Essa é uma lenda que ecoa pelos ouvidos do povo.

Em um local longínquo, numa época não documentada, existira um reino. Não pode se dizer que era um reino muito pacífico e livre de todos os males, pois isso não seria verdade. No entanto, não havia também miseráveis e rebeldes por todo lado. Era um lugar como qualquer um.

Mas um dia, o príncipe que herdaria o trono casou-se com a filha de um nobre de muitas posses. Apesar de sempre ter tido do bom e do melhor, a moça era muito sensível ao que acontecia ao seu redor, e sonhava em criar um lugar livre do medo e da discórdia. Ela acreditava que as guerras, impostos e regras excessivas só trariam conflitos.

Por outro lado, o príncipe era extremamente rígido, e valorizava imensamente as regras e a disciplina. Ele acreditava que a prosperidade de seu reino só viria do controle. Liberdade demais sempre trazia rebeldia.

Era óbvio que seus ideais eram completamente diferentes, e isso os levou ao atrito. Depois da coroação de ambos, a situação tornou-se insuportável. Em uma medida desesperada, a rainha fugiu do castelo, e criou um pequeno campo de refugiados à leste dos limites do reino, em uma imensa planície.

Seu modo de governar era agradável. Não haviam impostos ou leis elaboradas, apenas normas de produção, que diziam que todos deveriam produzir para que os lucros fossem justamente repartidos. Isso atraiu muitos camponeses descontentes com o governo – até de outros reinos, tornando o antes pequeno campo, uma nação não oficial, em constante crescimento.

Enquanto isso, sem a misericordiosa esposa para controlar o soberano, o reino tornara-se rígido. Toda a sociedade era devidamente dividida e restrita em suas classes. No entanto, a riqueza do país aumentara muito, e graças ao exército reforçado, a criminalidade era baixa. Sua liderança também parecia atrativa, por esse lado.

Contudo, logo os problemas começaram a surgir. Do lado da rainha, a excessiva liberdade e falta de forças militares levaram o reino em ascensão a ser um alvo fácil para saqueadores. Sem organização, tudo tornou-se um caos. Desesperados, muitos retornaram ao reino.

E do lado do rei, os impostos altos e as restrições causaram a rebeldia da classe baixa. Uma guerra civil iniciou-se, cada grupo desejando melhoras, privilégios, e até mesmo a queda do rei. Muitos também fugiram para o campo da rainha.

Assim, diante da preocupante situação, o rei e a rainha relutantemente realizaram uma assembleia entre os dois reinos para procurar soluções.

E enquanto os problemas eram apresentados e debatidos, de repente ficou claro para ambos que nenhum dos reinos poderia ascender. Nenhuma das lideranças era correta.

Eles enfim perceberam que a verdadeira prosperidade vinha do equilíbrio. Nem benevolência em demasia nem rigidez excessiva seria o ideal. E então fizeram o que deveria ter sido feito desde o início. Uniram-se. Não só seus reinos, suas formas de governar, mas suas almas.

Porque afinal, eles sempre foram duas partes do mesmo todo. Rei e Rainha. E não importava o quanto fossem diferentes, sempre seriam representados juntos.

E o reino continuou próspero enquanto existiu, por muito tempo.