The Son of Mists escrita por GiullieneChan


Capítulo 5
Parte 5: Bem vindos a Ilha nas Brumas


Notas iniciais do capítulo

Betado por Elys e Casty Maat.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/634551/chapter/5

Pouco mais de um dia de viagem Sephir chegou a Glastonbury carregando a urna da armadura dourada nas costas. Estranhou a pequena cidade estar vazia, sem movimento algum. Parecia até uma cidade fantasma.

Com curiosidade espiou por uma das janelas de uma das casas e notou que seus habitantes estavam nela, pareciam adormecidos profundamente. Esse fato lhe causou certo receio das forças que iria enfrentar, foi quando ouviu o irritante grasnar do corvo.

“Ave negra de mau agouro.”, pensou o jovem fitando-a.

A ave bateu as asas e deu um voo rasante sobre a cabeça do rapaz, e depois voou em círculos acima dele, claramente querendo que ela o seguisse quando pegou a direção do Monte de Tor. E assim o fez.

Percorreu o caminho rapidamente e ao se aproximar do monte a viu. A misteriosa mulher toda de vermelho, com um sorriso vitorioso em seus lábios cor de carmim.

—Bem vindo, criança de Avalon.

—O que fez com os moradores da cidade? –perguntou com rispidez, parando a alguns passos dela.

—Só um encanto para dormirem, nada demais. -A mulher deu uma risadinha, colocando a mão sobre os lábios. –Não sou tão má assim. Aqueles camponeses não representam perigo algum a mim para que eu fizesse algo. Só não quero curiosos.

Ela estende a mão a ele.

—Venha... Liberte-me logo.

—Ainda não. –Sephir estreitou o olhar e Morgaine o olhava com serenidade. –Me responda algumas perguntas.

—Diga. Só não lhe garanto responde-las.

—O que sabe sobre mim?

Morgaine deu uma risadinha, achando a pergunta de Sephir engraçada.

—Nunca lhe contaram? Ah sim... Como aquele rufião poderia fazê-lo se nada sabe sobre nós. –ela caminhou até ele, andando ao seu redor. –É filho de Marcus Merlinus, um dos homens mais interessantes e irritantes que conheci em minha vida.

—Merlinus? Merlim? –a fitou.

—Mas sua mãe não é a mesma de suas irmãs. Seu pai era... É um homem que sabia como envolver uma mulher. –sorriu maliciosa. - Enquanto suas irmãs nasceram da união de Marcus com seres imortais que habitam a ilha, a sua era mortal.- fez uma expressão como se isso fosse algo desagradável.- Mas não pense que é inferior, ao contrário. Para mim é o mais valioso entre os seus. Apenas o sangue de um varão da linhagem de Marcus poderia quebrar o encanto que me mantem presa entre os mundos.

Morgaine atravessa o corpo de Sephir com sua forma etérea, causando-lhe arrepios desagradáveis.

—Só porque destruí seus sonhos. –ela riu, tocando a fronte de Sephir com o indicador, fazendo-o “ver” imagens de um passado longínquo. - Velho sonhador e tolo. Deveria saber que o paraíso não existe.

Sephir viu um rei colocar sua espada em uma pedra, pouco antes de morrer. Viu o tempo passar com um piscar de olhos e homens de todos os lugares tentarem retirar a espada em vão. Viu um menino franzino retirar a espada, tendo Marcus Merlinus ao seu lado, e todos ajoelharem e o chamarem de Rei.

O sonho de um reinado de paz iniciado com esse jovem Rei, homens de valor unindo-se a esse sonho. Camelot nascendo e atingindo seu auge. E Morgaine ao seu lado com Merlinus. Viu batalhas que o Rei travou e amigos que o traíram. Morgaine lançando a semente que levaria Camelot à queda.

E diante do túmulo do Rei em Avalon, assistiu a queda de Morgaine, punida por seus ardis, banida para o mundo dos homens e impedida de usar sua magia totalmente. Para sempre presa a uma forma etérea, sem poder usufruir dos prazeres e malefícios da vida, apenas sentindo o mesmo que outro ser humano ao usar uma casca humana envelhecida e horrenda, uma ofensa a alguém que sempre se sentiu privilegiada pela beleza incomum.

Então, a bruxa percorreu o mundo procurando um meio de retornar a Avalon e ter seu poder de volta, descobrindo que somente o sangue de um varão da linhagem de Merlinus poderia libertá-la. Mas como se Merlinus era pai apenas de mulheres, por amar as fadas que habitavam Avalon. Muitos séculos se passaram até que da união com uma mortal, nasceu um menino.

E foi através da magia de Morgaine que Sephir pode ver pela primeira vez o rosto daquela que seria sua mãe, o sorriso que não abandonou seu rosto quando a vida a deixava. E o rapaz sentiu a face molhada pelas lágrimas quentes e então as imagens repentinamente desapareceram.

Morgaine o olhava com desprezo. Afinal, era o filho do homem que odiava.

—Os Portões logo se abrirão. Meus servos trarão sua irmã. Dê-me seu sangue e juro pelas Forças que sirvo que partirei para Avalon e nenhum mal farei a você, a ela ou a esse mundo. –ela volta a sorrir. –Poderá até recomeçar uma vida aqui com sua irmã, se quiser.

Sephir a fitava com desconfiança.

—Ah, não ligue para os que lhe abandonaram. - diz com ar de desprezo.- Afinal, com todo o poder que possuíam, nunca vieram te buscar. Nunca se importaram com seu destino. Somente sua irmãzinha.

—Só depois de eu ter certeza de que Alanna está bem.

Morgaine apenas sorri de lado e nem sequer se mexe ou altera sua expressão quando o vento começa a soprar mais forte, anunciando que após tantos anos, os Portões voltariam a se abrir.

Uma luz intensa surge e de dentro dela um séquito de soldados segurando estandartes com a imagem de um dragão negro sobre um fundo vermelho, atrás deles vem um homem de armadura negra completa em cima de um magnífico corcel branco.

Mas é a figura de uma jovem de cabelos dourados, sendo arrastada de maneira rude por alguns soldados que chama a atenção de Sephir. Os soldados fitam o jovem cavaleiro com desconfiança sacando suas espadas, mas um gesto da mulher os detém.

—Veja, ela está bem e com saúde. –apontou para a menina. –Então?

—Solte-a e deixe-a ir embora. Assim que ela estiver a salvo eu farei o que me pede. –Morgaine riu. –Eu não vou voltar atrás, nem vou trair minha promessa.

—Um homem de palavra. –ela faz um gesto e os soldados forçam a jovem loira a ajoelhar-se, colocando a espada em sua garganta. –Não que eu não confie em você, mas não quero me arriscar.

Sephir hesita um instante, coloca a urna no chão e depois estende o braço para Morgaine.

—Se a ferir...

—Não faria isso, menino.

Ele sentia o sarcasmo em suas palavras, mas ver aquela jovem que poderia ser sua irmã com a vida em perigo, o fez aceitar os termos de Morgaine.

As névoas envolvem a mulher e ela assume a forma de uma velha, a única maneira de ter contato físico que ela possuía. Então, ela agarra o braço com seus dedos ossudos e com um sorriso ansioso nos lábios, o arranha com as unhas curvadas como se fossem garras, causando um profundo corte.

As mãos de velha Morgaine tremeram quando recolheu em seus dedos um pouco daquele sangue e levou aos lábios, provando. Em seguida ela curvou-se como se uma dor lancinante a dominasse, fazendo-a gemer. Os soldados olhavam apreensivos para a mulher e o gigante de armadura negra desce de seu corcel e a ampara.

Diante dos olhos de todos, ela passou por uma transformação, as rugas deram lugar a pele sedosa, os cabelos brancos e sem vida voltavam a ser sedosos e avermelhados. Logo a figura que causava repúdio da bruxa dava lugar a uma bela mulher. Ela se ergue forte e viva, tocando em sua própria pele e sentindo o calor que emanava dela.

—Carne novamente! –disse triunfante e os soldados ovacionaram, depois voltou seu olhar para a jovem loira. –Libertem-na.

Os soldados a libertaram e a jovem correu até Sephir, abraçando-o e chorando sem parar. Em silêncio, ele observou o séquito voltar-se para o portal e de volta a Avalon.

—Esperem!- Sephir tenta desvencilhar do abraço de Alanna, mas ela o segura forte demais. –O que?

—Deixe-os ir, irmão! Por favor!- ela implorava, em nada lembrando a mulher corajosa que tanto ouvira Shura falar.

—Preciso detê-los, Alanna!

Ela o abraçou mais forte ainda, a força desproporcional a uma mulher normal.

—Não! — ela insistiu, tornando o aperto mais forte ainda, causando dor em Sephir.

Algo estava muito errado, então Sephir a segurou pelos braços desfazendo o abraço mortal na qual era submetido e afastou-a. Ela estremecera ao ser afastada, o rosto escondidos pelos cabelos e parecia rir.

—Você não é minha irmã. Quem é você?

Ela ergueu a cabeça de repente, rindo loucamente. A cabeça caiu para trás e os cabelos se afastaram dos lados das faces, não mais a lhe esconder as feições. Os olhos que ele fitava não eram os olhos humanos, eram parecidos com os de uma serpente. A boca que se escancarava em gargalhadas loucas mostrava-se cheia de dentes afiados.

Quando Sephir tentou empurrar a criatura para longe, ela se agarrou a ele cravou suas garras em seus ombros, mas ele a pegou pelos cabelos e a jogou longe.

A criatura se ergueu rapidamente, e começou a mudar sua forma. Era possível ouvir os ossos de seu corpo deslocando-se e transformando-se. Ela possuía seios planos e ventre fundo, os cabelos emaranhados e acinzentados, a pele agora coberta por escamas.

—Vai morrer... - a criatura murmurou, começou a rir, um som horrível, diabólico, que parecia estrangulado na garganta.

O movimento repentino da criatura foi parecido com o de um animal, rápido e ligeiro mostrando garras e presas a avançar contra Sephir. Mas este a repeliu com um golpe de seu braço

Aquele ser era inacreditavelmente rápido e forte, Ela investiu contra ele outra vez, e atingiu-o no ombro. Ela o atacou outra vez, guinchando horrivelmente quando falhou em acertá-lo com as garras novamente, pois o rapaz desviou-se. Então, avançou de novo, saltando sobre suas costas, as presas querendo enterrar fundo em seu pescoço.

Sephir ao lutar para se equilibrar, livrou-se da criatura. No instante seguinte chamou por sua armadura e assim que a mesma saiu da urna e cobriu seu corpo, ele realizou um movimento com o braço em arco à sua frente, no momento em que a besta avançava mais uma vez, só que desta vez a lâmina da Excalibur a transpassa no ar, cortando-a ao meio de forma perfeita.

A criatura cai ao chão, torço e parte inferior em lados opostos, guinchando de dor e sentindo a morte aproximar-se. Sephir aproximou-se da mesma, controlando a respiração ofegante. A criatura ainda gemia sentindo a vida esvaindo-se juntamente com o sangue e entranhas que se espalharam.

Ergue o rosto para o portal, que estranhamente ainda estava aberto. Preparava-se para atravessar quando ouviu uma voz familiar chamar por seu nome.

Era Shura, que vinha correndo e com uma expressão de que iria mata-lo assim que pudesse.

—M-mestre Shura? –se repreendeu por ainda agir como um garoto perto dele.

—O que pensa que está... –parou de falar ao ver a criatura morta aos pés do rapaz. –O que é isso?

—Morgaine me enganou. –Shura o fitou com uma expressão nada amigável. –Depois te conto tudo, está bem? Eu vou atrás daquela cobra!

—Sozinho? Você contra seja lá o que for?

—Eu dou conta. –dando os ombros e recebendo um tapa na nuca em resposta. –Hey!

—Não seja imprudente! Uma vez já basta não acha? Vamos os dois. –Shura dá um sorriso de lado. –Já era hora de fazermos algo em relação a essas pessoas, não acha?

Sephir concordou, sorrindo e esfregando a nuca dolorida. Ambos fitaram o portal com os rostos sérios.

—Está sem armadura, Mestre Shura. –avisou Sephir.

—Aprenda uma coisa. Não somos mais mestre e aluno, Sephir. Somos dois cavaleiros de Atena agora. –Shura sorri, parecia ansioso para lutar. –E não é uma armadura que o torna um cavaleiro, mas a força de sua vontade e de seu cosmos.

Sephir concordou com um aceno de cabeça e juntos correram para dentro do Portal, que se fechou logo em seguida à passagem dos cavaleiros.

x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x

Ao atravessarem o Portal ambos deparavam-se com um campo aberto de grama seca e sem vida que parecia se estender por quilômetros. Os céus estavam escuros, cobertos com nuvens pesadas e pareciam ameaçar desabar em uma tempestade.

—Isso é Avalon?

Sephir questionou, penalizado pela imagem devastadora da sua terra natal. Ocasionalmente havia tido sonhos, flashs dessa terra enquanto viveu ali. Em seus sonhos eram campos verdejantes cheios de vida e flores que ali existiam pelos quais corria sob os olhares vigilantes de suas irmãs.

—Imagino que tenha tido dias melhores. –Shura comentou ajoelhando no chão e pegando em uma flor seca, que se desfez ao seu toque. –Essa terra parece estar morrendo, como se algo sugasse o cosmo... A força da vida de cada objeto e ser vivente daqui estão sendo consumida.

—Isso explicaria muita coisa. Não há equilíbrio no cosmo aqui. –olhando ao redor.

—Isso vai matar a ilha. –Shura ergueu-se lançando o olhar para o leste. –Consegue sentir?

—Os cosmos hostis? –Sephir sorri. –Sim, estão próximos.

—Vem daquela fortaleza. –apontou com o olhar um castelo sombrio, não tão distante.

Ambos se entreolharam e seguiram por uma estrada com o destino a fortaleza do inimigo. Mas uma estranha movimentação chama a atenção dos dois. Um homem a cavalo parecia observá-los à distância e assim que percebeu que era alvo dos olhares dos cavaleiros, este guia sua montaria na direção oposta a eles, sumindo por detrás de uma colina, deixando ambos imaginando quem seria.

x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x

Os enormes portões de carvalho enegrecidos se abrem para a passagem de três homens, cada qual usando uma armadura negra com o emblema do dragão em seu peito. Os três caminham até o trono, onde soldados lhe abriam caminho e curvam-se em respeito. Os três param diante da bela mulher sentada no trono, tendo o gigante Agravain em pé ao seu lado direito, o rosto coberto pelo elmo, impassível e vigilante. Aqueles homens se curvam apoiando um joelho no chão e retirando os elmos, revelando seus rostos e identidades.

—Mordred, Meleagant e Galehaut. –ela dizia seus nomes com um sorriso nos lábios. – É tão bom revê-los.

—Maior alegria é a nossa, lady Morgaine. –dizia o homem chamado Meleagant. Seus olhos azuis e frios contrastavam com o dourados de seus longos cabelos.

—Milady. –o rapaz de cabelos negros ao lado dele, Galehaut ergue os olhos cor de ônix na direção da feiticeira. –Com seu retorno, poderemos sair dessa ilha e conquistar o que é de direito a senhora agora.

— Uma coisa de cada vez, meu caro... Mordred. –ela faz um gesto com a mão e o homem de cabelos castanhos e curtos se ergue e se aproxima, beijando sua mão. –Não parece feliz em me ver.

—Como poderia não estar feliz... mãe? –ele sorri. –Apenas estava cético quando me contaram sobre seu retorno e ainda me recuperava do choque. Mas estou feliz com seu retorno ao seu lugar de direito.

—Logo, meu filho. Você terá o trono que lhe é de direito. –ela sorri, pegando uma taça de vinho oferecida por um servo. –Agora, tragam até a mim a sua convidada, Agravain. Vamos colocar um fim a essa guerra ridícula. Ou Merlinus se rende a nós ou destruiremos o que resta de sua amada família diante de seus olhos, começando pela jovem.

—Senhora, acha prudente? – Galehaut a questiona. - Não recuperou-se completamente.

Morgaine fita Galehaut e faz um gesto com o dedo indicador de sua mão direita. Mordred e Meleagant apenas conseguem ver um flash de luz e em seguida Galehaut jazia metros à distância, arremessado por alguma força invisível sob o comando de Morgaine, contra a parede do salão. Era possível ver a pressão do ar esmagando o cavaleiro negro, que mal conseguia se mover. Meleagant parecia querer ajuda-lo, mas Mordred segurou firme seu braço, impedindo-o de agir.

—Não os ensinei a usar a força vital dessa terra e aumentar a própria forças de vocês? –ela dizia com muita calma, o que era assustador aos demais que assistiam a cena. – Não foi assim que aprenderam a destruir montanhas com as próprias mãos e dizimarem exércitos apenas com um golpe? Ainda sim, tem pouca fé nas Trevas que nos guiam?

—P-perdão...senhora...- dizia em um fio de voz.

—Assim que coloquei meus pés nessa terra amaldiçoada, eu tenho alimentando meu poder com a vida desse lugar. As Trevas me escolheram para espalhar a ordem que somente Elas possuem por todo o mundo. Acha mesmo que meu poder é fraco contra Merlinus? Quando o derrotarmos, terei sugado a última gota vital desse lixo e então, voltaremos ao mundo mortal e iniciaremos meu reinado. Ainda questiona se é prudente, Galehaut?

—Milady, peço perdão por Galehaut!-pedia Meleagant. –Ele não quis ofendê-la!

—Está perdoado. –ela sorri e então Galehaut sente o corpo livre daquela estranha pressão e cai ao chão ruidosamente. –Agora... A menina. Tragam-na!

—Sim!

Respondeu Agravain imediatamente, ordenando que alguns soldados trouxessem Alanna. Nesse meio tempo, Galehaut se recuperava e se juntava, sentindo-se humilhado, aos seus companheiros.

—A “amizade” de vocês causará sua ruina, Meleagant. –Mordred diz com sarcasmo em sua voz, se divertindo com a situação.

Mas Meleagant o ignorou, mostrando estar mais preocupado com Galehaut do que as provocações do outro. Alguns minutos depois, soldados traziam diante de Morgaine uma jovem loira, que mesmo com as vestes em farrapos, mantinha toda a nobreza em sua postura e olhar. Mesmo a visão de Morgaine no trono, e o que isso poderia significar em relação ao irmão, não a fez fraquejar diante dos inimigos de seu pai.

—Alanna... –ela sorri ao fitar o rosto da menina. –Lembra sua mãe. Ela foi Níniam, não é?

O silêncio foi a única resposta que Morgaine obteve.

—Ora vamos... conheci sua mãe. E em nome da amizade que já tive por ela, pretendo que você reencontre seu amado pai. Afinal, o pobre vai precisar do consolo dos abraços de suas filhas quando receber a dolorosa notícia da morte de mais um de sua prole. –Alanna demonstra uma reação, fitando Morgaine com ódio. –Não lhe disseram?

—Sei que Rianne está morta. –respondeu Alanna, segurando as lágrimas.

—Sim. Uma pena... ela também era filha de Níniam, como você. –faz uma expressão penalizada. –Não imagina o quanto me corta o coração dizer a ele que seu único filho também morreu.

Aquelas palavras a fizeram estremecer. E murmurou:

—Mentira!

—O que disse? –a bruxa voltou a questioná-la.

—É MENTIRA!-gritou Alanna avançando contra Morgaine, mas Mordred a conteve com um braço e a jogou contra o chão, mantendo-a presa sob o peso de sua bota. –Sua mentirosa! Meu irmão não está morto!

—O que lhe dá tanta certeza, criança?

—O... Guardião dele. Não permitiria isso... -dizia entre as lágrimas.

—Sinto dizer-lhe que esse tal guardião não o protegeu como esperava. –começa a rir. –Agora...

Súbito, Morgaine sentiu uma estranha energia no ar. Uma força absurda se aproximava de seu castelo. Ouviu os sons distantes de seus soldados entrando em combate e seus gritos em seguida. Ela levanta-se de seu trono e vai até uma janela, olhando na direção de onde vinha aquela força.

—O que é isso? Já senti essa energia antes... há muitos anos atrás. –ela arregala os olhos. Uma poderosa energia dourada atinge as muralhas de sua fortaleza derrubando-as com incrível facilidade. Em seguida, um soldado irrompe pelas portas negras do salão dando o alerta do ataque inimigo.

—SENHORA MORGAINE! A Fortaleza!

—Merlinus e seu exército nos atacam? –indagou Mordred aos soldados. –O tolo nunca ousou por termos sua filha como prisioneira!

—Não, milorde... são dois homens. Apenas dois homens! –dizia o outro, visivelmente abalado.

—O que disse? –indagou Agravain.

—Um homem de armadura dourada e outro sem qualquer traje de batalha, mas ambos conseguiram derrotar todos os homens que estavam acampados além das muralhas com enorme facilidade! –dizia sem acreditar.

Morgaine volta o olhar pela janela, sem querer acreditar no que presenciava. Do lado de fora avistou vários de seus soldados armados investirem contra a nuvem de poeira que ainda havia após a queda da muralha e em seguida luzes douradas os arremessavam para trás e para o alto, derrotando-os com incrível facilidade. Então ao avistar os dois saindo de meio àquele caos, os reconheceu.

—Como... como chegaram aqui? Como o moleque ainda vive?–Sephir olha para ela e faz um gesto com a mão como se atirasse nela. –QUEM PERMITIU QUE ATRAVESSASSEM OS PORTAIS?

A risada de Alanna causa mais ódio a ela, que se vira ameaçadoramente para a jovem.

—Quem você acha que permitira que os Portais permanecessem abertos além do tempo? –ela indagou, sorrindo satisfeita.

—Merlinus... –Morgaine diz o nome com desprezo. –Ainda ousa zombar de mim.

x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x

As portas que levavam para o interior do castelo cederam facilmente à rajada de Cosmo disparada do punho de Sephir, nem mesmo os soldados que estavam atrás dela conseguiram deter o avanço de ambos, repelidos pelo Cosmo de Shura, nitidamente furioso.

Estar ali o fez lembrar-se da vida de Alanna que não pode proteger, e isso só tornava seus golpes mais impiedosos contra os inimigos. Mas ambos se detiveram diante do cenário que se abriu a eles.

Um enorme jardim, morto e seco. E no centro dele, uma enorme árvore, com as folhas secas cobrindo o chão e retorcida em galhos secos que pareciam implorar pelos raios do sol, impedido pela cúpula de mármore acima dela. Ao redor

—O castelo parece ter sido erguido ao redor dela. –comentou Sephir, estranhamente atraído pela árvore.

—Ela está morta. –comentou Shura, desviando sua atenção para um cosmo sombrio que se aproximava deles do lado extremo do amplo jardim. Também sentia um cosmo levemente familiar, e seu coração disparou ao reconhecê-la. –Vamos logo Sephir!

—Não... não está. –Sephir murmura e toca no tronco da árvore e seu corpo estremeceu como se levasse um choque leve. O cavaleiro podia sentir como se árvore tivesse uma pulsação, sentia um cosmo enfraquecido dentro dela... algo divino. –Ela está viva!

—O que disse?

Virou-se um instante para ver o que o rapaz havia dito, mas uma cosmo energia muito poderosa é lançada contra ele. Shura se protege colocando os braços cruzados diante do corpo e é arrastado alguns metros para trás. O ataque desperta Sephir que se posiciona a frente de Shura, a espera do inimigo.

O agressor se aproximava. A enorme armadura negra e o rosto sempre coberto pelo elmo de dragão. A cada passo produzia um som característico e pesado. O gigante apoiava a espada que emanava cosmo energia do recente ataque no ombro e fixava o olhar em Shura.

Era Agravain.

—Seu...

Sephir se preparava para confrontar o gigante, mas a mão de Shura pousada em seu ombro o deteve. Com muita calma ele toma a frente do seu sucessor e fita o adversário.

—Eu cuido dele. Parece que ele tem algo a acertar comigo. –disse o espanhol, sorrindo de lado, apontando para um portão lateral com a mão direita. –Vá adiante. Sua irmã está te esperando.

Sephir arregalou os olhos, depois sentiu vários cosmos. Alguns denotando agressividade e um deles se destacava dos demais pela serenidade que emanava.

—Tem certeza?

—Sim. –Shura estralava os dedos das mãos, preparando os punhos. –Isso não vai demorar mais do que alguns minutos. Logo o alcançarei.

Sephir concordou com um aceno de cabeça e corre na direção indicada por Shura. Este permanecia fitando o gigante, que enterra a espada no chão e retira o elmo que escondia o rosto. Havia uma enorme cicatriz cortando sua face do lado direito do queixo até passar por cima do olho esquerdo, cortando um pedaço de seu nariz e deixando seu rosto transfigurado.

—Sua espada causou isso ao meu rosto, cavaleiro de Atena. –dizia Agravain jogando o elmo de lado e pegando a espada novamente. –Em nosso último encontro, quando destruiu os Portais.

—Sua sorte de ainda viver, era que não estava mirando em você.

—Agradecerei às Trevas por permitir a minha vingança.

—Agradecer? –Shura sorri. –Acredito que vai se arrepender de ter me escolhido como adversário.

—Não tem uma armadura para proteger seu corpo de um ataque direto meu. –avisa o outro, exibindo um sorriso maligno.

—Aprendi com um cavaleiro anos atrás, que não preciso de uma armadura para vencer um inimigo. –coloca o braço diante do corpo que começa a brilhar envolvido pelo seu cosmo dourado. –Preciso somente disso.

Ambos se encaram um instante, seus cosmos se elevam e em seguida cada qual brandindo sua espada, investem um contra o outro, chocando seus cosmos e golpes em uma explosão.

x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x

O choque dos cosmos de Agravain e Shura parece abalar toda a estrutura da fortaleza, fazendo Sephir apoiar-se momentaneamente na parede. Em seguida observa estar diante de grandes portas de madeira negra, o salão atrás delas era de onde os cosmos hostis pareciam ter origem.

Ele sorri confiante, cerra o punho concentrando seu cosmo em seu punho e em seguida desferindo um soco contra ela, reduzindo-a a pedaços.

Galehaut o aguardava com sua espada em mãos, observando os pedaços daquelas portas aos seus pés e fitando o cavaleiro que adentrava. Morgaine, mesmo perplexa, e com o cosmo inflamado de raiva, estava sentada em seu trono. Aos seus pés estavam Meleagant e Mordred em postura defensiva. Mas foi a visão da jovem de cabelos loiros caída aos pés de Mordred que lhe chamou a atenção.

—Alanna?

Percebendo a hesitação de Sephir, Mordred ergue a mulher bruscamente pelo braço e a mantém bem próximo ao seu corpo segurando-a pelo pescoço, com um sorriso sardônico nos lábios.

—A dama lhe interessa, estranho? Bem, que tal se eu fizesse um novo sorriso nela? –dizia aproximando da face dela uma adaga. O gesto faz Sephir querer avançar contra Mordred, mas a prudência o impede. –Não?

—Galehaut, acabe logo com isso. -Ordenou Morgaine impaciente.

—Com prazer, minha senhora. Pronto para morrer, garoto?

O cavaleiro negro obedece apontando a espada para Sephir. O cosmo do cavaleiro de Capricórnio explodindo foi à resposta que obteve. Uma batalha mortal iria se iniciar agora.

Continua...

X

X

X

Fim da parte 5.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Notas:

Um capítulo um pouco maior que os demais, mas necessário. Pois o próximo é o final. Mas não é bem o final... terá outros gaidens desse “universo” e não faltarão aventuras.

Agora, sobre alguns personagens de hoje: (Sim, no meu fic Meleagant e Galehaut é um casal).

Mordred (Galês: Medraut) é uma figura lendária da Bretanha que ficou conhecida por sua traição ao lutar contra o Rei Artur na Batalha de Camlann, onde ele foi morto e Artur fatalmente ferido. Seu nome significa "mau conselho". Segundo a lenda, é filho de Morgaine e Arthur.

Meleagant (também grafado Malagant ou Maleagant) é um vilão da lenda arturiana. Originalmente um cavaleiro da Távola Redonda filho do rei Bagdemagus de Gorre, sua reivindicação à fama decorre de ter sido o sequestrador de Guinevere.

Galehaut torna-se um dos maiores adversários do Rei Artur e só não se torna senhor do seu reino graças à ajuda de Lancelot prestada àquele.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "The Son of Mists" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.