Flores pra você escrita por Matthews


Capítulo 2
2




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Na manhã seguinte acordei e não saí da cama, olhei para o lado e vi que a cama do Henrique estava vazia. Menos mal. Não vou precisar conversar com ele.

Isso não vai dar certo. Ainda estou agindo como antigamente, era pra ser diferente.

Então resolvo sair da cama, decido que vou fazer novos amigos e aproveitar que não tem aula ainda e conhecer o campus. Levanto, vou para o banheiro do meu andar, assim que chego lá me arrependo de ter ido, o local está cheio, não suporto toda essa felicidade que emana, quase saio correndo, mas me mantenho firme, e vou para pia escovar meus dentes. O ato se torna mais demorado do que deveria ser, não estou acostumado a escovar meus dentes com pessoas em volta.

Quando estou saindo recebo alguns sorrisos de outros alunos, e me pego surpreso sorrindo para eles de volta. É assim que se começa a fazer amizade?

Não me lembro de quem começou a amizade primeiro, mas depois de um tempo nem importava mais. Era ela que importava, Lena.

Tenho que parar de pensar nela. Isso não vai me fazer bem. Ela faz parte do passado, assim como tudo que aconteceu.

Assim que saio do dormitório escolho uma direção qualquer, sei mais ou menos quais vão ser e onde serão minhas aulas. Então só me resta procurar os prédios. Me distraio andando e acabo parando embaixo de uma árvore. Sento no chão aproveitando a sombra que ela fornece. Vejo Henrique passando e ele acena para mim, aceno de volta.

Essa é outra coisa sobre a qual eu não me lembro de ter acontecido com Lena, ela nunca passava e acenava, ela sempre vinha e dava um oi. Me perguntava como eu estava e ficava. Ela sempre ficava, sempre ficou. Até o dia da formatura.

Escuto alguém chorando do outro lado da árvore. Fico tentado a ir embora e fingir que não escutei, mas depois de escutar não tem como voltar atrás. Se eu não ver o que está acontecendo nunca vou esquecer que poderia ter ajudado.

Me levanto e contorno o árvore, vejo que quem esta chorando é uma garota. Paro em frente e faço sombra. Ela me percebe, posso dizer por que tenta controlar o choro, depois de alguns segundos ela levanta a cabeça, ela tem um rosto bonito, mesmo em meio toda essa bagunça que são as lágrimas e a maquiagem um pouco borrada.

— Me desculpe, mas não pude deixa de te ouvir chorando, é que eu estava sentado do outro lado da árvore e bem não tem muita privacidade aqui. Você está bem? — Nunca falei tanto com ninguém dessa faculdade.

— Bem eu não estou, mas vou ficar. Não vai ser um término que vai me colocar pra baixo — ela me responde um pouco mais alto que um sussurro.

— Ai meu Deus, sinto muito. — Eu não sei mais o que dizer e fico lá, parado, encarando. Coloco minhas mãos nos bolsos e faço que vou sair, mas ela começa a jorrar sua história:

— Namorei com ele por mais de três anos, sempre fiz tudo o que ele pedia, eu nunca tinha voz, era só o que ele queria, acho que meu erro foi esse. — Dá pra notar que sou o primeiro que escuta essas palavras e que a narrativa vai ser longa, então me sento — Meus pais sempre falaram que eu não deveria ficar com ele, mas eu não escutei. Claro que não escutei. Eu estava apaixonada, aficionada. Achei que podia mudar ele, sei lá o que pensei. Agora acho que nem faz sentido. Ele nem gostava tanto assim de mim. — Ela para de repente e me olha como se só tivesse me percebido agora. — E santa porcaria o que eu estou fazendo? Eu acabei de te conhecer, na verdade eu ainda nem seu nome.

— Me chamo Gabriel — digo estendendo a mão para ela. Ela me olha desconfiada, parece pensar um pouco, mas acaba estendendo a mão.

— Meu nome é Florença — acho que não consigo evitar o choque no meu rosto, essa é a primeira vez que vejo alguém com esse nome.

— Tipo a cidade?

— Sim, tipo a cidade. E se você não se importa estou muito triste pra ter toda essa conversa sobre meu nome.

— Ata, claro, me desculpe. É um nome um pouco diferente e me pegou de surpresa. E não vai fazer diferença, mas eu gostei dele.

— Olha eu tenho que ir. — Ela falou de um modo meio corrido, se ainda estivesse pensando na possibilidade de ficar ali — Estou morrendo de fome e não quero ficar chorando e te fazendo perder tempo.

— Eu não tenho nada melhor pra fazer mesmo, então não foi uma perda de tempo. E se você não se importa eu poderia te acompanhar até o restaurante? Ainda não sei onde fica.

Ela me olha inspecionando, deve estar perguntando se eu sou um maníaco ou algo do tipo, será que eu tenho cara de maníaco? Acho que não:

— Não vai ter problema, Gabriel. — Ela demora um pouco pra lembrar do meu nome, mas quando ela fala um pequeno sorriso se forma nos meus lábios.

Me levanto primeiro e estendo uma mão para ela. Assim que estamos de pé nos colocamos a caminho do restaurante, andamos lado a lado, mas não conversamos. Ela ainda está perdida nos pensamentos sobre o término. Me pergunto o que aconteceu para ela ter parado chorando embaixo de uma árvore. Com certeza coisa boa não é.

Antes que eu perceba chegamos a um prédio de um único pavimento bem no meio do campus, não sei como eu não reparei nele antes, devo ter passado perto dele umas duas vezes. Assim que entramos vamos para fila, não sei bem como funciona por aqui, observo Florença e a imito um pouco. Assim que passamos pela fila não sei o que fazer, devo procurar uma mesa só pra mim? Ou iremos sentar juntos? Temos intimidade para isso?

Ela parece achar que sim, por que começa a andar e olha para trás com uma cara de quem diz: você vem ou não? E eu vou. Se não fosse atrás dela me sentaria sozinho. Melhor sentar com ela.

Achamos uma mesa com algumas vagas, nos sentamos nela. Durante todo o tempo do almoço quase não conversamos. O clima está um pouco pesado, então resolvo começar com a única que eu sei que temos em comum:

— Qual curso você vai fazer?

— Letras com especialização em literatura fantástica. E você?

— Medicina com especialização em cardiologia.

— Por que cardiologia? — Ela me olha como se eu fosse louco.

— Por que literatura fantástica? — devolvo o olhar.

— Porque simplesmente sim. Posso ir pra qualquer lugar, posso ser o que quiser, posso fazer o que quiser, não há limites. Pare de me olhar como se eu fosse louca. Espera você está sorrindo. Por que está sorrindo?

— Por que eu te entendo perfeitamente, literatura fantástica sempre foi a minha favorita entre todas. E eu escolhi cardiologia por causa do coração, sempre gostei dele, sem ele não há circulação de sangue, nada funciona, sem ele você morre. Desculpe se é um pouco mórbido.

— Desculpado.

Terminamos de almoçar em silêncio, cada um perdido em pensamentos. E os meus voltaram mais uma vez pra Lena, eu só me abria facilmente com ela. E essa garota me fez querer contar tudo pra ela. E céus se ela tivesse perguntado eu teria contado.

Ela se levanta primeiro, se despede e sai, fico olhando ela partir. Ela ainda está triste posso dizer pelo modo como anda de cabeça baixa, tentando passar despercebida. Me levanto e saio após alguns minutos. Ando em direção ao dormitório.

O resto do dia é um borrão, não sei o que fiz, não poderia dizer, por mais que tentasse.


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Notas finais do capítulo

Não sou muito bom nesse lance de notas, na verdade nem gosto de deixar notas nos capítulos, mas sei lá, vamos tentar.
Bem me digam o que estão achando, não custa nada. E me deem idéias. Eu já tenho quase tudo planejado, mas sempre é bom ouvir sugestões.
Acho que é mais ou menos isso, até o próximo.



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