Rafael tentava se concentrar na direção do veiculo, mas sua a mente estava muito distante mais precisamente, na conversa que haviam tido sobre o fato de sua madrasta começar a trabalhar na empresa. Também não conseguia parar de pensar no olhar dela no momento em que estava beijando Eliza, ficou bem evidente que ela não tinha gostado nenhum pouco da cena vista.

Um riso triunfante se formou em seu rosto, talvez aquilo fosse sinal que já estivesse no caminho certo.

_ Cuidado!

A voz de Eliza o trouxe para a realidade e se não fosse isso teria batido no carro que havia parado no sinal.

_ Desculpe, estava distraído.

_ Você esteve assim durante toda a noite... Aconteceu alguma coisa que você não tenha me contado?

_ Não sei por que você fala isso.

Eliza torceu a boca em sinal de inicio de irritação demonstrando que não acreditava nenhum pouco no que ele falava.

_ Eu percebi que você estava distraído, afinal eu te conheço. Ou penso que sim... O que foi? E aquela mulher novamente?

O olhar dele era de evidente surpresa, pois era como se ela estivesse lendo sua mente.

_ Ficou surpreso não é? _ ela riu cínica _ Você está esquisito desde a hora do jantar na sua casa Rafael e eu notei que você ficou inquieto por causa dela. Aliás, eu notei que ela não tirou o olhar de você. O que está acontecendo?

_ Não está acontecendo nada! Você sabe muito bem que eu não gosto dela! Eu apenas fiquei furioso ao saber que meu irmão vai colocar ela para trabalhar na empresa.

_ Eu não entendo porque tanta raiva. Para mim ela pareceu uma pessoa legal e que está com vontade de construir algo pelo seu próprio esforço.

Ele deu uma sonora gargalhada demonstrando sua total descrença disso.

_ Pelo jeito você também já foi fisgado pelo rosto de anjo da Helena.

_ Nunca tinha percebido que ela tinha “rosto de anjo”, mas você parece que sim! Aliás, Rafael, você anda falando demais dessa sua madrasta!

_ Por favor, sem essa agora!

Ele estacionou o carro em frente ao prédio onde ela morava e Eliza virou para ele em sinal de convite para ele subir, mas não estava com vontade de permanecer ali com ela.

_ Acho que estou um pouco cansado essa noite.

Ela não acreditou naquela desculpa e deixou isso bem claro.

_ Rafael nosso relacionamento sempre foi aberto, mas eu jamais vou aceitar ser a segunda opção. Você entendeu? Eu posso até não ser exclusiva, mas se você estiver comigo vai ter que está sempre disponível para mim!

Rafael sabia muito bem qual era o relacionamento entre eles. Jamais haviam falado em coisas como amor ou qualquer coisa que outros casais falavam, mas ela sempre deixou claro que aceitava não ser exclusiva, mas jamais aceitaria ser jogada de segunda opção. Ela seria a primeira, sempre!

Em resposta ele apenas a beijou de modo natural sem nenhum sentimento em especial e então Eliza saiu do carro rumo a sua casa. Após vê-la entrar ele partiu com o carro em alta velocidade na rua pouco movimentada.

***

Helena já havia se revirado na cama varias vezes, mas o sono não era seu melhor amigo naquela noite. Para se distrair caminhou até a sacada do quarto e ficou por algum tempo olhando a lua estava cheia naquela noite. Era um convite aos namorados, mas também trazia consigo bastante calor.

Desceu e foi até a cozinha onde encontrou Melissa que após fazer um pequeno lanche guardava a louça no armário.

_ Helena, acordei você? _ disse notando a entrada da patroa.

_ Não, essa noite esta calorenta e não consigo dormir. Você ainda está trabalhando até essa hora?

_ Senti um pouco de fome e vim comer _ ela riu _ Bem, vou me deitar porque estou morta. Precisa de alguma coisa?

_ Não. Todo mundo já esta deitado, você pode ir dormir.

_ Seu Rafael ainda não chegou.

Helena apenas olhou de relance para a jovem que sorria timidamente então ela disse:

_ Nem espero que ele faça isso hoje.

_ E verdade , já que ele saiu com a dona Eliza e bem você sabe...

_ Sei.

Naquele momento ela deixou revelar algo que nem mesmo havia notado, mas a Melissa percebeu e comentou.

_ A senhora não consegue dormir porque esta inquieta pensando no seu Rafael com a namorada?

_ Melissa! Você não deveria falar essas coisas, eu estou acordada por que... Oras porque estou sem sono. Agora vá dormir! Boa noite.

Melissa não contestou e seguiu para seu quarto dizendo “boa noite”, logo que se viu sozinha ela pegou um copo de água e seguiu até ao jardim queria desfrutar um pouco mais da noite estrelada, afinal aquele era um dos poucas coisas que sempre gostou de fazer desde sua idade de criança e Maura nunca lhe proibiu.

Na cidade pequena era melhor para se contemplar a natureza, mas apesar de não está no seu lugar de infância podia desfrutar de uma bela vista e da brisa do mar que fazia com que aquela noite ficasse ainda mais maravilhosa. Ela se ficou despercebida enquanto debruçava seu corpo na proteção da orla e olhava para o céu.

Rafael tinha visto Helena caminhar para a orla e a seguiu sem que fosse notado. Parou quando a viu olhando para o mar enquanto sentia o vento forte agitar seus fios loiros. Ela parecia tão distraída e não notou sua aproximação então ele lentamente chegou mais parto e tapou seus olhos por trás.

Ela teve um momento de susto, mas logo sua mão se pôs a apalpar em busca do dono daquelas mãos.

_ Quem é?

Como não obteve resposta ela começou a falar os nomes.

_ E você Armando? Se não é você então é o...

Não teve tempo para concluir a frase, pois sentiu seus lábios serem tomados pelos de Rafael em um beijo possessivo. Helena logo descobriu de quem tratava e não fez força para se afastar, muito pelo contrario, deixou seu corpo ser envolvido pelos braços dele e ela se entregou ao momento.

Rafael intensificou o beijo quando sentiu que ela também o queria e logo ambos se viram presos a um beijo apaixonado e exigente. A boca dele percorria seu rosto e ela fechou os olhos desejando que ele a beijasse mais, pois por onde os lábios dele percorriam deixava um rastro de fogo. Eles se afastaram quando sentiram que o beijo ficou intenso demais e logo poderiam perder o controle e como que acordando do devaneio ela o empurrou e levou as duas mãos aos lábios.

_ O que você fez?

_ Algo que você também queria.

_ Você está louco Rafael! Você não pode me beijar quando você quiser!

Ele riu e a segurou novamente e trazendo ela em sua direção.

_ Quem disse?

Rafael sem cerimônias a beijou dessa vez mais intenso provocando-a em todos os sentidos e ela começou a sentir tudo outra vez e antes que perdesse o controle ela se afastou dele.

_ O que você quer? Brincar comigo? Por favor, Rafael eu já tenho problemas demais!

Ele tentou segurar a mão de Helena na tentativa de mantê-la próximo a ele, mas ela se afastou rapidamente, pois não queria ficar muito perto dele ou cederia à tentação de se atirar em seus braços.

_ Eu vi o teu olhar quando estava beijando a Eliza.

_ Você não viu nada! Quer saber, você esta ficando maluco.

_ Estou maluco sim, mas é porque não consigo parar de pensar em você.

Helena levou as duas mãos ao ouvido já que não queria escutar aquelas palavras, pois elas a machucavam demais, mas ele segurou suas mãos obrigando-a a ter que ouvir tudo o que ele dizia.

_ Eu sei que não estou nisso sozinho... Eu vi o teu olhar, Helena!

Ela sentiu seus olhos ficarem marejados e quando viu que as lágrimas iam rolar em seu rosto rapidamente as afastou , mas ficou pensando no que ele havia falado . Ainda que tudo fosse verdade, eles nunca poderiam levar adiante esse sentimento maluco que havia surgido.

_ O que aconteceu Rafael? Quando você mudou? Até onde eu lembre você sempre me detestou e de repente isso... Estou confusa.

Rafael levou a mão ao rosto dela e a confortou com carinho.

_ Também me pergunto o que está acontecendo Helena...

Com o polegar contornou os lábios dela fazendo caricias que eram tão boas e ela não conseguiu resistir e fechou os olhos para sentir melhor aquele momento. As mãos dele tocando lentamente em seus lábios eram como uma tortura.

_ Acho que tudo aconteceu naquela noite em que te beijei pela primeira vez. Desde então não consigo parar de pensar em como quero fazer isso novamente...

Ao dizer aquelas palavras olhava fixamente nos olhos de Helena para ela ter certeza que era verdadeiro o que ele estava sentindo. Por um segundo esqueceu de toda a raiva que sentia por ela então a beijou com toda a paixão que estava sentindo e foi como se estivesse saciando a sede de sua alma.

Estava realmente assustado, pois não havia planejado sentir aquele nervoso quando a via ali na sua frente... Mas poder sentir os lábios dela era como encontrar o paraíso! A verdade era que nunca havia sentido isso, mas queria beijá-la sem parar!

Mas Helena não queria partilhar do mesmo desejo! Quer dizer, era isso que ela queria que Rafael pensasse já que seu o coração reagia à adrenalina em seu corpo. Precisava parar aquele beijo ou então iriam para um caminho que não poderiam voltar.

_ Não!

Ela o empurrou e gesticulando a cabeça em negativa e começou a se afastar, apesar dele tentar segurá-la, mas ela saiu correndo rumo a casa. Rafael apenas ficou olhando ela sumir em meio a vegetação do jardim e logo um pequeno sorriso de satisfação se formou em seus lábios e com as costas das mãos limpou sua boca.

Precisaria de pouco tempo para que ela começasse a ceder as suas barreiras e ele poderia entrar! Já conseguia sentir que ela se entregou ao beijo, mas isso não era surpresa porque era bem visível que ela era uma mulher carente de afeto. Duvidava muito que com seu pai ela se sentisse plenamente satisfeita, pois ela havia se casado com Antônio apenas por interesse.

Seu maior prazer seria ver aquela mulherzinha sair daquela casa sem nada! Queria ver a cara de todos quando soubessem quem era ela verdadeiramente . A doce e meiga Helena que todos a julgavam ser. Seu irmão era um bobo que já estava se deixando envolver pelas investidas dela, assim como tinha acontecido ao seu pai. Não duvidava que logo Armando também caísse aos encantos dela. Mas se dependesse dele, aquela capa iria cair antes!

***