I Want To Believe escrita por Hunter Pri Rosen


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Olás!

Como tenho alguns capítulos prontos, resolvi postá-los logo para não deixar tudo para o final do desafio. Sendo assim, aqui está mais um, desta vez pela visão do Mulder. Irei revezar os POV entre ele e a Scully, okay?

Espero que gostem!

Lá vai!



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Confiro o meu relógio de pulso pela milésima vez desde que cheguei ao Aeroporto de Dallas Love Field. Ele marca sete horas e trinta e cinco minutos e estou aqui há, no mínimo, uma hora e meia, aguardando minha parceira Dana Scully, que está vindo de Washington D.C.

É noite, e de uma enorme janela no saguão, consigo ver alguns aviões pousando e outros decolando nas pistas que compõem o aeroporto.

Uma curiosidade sobre este lugar é que foi aqui que o avião de John F. Kennedy pousou em 1963, para a fatídica visita do então Presidente a Dallas, no dia 22 de novembro, quando ele foi assassinado.

Não sei por que me lembrei disso agora, mas acho que estou tentando pensar em coisas aleatórias para lidar com a ansiedade em rever minha parceira de Arquivo X. Na verdade, ainda não acredito que Scully está vindo mesmo, apesar de eu não ter lhe dado qualquer detalhe sobre o caso.

Por falar nisso, não sei como ela vai reagir quando ver o que eu vi, quando ouvir o que eu ouvi, mas, espero que não seja com o seu clássico ceticismo.

Eu e Dana já vimos muitas coisas estranhas, para dizer o mínimo, nesses anos de Arquivo X, e acho que está mais do que na hora dela começar a aceitar que nem tudo pode ser explicado com a sua ciência. Com a ciência que ela tanto ama.

De acordo, com a última informação que obtive em um dos inúmeros guichês de informações, o avião de Scully pousou há cerca de vinte minutos. Acredito que ela esteja no setor de desembarque neste exato momento, esperando por sua bagagem.

Infelizmente, não posso ir até lá conferir, tenho que esperá-la aqui, também de acordo com a última informação que obtive.

Olho para o relógio de novo. Passaram-se menos de dois minutos desde que chequei a hora pela última vez. Droga... Parece que o tempo está fazendo questão de se arrastar só para me deixar ainda mais inquieto.

Respiro fundo, fecho os olhos e solto o ar aos poucos, procurando dissipar a ansiedade. Em seguida, abro os olhos e observo um Boeing pousando lá fora. Todavia, logo a imponente aeronave perde a importância, já que um reflexo na janela diante de mim rouba totalmente a minha atenção.

Reconheço Scully no mesmo instante e esboço um sorriso discreto para a sua imagem refletida no vidro. Então, a ansiedade se dissipa e dá lugar a uma satisfação genuína.

— Mulder? ­— ela me chama, depois de parar a uns dois metros de mim e acomodar uma enorme mala ao seu lado.

Me viro prontamente, me aproximo de minha parceira e a abraço, agradecendo:

— Scully, obrigado por vir.

— Não por isso. Eu só espero que a viagem valha a pena — diz, correspondendo ao meu abraço um tanto sem jeito. Ela deve estar exausta da viagem e talvez eu tenha a pegado de surpresa com este abraço.

Pensando nisso, a solto, me afasto um pouco e, me lembrando de tudo que presenciei desde que cheguei ao Texas, afirmo empolgado:

— Eu garanto que vai valer. Palavra de escoteiro... Que nunca foi escoteiro, mas não importa.

Dana me encara com um leve sorriso, arqueia uma sobrancelha, cruza os braços contra o peito e indaga:

— Okay, então... Para onde nós vamos agora, senhor?

— Me siga, mademoiselle — brinco, antes de me encarregar de pegar a sua mala e caminhar em direção ao estacionamento do aeroporto.

Scully me segue prontamente, logo ficando ao meu lado, e então nos dirigimos para lá.

XXX

Estamos no carro que aluguei quando cheguei ao Texas, há três dias, seguindo por uma movimentada avenida de Dallas, e tenho a impressão de que Scully não gostou muito do que eu lhe disse, já que permanece calada, imóvel e com o olhar fixo nos carros a nossa frente.

Depois de piscar algumas vezes, como se estivesse assimilando o que eu disse sobre o lugar onde estou passando minhas almejadas férias, ela finalmente se manifesta:

— Desculpe, mas por acaso, você disse duas horas de viagem até lá?

— Não entre em pânico, Scully — procuro tranquilizá-la, sentindo certo receio, embora a indignação em seu semblante esteja me dando vontade de rir. Me controlo e, na sequência, completo: — Eu sei que você deve estar cansada, mas eu garanto que tem um chuveiro quentinho e uma cama bem macia te aguardando na fazenda dos Barden.

— Fazenda? Mulder, como você foi parar em uma fazenda? — questiona ainda mais indignada.

Em minha defesa, resolvo lembrá-la com certo cinismo:

— Foi você que disse que eu precisava relaxar, fugir do estresse de Washington D.C. , essas coisas.

Mesmo com os olhos fixos no trânsito caótico diante de nós, eu consigo ver minha parceira de soslaio. E constato que Scully me fuzila brevemente com o olhar, antes de rebater:

— Sim, eu disse. Mas uma fazenda no Texas, Mulder? Precisava ser tão... Radical?

Depois de desviar a atenção da avenida e me voltar para ela, sorrio e brinco:

— A outra opção era a Disney. Mas, aquele lugar não teria a menor graça sem você, Scully. Fica para a próxima.

Apesar do tom de brincadeira em minha voz, estou falando sério quando digo que sem a sua companhia, um passeio na Disney seria bem sem graça.

Apesar de sermos muito diferentes em termos ideológicos, eu gosto muito de Scully e nós nos damos muito bem.

Apenas três dias longe dela e eu já estava sentindo a sua falta, afinal, Dana Scully é bem mais do que minha parceira. Ela é minha amiga. Talvez a única. Às vezes, eu chego a pensar que podíamos ser mais do que isso. Mas, eu não sei se ela pensa assim nem mesmo se eu deveria cogitar isso. É melhor deixar as coisas como elas estão. Eu acho.

— Você conhece bem essa família que está te hospedando?

Sua pergunta me desperta de tais pensamentos e eu respondo prontamente:

— Eu conheço o Christopher — e sem conseguir me conter, sorrio para ela e brinco mais uma vez: — Mas, eu não acho que sua estimada esposa e a filha de sete anos sejam perigosas ou suspeitas de alguma forma.

Scully revira os olhos, respira fundo e prossegue com o interrogatório:

— E como vocês se conheceram? Você e esse Christopher Barden?

Volto a olhar para a avenida a nossa frente, percebendo que o trânsito, finalmente, está se dissipando um pouco, e respondo:

— Há uns três anos, em um evento de... — hesito, pois sei muito bem o que minha parceira irá pensar disso, mas resolvo arriscar e completo simplesmente: — Ufologia.

O silêncio impera dentro do carro por algum tempo, sendo cortado apenas pelo barulho das buzinas vindo do lado de fora.

De soslaio, vejo Dana unir as sobrancelhas, antes de repetir uma certa palavra bem devagar:

— Ufologia?

Respiro fundo e confirmo:

— Isso mesmo.

Após mais um momento em silêncio, durante o qual Scully parece avaliar o que eu disse, ela questiona:

— E ele foi como visitante ou como… Palestrante?

E lá vamos nós… Digo, aqui está, Dana Scully, a renomada médica legista e agente especial do FBI tirando conclusões precipitadas.

— Ele é ufólogo? — indaga, embora no fundo já deva saber muito bem que sim. — Okay — assente, dispensando a minha resposta e provando que eu estava certo. — Não precisa me contar porque eu peguei um avião às pressas e porque estou indo para esta fazenda no meio do nada, Mulder. Eu já tenho uma boa ideia do porquê você me quer lá.

— Mantenha a sua mente aberta, Scully. É só o que eu te peço — digo firme e incomodado com o julgamento que ela, claramente, já está fazendo desta situação.

Para a minha parceira, ufólogos não são exemplos de credibilidade.

— No momento, a minha mente está exausta, Mulder. Bem como o meu corpo — diz e, em seguida, boceja e se acomoda melhor no banco ao meu lado. — Por favor, me acorde quando chegarmos na fazenda misteriosa do seu amigo ufólogo, okay? Eu preciso descansar um pouco.

— Bons sonhos — lhe desejo simplesmente e, quando olho em sua direção, ela já fechou os olhos.

XXX

Estamos a cerca de um quilômetro da fazenda da família Barden e a escuridão da noite se estende do lado de fora, enquanto o carro segue por uma estrada deserta e de terra, levantando uma considerável nuvem de poeira atrás de nós.

Scully está dormindo no banco do passageiro, mas a sua cabeça acabou pendendo demais para o meu lado e agora encontra-se apoiada em meu ombro.

Eu devia buzinar só para assustá-la e vê-la completamente sem graça, quando acordasse, mas, por algum motivo, descarto esta ideia quase no mesmo instante em que ela surge em minha mente.

Sendo assim, checo o meu relógio e vejo que ele marca nove horas e um minuto. Exatamente. Nem um minuto a mais, nem um minuto a menos.

Continuo seguindo pela estrada e o veículo sacode um pouco, ao passar por algumas oscilações no solo. Com isso, Scully se mexe, mas não chega a acordar. Ainda dormindo, ela acaba se afastando do meu ombro, deixando sua cabeça pender para o lado da janela.

Sinto certo vazio, quando ela se distancia, mas logo paro de pensar nisso, já que, de repente, o rádio do carro liga, aparentemente sozinho, e rouba a minha atenção por completo.

Sem sintonizar em estação alguma, ele apenas reproduz um ruído constante de interferência, que cresce a cada segundo, tornando-se insuportável pouco a pouco.

Incomodado com o barulho e vendo a minha parceira se mexer novamente, eu tento desligar o rádio a todo custo. Sem sucesso.

O barulho cresce e vejo um clarão misterioso surgindo do lado de fora. Crescendo junto com o ruído de interferência.

Levo uma mão ao rosto, tentando me proteger da claridade incômoda, embora eu também me esforce muito para enxergar através dela.

Porém, não consigo ver nada.

Subitamente, tudo fica calmo e silencioso de novo. Silencioso demais, já que o barulho do motor do carro também se extinguiu misteriosamente.

— Mulder... Por que nós paramos? — Dana pergunta com a voz sonolenta, finalmente despertando.

Confuso, olho primeiro para ela e depois para o lado de fora. Constato que minha parceira de FBI tem razão, o carro está parado no meio da estrada, motor desligado, faróis apagados. A questão é que eu não me lembro de ter parado ali.

Querendo entender o que aconteceu e sentindo uma ansiedade crescente, pois já me deparei com situações assim antes, trabalhando no Arquivo X, olho para o relógio e confiro o horário. São exatamente, nove horas e dez minutos.

A ansiedade cresce dentro de mim, junto com uma certeza, me fazendo olhar para Scully novamente e questionar:

— Eu acabei de olhar o relógio. Eram nove horas e um minuto. Como é possível que agora sejam nove horas e dez minutos?

Minha parceira franze o cenho, possivelmente estranhando a minha pergunta e a forma aflita com que a formulei, mas acaba respondendo mesmo assim:

— Talvez algum defeito na bateria — e quando eu solto um suspiro incrédulo, ela completa como se estivesse falando com uma criança: — Essas coisas acontecem, sabia?

Solto outro suspiro incrédulo e, um tanto inconformado com a sua tranquilidade fria, pergunto:

— Você não viu nada? Não sentiu nem ouviu nada?

Scully pensa por algum tempo, talvez puxando a resposta em sua memória, até que me encara e diz calmamente:

— Eu acho que ouvi o rádio ao longe e... Isso me acordou. Por quê?

Inconformado por ela não ter presenciado o que eu presenciei, desafio:

— E se eu te disser que não fui eu quem o ligou? Que o rádio ligou sozinho? Bem, não sozinho, mas, certamente, por influência de alguma coisa?

Prontamente, Scully responde com o seu ar científico:

— Então eu te diria que isso é mais comum do que você pensa, Mulder, e que, certamente, há várias explicações possíveis para isso. Mal contato, algum problema com o fio condutor ou com o conector do botão liga e desliga, uma sobrecarga da bateria... É sério, essas coisas acontecem o tempo todo, todos os dias, em todo o mundo. Rádios ligando sozinhos, faróis ligando quando o motorista desliga o motor, até aparelhos domésticos apresentam esses problemas, às vezes, e não significa que tenham sido causados por um fantasma, força maligna ou...

— Tudo bem — a interrompo impaciente, pois sei que se eu deixar, ela vai longe em suas explicações até me convencer de que está certa e que eu estou imaginando coisas.

Ficamos em silêncio por algum tempo. Eu, nem um pouco convencido de que imaginei aquele clarão e pensando em minhas tentativas de desligar o rádio, e Scully olhando para fora constantemente, talvez se perguntando por que nós ainda estamos parados aqui.

De repente, ela se volta para mim e pergunta:

— Certo, então o que você acha que aconteceu aqui? Que um fantasma ligou o rádio só para te tirar do sério e me acordar?

Apesar de não ter gostado do tom sarcástico em suas palavras, relevo isso e esclareço:

— Não um fantasma, Scully. E nem por esses motivos.

Minha parceira me analisa por algum tempo e, visivelmente intrigada, questiona, mas desta vez, de um jeito mais sério e respeitoso:

— Por que um ser extraterrestre, inteligente e evoluído, cuja a existência é cientificamente improvável, faria isso então?

A encaro por alguns instantes, enquanto a certeza de que tem sim algo atípico acontecendo neste lugar toma conta de mim pouco a pouco.

Em seguida, com a minha certeza renovada e ansioso para começar as investigações o quanto antes, respondo resoluto:

— Eu acho que nós vamos ter que descobrir isso juntos, Scully. É por isso que eu te pedi para vir até aqui, aliás. Para descobrir a verdade.

Minha parceira e amiga revira os olhos discretamente, apoia o braço na janela e o rosto em sua mão e retruca:

— Eu quero descobrir a verdade, Mulder. O problema é que eu não sei se a verdade na qual eu acredito é a mesma verdade que você persegue.

— Só existe uma verdade, Scully — digo prontamente e, na sequência, completo: — E ela está lá fora. Meu palpite é que o que está acontecendo na fazenda da família Barden seja a chave que vai nos levar até ela.

Parecendo pouco empolgada e muito cansada da viagem, Dana arqueia uma sobrancelha e pergunta:

— E o que está acontecendo lá, afinal? Você vai me contar ou eu vou ter que adivinhar?

Sorrio discretamente para ela e me comprometo:

— Eu vou te mostrar — e quando ela suspira desanimada, a tranquilizo: — Amanhã, não se preocupe. Eu sei que você quer descansar agora.

— Humm... Pelo menos em uma coisa nós concordamos — Scully diz seriamente, mas logo um sorriso escapa de seus lábios. — Vamos? Agora mais do que nunca eu preciso daquele banho quente e de uma boa cama para dormir. Eu estou mesmo exausta.

Concordo, lhe devolvendo o sorriso, e giro a chave na ignição. Tento ligar o motor algumas vezes, porém sem êxito.

— Nem um pouco estranho, você não acha? — questiono, olhando de canto para minha parceira.

— Não, não é estranho. É totalmente explicável e comum, na verdade — Dana responde prontamente, enquanto eu faço uma nova tentativa, girando a chave mais uma vez. — Há vários motivos para um carro não pegar, Mulder, mas eu realmente espero que...

Scully para de falar e sorri aliviada ao ouvir o ronco do motor. Lhe devolvo o sorriso mais uma vez, enquanto ela encosta a cabeça no banco, e logo ponho o veículo em movimento.

Enquanto sigo em direção à porteira da fazenda, volto a pensar no que aconteceu momentos antes. Na interferência do rádio, no clarão, nos nove minutos perdidos.

Há relatos no Arquivo X de pessoas que foram abduzidas e que só desconfiaram disso porque também perderam minutos importantes de suas vidas. É o que costumam chamar de Missing Time. A pessoa simplesmente não se lembra do que aconteceu neste período.

Não acredito que eu e Scully tenhamos sido abduzidos nesses nove minutos, mas tenho certeza de que existe uma explicação para não nos lembrarmos de nada.

Algo quis nos tirar do ar temporariamente. E, embora agora esteja escuro demais e Scully cansada demais para confirmarmos isso, minha suspeita é que algo aconteceu na fazenda dos Barden ou, no mínimo, em suas redondezas.

Se foi mesmo isso, amanhã nós vamos descobrir a verdade. Amanhã.

Acelero um pouco e finalmente cruzo a entrada da fazenda.


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Notas finais do capítulo

Esta cena envolvendo o Missing Time foi inspirada no primeiro episódio da série.

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