Essa é uma lenda que ecoa pelos ouvidos do povo.

Em um dia de primavera, num pacato vilarejo, uma criança nascera antes do esperado. Atualmente, não haveriam tantos problemas, devido aos diversos tratamentos e procedimentos. Mas naqueles tempos não era bem assim. Todos achavam que o bebê morreria. No entanto, ela sobreviveu.

Pelo contrário, a menina crescera forte e saudável. Parecia se tratar de um milagre, e ninguém conseguia entender. Mas quando a pequena completara dez anos, foi descoberto um dom.

Ela gostava bastante da natureza, e enquanto passeava pela floresta, encontrou uma pequena árvore, cujas folhas estavam amareladas e murchas, e o tronco velho e caído. Contudo, ao simples toque da menina, a árvore pareceu ganhar vida novamente, crescendo até uma altura exorbitante, com os galhos se estendendo como braços por toda a clareira.

Ela parecia deixar um rastro de vida por onde passava. Idosos sentiam a fadiga e os duros anos de trabalho deixando-lhes os corpos. Maltrapilhos já eram capazes de sorrir, mesmo em meio ao desespero. As próprias plantas pareciam se curvar por onde ela passava, com sua beleza restaurada.

E assim, a menina tornou-se a primeira abençoada da Vida. Aquela que escapou das garras da morte.

Com o passar do tempo, a vila tornou-se muito conhecida pelas redondezas, pelo seu povo com grande longevidade, e seus produtos agrícolas da melhor qualidade. Porém, a fama não é de toda boa. À décima nona primavera da garota, o vilarejo foi atacado por saqueadores que procuravam o poder da Vida que ali residia. Quando o povo tentou resistir, uma criança foi pega como refém. E todos se calaram.

Então a abençoada salvou a vida da pequena, oferecendo a sua própria em seu lugar. Mas os saqueadores não sabiam que a própria garota continha o poder da Vida, e ao derramar seu sangue, o dom se perdeu. Doce ignorância.

Quando ela morreu, a vida da árvore foi a primeira à se esvair.

A criança que foi feita refém plantou outra em seu lugar, exatamente no mesmo local da antiga, em homenagem à sua salvadora. Só não esperava que a mesma crescesse tanto quanto a outra. Mas afinal, ela também fora abençoada pela Vida.

E a árvore continuou firme enquanto ela viveu, por muito tempo.