Dentro do Espelho escrita por Iuajen


Capítulo 11
O Passado de Umbra. /Parte 2/


Notas iniciais do capítulo

Esclarecendo dúvidas, esse capítulo irá mostrar a todos vocês o começo do pesadelo que Umbra viveu no passado. Os dois próximos capítulos serão o desfecho desse passado sombrio.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/635384/chapter/11

– Ei, Umbra aquele não era Vincent? O cara que acabou de gritar seu nome?

A voz estava diferente, e a última visão era de uma mancha vermelho correndo até ele. Não tinha como ser Vincent.

– Não. A voz estava diferente demais. E ele era vermelho, não tem como ser ele.

– Ah! Tá ok, mas sei lá, o que a gente tá fazendo em cima das nuvens?

Ela olhava ao redor e percebeu que o piso em preto e branco estava em cima das nuvens e pareceu tremer um pouco.

– Urotsuki? Você tem medo de altura?

– Que isso?! Eu? Medo de altura? Por que eu teria medo de altura? Eu... eu só acho estranho que as nuvens sejam laranja, só isso, só isso.

Ela falava rápido e continuava a olhar o chão, parecia que estava com medo que o piso simplesmente caísse lá em baixo.

– Eu... medo de altura... Ahahahahaha... Boa piada.

Enquanto a gente andava, a garota de tempos em tempos, levava sua mão na tentativa de segurar meu braço, quando chegava perto, parecia desistir da ideia. Em uma das vezes eu estiquei o meu e segurei a mão dela.

– Se você não se importar. Eu tenho medo de altura.

A garota pareceu me encarar. Deu uma risada e apertou a minha mão.

– Tudo bem, eu seguro você.

Ela apertou e assim fomos de mãos dadas até a parte que começava a ter paredes, aonde ela pareceu bem mais tranquila e soltara a minha mão, apesar de que sempre que ela olhava para o céu, ela ficava no mínimo uns trinta segundo olhando.

– O que você tanto olha o céu?

– Por que você não olha? Vocês tem essa coisa bonita em cima de vocês sempre! Mundo injusto!

– Eles não te deixavam sair ao ar livre aonde você ficava?

– Não.

Ahhh, então eu podia entender o motivo, ela provavelmente ficou assim na cidade, eu que não percebi. Mas, a medida que íamos andando ela começou a reparar nas peças que apareciam e sempre falava o nome da peça quando via alguma diferente. " Peão!", "Cavalo!", "Bispo!", "Torre!"

– É estranho para mim você saber os nomes das castas do exército das peças, mesmo você tendo explicado que é um jogo no seu mundo.

– Ah, relaxa ai. Isso significa que nossos mundos estão conectados de alguma forma. Sombras são um conceito diferente no nosso mundo também, assim como o xadrez.

A garota parecia ser bem inteligente, e isso se mostrava mais acentuado a cada vez que falava. Se eu estivesse no mundo deles, e fosse o único da minha espécie lá eu ia ficar muito desesperado. Fomos andando, e finalmente chegamos aonde eu queria.

– A bruxa mora ai. Talvez ela saiba o que fazer.

– Eita!

A garota parecia estar apreensiva, e curiosa e bastante empolgada, não sei o que ela estava esperando, mas quando entramos na cabana, eu tive uma leve impressão que a visão acabou a desapontando, se levar em consideração, os ombros caídos, as sobrancelhas descrentes e o olhar indagador.

– Espera... é isso ai?

A garota estava encarando o gorro em formato de polvo que estava em cima de uma garota de cabelos rosas de rosto extremamente infantil, olhos vermelhos e uma roupa de boneca cheio de babados e desenhos de polvinhos que estava deitada sobre uma pilha de polvos de pelúcia.

– Sério mesmo? Essa coisinha ai? É uma bruxa hiper forte?

– Era, uma bruxa hiper forte.

A garotinha do gorro respondeu. De mau-humor para Urotsuki.

– Então... a garota do laboratório... estranho, deu azar garota.

Umbra olhou para a bruxa, não tinha ideia de como ela sabia o nome do lugar de onde a garota veio. Mas não precisou perguntar, Urotsuki, espantada já havia começado a perguntar inúmeras coisas.

– Você sabe da onde eu vim? Você tem aparência humana, quer dizer que você já viu algum? ...

– CALMA!

Uma voz ecoante e bem alta, fez com que Urotsuki se calasse.

– Não tem educação não? Fui eu que te chamei aqui, eu tenho que te explicar umas coisas que eu tenho certeza que você se pergunta desde que nasceu, é seu direito, e não importa o que aqueles pesquisadores falam e fazem, você é uma humana e deveria estar protegida também pelos direitos humanos que seu mundo tem.

– Sim! Eu já fui para o seu mundo. Você é de um laboratório onde fazem pesquisas para criar humanos artificiais. Você não possuí alma, por isso é capaz de passar pela barreira etérea, foi criada para que os seres fossem separados.

E então Urotsuki que ouvia aquilo com atenção, pareceu simplesmente balançar a cabeça como um modo de mostrar que entendeu.

– Eu já sabia. Pelo menos a questão de criação de humanos artificiais. Eles esconderam a razão de não nos mostrar de onde nascemos, mas não é difícil de ligar os fatos. Só não sabia que eu não tinha alma.

– É, você era a mais inteligente de lá. Então, não é uma surpresa. Mas você tem outra coisa que todos os humanos criados lá não possuem.

– A capacidade de ser a garota mais bonita e mais charmosa do lugar?

Enquanto Urotsuki ria, e eu permanecia ali calado, tentando entender toda a situação, a bruxa, pareceu sorrir contrafeita.

– Não. Por você não ter alma, você não está limitada a apenas a visão daquele mundo, você pode entrar nesse, e quanto mais crescer, mais mundos se abrirão para você. O que você tem que os outros não tem, é uma alma a sua procura.

– Tem uma alma me procurando?

– É. E você não pode deixar ela entrar em você. Ela já deve ter aparecido algumas vezes, o barulho que ela faz quando está próxima é de vidro quebrando seguido sempre de alguma coisa perigosa. Então apesar de ser algo ruim, lhe dá tempo de se proteger, porém, se você for morta, essa alma irá te possuir e você viverá dentro de você mesma sem ter o controle de suas ações.

– Wow! Isso parece que estou sobre a maldição Imperius para sempre. Mas basta eu não ser morta né? Então tudo bem, Umbra aqui vai me proteger, não vai?

Ela me olhou com aqueles olhos, eu que estava perdido no meio dessa conversa que ela parece ter entendido tudo bem facilmente via também o sorriso que ela me mostrava.

– Claro que sim.

Saiu meio que instantâneo. Não era o que eu queria dizer, mas não sei, pareceu o certo e foi o que eu senti. A bruxa por outro lado, sorriu para mim, como ela sempre fazia quando a gente se encontrava.

– Então Umbra. Cuidado com essa loirinha ai, ela é bem mais inteligente e perspicaz que você. Ah e toma cuidado com Vincent também, ele tá realmente estranho, a minha visão me mostrou que ele andou se cortando ontem e ele parece que conseguiu alguma coisa com isso, ainda não tenho certeza, tenho que investigar mais.

– Tudo bem. Mas ainda acho que vocês tão se preocupando demais. É o Vincent. Ele é tranquilo.

Dessa vez a visão da bruxa encontrou com a de Urotsuki, e quando ambas fizeram um movimento em concordância com a cabeça, me deixou bem óbvio que elas pareciam se entender apenas com o olhar.

– Mas, antes de ir... Você era forte mesmo? Porque sinceramente parece que um peteleco bem dado no seu nariz te derruba.

– Eu era. Mas como você pode ver meu conhecimento continua tão afiado como sempre. Eu aconselho a irem ver o rei, acho que Urotsuki pode ajudá-lo, apesar de ser como sou nem mesmo eu tenho a inteligência dela, apesar de achar que a guerra está perdida para o branquinho, ela talvez possa dar um jeito.

Urotsuki pareceu lisonjeada de receber os cumprimentos e os elogios da bruxa. Sorriu para a garotinha de cabelo rosa e já estava saindo.

– Ei... por que você escolheu aparentar dessa forma?

Eu que realmente não entendia nada da bruxa, perguntei para ela.

– Ah, Umbra, aquele mundo tem algo chamado "Anime". E sabendo que Urotsuki estava vindo, não pude deixar de brincar. Estou até pensando em adicionar um sufixo no final das minhas palavras que tão ~Kyaah?

– É estranho demais.

– É mesmo. Vou pensar em outra coisa enquanto isso. ~Kyaah

Saímos da cabana, com Urotsuki rindo bastante. Ela olhou para mim que também estava achando graça da situação.

– Ahhh, então é assim que você faz quando ri de alguma coisa?

Eu ainda não havia entendido como ela era capaz de entender o que eu pensava ou sentia apenas me olhando.

– Você é uma garota assustadora sabia?

– Ah isso é coisa que se fala para uma donzela como eu? Não sou assustadora, mas, aquela bruxa é realmente legal.

Ela parecia não se importar de não possuir alma, ou de que o perigo de morrer, faria ela existir em uma prisão eterna. Ela descobriu sozinha como nasceu. Tem uma inteligência exacerbada e tudo isso com dezenove anos, humanos são incríveis, mas ela deve ser ainda mais do que os da espécie dela.

– Ei Umbra. Fica tranquilo, se você veio até aqui comigo, uma completa desconhecida, de outra espécie, podemos confiar que nem mesmo eu, nem você iremos nos fazer mal né?

– É sim.

E então caminhamos em direção ao Rei Branco que também estava esperando pela gente, a rainha também, vai ser bom vê-la.

E então ambos caminhamos em direção ao palácio, com todas as peças olhando para a garota, era uma sensação estranha, pareciam que olhavam para ela com respeito.

– Ei, Umbra porque essas peças estão me olhando desse jeito?

– Não sei, fica perto de mim.

Quando chegamos ao palácio real, a rainha branca abriu a porta com uma exclamação de Urotsuki "Rainha!", e com um cumprimento curvo com a cabeça nos saudou, não tirando os olhos da garota. O rei por sua vez estava sentado no trono de frente para a gente, se levantou e veio pulando nos cumprimentar também.

– Umbra! Quanto tempo! E olha só o que temos aqui? Quem é?

– Meu nome é Urotsuki! Prazer Rei Branco!

Urotsuki parecia bem feliz de estar ali no momento. Já eu estava confuso com toda aquela animação que o rei parecia ter para cima dela.

– Que nome bonito! Eu senti assim que você pisou no nosso mundo, que você pode nos levar a vitória da guerra que nos acomete tem tanto tempo.

– Pode ter certeza que sim!

Me afastei e fui falar com a Rainha, que estava ainda na porta observando os dois de longe, um pouco desanimada.

– Ei, o que faz aqui? Por que não está lá com eles?

– Oi Umbra.

Disse com uma voz baixa e melancólica.

– Apesar de eu ter sentido também o nível dela, ainda acho que é impossível. O Rei, assim como eu cometemos vários erros, e a vantagem do inimigo sobre nós é enorme, tão grande que mesmo o melhor estrategista não conseguiria escapar.

– Ah... entendo, mas segundo a bruxa, ela parece ser realmente talentosa, talvez ela consiga. Talvez...

O tempo passou comigo conversando com a rainha, enquanto o Rei mostrava a situação da guerra através de uma grande tela, a qual Urotsuki de vez em quando fazia algumas caras de desaprovação para o rei e algumas vezes olhava de cara feia para a rainha também. Um tempo depois ambos chegaram perto de mim e da Rainha.

– Umbra, eu sei que você está andando com ela por ai, mas ela disse que talvez consiga ajeitar a situação para a gente, como ela não pode ficar, ela disse que escreveria o que a gente tem que fazer dependendo das ações adversárias. Ela disse que precisa de uma noite para fazer tudo, então a convidei para passar a noite aqui, junto com você, o que acha?

Enquanto o Rei falava, eu vi um olhar de Urotsuki para a Rainha que entendeu na mesma hora alguma coisa, porque ela piscou forçadamente.

– Tudo bem por mim, e com você Urotsuki?

– Sim, eu também acho que uma noite a mais, uma noite a menos não vai fazer uma diferença tão grande, e a gente tem outros vários lugares para conhecer não é?

– É. Tudo bem.

Ainda olhando para a Rainha e para Urotsuki, eu não entendia o que elas tanto encaravam uma a outra. Mas quando eu a acompanhei para o quarto...

– Ei! Ei! Ei! Eu sou uma garota na adolescência, tenho que tomar um banho e me trocar, acha que eu vou te dar fan-service é?

– O que é fan-service?

– É algo que você não vai receber de mim. Então espera eu tomar banho e me trocar.

– Nós não temos roupa para você, mas temos o banheiro com chuveiro e um jato a vapor para secar.
Disse a rainha fazendo um leve movimento com a cabeça.

– Tudo bem, eu visto essa mesma. Obrigada.

Urotsuki acabou indo na frente, acompanhada pela Rainha, enquanto eu e o rei ficamos olhando as garotas indo em direção a porta dos aposentos reais. Ele como eu, estranhou a cena que acabara de acontecer.

– Ei, você não acha que tem alguma coisa estranha?

O rei me olhou, se perguntando alguma coisa pela expressão que fez. Eu não pude deixar de o encarar, curioso sobre o que ele estava pensando.

– Deixa pra lá. Ela é inteligente, e antes eu nem podia pensar em um talvez, para vencer essa guerra. Eu percebi o rosto de desagrado enquanto eu explicava os acontecimentos, mas eu também me assustei, ela parecia no tratar como objetos, referindo a alguns movimentos como "sacrifícios essenciais."

– Sério? Bem, ela disse que a guerra que vocês travam aqui, é similar a um jogo no mundo deles. Se chama Xadrez. Pergunte a ela depois.

– Irei. Mas, você vai dormir aqui também não é? Não pode deixar a garota sozinha.

– Sim, sim, eu vou. Mas quero falar com Vincent antes, um amigo meu. Se Urotsuki realmente estiver certa, e tiver sido ele quem gritou meu nome antes de virmos para cá, ele estava estranho, eu volto mais tarde, diga para Urotsuki que eu estarei de volta ainda hoje.

– Bem, seria melhor você falar com ela não é?

– Ela tem medo dele. E acho que se eu disser, ela vai acabar me convencendo a não ir.

– É... ela parece bem capaz, e você é bem fácil de manipular também. Muito inocente, mas você ainda é jovem, tem tempo para amadurecer.

Os mais velhos sempre se acham os mais sábios. Não quis discutir, eu era realmente jovem, mas obviamente entre os da própria espécie, era bem maduro.

– Tudo bem. Estou indo então.

Saí em direção a porta após uma reverencia e caminhei em direção a saída, voltando vi que Urotsuki e a rainha, não estavam no quarto, e sim caminhando em direção a cabana da bruxa. Sem parar para falar, continuei meu caminho até a saída com aqueles bispos da casa branca me encarando.

Ao sair da porta, o que encontrei, foi Vincent, caído no chão provavelmente um pouco mais a frente do lugar aonde tinha gritado e do borrão vermelho que vi. Preocupado, comecei a balançar ele para tentar acordar, ao vira-lo, vi uma bola preenchida em vermelho no peito, em cima do coração. Nada que eu fazia o acordava, então tentei o colocar nas costas, mas não adiantou, aquela bola preenchida parecia estar o prendendo ao chão, como se fosse uma bigorna concentrada.

– Vincent! Vincent!

Gritei alto, fiz de tudo para acordá-lo, mas nada adiantou. Então comecei a notar mudanças quando finalmente decidi encostar naquele circulo vermelho, começou com algumas linhas saindo em direção ao corpo inteiro, e estas foram criando bifurcações e diminuindo a bola vermelha, até que todos os membros estivessem com elas e o circulo acabou sumindo. Foi então que ele abriu os olhos.

– Umbra! Umbra!

– O que foi? Alguma coisa errada? Porque gritou meu nome? O que aconteceu?

Eu estava preocupado, dessa vez eu consegui o levantar pelos ombros, e o apoiei no meu ante-braço. Ele que estava todo estranho, no entanto pareceu sorrir.

– Finalmente! Eu descobri Umbra! *kikukuki*

Então ele se apoiou no chão e sentou. Ainda apavorado, sentei do lado.

– Tenho que te levar para o hospital. Você não tá bem, o que são essas marcas?

– Não preciso de hospital. *kikukikikiki* - Eu...
E esmurrou o chão do lugar, fazendo o chão trincar. - Sou um ser evoluído agora.

– Como assim? O que aconteceu?

No momento muitas coisas passavam na minha cabeça, ela não parecia estar ruim, mas eu estava confuso, curioso e ainda assim preocupado. Algo ali realmente não estava nada certo.

– As limitações da nossa espécie não mais me afligem. *Kikukikikikiku*

Agora ele se levantou e segurou meu ombro e começou a apertar de tal maneira que uma dor excruciante começou a transpassar por todo meu corpo.

– Ai! O que tá fazendo? Me solta!

Me desvencilhei dele, seu rosto cheio daquelas linhas vermelhas que adentravam os buracos pretos ali, fazendo com que um brilhassem naquele tom estranho. E ele sorria, de uma maneira... estranha.

– O que aconteceu?

Dessa vez eu percebi o tremor na minha própria voz, acabei tropeçando para trás com o ombro ainda latejando.

– Que isso Umbra? Com medo do seu amigo? *Kikikukukikiki* Fique tranquilo, só quis lhe mostrar o que eu posso fazer agora. E isso não está nem perto. *Kikukikikiku*

– E onde está sua amiga? Porque cá entre nós Umbra. *Heh*, foi através dela que eu consegui descobri como me tornar o que eu sou. *kikukikikikukiki* - Eu queria agradece-la.

Mas sua expressão era medonha demais, para ele querer simplesmente agradecer. Se ele a pegar, coisas ruins vão acontecer, ela estava certa.

– Ei! Não tem como você voltar ao normal não? Isso tá ficando muito estranho! Você tá estranho Vincent!

– Que isso?
Disse ele em um tom afetado. E se aproximando com a mão novamente de mim. - Não estou não. *Kikukikikikuki* - Eu só estou... curioso... Me admira na verdade você não ter perguntado como eu consegui isso.

– E como você conseguiu?

– Bem, lembra-se quando a garota ficara vermelho pelo medo, vergonha ou o que seja? Isso me fez pensar que talvez o mesmo pudesse acontecer com a gente, sabe eu já sabia que emoções fortes eram o estopim para a transformação, então eu só tinha que descobrir qual emoção usar para me manter.
E dessa vez estava sério, me olhava com tal profundidade, como um professor estivesse ensinando o seu aluno preferido. - Só que um medo normalmente passa, mas há inúmeras formas de manter esse estado. O que eu consegui fazer é me manter em um estado de constante medo.

Mas ele não parecia nem um pouco assustado ou com medo do que quer que fosse. Pelo contrário, seu rosto se contorcia de tempos em tempos, e alguns movimentos involuntários nos dedos, e braços pareciam estar frequentes, era a imagem de um psicopata enlouquecido.

– Por quanto tempo você está nesse estado?

– Tem algumas horas *kikukikukikukiki* Imagino que se permanecer nesse estado por muito tempo, algo vai realmente mudar. Caso não perceba, alguns fios de cabelo estão nascendo, e eu sinto algo encher meu corpo.

Ainda não dava perceber os cabelos, mas o brilho avermelhado que saía de dentro do que seriam os vãos negros que servem para enxergar era algo que parecia brilhar com pouco intensidade, mas que se o que ele disser estiver correto, iria brilhar mais.

– E sabe o que mais eu descobri? *kikukikikukikikikuki* Algo que nem a bruxa sabe! *kikukikikikukikiki* - Eu estou sentindo Umbra é por isso que ela não sabe. Sou o primeiro. Quando preencher por completo a minha alma vai sair. *Kikukikikikukiki* - E ai...

E ai o que? Ele vai virar uma criatura desalmada? Do mesmo tipo que Urotsuki? Ainda sem entender, eu o olhava com apreensão.

– E por que você tava deitado ai no chão? Porque que quando eu encostei no troço vermelho do seu peito, você voltou ao normal?

– Acredito que seja o sangue. O sangue fluindo em você, fez com que essas linhas fluíssem pelo meu corpo. *kikikukikikikukiiikikiki* - Você está realmente com medo? Que se tornar o que eu sou?

Foi quando eu percebi que meu corpo inteiro estava tremendo, algo me dizia que a cada segundo que passava, Vincent se tornava mais agressivo, mais perigoso, minha mão já estava começando a tomar uma coloração vermelha. Ali, e agora ele acabaria se descontrolando, a primeira vez dele. Ele não imaginava ser assim, na frente de seu melhor amigo e com medo.

De repente, a porta abriu atrás de mim, alguém me puxou, e eu só consegui ver a cara assustada e um grito de raiva de Vincent quando ele tentou vir atrás de mim e teve a porta fechada. Antes de eu virar para trás, a bruxa, agora havia virado uma garota de cabelos brancos ondulados com as pontas em formato de lâminas, olhos cinzas, tão branca quanto alguém podia ser, com algo tão colado em seu corpo, que dava para descrever todos os detalhes que a roupa queria esconder. Isso é claro antes de eu ver bem de perto as garras que a garota tinha que infelizmente vinham direto em minha direção, e após um espalhafatoso tapa, bem doído por sinal, ela gritava.

– Você é louco? ~Fyaaah Deixando a humana por ai e saindo procurando Vincent? ~Fyaaah Sabe onde Uro estava? ~Fyaaah Estava chorando no quarto! ~Fyaaah! Sua sombra retardada e idiota! ~Fyaaah

Aquele sozinho que ela começou a fazer. Pegou então... mas eu não entendia o motivo daquilo tudo, ele disse que voltaria e foi-se só por alguns minutos, aquilo era exagero demais. Um outro tapa veio em minha direção e eu não fui rápido demais para desviar.

– Pra que isso?!!!

– Porque você está achando que estou exagerando! ~Fyaaah Ela está em outro mundo ~Fyaaah Encontra alguém que ela pode confiar e agora você vai e sair sem ela! ~Fyaaah

– Mas o Rei e a Rainha estão com ela! Qual o problema? Nada vai acontecer com ela.

– É mesmo? ~Fyaaah E você não lembra do que eu te disse há algumas horas? ~Fyaaah Que tem uma alma que se a possuir ~Fyaaah, ela simplesmente vai existir em um corpo que não irá a pertencer mais! ~Fyaaah E você tem a coragem de deixa-la sozinha! ~Fyaaah

A bruxa estava histérica, como se aquilo fosse a pior coisa que eu poderia ter feito a alguém. Mas de repente abaixou a cabeça e começou a falar em um tom mais baixo.

– Ela confiava em você. ~Fyaaah Não sei se confia mais. ~Fyaaah Pelo que soube, ~Fyaaah aconteceu alguma coisa no quarto dela, ~Fyaaah e quando ela foi procurar por você, ~Fyaaah você não estava mais lá. ~Fyaaah

– Mas isso foi coincidência! Eu tinha ido ver o que tinha acontecido com Vincent. E isso acontece bem quando eu não estou com ela?

– Não é coincidência ~Fyaaah. Aquilo a atacou exatamente por você não estar com ela. ~Fyaaah As almas só conseguem possuir alguém se o hospedeiro estiver fraco, ~Fyaaah se não o próprio corpo expulsa, ~Fyaaah, aqueles que tem alma assim como nós, ~Fyaaah simplesmente não possuímos espaço para outra então estamos tranquilos. ~Fyaaah

– Ah, por falar em almas, Vincent disse que a transformação dela, o deixaria sem alma. O que isso quer dizer?

A bruxa se empertigou, e olhou assustada para Umbra. Uma expressão de terror se apoderou dela, e ela sumiu no ar em um instante, me deixando ali, confuso, no chão e sem ter noção de nada.

Indo para o quarto de Urotsuki para consolar e saber o que realmente aconteceu no quarto, viu no entanto, a rainha com os olhos vermelhos e choramingando auditivamente, entrando no próprio quarto. O que me deixou ainda mais perturbado. O que havia acontecido nos minutos que eu me ausentei? A rainha chorando, a bruxa desesperada, Urotsuki atacada, Vincent louco da vida.

Perdido em meus pensamentos e andando a esmo, me dei conta que estava na frente do quarto de Urotsuki, relembrando também que na sala do trono não havia ninguém. Dei umas batidas na porta e esperei a resposta.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Bem, espero que tenham gostado, esse capítulo eu fiz ele três vezes, porque a internet foi muito malvada comigo e apagou o cookie da página após um erro de envio e acabei perdendo o capítulo em duas ocasiões. Mas acredito que das três vezes que escrevi essa tenha sido a melhor.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Dentro do Espelho" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.