Mandamento 8: se declare. Não importa se você vai levar um "sim" ou um "não", o importante é tentar. Só assim saberá se vale continuar lutando.

Esse é o mandamento é o mais importante, tão importante que deveria ser o 1. Se quer conquistar alguém, fale. Se declare. Não guarde tudo para você. Talvez, se eu tivesse falado tudo isso antes teria sofrido menos e essa história nem estaria acontecendo. Mas bem, vamos aos fatos.

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Depois do baile as coisa ficaram tensas, principalmente com o fim das férias. Férias que passei viajando com mamãe. E assim, fiquei sem qualquer contato com Lynn, e ela tão pouco parecia interessada em falar comigo. Por um lado foi bom porque pude pensar melhor em todo o lance que aconteceu no baile. O ruim foi que pude pensar melhor em todo o lance do baile. Ou seja: dois meses que não deu em nada. A única certeza que tinha era que ainda amava Lynn e que ainda estava chateado.

Voltar a escola era como olhar minha derrota todos os dias. Ver Lynn e não falar com ela era...sei lá, uma prova de resistência. Lembrando que sou acostumado a falar com ela todos os dias e quando não falava não foi por vontade própria. Agora era diferente, não falava porque realmente não queria. O pior mesmo era vê-la com os outros rapazes, isso parecia uma brincadeira da vida para o pobre Kentin. Mas, estou bem, obrigada.

Nesse último ano algumas coisas diferentes aconteceram: Ambre, por exemplo, estava drasticamente mudada. Continuava com as mesmas amigas, mas seu comportamento era outro, desconfio que ela tenha arrumado uma boa alma que a ame e a aguente. Isso me faz ter uma certa simpatia por ela, porque finalmente conseguiu achar um pouquinho de amor próprio. Descobri também que não a odeio tanto, é só que Ambre é uma daquelas pessoas que te irrita e passa dos limites, mas que faz você dar belas risadas de algumas coisas. Ela também não me seguia mais, nem ao Castiel. Uma novidade positiva era que o Dake nunca mais foi visto por estas bandas e nem Lety, o que me parecia bem suspeito. Ah, Leigh vai pedir a Rosa em noivado no final do ano, Alexy que me contou. Por falar nele, parecia não nutrir mais sentimentos por mim, o que me deixou feliz, pois não queria magoá-lo. Porém, resolveu virar cupido no Sweet Amoris e já planejava fazer com que Armin e Lynn ficassem juntos. "Cunhada" falava ele quando avistava Lynn em algum lugar, acho que faz isso só para me irritar.

Por enquanto, isso era tudo, mas tinha certeza que mais coisas mudariam até nossa formatura. É, o pessoal está amadurecendo. Até mesmo a Lynn parece mais madura. Não a vejo se envolver com problemas dos outros há um bom tempo, isso quer dizer que resolveu dar mais atenção para sua própria vida. Estou feliz por ela.

E foi assim, com várias mudanças, que o tempo passou. Até o dia em que a voz que mais gosto de ouvir me chamou na hora da saída no corredor do colégio.

— Espera, Kentin.

Eu parei, me deparando com Lynn. Meu coração disparou. Alexy, que ia embora comigo, me deu uma cotovela e sussurrou um "arrasa, mostra pra ela seu modo Kentão", antes de seguir caminho para casa. Revirei os olhos, desejando, mesmo que por pouco tempo, o Alexy ciumento de volta.

— Já deu da greve de me ignorar, não? — tom de Lynn era de acusação.— O que está acontecendo entre a gente? Somos amigos, poxa.

Bom, por onde eu devia começar? Falando que me afastar é melhor que continuar fazendo papel de trouxa? Hum, não.

— Literalmente, nada. Não está acontecendo nada entre a gente. E talvez, esse seja o problema — respondi, no mesmo tom.

— Você, hã, ficou bravo por causa de alguma coisa que fiz? O quê?

— Primeiro, me responde: quem era aquele cara que te beijou no baile? Castiel, Nathaniel, Armin, Lysandre, Dake, ou outro cara que gosta de você?

Ela parou para pensar. Como desconfiei: não fazia ideia de quem havia beijado. Punf, sei que também beijei uma desconhecida, mas foi uma situação diferente, não foi? Primeiro, tive que me magoar por causa de Lynn para receber aquele beijo. A acusada continuou parada, sua boca abriu um pouco. Era impressão minha ou ela estava quase rindo de mim?

— Ótimo, está sempre beijando desconhecidos! — soltei, bravo. Me arrependi logo depois, pois Lynn fez aquela cara de ofendida, aquela que só usava contra Ambre e Debrah.

— Mas...do que está falando? — Lynn franziu a testa, irritada.

— Significa que tentei te beijar, e sabe o que houve? Acabei beijando um coelho; da outra, caí de uma carteira. Mas os desconhecidos, como o Dake, tudo bem beijar — desabafei. Isso mesmo, vou falar tudo de vez. Tipo o modo Kentão.

— Está com ciúmes, Kentin?

— Viu? Já fugiu do assunto — respirei fundo.— Sabe o que é, Lynn? Cansei de tentar fazer você notar as coisas. Por mim, tanto faz quem você fica ou deixa de ficar.

A última parte foi mentira, me importo e muito com tudo isso. Mesmo assim, virei as costa e saí andando, sem olhar para trás. Ouvi seus passos me seguindo apresada e do nada, sua meus braços se agarraram a minha cintura, num abraço meio desajeitado. Ficamos assim um tempinho até eu me virar e ficar frente a frente com ela. Foi então que a coisa mais surreal aconteceu: Lynn me deu um selinho, longo, quente e...como poderia descrever? Seus lábios eram tão macios que logo fez meu coração bater tão forte que parecia que ia furar meu peito e cair no chão. Minhas mãos foram logo para sua nuca, onde segurei e acariciei, retribuindo o selinho da melhor forma possível. Mas foi estranho porque não tinha carinho naquele gesto de Lynn; tinha raiva. E quando nos separamos eu me senti o lerdo da história.

— Pronto, não é isso que importa para você? — tinha lágrimas em seus olhos.— Não queria tanto um beijo?

Oh...está chorando por mim? Um misto de frustração e dó passou no meu peito. Ela estava me acusando de só querer beijá-la, mas se estava chorando era que queria dizer que isso a magoava. Sabe o que isso significa? É, também não sei. Droga.

— E você pensa que não vi você agarrado àquela garota do baile? — gritou ela, fazendo eu me assustar.— Puff, e seu beijo com a Ambre? Acha que me senti como em te ver beijando a Ambre? A Ambre! Logo ela? Que tipo de vingança foi essa? É bem normal fazer vingança beijando loiras, né?

Um incômodo ruim ficou após ela me lembrar do meu beijo com Ambre. Realmente não sabia que Lynn tinha se importado tanto com aquilo, afinal, ela não demonstrou nada no dia. Fui um idiota em me vingar de maneira tão tosca, só que eu estava com raiva, precisava mostrar que havia mesmo mudado enquanto estava fora. E sei que nesse ponto Lynn estava certa, mas em outras definitivamente não.

Segurei em seus braços e a empurrei com cuidado em direção aos armários que ficavam no corredor. Passei os braços ao seu redor e fiquei apenas alguns centímetros de sua boca rosada, podia sentir sua respiração ficar pesada. Nossos corpos estavam perigosamente próximos, e olhando-a de tão perto, minha vontade era de dar continuação ao selinho que demos, mas não, não era o momento. A encarei com a maior intensidade que poderia ter um olhar. É hora do oitavo mandamento: declarar.

— Se liga, Lynn! Acha que só quero te beijar? Acha mesmo isso?! Acha que depois de tudo que fiz por você, de todos esses anos juntos, de tudo que vivemos, vou querer apenas te beijar? Você realmente não percebeu que te amo? Não amor de amigos, caramba, amor de verdade! Não percebeu que isso começou quando coloquei meus olhos em você? — despejei tudo o que guardava há anos e ia despejar mais.— Simplesmente tento te conquistar de todos os jeitos possíveis e você... você parece não dar a mínima. Aliás, você parece sentir a mesma coisa por todos os caras que citei há pouco. Tem noção do quanto isso dói? Não só em mim, garanto que neles também. E tudo bem, quem iria me escolher, tendo tantos caras nos pés? Mas só te peço uma coisa: para de enrolar, para de esconder que você não percebe os sentimentos deles! Finalizando, não me afastei de você por causa do beijo com o mascarado, mas por causa do que sinto por você. E não, não quero o tão esperado beijo; quero você Lynn. Meu Deus, será mesmo que não deixei tudo isso bem claro nesses anos?

Falei tudo tão rápido que fiquei sem fôlego, mas ainda não tinha acabado:

— É isso: te amo, Lynn. E só isso.

Ela me olhou com a boca aberta, sabia que ia demorar para Lynn entender tudo aquilo. E quer saber de uma coisa? Foi o melhor desabafo que já fiz. Foi como colocar anos de frustração pra fora. Minha postura relaxou e um peso estranho parece ter saído de minhas costas. Eu a soltei e declarei, quase em tom de vitória:

— Agora, se me permite, vou embora.

Mais um vez lhe dei as costas.

— Kentin...— sua voz sussurrou atrás de mim.— Também te amo, só que...

Aquilo era tudo o que desejei escutar todos esses anos, mas naquele momento não senti absolutamente nada, apenas um aperto de tristeza. Continuei caminhando, pois não queria um "te amo" cheio de dúvidas e por obrigação. Já tinha esgotado minha cota de paciência com as besteiras de Lynn.

— E para sua informação, não beijei nenhum desconhecido no baile! — gritou ao longe.

Me detive por alguns segundos. O que ela quis dizer com àquilo? Que ela sabia quem era o mascarado? Ou que...argh, até mesmo nisso ela me deixa confuso.