Meu xampu azul escrita por Pink Plush


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem e desculpem a demora.



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Juju bate na porta do meu quarto e entra.

Ela é a única que pode fazer isso sem eu me importar. Apesar de viver planejando pegadinhas para mim e tornando tudo uma grande confusão, ela também traz alegria para minha vida.

Quando papai foi embora, mamãe e eu ficamos muito preocupadas em como ela iria lidar com tudo isso, e para nossa gigantesca surpresa, enquanto nós chorávamos às vezes, ela dava pulinhos e contava piadas. Enquanto nós falávamos o nome de papai cuidadosamente, ela o dizia sempre com carinho e amor. Talvez por ser tão nova, ela ainda não entendia a seriedade do que papai fez, ou então era porque ela simplesmente tinha um sol por dentro. Era ótimo tê-la por perto, ela iluminava tudo com sua alegria e bom humor.

— Niele? Mamãe mandou a gente descer pra comer - ela pulava de animação. Estava radiante porque papai jantaria conosco.

Ela me chamava de Niele desde os  onze anos, quando cismou que se todos me chamavam de "Dani" ela precisava de algo exclusivo. 

— Eu já vou Jujuba - digo rindo de sua agitação.

Estou estupidamente nervosa, fico pensando em como agir, no que falar, e me lembro de que estou em casa. Ele é o intruso. Procuro relaxar e desço.

O jantar está delicioso, mamãe sempre cozinhou super bem. Meu pai também o elogia, o que a faz ficar envergonhada. Reviro os olhos porque eles parecem adolescentes, papai está meio bobo e sem jeito, e mamãe está totalmente calada. Juju fala o jantar inteiro e agradeço a ela mentalmente por isso, é bom não termos silêncios constrangedores. Mas sei que o pior está por vir.

Estamos todos sentados no sofá, e papai está explicando a mim e a Juju como nossas vidas mudarão a partir de hoje. Ele passará todos -TODOS- os finais de semana conosco. 

A ela, ele só explica que a separação aconteceu quando vovô morreu, para papai ter um tempo para refletir sobre isso. O que me deixa irritada. Olho para mamãe e vejo que ela concorda com tudo que ele fala, o que me deixa ainda mais irritada. Será que só eu estou percebendo o que está havendo aqui?

Papai está sentado na sala! Depois de anos desejando "feliz natal!" pelo telefone e mandando presentes pelo correio, ele está sentado na nossa sala! Ainda por cima dizendo coisas sem sentido e mamãe concordando com cada palavra. Concordando com essa loucura!

Quero desesperadamente que ele vá embora. Quero gritar que ele não pode invadir minha vida assim, depois de tanto tempo sem ao mesmo se importar com qualquer detalhe sobre mim. 

Papai está me encarando.

—Daniele? Você está bem? 

Eu olho para mamãe buscando ajuda. O que ele estava falando? Estou confusa e nervosa.

Suspiro.

—Eu.., é.. sim. Claro! - limpo a garganta. 

Papai continua falando coisas que não quero ouvir. Mamãe continua concordando com tudo e Juju, de repente abraça papai. 

Eu arregalo os olhos. Ele olha para mim e dá um sorriso amarelo. Lentamente eu também o abraço. Mamãe se junta a nós, todos desajeitados, como se isso acontecesse todo dia, como se isso não fosse tão estranho quanto realmente é.

***

O fim de semana foi bem estranho. Papai surgiu aqui em casa e ficamos assistindo televisão por algumas horas. Depois ele e Juju foram jogar damas. Eu amava jogar damas com ele.

Estou meio enjoada com tudo isso e vou até meu quarto falar com Manuela pelo facebook.

Ela é a mais próxima de mim dentre todas as meninas, apesar de todas sermos muito unidas.  Acabamos por incluir todas no bate-papo. É sempre divertido falar com elas pela internet, somos em cinco, então o diálogo é simplesmente uma loucura.

Nos conhecemos na terceira série, e de cara viramos amigas. Amanda, na verdade era - e ainda é - da outra sala, mas conversamos sempre mesmo assim. Manuela é mais alta e mais extrovertida que nós. Ela é  extremamente engraçada, de um jeito peculiar. Cláudia possui cabelos negros e é a estudiosa do grupo. Amanda é baixinha, tem olhos verdes e longos cabelos vermelhos. Ela é super desencanada com tudo e todos. Gostamos dela exatamente pela sua tranquilidade. É fácil conversar com ela e resolver qualquer problema com sua praticidade. Sara é estressada e super autoconfiante. Quem não a conhece a acha arrogante, mas nós sabemos que essa personalidade forte também é sensível. Tem cabelos repicados que emolduram seu rosto excessivamente branco. Sempre está com lápis preto ao redor dos olhos o que torna sua aparência um pouco assustadora, e um pouco delicada. O lápis torna seus olhos azuis mais brilhantes e a deixa meio angelical. Ela é um enigma.

Despeço-me de papai toda desengonçada - isso ainda é muito estranho -, depois de combinar com as meninas à que horas vamos chegar amanhã na escola. 

***

Primeiros dias de aula sempre me deixam nervosa. Não importam quando sejam, depois das férias de julho ou de dezembro. Minha barriga está doendo tanto que bebo três xícaras de chá no café da manhã. 

Chego a escola e vou para a minha sala onde duas cabeças se viram e acenam para mim. Um nó se desfaz no meu estômago e eu automaticamente vou até a carteira onde normalmente sentava. Manu está sentada atrás de Cláudia e estou ao lado de Manu. Amanda sorri para nós da porta e vai para a direção oposta. Sara chega e se senta a minha frente. Conversamos sobre bobagens até a senhora Dilos entrar e todos se acomodarem em seus lugares.

Mateus Albuquerque, o garoto mais lindo da sala, passa por mim e ergue as sobrancelhas ao ver meu cabelo, que está meio desbotado, mas nitidamente azul. Ele se inclina para mim e diz:

— Seu cabelo ficou maneiro! - ele sorri enquanto vai para o final da sala e se senta na última carteira.

Distraio-me dos números complexos escritos na lousa por um segundo, enquanto escrevo na minha agenda: Lembrar de retocar o azul do meu cabelo!

E faço dois traços embaixo.


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Notas finais do capítulo

Se puder comentar o que achou eu agradeço!
:*



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