Annie e Finnick - Até que a morte nos separe. escrita por Carmel Verona


Capítulo 16
Protegida




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Não é real. Não é real. Não é real. Evelin está morta, eu a matei, todos estão mortos. Eu ando para trás e bato com as costas na parede. A garota continua sorrindo para mim; vejo uma mancha de sangue em sua barriga que vai aumentando, seus dentes estão vermelhos e sangue escorre de sua boca e pinga pelo queixo.

– O que foi? - Ela sorri para mim.

Não! Não é real!

Eu escorrego minhas costas na parede e me encolho no chão, coloco as mãos nos ouvidos, quero tampar a voz dela, mas ainda posso ouvir uma risada. Por que ela está rindo?

– Socorro - A voz de Bantok agora me invade a cabeça.

Todos começam a gritar em minha cabeça, todos os gritos e súplicas que eu ouvi durante os jogos me vem a mente, eles não param de gritar por ajuda, eles riem de mim e chamam pelo meu nome.

– CALEM A BOCA - eu grito de volta - Parem com isso. Por favor, me deixem em paz.

Mas nada funciona. Eu continuo apertando minha cabeça, eles não param de rir e gritar. Fecho os olhos com força e bato minha cabeça contra a parede. Eu não aguento mais isso.

– Annie? - Ouço Finnick e aperto ainda mais a minha cabeça.

Sinto lágrimas se formando nos meus olhos e escorrendo pelo meu rosto. Por favor, Finnick não. Ele é o único que faz com que eu me sinta normal. Ele está vivo, por que está na minha cabeça? Ele está vivo, não está?

Sinto um toque em meu braço e me sobressalto. Quando abro os olhos vejo que Finnick está abaixado ao meu lado, as vozes começam a ir embora quando eu olho em seus olhos preocupados.

– Me desculpe - Eu digo quando as vozes finalmente param.

Ele retira as mãos dos meus ouvidos, lentamente. Eu deixo, apenas me concentro em seus olhos verdes. Tenho a sensação de que se eu parar de olhar para ele as vozes vão voltar.

– Está tudo bem agora - Ele diz.

Eu solto um breve soluço de choro que estava preso em minha garganta, deixo que as lágrimas rolem pelo meu rosto.

– O que está acontecendo comigo, Finn?

Ele não diz nada, apenas se senta no chão do banheiro e me puxa para o seu colo. Eu vou como se fosse uma criança perdida, como se aquele fosse o meu lar. Eu me sinto pequena e protegida quando estou com Finnick, é o único lugar que eu conseguia me encontrar. Eu enterro meu rosto em seu pescoço e deixo ele fazer carinho em mim.

– Você vai ficar bem - Ele diz - Isso vai passar e você vai ficar bem.

Não sabia se ele estava dizendo isso para mim ou para si mesmo, decido confiar em suas palavras e ficar em seus braços até que eu me sinta melhor. Nunca imaginei que fosse precisar tanto de alguém.

Depois de me acalmar, Finnick me pega pelas mãos e me leva até a cozinha para tomar uma água. Ele não solta a minha mão por nada e eu prefiro que seja assim. Lavigne chega depois de um tempo e me oferece aqueles comprimidos para dormir, eu os aceito já que quero ter uma boa noite de sono e não ter aqueles sonhos horríveis que tive no hospital. Eu engulo os comprimidos e vou direto para a cama. Finnick me acompanha e deixa que eu durma em seu colo.

– Finn? - Eu murmuro minutos antes de pegar no sono.

– O que foi?

– Eu tenho um segredo.- Estou sonolenta, meus olhos estão fechados e eu estou quase pegando no sono, mas ainda me resta uma pequena força para eu dizer a ele o que eu preciso - Eu só estou aqui porque queria te ver de novo.

Finnick beija a minha testa e me puxa para mais perto de si. Eu pego no sono rápido e finalmente tenho uma noite tranquila.

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Desde que eu acordei, Finnick não saiu do meu lado. Tomamos café da manhã juntos e agora Kallos está me preparando para a esperada entrevista com Caesar. Eu estou tremendo de medo, o que complica a situação dele quando seus minions tentam passar esmalte nas minhas unhas. Meu estilista deixa o meu cabelo liso e coloca uma tiara nele, eu também uso um vestido verde de verão. Me sinto uma menininha, muito diferente da mulher que me sentia na outra entrevista ou no desfile da capital.

Quando eu estou pronta a minha equipe me leva até a entrevista. Posso ouvir a Capital agitada pela plateia, Caesar começa o seu discurso e logo será a minha vez de entrar. Eu encaro a entrada com medo, dou meia volta e vejo que Finnick está na escada logo atras de mim.

–Finnick, eu não quero ir - Digo com a voz chorosa.

– Está tudo bem, Annie - Ele diz - Eu estou logo aqui. Vai ser bem rápido, eu prometo.

Eu continuo olhando para ele até que ouço Caesar me chamar. Eu engulo seco e entro no palco. Me sinto estranha e diferente. Estou ansiosa, mas é uma ansiedade muito diferente da outra vez que eu pisei aqui, antes eu estava mais confiante e tranquila, hoje eu me sinto um filhote perdido, tudo que eu quero é voltar para os braços de Finnick imediatamente. Mas Flickerman pega na minha mão e me conduz até a minha poltrona, impossibilitando a minha fuga. O homem começa falando alguma coisa sobre os jogos, mas eu não consigo entender nada do que ele diz. Eu apenas observo sua boca se mexer, ele rir, e o cabelo tão bem engomado que me pergunto se é ou não é uma peruca.

As luzes se apagam e eu levo um pequeno susto, até que uma grande tela aparece a nossa frente. Eles começam uma espécie de reportagem sobre mim, conversando com o meu pai, com os meus mentores, com pessoas do meu distrito que eu mal falava, então começam a falar da minha pontuação e habilidades. Eu sei que depois disso vem os jogos. Eu não quero ver as mortes de todos, mas mesmo assim não consigo tirar os olhos da tela, não consigo me mover, não consigo fazer nada do que eu quero, é como se eu estivesse presa dentro de mim, incapaz até mesmo de piscar. Eles começam pelo banho de sangue na cornucópia. A Capital parece adorar aquilo, como se fosse uma ótima aventura. Eu estava lá e aquilo tudo foi horrível. Eles dão foco em mim quando eu atravesso o corpo de Evelin com um facão. Instantaneamente sinto meu coração bater mais rápido, me lembro da garota me encarando pelo espelho na noite passada, mesmo sabendo que aquilo tudo não era real. Sinto um aperto do peito, mas isso não me impede de continuar imóvel. Eu assisto as mortes de todos, um por um. Chloe cortando gargantas, Bantok quebrando pescoços. Descubro que Évra teve uma terrível infecção em seu pulso e foi atacada por bestantes. Bantok e Chloe morreram afogados. Me lembro da voz que me pedia ajuda na arena quando eu também estava tentando não afundar, era a voz de Chloe. Vejo todas as mortes, uma por uma e elas vão ficando gravadas em meu cérebro.

Mas eles deixaram o melhor para o final. Eles passam a minha luta com Évra e me fazem parecer uma grande heroína, quando na verdade eu fazia tudo por instintos. Eles mostram a morte de Dallon e a minha reação na Arena. Eu estava justamento como estou agora: paralisada, chocada, sem saber o que fazer. Então eles fazem uma retrospectiva de nós dois, mostram nossos momentos na arena, no centro de treinamentos, de tudo o que eles tem com uma música dramática ao fundo.

As luzes voltam a acender, a tela some e vejo que a Capital está chorando, emocionada com o que acabaram de ver.

– Deve ter sido muito difícil para você ver o seu melhor amigo morrer.

Difícil? Eu começo a rir. Que pergunta mais idiota, é claro que foi dificil. Também foi difícil sobreviver os outros dias, e também foi difícil ter deixado meu pai sozinho, sem contar como foi impossível sair da arena a mesma garota normal e sã que eu era antes; Mas eu não digo tudo isso a Caesar. Em vez disso eu apenas rio. Eu começo a rir e gargalhar da estupidez que ele está me perguntando, até que meu riso se mistura com tristeza e eu começo a chorar. As lágrimas saem dos meus olhos e eu começo a soluçar sem controle. O aperto que sinto no peito é maior do que qualquer outro que eu já tenha sentido. Me sinto sozinha e desamparada, não sei mais o que fazer.

Caesar termina a entrevista e eu estou livre para sair. Eu vou correndo até a coxia e Finnick está me esperando. Eu me jogo nos braços dele e começo a chorar mais do que antes. A dor que eu sinto é horrível, saber como todos morreram só piorou as coisas para mim. Tenho nitidamente a imagem de todos em minha cabeça e isso passa a me assombrar.

A minha equipe de preparação sai da coxia e eu fico sozinha com Finnick. Ele não diz nada, apenas faz carinho em mim até que eu pare de chorar.

Não me sinto mais tão sozinha agora, me sinto com um pouco por ter Finnick ao meu lado.


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