Annie e Finnick - Até que a morte nos separe. escrita por Carmel Verona


Capítulo 14
Afundando




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Eu grito, horrorizada. Dallon parece estar me encarando surpreso, mas é só a cabeça dele. Não consigo tirar os olhos dele

–NÃO!! - Eu berro em meio aos gritos. - DALLON!!

Eu sabia que ele ia morrer. Eu sabia, eu sabia, eu sabia. Mas não esperava por isso, não estava preparada. Me lembro de Dallon levando flores ao enterro de minha mãe, dele me animado durante os piores dias que eu já tive, dele me acordando nas minhas manhãs preguiçosas, de puxar o meu cabelo para me irritar, de quando brigávamos para ver quem pegava o peixe maior. Dallon era muito mais do que apenas meu amigo, ele era meu irmão. Ele se tornou meu irmão e viveu uma vida comigo.

Agora a cabeça dele estava separado de seu corpo sem vida. Não pode ser.

– Sua vadia estúpida- Consigo ouvir Évra se contorcendo de dor.

Aquilo me faz voltar a realidade. Vejo que Évra está se aproximando de mim por trás e Bantok vem na minha direção pela frente. Eu me viro para o lado e saio correndo.

– Volta aqui - Consigo ouvir a fúria da garota - Eu vou acabar com você. -Ela corre atrás de mim, mas não consegue me alcançar.

– Deixe-a - Ouço Bantok. - Ela não pode durar muito nesse estado.

Eu corro por muito tempo, corro sem saber para onde estou indo até que chego perto do rio, tropeço em uma pedra e caio de cara na água. Não tenho vontade de me levantar, então apenas me sento. Eu repasso a cena de novo e de novo na minha cabeça. Então eu ouço um canhão. A primeira coisa que faço é levar as mãos aos ouvidos. Não aguento mais esse barulho, não aguento mais esses jogos. Meu estômago vazio se revira e eu tento vomitar, mas nada sai, apenas faço barulhos estranhos e minha barriga doí com a força que faço mesmo sem eu querer.

– Me ajude - Sussurro, na esperança de que Finnick possa me ouvir - Por favor, Finn. Me tire daqui.

Quando percebo estou chorando. Eu soluço e choro alto, ainda com as mãos nos ouvidos. Não quero mais ouvir a dor, mesmo que seja a minha. Eu só quero voltar para casa.

Eu durmo sem mesmo perceber que dormi e acordo com um susto. Olho para o céu e vejo que o sol está bem no alto, eu decido me levantar, mas estou tremendo. Me sinto fraca. Pego o cantil na minha mochila e o encho de água, então pego a comida desidratada e percebo que ela está podre. Eu me desespero. Remexo toda a mochila, mas não há nada que me seja útil e nesse rio não há peixes. Sinto minha cabeça ficar leve e meu coração bater mais forte. Eu preciso comer.

É nessa hora que eu ouço um sino tocar e quando olho para cima vejo uma dádiva pousar perto de mim. Abro a caixa de metal que veio com ele e ali dentro encontro um pedaço de pão e uma sopa. Eu tomo a sopa primeiro, ela parece ser a coisa mais saborosa que eu já comi na vida, então eu como um pedacinho pequeno de pão e guardo o resto para mais tarde. Depois de uma hora me sinto um pouco melhor. Não estou mais tão cansada, mas ainda estou me sentindo estranha e meu estômago doí um pouco. Tento pensar em outras coisas.

– Finnick? - Eu falo para o nada, na esperança de que ele me ouça - Obrigada, Finn.

Molho a mão na água e tento me lembrar da sensação que a água gelada me trouxe naquela noite na piscina. Lembrar de Finnick é a única coisa que me acalma. Preciso continuar forte. O que me mantém viva agora são os meus instintos e a esperança de que eu posso voltar para ele.

Dois dias -ou pelo menos eu acredito que tenham sido dois- se passam sem que eu perceba e tudo que eu faço é me esconder. Eu me escondo nas árvores, nos arbustos, nas pedras, na grama alta, em tudo que posso. Alguns outros tributos passam por mim e não me percebem. Mesmo com o coração batendo forte eu tento controlar a minha respiração e eles não conseguem me ouvir. Uma garota da qual eu não consigo identificar o distrito acampa perto de uma árvore que eu fico escondida. Quando ela adormece eu roubo sua comida e água e procuro outro lugar para me esconder. Eu fico escondida e sozinha até que algo estranho acontece.

Sinto um vento forte soprar, então ouço os pássaros agitados e vejo que eles voam para o alto e para longe. Fico confusa por um segundo e me sinto tonta. Logo percebo que eu não estou tonta e sim que o chão está tremendo, o chão começa a tremer um pouco e logo está tremendo muito. Algumas árvores caem, eu saio correndo para que nenhuma delas me atinja. Eu ouço gritos, então um tiro de canhão. Eu paro instantaneamente, cubro minhas orelhas, ajoelho no chão e grito. Grito o mais alto que posso e com toda a força que tenho. Não quero ouvir mais, não quero ouvir mais, não quero ouvir mais.

Quando dou por mim, eu parei de gritar e o terremoto já acabou. Eu me levanto num susto e ouço um barulho que me é familiar. É o barulho do mar, mas ele parece estranho, parece o barulho de ondas deformadas. Até que vejo uma enorme onda vindo em minha direção.

Tudo que eu consigo fazer é colocar os braços na minha frente e me encolher, para que a onda de água suja não me acerte com tanta força mas isso é inútil. A enorme onda me atinge com uma força brutal e me leva consigo. Eu tento abrir os olhos, mas não consigo ver nada, a água está suja demais e leva muitas coisas consigo. A água me faz dar voltas e não sei mais onde é a superfície e onde é o fundo. Ela me leva com rapidez, um galho de árvore corta a minha barriga e dou um grito abafado pela água. Estou tonta demais. Algo puxa a minha perna e eu vou mais para baixo. Consigo sentir uma mão no meu tornozelo, mas logo ela se livra de mim e vejo um corpo passar por mim indo em direção à superfície. Eu sigo a pessoa e sinto um galho cortar a minha perna. A dor é latente e a água suja faz piorar. Eu nado para cima e tento saber onde eu estou assim que chego na superfície.

– SOCORRO - Alguém grita perto de mim - ME AJUDE.

Eu tento me agarrar em alguma coisa, mas a correnteza me leva rápido demais e eu não consigo me agarrar em nada. Bato com as costas em uma árvore que ainda está de pé e ela me joga para o outro lado como uma bolinha de pebolim. Eu bato a cabeça e perco a consciência por um minuto

– Você bateu a cabeça.- Ouço uma voz familiar e acolhedora- Eu tive que te salvar.

– Finnick?

Ainda tenho os meus olhos fechados, mas reconheceria essa voz em qualquer lugar.

É verdade, eu estava pescando. Dallon estava comigo.

Quando abro os olhos vejo que não estou na praia, estou afundando em uma água suja. O desespero se instala em mim. Por que eu não estou em casa?

Solto uma bolha pela poca e vejo que ela vai em direção as minhas pernas. Eu sigo a bolha e consigo alcançar a superfície. O ar que entra nos meus pulmões parece me machucar, estou tossindo desesperadamente, soltando toda a água que ficou em meus pulmões. É aí que eu ouço o último canhão.

– Senhoras e Senhores, eu apresento a vocês a vencedora da septuagésima edição dos Jogos Vorazes.

Então tudo fica preto.


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