17.09.2099 16h33min

Leoniza enfrentava mais um dia de movimento intenso, a loja estava recheada de clientes a procura de roupas da mais alta qualidade. Bom, procuravam no lugar certo, dado o fato de que aquela loja trabalhava apenas com as mais caras roupas de grife. Seus funcionários, humanoides facilmente confundidos com pessoas reais, armazenavam todo e qualquer conhecimento relacionado a moda, ajudavam as clientes analisando suas proporções, tipo de corpo e, para as mais fiéis, guardavam seus históricos de compra e sugeriam roupas com base em seus gostos e estilo de vida.

Observando sua loja com orgulho atrás do balcão, aceitou de bom grado a xícara de café oferecida pelo seu pequeno androide e sorveu o aroma da bebida fresca. Tinha seu melhor sorriso no rosto combinando com sua beleza gaulesa, extremamente útil combinada a sua carisma. Fechando os olhos, não conseguia pensar em outra coisa se não na recompensa do fim do dia. No lucro. E principalmente, na volta para casa.

Quando as vitrines explodiram, seus pensamentos felizes se esvaíram numa cascata, dando lugar ao mar de gritos, como num verdadeiro pesadelo.

Abrindo os olhos assustada, deparou-se com pessoas feridas e suas belas máquinas caídas. Quebradas. Cacos de vidro pelo chão cobrindo suas belas roupas. Como neve. Como flocos letais de uma neve translúcida.

Escondendo-se, viu uma figura alta em trapos sujos adentrar à loja. Os alarmes já haviam começado a soar e a polícia já estava acionada. Viu a pessoa andar pelo lugar, para finalmente despir um dos manequins e sair em disparada.

***

O manequim que antes modelava, fazendo as mais variadas poses, agora jazia caído no chão; tentava se mover com o impedimento que a superfície plana da loja criava em suas frágeis articulações. Pegando as roupas que tanto almejara, saiu correndo em disparada, para logo se ver cercada de ambos os lados por humanoides, policiais e suas armaduras.

–- Levem essa maldita!! – gritou Leoniza chegando na calçada – Destruam!! Apaguem!!! – vociferou com determinado ódio

–- Objeto não registrado, senhor – soou uma das máquinas

–- Parece que se trata de uma I.A*

–- Mas parece humano...

Os policiais apontavam suas armas prontos para a ação, olhavam a mira por meio de visores de alta precisão.

As pessoas ao redor corriam; comércios eram abandonados e o largo era evacuado. Não se tratava apenas de um simples assalto. Um I.A(Inteligência artificial) não reconhecido via chip de identificação, em conjunto com ações que desrespeitem as principais leis da robótica, era automaticamente reconhecido como ameaça.

–- Atirem!! – o líder ordenou, e homens e máquinas iniciaram a ação.

Gatilhos foram acionados. Feixes de luz eram lançadas, abrindo suas redes elétricas em pleno ar, capturando e desativando forçadamente qualquer eletrônico na mira.

A caça desviava dos projéteis com uma habilidade inumana, atravessava a rua na direção do primeiro edifício a sua frente. “Fim de jogo” vangloriou-se Matt, o líder do esquadrão, afinal aquele ser estava encurralado e não havia para onde fugir. Seria pega.

–- Vamos, pessoal!! – exclamou – Essa não escapa – complementou para si mesmo

Acompanhando aquela figura esguia em pleno movimento, ficou paralisado ao seguir com o olhar a curva dada pela mesma no ar. Em um salto de quase quatro metros, seus pés tocaram as paredes de um prédio comercial.

–- Mas que droga é essa!?

–- Está andando... Nas paredes...

Matt nada disse, apenas observou, antes de retornar à sua tarefa principal.

E atirou.