Definitivamente, a última palavra que poderia ser usada para definir Gold era “honesto”. Era isso que Silver estava pensando naquele momento, além de mais meia dúzia de palavrões.

Por quê? Bem, digamos que aquele maldito encrenqueiro tinha arrastado-o para um cassino (ou casa de jogos, se preferir). Em meio a dezenas de pessoas apostando, gritando, e chorando pelo dinheiro perdido, tudo o que o ruivo queria era sumir. Claro, além de dar um belo soco na cara de Gold.

– Você vai sair daí ou eu vou ter de te arrastar? - perguntou pela terceira vez ao garoto de olhos dourados, que parecia não estar prestando a mínima atenção, concentrado demais em seu jogo de sinuca, no qual obviamente ele tinha colocado suas pokébolas no lugar das normais.

Sentindo uma veia saltar na testa, ele resolveu finalmente tirar seu Ursaring da pokébola* e jogá-lo para fora daquele cassino... E então ele percebeu que aquilo não seria lá muito bom para ele (já que estava tentando andar na lei depois do incidente do professor Elm e da pokédex), e pensou em algo mais sutil. Além de mais divertido.

Esgueirou-se pelo pequeno amontoado de pessoas, fingindo ter chegado naquele momento, e comentou “inocentemente”:

– Nossa, parece até que elas tem vida própria! Fazem até curvas... - alguns homens que ouviram sua fala vincaram a testa, (finalmente) percebendo que havia algo errado. Um deles retirou uma das bolas que haviam sido jogadas em cheio no buraco, e analisou-a.

– Isso aqui são pokébolas! Maldito espertalhão, estava trapaceando!

E então Silver assistiu seu queridíssimo amigo ser jogado para fora da casa de jogos, ganhando de bônus uns belos chutes de pessoas enfurecidas. Ah, como a vingança era doce...

– Silver, seu idiota! Foi você, não foi? - assim que saiu do local, foi abordado por um Gold irritado, que tentava parecer ameaçador.

– Não me culpe pela sua incompetência. Se vai trapacear, pelo menos faça direito.

– Olha quem fala! Não esqueça que eu salvei a sua pele há alguns anos atrás, você deveria estar mofando na prisão*!

Os olhos cor de prata repentinamente tornaram-se escuros e frios.

– Já sei disso, não precisa me lembrar.

Com o tom áspero em sua voz, o garoto percebera ter tocado num ponto sensível, então tentou remediar:

– Bem, de qualquer jeito, aquela sua foto estava hilária, eu realmente fui um gênio naquela montagem. - ele completou a fala com uma careta aleatória. Silver não expressou reação, mas sentiu-se relaxar, a tensão dissipando-se aos poucos. Depois de alguns minutos, os dois até esboçaram um sorriso, o companheirismo que tinham finalmente dando o ar da graça.

– ...À propósito, dá pra me emprestar uma grana? Eu meio que perdi tudo no pôquer.

– Como é que é? Você me arrasta pra esse negócio no meio da noite e ainda quer dinheiro?!

E então mais uma discussão ridícula, que provavelmente terminaria numa batalha pokémon e em xingamentos começou.

Bem, Gold até podia ser um trapaceiro, mas Silver também não era um exemplo de honestidade, afinal de contas.