Annie e Finnick - Até que a morte nos separe. escrita por Carmel Verona


Capítulo 13
Adeus




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/634044/chapter/13

Mais um dia se passou e nada de muito novo aconteceu. Encontramos alguns tributos no caminho, mas eles logo foram eliminados. Bantok quebrou a pescoço de uma menina do nove e Chloe cortava gargantas.

Toda vez que fecho os olhos eu posso ver os rostos dos tributos me encarando de volta. Tive um pesadelo com Evelin e seus olhos arregalados. Não consigo suportar o peso da morte, não consigo passar mais um minuto com aqueles assassinos. Dallon me assegura que ainda não é a hora de ir embora e Bantok tenta ser simpático, mas não funciona muito bem.

– Pense assim - Diz o garoto do Distrito Dois - Ou é a garganta deles ou é a sua.

Engulo seco e imagino por um segundo Chloe cortando a minha garganta, então a imagem do garoto do Distrito Seis me vem a cabeça. Quero sair dali e logo. Esses carreiristas são realmente muito bons em caçarem outros tributos, eles conhecem todos os truques de caça e eu memorizo todos para saber como não deixar eles e acharem na hora de fugir.

A noite é um terror. Os animas fazem barulhos que me dão medo, eu posso ouvir gritos das pessoas. Para falar a verdade eu não sei se os gritos são reais ou se a Arena já está me deixando louca. Eu não me ofereço para montar guarda, em vez disso deixo que os outros o façam.

Nossa comida está acabando, eu me sinto suja e culpada demais. Tenho vontade de chorar e gritar. Eu não sabia que seria tão ruim, não consigo lidar com as mortes. Fico me lembrando dos rostos dos tributos, imagino como estão as famílias deles. Como alguém pode achar isso incrível? Todos os anos vários jovens tem que passar por isso, apenas um sobrevive para conviver com os traumas e as histórias. Me lembro de Finnick. Como ele conseguiu passar por isso? Como ele conseguiu manter a sua sanidade?

Ah, Finnick. Como sinto sua falta. Sinto falta de seus braços, de sua voz, de seu sorriso. Pensar nele me traz um pouco de paz. Fecho os olhos com força e me lembro de cada traço de seu rosto. Isso deve me deixar em paz por um momento.

E funciona.

Eu consigo dormir encolhida no meu saco de dormir por algumas horas. Até que ouço um farfalhar perto de mim.

– Temos que nos livrar deles - Ouço Évra sussurrar

– Vamos ficar com a garota - Bantok responde.

Eu continuo fingir estar dormindo. Não sei se eles estão falando de mim ou dos tributos do Um, mas de qualquer forma preciso sair daqui.

– Tudo bem - Concorda Évra - Ficamos com a garota, mas é por pouco tempo.

Ouço os seus passos em nossa direção. Dallon está dormindo ao meu lado. Abro os olhos e vejo que Bantok está em pé ao lado do meu amigo.

– Bom dia - Eu tento parecer amigável e sonolenta, não pavorosa como na verdade eu estou - Já é hora de ir?

– Hmm - Ele parece pensar por um tempo. Tenho certeza que ele quer aniquilar Dallon também - Arrume o acampamento. Vamos partir logo.

Espero que meu aliado saia de perto de mim, então me apresso até Dallon e o acordo.

– Dallon - Eu sussurro e o agito - Vamos, Dallon!

Ele não se move. Sinto meus olhos encherem de lágrimas. Será que já está morto? Por favor, que esteja vivo.

– Dallon - Meu desespero aumenta, mas eu tenho que me manter firme se quiser sair viva daqui.

– Annie? - Ele me responde sonolento.

Eu lhe dou um abraço, aliviada. Ele ainda está vivo.

– Precisamos sair daqui - sussurro - Eu acho que eles querem te matar agora.

Dallon sai de seu saco de dormir e se levanta. Ainda está sonolento demais, o que me deixa preocupada. Eu estou ansiosa, ansiosa até demais. Um pressentimento ruim toma conta de mim.

– O que esta acontecendo? - Meu amigo pergunta.

– Eles vão nos matar. Precisamos sair daqui.

Eu pego o meu saco de dormir e o coloco na minha bolsa. Vejo que ainda tenho um pouco de água e comida desidratada. Dallon confere a sua mochila também e saímos de fininho, sem que os outros nos vejam. Temos que tomar o maior cuidado para não mantermos as nossas pegadas e nem nada que possa fazer com que eles nos cacem de volta. Decidimos ir até a cornucópia, ver se ainda podemos pegar comida e armas.

– O que você ouviu? - Dallon pergunta depois de uma meia hora de caminhada.

– Ele disseram que iam matar um garoto - Disse -, e ficar com a garota por um tempo. Não sabia se estavam falando de nós ou do Distrito Um, mas achei melhor sairmos.

Dallon acena positivamente com a cabeça.

– Já estamos chegando no final - diz ele.

Sinto um arrepio subindo a espinha. Realmente, estamos chegando no final. Sei que existem poucos de nós na arena agora. Nós seis, os carreiristas, e mais quatro pessoas dos outros distritos. Eu tento, mas não consigo não pensar nisso. Talvez eu sobreviva, mas isso significa que Dallon terá de ir. Eu não quero morrer e também não quero que ele morra. Eu não sei mais o que eu quero. Esses pensamentos me assombram por um momento e sinto aquele grito preso na minha garganta. Não aguento mais guardar tudo isso para mim, não me sinto eu mesma. Me sinto frágil, fraca, nervosa e quase morta.

Depois de um bom tempo de caminhada silenciosa chegamos até a Cornucópia. Alguns objetos ainda estão lá. Temos oito facas e três pacotes de comida desidratada. Eu coloco quatro das minhas facas no cinto e Dallon faz o mesmo. Fico com um pacote de comida e dou os outros dois para Dallon, sou melhor na caça do que ele, mesmo que eu só tenha experiência no mar.

– Acho que essa é a hora da despedida - Ele se aproxima.

– É, acho que sim.

Eu abraço o meu amigo e uma onda de lembranças me vem a mente, Dallon esteve comido durante metade da minha vida. Não sabemos quem vai sobreviver, se for algum de nós, mas já me sinto estranha sem ele, é o mesmo sentimento de quando descobri que minha mão estava morta. Eu tento não chorar, mas algumas lágrimas escapam dos meus olhos.

– Adeus, Annie - Diz ele.

Eu não consigo dizer nada, apenas forço um sorriso e sigo o meu caminho.

Quando me viro, dou de cara com Évra e meu coração fica gelado.

– Ora, mas vocês são espertos - Diz ela.

Ela me da um soco no rosto e eu caio, então a garota parte para cima de mim e me prende com o seu peso. Eu não sei o que fazer, mal consigo respirar.

– DALLON - eu grito, mas não tenho respostas.

– Isso não vai ajudar em nada, Cresta - Évra diz com o rosto quase colado no meu.

Eu uso toda a minha força e a empurro, ela cai ao meu lado e eu me arrasto na direção que acho que meu amigo está. Então Evra se levanta e me puxa pelo cabelo até eu ficar de joelhos na grama. Ela puxa e balança a minha cabeça para que eu fique tonta.

Maldito cabelo comprido.

Toda vez que eu tento me mover, ela balança mais a minha cabeça. Quando eu olho para frente, vejo que Dallon está lutando contra Bantok e parece estar levando a melhor, até que meu amigo perde uma deixa e Bantok o empurra para o chão. Eu pego uma das minhas facas do cinto e finco no pulso de Évra. Ouço ela gritar de dor e me soltar.

Vou correndo em direção a Dallon, mas tudo acontece rápido demais. Bantok levanta sua enorme faca e atravessa o pescoço do meu amigo com ela. Então eu ouço o barulho do canhão.

Eu paro de correr na hora e fico imóvel. Não sei mais andar, não sei mais respirar, não sei mais piscar os olhos. Bantok ergue a cabeça do meu amigo com a mão e sorri para mim.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Annie e Finnick - Até que a morte nos separe." morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.