Annie e Finnick - Até que a morte nos separe. escrita por Carmel Verona


Capítulo 15
Agonia




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Está chovendo forte, o mar está agitado e o céu tem uma cor acinzentada que me traz calafrios, a água da chuva parece cortar toda vez que uma gota toca a minha pele. É uma lembrança estranha e melancólica de se ter.

– Mãe!! - Eu grito para o mar - Mamãe!

A praia está vazia, posso ver alguns barcos no píer que não está muito longe, eles todos balançam violentamente por causa do mar e da chuva.

– Mãe! - Eu grito mais ma vez, na esperança de que ela me responda.

– Annie! - Alguém grita para mim, mas não é a minha mãe. É uma voz de um homem.

Eu me viro e, quando o faço, o cenário muda. A praia agora está calma, o céu está alaranjado por conta do por do sol. Dallon está me encarando com um sorriso nos lábios e traz um pequeno buquê de flores nas mãos.

– Para darmos à ela - Ele diz.

Eu pego o buquê improvisado de sua mão e o seguro sobre o meu peito, o nariz do meu amigo começa a sangrar.

– Dallon?

Ele não responde, apenas me encara com um sorriso macabro no rosto. Seu nariz começa a sangrar mais, o sangue escorre para o queixo e começa a pingar. Eu acompanho o sangue com os olhos e quando olho para o seu pescoço eu posso ver uma linha vermelha nele. Empurro Dallon de leve, nesse momento seu corpo cai para trás e sua cabeça cai para frente.

Eu grito.

Acordo num susto, ofegante. Tiro uma máscara de respiração que está em meu rosto e tento me sentar, mas estou presa à uma cama por uma espécie de faixa que não deixa eu me mover direito. Vejo alguns fios transparentes entrando em minhas veias pelos braços, eles parecem se mexer dentro de mim. Me sinto agoniada e enjoada. Eu os tiro dos meus braços e forço o meu corpo contra a faixa que me prende a cama. Ela faz com que eu me sinta presa demais, eu quero sair daqui!

– Finnick - Sussurro para mim mesma, então grito por ele - FINNICK, ME AJUDE!!

Continuo a gritar por ele e me agitar na cama, tentando me livrar de tudo que me prende aqui, a sensação de não conseguir sair é agonizante. Eu puxo a faixa para cima e para baixo na esperança de que ela rasgue. Eu ergo o meu corpo para cima, mas a faixa me traz de volta para a cama. Continuo tentando sair, até que uma avox entra com uma seringa na mão, ela vem acompanhada de mais duas pessoas. Eles me seguram pelos membros e seguram também a minha cabeça. Eu não paro de me agitar. Eles vão me machucar, eu sei que eles vão me machucar. Todos aqui querem me machucar.

– Por favor - Uma lágrima sai dos meus olhos - Por favor.

A avox mede a agulha e se aproxima de mim. Ela vai me machucar.

– FINNICK, SOCRRO.

Ela enfia a agulha no meu pescoço e eu começo a me sentir tonta instantaneamente, meus membros ficam moles e não respondem mais ao meu comando, eu tento manter os olhos abertos, mas eles se fecham mesmo assim e eu apago.

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– Annie?

Demoro para conseguir abrir os meus olhos.

– Annie, consegue me ouvir?

Finnick. É ele! Eu tento responder, mas não consigo. Eu me concentro nos meus membros e na minha voz, mas não consigo me mexer ou falar. Sinto minha boca seca, estou com dor no flanco e na perna esquerda, isso me faz lembrar de quando eu estava afunando.

Quando finalmente abro os olhos, Finnick é a primeira coisa que eu vejo.

–Finnick - Minha voz sai um pouco rouca.

Ele sorri para mim e faz um carinho na minha testa, eu posso sentir meus olhos encherem de lágrimas.

– Finnick, o que aconteceu?

– Você venceu - Ele diz - Está fora dos Jogos Vorazes agora.

Jogos Vorazes. Jogos Vorazes. Eu venci os Jogos Vorazes.

Ouço o barulho do canhão em minha cabeça, rapidamente levo as minhas mãos aos ouvidos. Mas não adianta muito, consigo ouvir os gritos mesmo assim, a agonia das pessoas, a dor, posso ouvir a voz de Évra gritando o meu nome. Eu não consigo lidar com isso. Aperto minha cabeça com as mãos e solto um gemido, não consigo ouvir minha própria voz no meio desse caos.

– Acabou -Ouço Finick no fundo de todo o barulho - Eu estou aqui, Annie. Está tudo bem agora.

Posso ouvir suas palavras doces e as sigo até que as outras vozes sumam por completo. Aos poucos eu tiro as mãos do ouvido e meu mentor as segura. Ele sorri para mim e eu me acalmo um pouco.

– Não me deixe - Eu peço.

Finnick se senta na minha cama e eu vou direto para o seu colo.

– Eu não vou a lugar nenhum - Ele beija a minha testa.

Mags entra no quarto branco e sorri. Eu enterro meu rosto no peito de Finn. Não tenho problemas com Mags, para ser sincera eu gosto dela, mas não quero que ninguém além de Finnick me veja nesse estado. Não me sinto como eu mesma. É como se a Annie estivesse morta na Arena. Eu estou diferente agora, me sinto fraca, frágil, estranha, com muito medo.

– Eu quero ir para casa - murmuro.

Sinto os músculos do rapaz que me segura ficarem tensos.

– Annie, nós vamos para casa, mas não hoje. - Ele diz.

– Por que? - Eu desenterro meu rosto para olhar em seus olhos - Os Jogos acabaram, podemos ir.

Ele me aperta contra si. Por que eu não posso ir para casa? O que está acontecendo?

– Temos que ficar mais uns dias - Diz Mags e eu olho para ela - Você ainda tem a entrevista com Caesar e a Coroação.

A entrevista. A coroação. Eu estou viva, mas só porque sangue inocente mancha as mihas mãos. Tenho vontade de espernear, de gritar, brigar com todos, mas em vez disso eu começo a rir. Eu gargalho ao pensar na entrevista com Caesar. Como Snow pode fazer isso? Dou risada da minha tragédia, enquanto Mags e Finnick me olham surpresos.

Eu paro de rir e encaro o lençol que me cobre. Começo a pensar nas pessoas mais próximas. Antes de tododos, tem o meu pai. Coitado do meu pai, ele não tem ninguém agora; perdeu a esposa e a filha para a loucura. Ele está sozinho agora e a culpa é minha. Depois eu penso em Dallon. Sua morte foi rápida e gosto de pensar que também tenha sido indolor. De todos, incluindo a mim mesma, Dallon era quem devia sair vivo da Arena, ele devia estar aqui em meu lugar e aproveitar das riquezas que a Capital promete, ele devia ter vivido uma vida longa e feliz, mas sou eu quem estou aqui. Eu estou acabada, porém viva e só estou viva por causa dele. Então eu penso em Finnick. Ele também me ajudou, mas de fora. Sei que eu era sem graça nos Jogos e os Idealizadores poderiam ter me matado a qualquer momento, mas de algum jeito Finnick preveniu que isso acontecesse para poder me ter em seus braços agora. Sei que ele se apaixonou pela Annie, mas será que pode amar quem ela se tornou, pode amar o que eu sou agora?

– Você tem que comer, querida - Mags me tira dos meus pensamentos.

Não estou mais no quarto de hospital e sim na sala de jantar de onde eu costumava jantar com meus mentores, Lavigne e Dallon. Não me lembro de como cheguei aqui.

Olho para o meu prato intacto e vejo que deveria estar comendo frango com abacaxi desidratado. Isso é algum tipo de miada sem graça? Mordisco o frango e não toco no abacaxi. Depois de desistir de comer, vou para o meu quarto e coloco a imagem do mar em vez da vista da Capital. Fico observando a água azul esverdeada, os corais e peixes coloridos, as arraias que parecem dançar em vez de estarem simplesmente nadando. Sinto saudades do mar, da água salgada, da sensação da areia em meus pés. Tudo que eu quero é ter isso de volta, tenho uma esperança de que isso vá me ajudar.

Olho para o relógio daquele controle esquisito e percebo que já passei horas encarando a paisagem. Decido me levantar e escovar os dentes, acendo a luz do banheiro e olho para o espelho. Mas quem olha de volta não sou eu, com minhas roupas brancas e rosto pálido. Eu vejo Evelin, a garota que eu matei, manchada de sangue e terra e ela esta sorrindo para mim.

– Boa noite, Annie.


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