“Privacidade não é algo que se consegue com o isolamento. Muito menos só fechando a porta, por isso Mana sugere uma gravata na maçaneta.”

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Minha mente continuava me traindo de novo e de novo ao sempre me lembrar da tarde anterior e de Kou se rendendo a mim. Ó, santa perdição...

Mesmo com todo o tempo que tive para avaliar e reavaliar minhas ações, lá estava eu de volta ao Lívro do Manaísmo. Por que tudo sempre tinha que dar em Mana?! Bufei.

Consultando o relógio digital sobre a mesa-de-centro que estava afastada para um canto, vi que já se passavam das 17h. Se Kou fosse mesmo aparecer, seria mais ou menos por essas bandas.

Mas eu duvidava; ele deve ter ficado traumatizado, nunca mais olharia na minha cara e o the GazettE acabaria... Por Mana, Ruki ia me matar.

Se concentre, Yuu... Você já preparou sua primeira aula, apenas tenha paciência.

Logo fui acordado dos meus devaneios com o som insistente da campanhia. Dessa vez fiz questão de abrir a porta em pessoa, mesmo que novamente estivesse só de calças moletom, que deixavam minha boxer à mostra. Perfeito, agora eu estava virando mesmo sádico!

Não me dei o trabalho de olhar através do espelho mágico e rapidamente abri a porta.

– Boa tarde, Yuu.

– Então você veio, Kou – abri meu melhor sorriso na tentativa de não soar nervoso – Entre – o convidei com um gesto do braço.

– Com licença – ele pediu envergonhado, como se nem nos conhecêssemos há anos. Deixei-o passar, parte de minha ansiedade indo embora, mas logo voltando quando tranquei a porta.

– Mi casa, su casa – soltei sem pensar; já nem estava prestando atenção ao que falava mesmo...

O loiro encarou a grande lousa no meio da sala antes de sentar-se no sofá completamente quieto. Seu jeito me fazia pensar que ele não esperava que eu levasse aquela coisa tão a sério.

– Momiji manju³? – ofereci um prato dos doces, para que pegasse um.

– Obrigado – sorriu pela primeira vez, pegando um. Não consegui evitar um sorriso em resposta, vendo-o mordiscar o doce de maneira quase infantil.

– Ok, agora vamos parar com os assuntos paralelos. Tenho uma pergunta antes de começarmos.

– Diga... – murmurou cauteloso. Onde estava o Kou sorridente e despreocupado que eu conhecia? Essa cópia parecia muito desconfortável com a situação...

Ah, é. Eu fui o culpado disso.

– Eu tenho alguma chance de saber quem é sua vítima? – perguntei. Deixei o prato de momiji manju de lado e me postei de frente a ele, ao lado da lousa.

– Eu... diria que não... – respondeu receoso. Aos poucos parecia ficar mais à vontade, notando que eu não estava agindo de modo diferente do normal com ele – Mas com o tempo você descobre – sorriu.

– É, eu já imaginava isso – peguei uma caneta e comecei a escrever no superfície branca da lousa – E assim começamos nossa primeira aula... da arte da sedução – terminei de escrever o título no quadro – E não se esqueça que a partir de agora é só ‘Yuu-sensei’, ‘Aoi-sensei’ ou ‘Shiroyama-sensei’, certo? – ele confirmou com a cabeça.

Voltei a escrever debaixo do título ‘Arte da Sedução – Aula 1’.

– Ah sim, só mais uma pergunta – lembrei da questão em minha mete e perguntei com a maior naturalidade – Essa pessoa que você quer seduzir seria homem ou mulher?

– ... Homem – ele corou. Então eu estava certo... Se ele quisesse aprender a seduzir uma mulher, não teria recorrido a mim. Uruha bem sabia minha opção sexual.

– Ok, então – e voltei a escrever. Nem apagara o que havia feito antes, pois algo me dizia que estava certo sobre que tipo de aula dar ao loiro.

– Espera, Aoi!

– Aoi-sensei, Uruha – rolei os olhos.

– Certo... – ele bufou – Mas é sobre isso que eu vou aprender hoje?! – apontou para a lousa meio preenchida. Voltei meus olhos para o que já havia escrito; lá estava:

“Arte da Sedução – Aula 1

Uke x Seme

‘A decisão de ser uke ou seme só depende de você, honey.’ (Mana-sama, o Livro do Manaísmo)

‘Uke nada tem a ver com o baterista do the GazettE. Não nesse caso.’ (Aoi, lousa da sala de estar)”

– É, Kou, temos que começar do básico, não? – indaguei com uma sobrancelha levantada, largando a caneta em qualquer canto e finalmente dando total atenção ao meu aluno. Uruha pareceu se conformar e gargalhou com minha frase da lousa. Ri junto, alegre por conseguir ouvir aquele riso contagioso – Eu tinha que descontrair um pouco, me desculpe.

– Não, não, eu estava mesmo com vontade de rir um pouco – secou uma pequena lágrima que escorria de seu olho direito – Pode começar, sensei.

Senti meu ego inflando com suas últimas palavras, mas não demonstrei em minhas feições. Fiquei sério como um verdadeiro professor.

– Bom, Kouyou-san, digamos que os homens uke e os homens seme tenham suas características marcantes... Você pode me dizer algumas? – voltei a pegar a caneta, dividindo a lousa de um lado “Uke” e outro lado “Seme”.

– Etto... Os uke normalmente são os masoquistas... E os seme sádicos... ? – sua frase tomou um tom interrogativo; pensava profundamente.

– Ótimo, Uruha! – anotei na lousa. – O que mais?

– Mas Aoi-sensei, isso depende muito do casal e do tipo de relações que eles tem! – exclamou indignado.

– Sim, Kouyou – pensei um segundo a respeito – Você está certo. Digamos que o casal é do tipo fluffy, bem romântico. Como você define os dois, então?

Uruha se concentrou um pouco.

– Não sei, acho que o seme seria cuidadoso com o uke, não? E o uke seria do tipo inseguro... – ele chutou. Abri um sorriso satisfeito, o loiro estava me lembrando muito um colegial se esforçando para responder uma pergunta difícil.

– Bom, muito bom – também transcrevi em seu devidos lugares. – Agora Uru, baseado nos seus próprios pensamentos... O que você acha que parece mais comigo? O tipo uke, ou o seme? – assumi uma expressão maliciosa.

Quem disse que eu não continuaria me aproveitando do pobre coitado?