerar meus feitos, mas eu gosto que falem de mim, é melhor do que não ser lembrado. - Falei simpático e ela acenou em concordância, mas antes que qualquer um falasse mais alguma coisa, um trocinho loiro invadiu o nosso círculo e foi prontamente carregada pelo anfitrião. 

— Lembra de Cesc, Mirela? - Ciaran perguntou bem-humorado para a neta e a garotinha apenas colocou um dedo na boca, como se estivesse em dúvida se me conhecia ou não. – É o namorado de seu tio Enrique, você o conheceu no nosso estádio, lembra?

Aí estava, nada de “amigo” ou “colega”, Ciaran havia dito “namorado” com todas as letras e nem mesmo Erick - que era a criatura mais antiga que devia ter nesse condado inteiro - pareceu desconfortável com isso.

Família modernosa, hein? 

— Não lembro não, mas eu sou Mirela, mas pode me chamar de Lela se tiver uma borboleta aí com você. - Ela olhou como se estivesse realmente procurando uma borboleta com visão de raio-x em mim e eu só levantei as mãos para ela terminar a vistoria. – Chame de Mirela então. 

— Cesc provavelmente pode fazer uma borboleta bem legal, Mirela, ele é muito bom com feitiços! - A garotinha franziu o cenho como um pequeno coelhinho de olhos rasgados, porque não tinha gostado do comentário do tio.

Não ferra comigo, Enrique!

— Tio Heitor tentou com feitiços, mas não é o mesmo! - Ela sacodiu o dedo perigosamente perto do meu nariz e o avô finalmente a conteve, dando risada. – Feitiço não é a mesma coisa!

— Tem borboletas no meu jardim, umas bonitas, azuis e brancas, mas elas só aparecem a noite, meu cachorro tenta pegá-las... - Mirela arregalou os olhos e eu corrigi automaticamente, era só o que faltava fazer a menina chorar depois dela me perdoar pela besteira que Enrique falou sobre mim. – Mas nunca consegue, ele é muito bobo. Ele nunca pegou nenhuma!

Olhei alarmado para Enrique e depois lembrei de uma foto legal que eu tinha tirado para Louise com meu celular, na manhã antes de voltarmos a Hogwarts, depois de termos saído para o feriado do Natal. Corri para pegar o celular no bolso, sob o olhar julgador de Mirela.

Passei rápido as fotos com Enrique no parque e as poses engraçadinhas de Perseu, fotos do evento de Quadribol, das zoeiras do time... Passei a olhar as fotos em miniatura, porque senão não acabaria hoje.

Cheguei finalmente na foto com um foco na borboleta, que era pálida, um branco acinzentado com pequenas manchinhas marrons. Era uma foto incrível, porque atrás da borboleta havia uma Louise desfocada, com seu cabelo preso, feliz por ter conseguido colocar a criatura na ponta do dedo.

— Olha só que borboleta bonita. - Virou uma bela de uma foto bem curtida no Instagram da minha irmã e agora estava salvando minha pele com uma garotinha de 4 anos obcecada por borboletas.

Ainda bem que eu não apago nada nesse telefone!

— Ai que linda ela! - Mirela pegou meu celular com as duas mãos e mostrou animada para o avô, que sorriu para ela com uma doçura que eu nunca esperaria de um homem como ele. – Não é linda, vô? Qual o nome dela?

— A gente não colocou um nome nela, ela foi embora muito rápido... - Não iria dizer que a borboleta tinha morrido, já que ainda estávamos no inverno e foi um milagre ela sequer ter aparecido nessa época do ano. – Borboletas não gostam de ficar para o chá lá na Espanha.

— Estava falando da fada do bosque que está com ela! Qual o nome dela? - Ah, tá!  Ela está falando de Louise, embora tenha errado por muito a criatura que minha irmã é. Troll da montanha é uma definição melhor.

— Ah, essa fada? Por acaso é minha irmã, veja você, eu tenho outra foto dela, espera um minuto... - Tomei com cuidado o celular da mão dela e mostrei uma foto de Louise em um dos jardins de Sevilha. 

Ela estava em um canteiro de rosas da cor rosa, se misturando ao ambiente, rindo divertida, porque estava usando um vestido cuja a estampa florida parecia se misturar com o cenário. Eu tinha que admitir, minha irmã era irritante, mas era uma das garotas mais bonitas que eu já tinha visto, ainda mais quando sorria assim.

Credo, ainda bem que ela não pode ler minha mente. Olhei para cima, deixando Mirela se apossar do meu celular de novo, mas foi uma péssima ideia, porque Erick me olhava com um sorrisinho simpático.

Não ouse se aproximar da minha irmã.

Deixei claro com o olhar, mas ele apenas deu um gole em sua taça de água, divertido. Por todos os santos da cristandade, pra quê os Dussel foram apadrinhar essa peste goguenta? Ele piscou para mim e aceitou o celular da mão de uma Mirela encantada. 

Erick sorriu e devolveu o aparelho para a garotinha. Ela olhou mais uma vez para o celular, depois me devolveu com um sorriso que a fazia parecer uma mini adulta. Fez que sim com a cabeça, como se sinalizasse que eu fui aprovado em seu teste. 

— Pode me chamar de Lela.

***

Eu estava esperando que quando finalmente fôssemos jantar, seria cada um pegando um prato e se servindo a vontade, depois achando um bom lugar para comer, mas os Dussel realmente seguiam a etiqueta, porque os cerca de trinta convidados foram conduzidos para uma mesa de jantar enorme, em um salão com uma vista incrível para um céu estrelado e um jardim banhado pelo brilho da noite.

Os Dussel lançaram algum feitiço no céu para ter essa noite bonita hoje, não é possível! 

Tinha ficado com Tony de um lado e Hector do outro. Enrique havia sido colocado no lugar do anfitrião, ladeado pelos pais. Era uma disposição esquisita, mas ninguém falou nada e eu aproveitei para conversar com Tony.

— Já te disse que nem mesmo eu sei se vou conseguir ir pra algum lugar, é uma coisa complicada. - Estávamos continuando uma conversa que havíamos começado por mensagens instantâneas, via pena do Ocaso. Tony estava sendo cabeçudo, como sempre. 

— Estou te dizendo, se nós ganharmos a final, a Durmstrang vai te querer e se eles não quiserem, Beauxbatons te aceita! - Tomei um gole de água, ansioso pelo primeiro prato que roubaria a atenção de Tony para outro tema. O antepasto não foi o suficiente. 

— E eu estou te dizendo que é complicado, porque meus pais não tem conexões e não sabem com quem falar! É só por um semestre, assim que Hogwarts voltar, essa história de escola substituta vai ficar para trás! - Disse conclusivo, fazendo um gesto com a cabeça para ele. – Coma sua comida, por favor.

Ele comeu e até tentou voltar a falar, mas a comida estava muito boa, então ele deu outra garfada em seu peito de pato defumado com ragu de ervilhas negras. Tive um minuto de paz para apreciar o meu, mas quando olhei para frente, vi a outra irmã Dussel me encarando por cima da borda de seu copo.

Não sabia se seria deselegante falar com ela, mesmo tendo uma mesa entre nós, mas resolvi arriscar, já que ela me encarava com um sorriso estranho.

— Parabéns pelo bebê, senhora Dus... Desculpe, eu não sei o seu sobrenome de casada. - Ela sorriu sincera, desviando o olhar para o irmão mais velho ao meu lado, antes de me responder.

— Sou Helena Romansek e obrigada pela lembrança. - Ela foi simpática, então acenei com a cabeça para a resposta, não tinha muito mais o que dizer a ela, então voltei a comer. – Então Cesc, vai para que escola agora que Hogwarts está temporariamente indisponível?

Pisquei surpreso dela querer continuar a conversa, mas ganhei um bom tempo mastigando bem devagar o meu pato delicioso. Bem, Enrique havia me dito que ela passou mal ao saber da falha de Hogwarts, então eu não prolongaria muito o assunto.

— Não sei ao certo, sou de família trouxa, então é provável que fique em alguma escola na Espanha mesmo. - Dei de ombros, demonstrando desinteresse. – É uma questão temporária, logo estaremos de volta a Hogwarts. 

— Soube que não pode ir para América ou África, limites bastante rígidos para alguém da sua idade, se me perguntar. - Hector falou como quem não quer nada e como se não tivesse estado no meu julgamento, eu o olhei ofendido por ele ter trazido o assunto a tona em um jantar como esse. – Mas tem sorte, sabia que a mãe de Enrique estudou em Beauxbatons?

Sim, eu sei, palhaço! Onde você quer chegar com isso? 

— Ah, sim? Que ótimo! - Falei pronto para mudar de assunto, porque Hector havia levantado o olhar para irmã com um sorriso de escárnio muito macabro e eu iria acabar espetando a mão dele com meu garfo.

— Eileen, você ainda tem certa influência em Beauxbatons, não é? - Ele aumentou a voz para alcançar a madrasta na cabeceira da mesa, mas continuou olhando para mim. A conversa cessou para escutar esse diálogo em específico. 

— Bem, sim... Eu sou uma benfeitora da escola e tenho boas amizades entre o corpo docente, por que pergunta, Hector? - Sim, Hector, por que pergunta? Eu gostaria de pensar que ele estava apenas sendo simpático e envolvendo a mesa em um assunto em comum, mas esse é Hector, o vilão do conto do meu namorado, não tem essa de simpatia!

— Apenas estava falando com Cesc aqui, que independente de vagas e conexões familiares, se uma benfeitora lhe desse seu beneplácito, ele poderia entrar em Beauxbatons facilmente. - O irmão de Enrique levantou a taça a isso, pingando charme vilanesco por todos os poros.

ONDE ELE QUER CHEGAR COM ISSO?

— Cesc e Louise deveriam ter ido para a França desde o princípio, mas Hogwarts os reivindicou sem razão alguma. - Outra criatura extremamente charmosa e dissimulada completou a fala de Hector e eu realmente fiquei assustado. Erick sorriu saudoso para a mãe de Enrique.  – Seria um sonho realizado vê-los em Beauxbatons! 

Quê?

Eileen piscou confusa, mas se recompôs rápido, abrindo um sorriso deslumbrante. Ela deveria estar, como eu, se perguntando onde estava a armadilha nessa história toda, que parecia muito inocente, mas... Pelo amor de Deus, Erick e Hector tocando no assunto, deve ser uma merda bem fodida!

— Então está decidido, mandarei uma carta falando em seu favor e no de sua irmã, querido! - A mulher falou encantadora com seu sorriso sincero. Sorriu para seu filho ao seu lado, que tinha uma cara bem “mas que porra foi essa?”, dando um tapinha em sua mão. – Ele vai adorar minha querida joia celeste, verá!

Depois disso, todos voltaram a falar de assuntos amenos e eu apenas encarei Enrique através do comprimento da mesa. Ele deu de ombros, então eu fingi que não estava com os pelos da nuca arrepiados de medo com essa história toda.

— Bem, isso foi fácil. - Tony sorriu pra mim e eu revirei os olhos. Se meu amigo apenas soubesse em que merda eu fui jogado agora...

Pra ser sincero, nem eu sei, mas deve ser um negócio horrível, tendo em vista quem orquestrou o plano. Mas se tiver um dementador me esperando lá na França, eles podem ter certeza de que eu vou cair lutando!

***

O jantar tinha acabado com o brinde tradicional a vida do aniversariante -  que ironia incrível, Hector e Erick brindando a isso - e os grupos de adultos haviam voltado a conversar com quem lhe era mais próximo, então Enrique aproveitou para vir cobrar seu presente em seu quarto. 

— Você vai abusar de mim ou algo assim? - Perguntei observando o quarto com atenção -  grande, imponente e cheio de espaços vagos, que nem a mente do dono. Enrique cruzou os braços com petulância. 

— Não vou fazer nada com você, eu literalmente quero meu presente. - Credo, que garoto interesseiro! – Louise disse para eu insistir e não aceitar nenhum tipo de enrolação sua!

Credo, que garota ridícula! 

— Eu tenho um presente, mas espera! Espera, merda! - Parei o tatear dele nos meus bolsos, porque aquilo era loucura e eu estava perdendo a força por conta da risada.  Enrique é muito ridículo.  – Deixa eu falar, antes de você ganhar seu presente. 

— Ok, fale, mas seja rápido.  - Ele cruzou os braços e franziu os olhos, lembrando muito a sobrinha dele há horas atrás ao defender suas borboletas. 

— É um presente romântico e atencioso e eu estava quase desistindo antes de encontrá-lo. - Ele me olhou desconfiado e eu sorri para esse descrente. – Feche os olhos e pense naquilo que mais gosta de fazer.

Ele fechou os olhos, mas deu um sorriso malicioso, então eu tive que revirar os meus. 

— Não é isso que você está pensando, idiota! - Ele estava pensando em baixaria, claro. Tirei o pacote do bolso e o aumentei magicamente, ajeitando o presente em cima de uma escrivaninha. Mordi os lábios ao pegar a mão dele e colocar sobre o objeto. – O que acha que é?

Enrique escorregou os dedos pela peça, deixando as pontas assumirem um tom metálico graças a esse poder esquisito dele e muito do subaproveitado, se quer saber minha opinião.  Ele fez uma careta confusa, colocou a outra mão para ajudar e assim que fez isso, pareceu descobrir o que era.

E sorriu.

Ele abriu os olhos para olhar curioso o meu presente e pareceu realmente feliz, o que me deixou aliviado. Apertei uma das teclas, fazendo o som soar alto no quarto silencioso.

— Sabe que sempre quis ter uma dessas? - Ele olhou para a máquina de escrever estilizada com uma cor bronze e teclas que lembravam pequenas moedas antigas. Ele sorriu para mim, de um jeito que me deixou muito orgulhoso pelo presente. – Eu costumava fugir para o setor de contratos da empresa só para por minhas mãos em uma dessas, Helena ficava furiosa com todo o trabalho perdido que eu causava...

Ele disse divertido e saudoso, como se a imagem da irmã diabólica dele furiosa fosse uma boa memória de infância.  Me encostei na escrivaninha de leve, para observá-lo melhor.

— Você não tem escrito muito nesses últimos tempos... - Falei como quem não quer nada e ele continuou deslizando os dedos sobre a máquina, quase que hipnotizado. – Me lembro que essa era uma das coisas que mais me chamava atenção em você: o trasgo do quadribol que sempre estava com a boca suja de tinta... Você apoiava a ponta da pena nos lábios e sempre tinha pelo menos um ponto mínimo neles. 

Ele sorriu e me olhou de soslaio.

— Tenho estado ocupado, mas acho que vou ter que achar um tempo, já que você se deu ao trabalho de me dar um instrumento tão perfeito. - Sorri para ele, que começou a revirar as gavetas, Deus sabe o porquê. 

— Essa máquina tem história: sobreviveu a um despejo da MACUSA, foi resgatado por uma poetisa americana que a enfeitiçou para aceitar toda sorte de tintas mágicas e por fim, atravessou o mar até aqui na mala de sua neta bastarda, essa sendo sua única herança. - Dei de ombros, porque a história ficava melhor quando contada por uma velha banguela. – Atravessou para a Espanha, na verdade, mas você entendeu!

— E agora está aqui... - Ele finalmente achou o que estava procurando, um simples pedaço de pergaminho. O colocou na máquina demonstrando que realmente tinha certa familiaridade com o objeto. – E agora, o que eu escrevo com ela?

— A velha que me vendeu disse que ela faz a mais bela das magias, suponho que seja um elogio a suas habilidades de escritor. - Ele sorriu enquanto pensava no que iria escrever primeiro. – Escreve algo sobre mim, um negócio romântico e sexy, algo que faça as garotas chorarem ao...

— Você quer ficar quieto? - Ele riu e eu fiquei de boca aberta, o encarando ofendido. – Você fala demais...

Ele parecia um pouco tímido, então eu fechei a boca, assim que ele começou a afundar os dedos nas teclas de moedas antigas.  Olhei discretamente o que ele estava escrevendo para ver se era algo sobre mim.

Havia o mar e havia ele me convidando para nadar

— É bom esse “ele” ser eu. - Sussurrei enquanto o assistia sorrir para minha fala, ainda teclando na máquina, com o olhar concentrado. Ia me virar para ver o restante, mas ele parou de escrever e me encarou antes de sussurrar no mesmo tom que eu, o que havia escrito.

— E ele era seu próprio sol.


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Notas finais do capítulo

Lembram dessa referência? Do poema nunca escrito, blablabá... Se não lembram, deixa pra lá, snif, snif.

Bjuxxx