Mandamentos de Kentin: como conquistar uma garota escrita por Brenda


Capítulo 10
Mandamento 10


Notas iniciais do capítulo

Demorei pra postar por motivos sério. Cof, preguiça feat manutenção do nyah quando finalmente tomei vergonha na cara, cof.



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Mandamento 10: Esqueça o passado, aceite as coisas como são e, se você conseguiu conquistar a pessoa desejada, ótimo. Se não conseguiu, bola para frente, pois a vida não para.

Dias se passaram e nada de trocarmos alguma palavra, foi como se nada tivesse acontecido. Como se eu não soubesse de nada sobre Lety, Dake ou qualquer outra coisa. Pode me chamar de orgulhoso, mas não sou, só estava esperando o momento certo. Lynn me observava durante as aulas e andava estranhamente quieta, o que poderia ser considerado um milagre. O que se passava na cabeça dela? Será que finalmente começou a pensar em seus sentimentos pelos paqueras? Estaria ela fazendo uma avaliação de tudo que passou com cada um? Não sei, sua mente é um mistério para mim. E quer saber? Tanto faz, já fiz tudo o que tinha a fazer. Bom, menos me desculpar pelo último erro.

Mas, foi num dia quase normal de aula que fui surpreendido. Já não esperava muito daquele dia, pois estava chuvoso e os alunos começaram a ir embora com medo de um temporal anunciado no rádio. Também resolvi me mandar, afinal, era melhor chegar em casa molhado do que ficar preso na escola a noite inteira. Porém, no caminho ao invés de ir para casa, preferi seguir caminho para o lugar no qual não visitava há muito tempo: o parque abandonado. O que quase ninguém sabia de sua existência, e se soubessem evitariam frequentar. O que até mesmo eu evitava pensar para não quebrar seu mistério. Faz sentido nunca se falar e escutar sobre ele.

Lembranças passaram por minha cabeça; tinha me refugiado ali em meu primeiro dia em Sweet Amoris quando Ambre estragou toda minha moral, simplesmente porque era o lugar onde ninguém me acharia. E eu o achei por engano enquanto tentava fugir dos meus próprios sentimentos e do movimento da cidade, principalmente da minha casa. No segundo dia também visitei, quando soube que seria mandando para o colégio militar. E quando voltei, foi o primeiro lugar que passei, só para ter certeza que eu ainda era eu. Podia até não ser um bom lugar para se pensar, mas para mim era. Pois era o único lugar onde somente eu ia. Era o lugar onde meus pensamentos ficaram gravados, planos foram bolados e lágrimas extravasadas; deixei ali um pedacinho de tudo que sinto por Lynn e de tudo que sou e já fui.

Olhei ao redor para ter certeza que ninguém estaria me olhando e escalei o pequeno muro. A chuva tornou a tarefa que antigamente era automática em um desafio, mesmo assim, consegui pular. Meus olhos passearam pelo território, continuava exatamente como costumava ser: muito mato, árvores secas e poucos brinquedos enferrujados. A única diferença era o fato de agora ter também muita lama nas partes onde havia terra. Caminhei até o meu brinquedo favorito, o carrossel de cavalos que já nem pareciam cavalos, e sim, monstros esculpidos pelo tempo. Sorri e me sentei ali. O lugar sombrio continuava incrível aos meus olhos. Meus pensamentos logo vagaram para meu problema atual: minha acusação à Lynn. Seria uma boa hora para decidir o que fazer.

A chuva aumentou, trovões ecoaram pelo local, só que não foi isso que me fez pular do cavalo monstro. Foi o barulho de passos na água. Me levantei e corri até a árvore mais próxima, minha visão estava embaçado por causa da chuva e meu coração acelerava a cada passo. Só para deixar claro: não tenho medo de assombrações, mas isso muda quando você está num lugar abandonado e sozinho. Continuaria escondido até ter certeza que não era nada perigoso. Mas, uma voz me impediu de seguir o plano.

— Kentin! — a voz gritou. Era Lynn.

Instantaneamente, suspirei aliviado e sai do esconderijo. Ela se aproximou, molhada dos pés a cabeça assim como eu. Sua roupa estava colada ao corpo e aquilo me fez derreter. Concentração, Kentin, concentração...

— Você vai pegar um resfriado — adverti, preocupado.

— Você também — ela riu, passando a mão nas gotas de água que caíam de meus cabelos. Percebi que não importava os acontecimentos, sempre me preocuparia com Lynn, é impossível não fazê-lo.

— Ei, como chegou aqui? E como me achou?

Ela olhou ao redor, analisando o parque.

— Te segui quando saiu da escola, precisava conversar com você — continuou olhando tudo.— Sempre gostou de se esconder em lugares isolados, mas esse está de parabéns. Como nunca conheci este aqui antes?

— Parque fantasma, teve um breve sucesso durante os anos 80. Funcionou até os 90, quando faliu, foi vendido para alguém, mas a pessoa não soube o que fazer — expliquei o que havia pesquisado anos antes.— Por ser um pouco afastado do centro da cidade e por ter muito mato ao redor, acho que poucos conhecem.

Ela apenas balançou com a cabeça e voltou a me olhar.

— Pensei em tudo, Kentin...

— Tudo o quê?

— Não sei por onde começar.

A chuva só aumentava, pesada, assim como o clima entre nós e o lugar. Os olhos verdes de Lynn brilhavam de forma estranha.

— Bom, confio na sua capacidade intelectual — brinquei. A verdade é que não sei se confio tanto assim.

Ela respirou fundo e me encarou em silêncio. Pela primeira vez não consegui me sentir confortável ali. Finalmente Lynn pigarreou e começou:

— Tá. Tudo começou quando te vi perdido na escola, um baixinho estranho, sem saber onde ir. Eu também não sabia, e talvez por isso me simpatizei logo de cara com você. Tempo passou, o Ken, o baixinho da turma, se mostrou um companheiro valioso. Você me ajudava nas tarefas e eu gostava de te defender de tudo e todos. Odiava aqueles valentões com todas minhas forças, eles estavam mexendo com meu companheiro. E pode não parecer, Kentin, mas chorei quando soube que me mudaria para Sweet Amoris, não entendia o motivo de estar chorando, só entendi quando comecei a pensar melhor: eu deixaria uma vida toda para trás, mas principalmente, deixaria meu amigo para trás.

Lynn começou a tremer de frio, mas eu não queria que parasse de falar. A chuva começou a enfraquecer, mas uma névoa fria continuava no ar.

— Então, você veio até mim de novo, não por muito tempo, mas foi o suficiente para acalmar meu coração. E eu também não entendia como você conseguia fazer isso. Quando foi para a escola militar, me apeguei a outros garotos, me apeguei aos problemas das pessoas e fiquei viciada em ajudar; assim, minha saudade só aparecia quando eu chegava em casa e olhava seu ursinho na cômoda. Dormi com ele várias noites e ainda durmo. Estava tão acostumada com sua presença que ficou estranho passar aquele tempo sem você — ela ria, envergonhada.— Depois voltou de novo, totalmente mudado, mas para mim, era o mesmo. Porque percebi que nunca liguei para sua aparência, você seria o mesmo até vestido de palhaço.

Dessa vez eu que ri.

— Então, Kentin, você se aproximou muito, não da mesma maneira de antes. Agora era você que me ajudava. E isso me assustou. Uma confusão surgiu em mim, porque...de repente, me vi cercada por pessoas queridas, por pessoas que gostavam de mim. Meu erro foi achar que poderia gostar de todos da mesma forma. Não importava as qualidades dos outros garotos...

— Chamo eles de paqueras — interferi. Ela me olhou divertida.

— Hum...ok, paqueras. Não importava o que passava com eles, você continuava ser meu único bom companheiro. Sabe, não importava se eram especiais, ou se os beijei, porque você continuava ser meu único bom companheiro. Porque você já morava em meu coração antes mesmo de qualquer um deles aparecer. E eu não entendia isso. Mas agora entendo, essa coisa que nunca entendi é amor. E um amor meio meloso e estranho.

— Amor doce. Que nem biscoitos.

Nós rimos.

— Ok, doce. Desculpa por tentar fugir de você. Eu realmente não sabia controlar meus sentimentos, tinha medo de estragar tudo, magoar a todos e nisso acabei te machucando. Sou indigna do seu carinho — ela fez uma pequena pausa, que pareceu durar minutos para mim.— O que quero dizer, Kentin, meu único e bom companheiro, é que te amo.

A grama molhada encharcava meu pé, mas eu não ligava, aquilo tudo parecia um sonho. Lynn, minha Lynn, a garota dos biscoitos, estava se declarando. Não sei se dá para medir felicidade, mas a minha foi tanta que transbordou em forma de carinho. Peguei a pequena garota e a ergui em meus bracos.

— Não quer escutar mais?

— Já sei o bastante. E aliás, você sempre fala demais.

E, para impedir que ela de repente tornasse o discurso em pesadelo (sei lá, vai que ela colocasse um "te amo como amigo" no meio da declaração), colei minha boca na dela, ela retribuiu passando os braços ao redor do meu pescoço. Em poucos segundos, só existia os lábios macios de Lynn, meus sentimentos, seus sentimentos, a chuva e nossos corpos molhados. Caímos de encontro a grama, interrompendo o beijo, fiquei por cima da garota. Por uma fração de segundo nossos olhos se encontraram, sorrimos e voltamos a nos beijar. Não conseguia entender porque demoramos tanto para chegar naquele ponto, mas isso não importava mais. Lembra o lance da paciência? Pois é, aí está.

Minhas mãos passeavam por suas curvas, como sempre desejei fazer, enquanto ela passou suas mãos por baixo da camiseta molhada, indo do meu abdomen até as costas. Eu não esperava por aquilo. Distribuí uma linha de beijos que ia da sua boca ao pescoço, sentindo que mesmo com a chuva, meu corpo se mantinha quente. Não sei se teria coragem de me agarrar com outra garota no meio do chão de um parque, em plena chuva, mas com Lynn parecia a coisa mais natural do mundo. E quem se importa com resfriado? A chuva estava ali para nos abençoar. Peguei as coxas de Lynn e a fiz passá-las ao redor de minha cintura, me levantando e a carregando comigo. Fui em direção ao carrossel, Lynn continuava as carícias, distribuindo beijos em meu pescoço. A coloquei sentada num dos cavalos monstrinhos e voltei a beijá-la com mais intensidade. Vocês não tem noção do turbilhão de sensações que passavam pelo meu corpo e minha mente.

O que Rosa disse fez sentido: lugar certo, momento certo e pessoa mais que certa. E quando nos separamos, demos as mãos e corremos juntos para sua casa. Tudo tão simples que já parecia ter acontecido em algum momento mesmo sendo nosso primeiro beijo. Loucura, não? Mas acho que o amor nunca foi normal.

Então, o mandamento 10 é o mandamento do desapego. É aqui que vai perceber se falhou ou conseguiu. Eu consegui, e estou me desapegando das inseguranças do passado. Estou admitindo que errei diversas vezes durante esses anos e que Lynn também errou. É normal, todos erram, o importante é esquecer e para isso também vai ter uma hora certa.


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Notas finais do capítulo

Não sei se consegui transmitir todas as inseguranças da Lynn na declaração, mas essa foi a intenção. ç.ç O beijo refiz umas 10 vezes (tá, foi bem menos) em vários cenários diferentes, mas gostei do velho clichê da chuva, num lugar meio inusitado PQ TINHA QUE SER DIFERENTE. É isso, bjão.