“Quantas vezes você já pensou no quão insignificante sua existência é? Não, eu nunca pensei nisso; Aliás, eu criei o Universo e você aí que está lendo, não tem como Mana-sama ser insignificante.

Mas pense sobre isso.”

♥

– Ajuda Kou? – franzi o cenho – No quê?

– Etto... – perdeu a coragem novamente e começou a encarar as mãos sobre suas pernas – Você jura que não vai rir?

– Juro, Uruha...¹

– Jura mesmo? – lançou um olhar altamente suplicante para mim, que fui pego com guarda baixa.

– Já disse que juro, confie em mim – diminui nossas distâncias e pousei uma de minhas mãos sobre as dele, que corou minimamente pelo toque. Respirou fundo.

– Yuu... Me ensina... a conquistar? – ele falou baixo, num sussurro tímido.

– Ahn?

– Porra, Aoi! Não me faça repetir isso! – explodiu com o rosto mais vermelho que um pimentão, tirando as mãos que estavam embaixo da minha.

– Calma, Uru! Você falou baixo demais, eu não ouvi! – ri de sua expressão emburrada e esperei que se acalmasse.

– Seduzir, Yuu! Você sabe... Conquistar, flertar, arrasar corações...

– Ah...

– Entendeu agora? – ele levantou uma sobrancelha perfeita, impaciente – Ou quer que eu desenhe?

Fiquei pensativo por alguns segundos; perguntava-me se era tão vergonhoso assim pedir uma coisa dessas. Ou Uruha era mesmo esquentadinho.

– É, eu entendi – cruzei os braços – Mas por que eu?

Kouyou rolou os olhos, como se fosse uma questão óbvia.

– É lógico que tem que ser você! – exclamou – Quer dizer, o Ruki é muito baixo, o Reita muito besta, o Kai muito chato... – enumerava nos dedos – E você, Aoi, é o rei da sedução! É perfeito!

Ah, claro, fazia tanto sentido...

– Espera, o que a altura do Taka tem a ver com isso? – ri alto – Além do mais, o chibi é muito mais pervertido que eu...

– Só nos palcos, Aoi, você sabe disso – e se calou.

Passamos alguns instantes nos encarando, num tempo que Kou provavelmente me dera para pensar a respeito. Não que eu tivesse muita escolha; duvidava que ele fosse embora antes de conseguir sua resposta afirmativa.

Mas foi então que notei que, pensando sobre o assunto, a situação nem era ruim. Analisem comigo²: Uruha me pedia aulas sobre a arte de seduzir... E se o seduzido fosse ele no final? Era uma bela oportunidade para mim.

Levantei do sofá sem motivo aparente, mas logo caminhei até um canto esquecido onde há poucos jogara meu exemplar do Livro do Manaísmo. Folheei-o até achar a página que procurava.

“Assim que encontrar uma chance que o leve para um ótimo relacionamento, não hesite em persegui-la.”

Me peguei pensando em como aquilo parecia muito mais um livro de auto-ajuda do que um guia religioso... Mas encontrei a solução que procurava, então não podia reclamar.

– Aoi? – o loiro chamou.

– Hai?

– Estou esperando sua resposta – fitou-me sério. Como estava bem pensativo sobre tudo nos últimos dias, não deixei de reparar que o humor de Uruha conseguia mudar absurdamente rápido.

– Ahn... Ok – fechei o livro e o joguei de volta ao mesmo lugar – Digamos que eu aceite... O que exatamente eu teria que te ensinar? – sem que percebesse, minha mente ousou voar para o outro livro junto ao do Mana, o Kama Sutra. Pare de confabular besteiras, Shiroyama...

– Não sei, Aoi, você que entende dessas coisas... – também se levantou do sofá, aproximando-se de mim – Digo, olhe para si mesmo!

Assim que terminou de falar, olhei para baixo, finalmente me lembrando que somente vestia uma calça de couro preta, apertada, e ri internamente. Como não tinha notado isso antes?

Já estava certo do que queria e rapidamente bolei um plano pra me aproveitar da situação.

– Fale-me, Uru-baby – encurtei a distância entre nós; apenas quarenta centímetros (e muito autocontrole) nos separavam. Ok, eu definitivamente tinha que parar de ler as coisas do Mana, eu estava ficando muito sádico...  – Você está se sentindo atraído por mim agora? – arrisquei.

– N-não foi isso o q-que eu quis dizer – recuou alguns passos na defensiva até sentir seus joelhos encontrarem o sofá, caindo desajeitado nas almofadas. Pobre criaturinha indefesa...

– Ah, eu acho que foi exatamente isso o que você quis dizer – me aproximei como um predador prestes a atacar sua presa e, sob o olhar perplexo do loiro, sentei sobre suas coxas.

– Aoi... – Kouyou murmurou. Hesitante, levantou uma mão como se fosse me tocar, mas desistiu no meio do ato.

– É isso que você quer que eu te ensine, Uruha? – disse em seu ouvido, sorrindo satisfeito com o calafrio que o atingiu. Então ele tinha seus pontos fracos...

Abusando da minha sanidade, passei levemente os dedos de minha mão sobre a ereção pulsante do outro guitarrista, que arqueou as costas em reflexo.

– Você quer que eu te ensine a deixar as pessoas assim, Uruha? – ele arfou, sentindo-se completamente derrotado assim que voltei a tocar suas partes baixas.

– Sim... sim... me ensine, p-por favor.

– Ok, então – sorri e sai de cima de suas pernas rapidamente, caminhando até a porta – Te espero amanhã para a primeira aula.

Ele me olhou incrédulo e veio até mim, cambaleante.

– É só isso?

– Siiiim, por hoje é só. Até amanhã. – e o empurrei para fora do apartamento, antes que perdesse todo meu controle ali mesmo. Fechei a porta com as costas, permitindo-me escorregar ao chão, ofegante e clamando por Mana-sama.

O que quer que acontecesse dali pra frente, eu teria que ler muito do Livro do Manaísmo para agüentar as conseqüências. E eu não sabia se isso era bom ou ruim...