Ao longo daquele dia, Helena não encontrou com Rafael, mas não quis criar expectativas, apenas deixou que as coisas acontecessem naturalmente. Precisava ouvir dele o que tinha acontecido para que ele tivesse ido embora sem avisar.

Para não deixar a ansiedade tomar conta dela decidiu ajeitar alguns objetos de Marcela que voltaria para casa naquelas férias, e queria que menina encontrasse um local bem agradável. Tudo bem que concordava que talvez isso fosse difícil uma vez que todos ali eram de idade tão diferente a dela, mas estava tão empolgada.

As horas passaram e ela nem percebeu até que se atentou para o tempo quando viu Melissa entrar no quarto trazendo algumas coisas que havia pedido.

_ Acha que consegue ajeitar tudo?

_ Não sei, mas estou me sentindo tão leve Melissa... E bem disposta. _ Ela virou para a jovem emprega e com um riso demonstrava sua cara de apaixonada _ Estou feliz! Muito feliz!

_ Isso é tão arriscado.

Helena riu levando a mãos aos lábios.

_ Eu sei, mas é maravilhoso Melissa! A única coisa que me deixa apreensiva é que o Rafael ainda não apareceu para explicar o que houve.

_ O seu Rafael é tão inconstante... Às vezes tenho medo.

_ Porque você diz isso?

_ Porque ele acabou de chegar com a Eliza.

Imediatamente ela largou o que fazia.

_ Com a Eliza?

_ Está lá em baixo como se fossem um casal de noivos apaixonados.

Era difícil imaginar aquela cena já que há poucas horas tinham partilhado de um momento belo, mas a verdade é que nunca haviam falado de futuro. Só que não esperava por isso!

_ Ele disse algo?

_ Não, mas perguntou pela senhora e disse que vão ficar para o jantar.

_ Tudo bem. Eu vou tirar essa sujeira toda com um banho e descer para o jantar. Termine isso, por favor, Melissa.

_ Ah o seu Antonio ligou...

Helena suspirou fundo, já que por algumas horas tinha esquecido dele.

_ Disse que chega bem cedinho aqui amanha.

_ Obrigada.

Enquanto se arrumava depois do banho, Helena pensava tantas coisas. Sua mente estava embaraçada por não compreender como Rafael podia ficar com outra mulher aos abraços quando ele havia feito juras de amor tão belas. E o modo como eles se amaram foi tão único que ainda sentia seu corpo vibrar somente ao fechar os olhos e recordar daqueles poucos momentos, apesar disso tentaria manter a naturalidade. Vestiu um macacão social de tonalidade clara, o que fez ressaltar o bronzeado adquirido.

***

Helena pôde ver de imediato que o casal estava sentado um de frente para o outro e eles tinham as mãos dadas. Parecendo não perceber a presença dela ,Eliza beijou o namorado na nuca e sorriu travessa. Não queria deixar transparecer o desconforto que aquilo lhe causava , por isso fez barulho demonstrando sua presença.

Eliza virou o rosto e avistou Helena que vinha descendo os degraus da escada.

_ Boa noite. _ Helena disse de modo natural, sem deixar transparecer o incomodo que aquela cena lhe causava.

_ Boa noite, Helena.

Quando Rafael virou para lhe encarar ele deixou transparecer em seu rosto a inquietação por aquele momento e por isso não a encarou totalmente.

_ Papai ainda não chegou?

_ Acabou de avisar que chegara amanhã cedo.

_ Que pena meu amor, queria que ele estivesse aqui para receber a noticia._ disse Eliza em tom melancólico.

A que ela se referia? Indagou-se Helena em pensamento. Mas parece que tal pergunta ficou evidente em seu rosto que Eliza logo procurou falar.

_ O Rafael e eu ficamos noivos!

Ela sentiu o corpo paralisar ao ouvir aquilo e instantaneamente virou para Rafael que tinha o olhar sério. Ela não conseguia dizer nada, pois as palavras ficaram presas na garganta, mas não podia ficar ali parada como uma tonta. Então de seus lábios saíram as palavras mais mentirosas para aquele momento.

_ Parabéns!

O resto daquela noite estava perdido! Ela não conseguiu comer toda a comida, pois era como se algo estivesse mastigando borracha. Nada parecia ter sentido e a todo custo segurava o nó em sua garganta, pois sabia que precisava se conter ou iria chorar ali na frente deles e a ultima coisa que queria era ser humilhada a este modo.

_ Vou deixar vocês, preciso terminar algumas coisas. Parabéns ao casal.

_ Obrigada Helena.

Tantas coisas precisavam ser esclarecidas, mas ela não tinha condição de fazer tudo naquele momento!

***

Rafael sabia recolher um olhar abatido, mas já tinha se preparado para isso. Quando subiu ao seu quarto depois de retornar da casa de Eliza ele sabia que certamente teria que enfrentar Helena, por isso seria o mais frio possível!

Quando abriu a porta do quarto viu que ela estava parada de costa olhando na janela. Ao ouvir o barulho dele entrando ela o encarou, mas ele não demonstrou surpresa e friamente comentou:

_ Sabia que te encontraria aqui!

Ele tirou a jaqueta e jogou sobre a cama.

_ O que houve Rafael, eu estou confusa... Ainda esta manhã eu te procurei como uma louca e tudo que encontrei foi uma carta dizendo que você tinha voltado para Lisboa. E agora você anuncia teu noivado. O que está acontecendo?

Rafael sentiu certa aflição ao ver o olhar confuso dela. Mas ele disse a si mesmo que aquele não era momento para emoção!

Lentamente se aproximou dela e com as duas mãos segurou o seu rosto fazendo com que ela o encarasse.

_ Não aprece óbvio demais minha querida?

_ Do que você está falando Rafael?

_ Como é ser enganada?

A verdade a atingiu de modo cruel e ela fitava o homem parado à sua frente sem realmente crer naquela frase que saia dos seus lábios. Então todas aquelas palavras bonitas não tinham passado de mentiras!

_ Será mesmo que tudo foi um engano?

Ele se afastou dela e riu em deboche, mas apesar de tudo em seu semblante tinha algo estranho. Era como se ele fosse forçado a dizer aquelas palavras. Pelo menos era isso que ela queria acreditar!

_ Você achou mesmo que eu estava apaixonado? Por favor, Helena!

_ Mas e tudo que aconteceu? Você não pode negar que sentia algo...

_ Você tem razão, afinal você é uma mulher muito bonita. Tantas vezes te disse que não me admirava o fato do meu pai ter se encantado por você, mas daí até eu te amar existe muita diferença. São outras qualidades que eu procuro em uma mulher!

Enquanto ele ia falando ela tentava formular na sua mente uma coerência para aquilo, mas nada parecia fazer sentido. Afinal tinha sido real demais o sentimento para simplesmente deletar tudo assim de uma hora para outra!

_ Você sabe muito bem que eu odiei o fato de você ter casado com meu pai e sempre te avisei um iria fazer com que você se arrependesse...

Sim, ela lembrava muito disso. Mas nunca imaginou algo desse tipo e sua mente estava muito confusa e não conseguia ordenar as idéias.

_ Nunca pensei que você pudesse chegar a esse ponto _ ela sorriu triste _ Deves está feliz não é? Afinal estas tendo o prazer de me ver destruída emocionalmente...

_ Não apenas isso me deixa feliz, mas saber que você vai deixar essa casa me alivia a alma!

_ Como assim?

_ Você mesma vai deixar essa casa e pedir a separação do meu pai!

Helena não poderia ter ouvido coisa que mais desejasse, porém isso teria um preço e devido a isso não tinha como realizar esse desejo.

_ Você está louco!

_ Não tanto assim...

Rafael pegou o tablet e mostrou um vídeo de quando ela esteve em sua casa há alguns dias atrás e algumas fotos deles dois durante o dia anterior.

_ Com isso aqui tenho minhas duvidas se você vai conseguir enganar todos por mais tempo.

As imagens eram tão perfeitas e não teria como contestar caso alguém as visse.

_ O que você quer?

_ Agora estamos falando minha língua! Quero que você saia dessa casa antes que isso chegue às mãos do meu pai.

Como se sair daquela casa fosse possível!

_ Eu não posso Rafael.

_ Então se prepare para as conseqüências!

Quando Rafael fez menção de sair ela rapidamente correu em sua direção e segurou a mão dele pegando o aparelho com as filmagens e fotos. Logo em seguida ela atirou o objeto no chão que se espatifou em duas partes.

Como resposta ele apenas riu em deboche já que possuía os originais muito bem guardados em seu computador pessoal.

_ Essa é apenas uma cópia, por isso não faça festa.

_ Rafael, você não pode fazer isso! Se teu pai descobrir... Por favor, eu não posso ir embora eu...

Finalmente revelando tua verdadeira face! Por um segundo ele desejou que ela tentasse se defender dizendo que ele estava errado, mas ela não fez isso, simplesmente se limitou a confirmar com sua atitude tudo o que ele tinha pensado sobre ela.

_ Não me interessa nada sobre você! Será que ainda não percebeu que não me importo contigo?

Helena olhava para ele, mas em nada parecia o antigo Rafael do qual ela tinha se apaixonado.

_ Eu não acredito que não exista nenhuma parte daquele Rafael que se dizia apaixonado!

Enquanto falava ela segurou a manga da blusa dele como que numa esperança de que aquilo o fizesse repensar sobre o que estava fazendo, mas ele simplesmente se limitou a afastar suas mãos e olhar fixamente para ela.

_ Aquele Rafael só existiu na sua mente e eu posso te provar!

Quando Rafael a trouxe em sua direção sua intenção era causar dano a Helena, mas não sabia que a quem faria mal era a si mesmo. Pois ao tocar os lábios dela foi como reviver aqueles momentos maravilhosos, só que dessa vez precisaria ser o mais frio possível. E assim o fez!

Não foram beijos de caricias e sim agressivos e exigentes! Sem permissão levou o corpo dela em direção a cama e procurava beijá-la sem emoção alguma, apenas querendo saciar o desejo que sentia. As mãos dele foram possessivas passeando pelo corpo frágil dela e sem permissão começou a desfazer de sua roupa.

Pressentindo aquela agressividade ela se debateu em desespero, pois foi remetida aos momentos em que Antonio por muitas vezes a agredia e então em suplica pediu:

_ Por favor, Rafael, pare!

A voz dela estava embargada pelo choro ao constatar que aquele era o verdadeiro homem a quem tinha entregado seus sentimentos.

Rafael poderia ser acusado de muitas coisas, mas jamais de se aproveitar de uma mulher! Então quando ele a beijou pela ultima vez o fez de modo apaixonado e depois se afastou empurrando o corpo dela sobre a cama como se fosse algo descartável.

O olhar dela em sua direção era de repugnância e isso o atingiu, mas demonstrou uma frieza que não possuía.

_ Espero que isso esclareça as coisas para você de que eu planejei as coisas nos mínimos detalhes.

_ Acho que quanto a isso não podemos duvidar.

_ Eu quero você fora dessa casa Helena! Fora da minha vida! E fora da vida da minha família!

Lentamente ela se colocou de pé e ficou de frente pra ele dizendo:

_ Sinto muito, mas esse desejo eu não posso realizar!

E saiu do quarto batendo a porta com força.

***