Flores pra você escrita por Matthews


Capítulo 1
1




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Minha vida tinha acabado de começar, bem, não literalmente. Eu acabei de sair de casa e fui para a faculdade. Então estou vendo isso como um recomeço, uma nova chance, a minha última chance.

Meus pais decidiram que eu teria que ficar no dormitório da faculdade, maravilha. Nada de apartamento só pra mim, nada de privacidade. Vou ter que conversar, ser sociável, ser prestativo. Ou não...

Quando saio do carro e olho pro prédio pela primeira vez percebo que essa pode ser a melhor parte da minha vida, tem que ser a melhor parte da minha vida. A minha vida no passado foi um tremendo engano. Na maior parte do tempo eu não sabia o que estava fazendo. Como na festa de formatura.

Passei os últimos três anos de escola gostando da mesma garota, Lena, éramos amigos, super amigos, sempre fazíamos todos os trabalhos juntos, e sempre estávamos juntos. Mas eu nunca tinha tentando nada pois não sabia se ela gostava realmente de mim. O intervalos sempre passávamos juntos e nossos corpos ao longo desses três anos se conheceram tão bem, nossas mãos juntas, minhas mão na sua cintura, no seu cabelo, no seu rosto, mas a dela nunca estava em mim e era isso que me impedia de ir em frente.

Isso e a minha falta de experiência, eu tinha 16 anos e nunca tinha beijado uma garota, não me importava com isso, sempre pensei que aconteceria na hora certa. Naqueles momentos sempre desejava que eu tivesse me importado, desejava ter experiência.

Lembrar dessa época sempre me causa uma sensação estranha, como se eu ainda estivesse vivendo aquilo, como se eu ainda não soubesse como agir quando estava perto dela, mas agora mais nada disso importa.

Ajudo meu pai a tirar o resto das minhas coisas de dentro do carro e enquanto caminhamos em direção ao meu quarto eles não falam quase nada. É sempre assim, andamos lado a lado, porém parece que são quilômetros. A conversa que já era escassa ficou ainda pior quando eu terminei os estudos e não entrei na faculdade de primeira.

Destruí todos os sonhos deles. Destruí meus sonhos, mas foi antes disso, antes de não entrar na faculdade.

Antes que me de conta já chegamos ao meu quarto, enquanto destranco a porta torço para meu colega de quarto ainda não ter chegado. Assim que abro a porta vejo que minhas preces foram atendidas o quarto está vazio, sem sinal de ninguém. Meus pais entram colocam as caixas e malas que eles carregaram no chão, eu faço o mesmo. Enquanto dou uma boa olhada no quarto escuto alguém chorando, viro e vejo que minha mãe está se acabando em lágrimas. Já era de se esperar que ela fosse chorar.

–Mãe, por favor não chora. - digo com a voz mais calma que consigo fazer - Esse sempre foi meu sonho, e vocês sabiam disso, sabiam que um dia eu teria que sair de casa.

–Eu sei filho, mas nunca estamos prontos para essas coisas.

–Eu sei, e não vai ser tão difícil assim, já que a faculdade fica perto de casa, - perto do tipo uma hora e meia de carro - não vou poder voltar todos os finais de semana, mas sempre que der estarei lá.

–Isso mesmo, você tem que se concentrar em seus estudos, nós vamos ficar bem. E nesse momento nada é mais importante que seus estudos. - meu pai era calado, mas sempre tinha a coisa certa a dizer.

–E eu vou, não se preocupem, vou ficar bem. Tento entrar em contato todos os dias. Amo vocês.

–Também amamos você. - responderam os dois ao mesmo tempo.

–Comporte-se - acrescentou meu pai enquanto me abraçava. Na vez da minha mãe ela acrescentou:

–Faça amigos, saia do quarto, viva.

–Vou tentar. Vejo vocês em breve. Me liguem quando chegarem.

Quando eles saíram fiquei sem saber o que fazer, não sabia se esperava meu parceiro de quarto para escolhermos as camas ou se já podia pegar uma, por via das dúvidas não fiz nada. Fiquei parado meia hora em frente a janela observando o movimento no campus, pessoas chegavam, pais saíam, amigos se reencontravam, casais andavam de mãos dadas.

Ver os casais foi uma pontada, sempre imaginei que já estaria namorando quando entrasse na faculdade, e por mais besta que pareça imaginei que eu e minha namorada estaríamos na mesma faculdade, juntos até o fim. E a única chance que eu tive eu desperdicei.

Já era o fim do ano, a festa de formatura estava chegando Lena disse que não estava com vontade de ir, depois de muito pedir ela acabou aceitando ir. Seria minha última oportunidade, tinha me dado até a festa de formatura para tomar uma atitude.

Naqueles tempos tinha certeza que ela me amava, ela passou a reparar mais, nossas mãos se encontravam mais facilmente, os abraços ficaram mais longos, suas mão percorriam o meu corpo, paravam nos meus braços, nas minhas bochechas, ela olhava no fundo dos meus olhos e sempre prestava atenção em cada coisa que eu falava. Ela me amava. Ela me amava?

–Oi, você deve ser o Gabriel - levei um susto quando escutei isso, meu Deus. Virei para trás e vi meu companheiro de quarto, um garoto de estatura media, cabelos claros, um pouco magro. Era como se estivesse me olhando no espelho, com exceção dos cabelos, os meus são pretos, cacheados e os deixo grandes.

–Sim, sou eu - respondi com a voz mais baixa que o normal. Eu deveria saber o nome dele, estava no formulário, mas não olhei. Fiquei encarando ele, esperando ele dar o próximo passo.

– Prazer em te conhecer, acho que você não deve saber meu nome, já que não falou. Me chamo Henrique. - Disse isso estendendo a mão no final. Apertei. Olhei para as camas. Pensando quem ficaria com qual. Não me importava com isso. Tanto faz em que cama vou dormir, o ano vai acabar e ela não vai ser minha mesmo.

Acabei ficando com a cama da esquerda, os pais de Henrique não apareceram, eu não perguntei por eles, não perguntei o que ele iria cursar ou estava cursando, não perguntei nada. Apenas arrumei minha cama, coloquei minhas roupas nos lugares, não tinha pôsteres, nem fotos que queria colocar nas paredes, de modo que ela ficou do mesmo modo.

O lado do Henrique já estava cheio de fotos de uma garota que só poderia ser sua namorada, ver aquilo me deixou com uma pontada de ciúmes, ciúmes por ele ter uma namorada, ciúmes por ele ter conseguido o que era pra eu ter conseguido.

Ainda estava cedo, porém deitei na cama e dormi.


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