Até o Fim escrita por Juh Nasch


Capítulo 9
Território Inimigo


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Assim que cheguei em casa, depois de uma tarde de estudos na casa de Liz, estranhei ao ouvir risadas abafadas vindas da cozinha.

“Pai?!” sorri ao vê-lo e corri em sua direção.

“Ei, Sammy.” ele abriu os braços e me suspendeu alguns centímetros do chão ao me abraçar apertado.

“O que está fazendo aqui?” o olhei e em seguida fitei minha mãe. Eles não pareciam nem um pouco desconfortáveis perto um do outro.

“Vim te convidar para passar o fim de semana lá em casa.” ele lançou um olhar questionador para minha mãe, mas ela estava distraída enquanto preparava o jantar.

“Eu tinha combinado de ir ao shopping com a Lis, no sábado. Dia das meninas, sabe?” ri sem graça.

Eu gostaria de ir sim para a casa dele. Adorava sua companhia, mas não quando Melissa estava por perto. Não tinha nada contra ela. Conseguia até ser simpática, apesar de eu saber que era por pura falsidade. Mas era estranho ver meu pai com uma garota apenas alguns anos mais velha do que eu.

“Ah, querida. Tudo bem.” ele abriu um sorriso compreensivo. “Deixamos pra próxima então.”

Voltei a abraçá-lo pelo quadril por um momento, e ele envolveu meus ombros com um dos braços.

“Precisa de ajuda com a lição de casa?” ele perguntou e eu soltei uma risada baixa.

“Por que não?” então o acompanhei até o sofá, enquanto pegava meus livros e cadernos.

Passaram-se horas até que meu pai fosse embora. Minha mãe insistiu que ele jantasse conosco, mesmo tento recusado várias vezes, acabou por fim cedendo.

Fiquei sabendo mais sobre seu trabalho, suas viagens inacabáveis, e tanto eu quanto minha mãe ficamos chocadas quando ele tocou no assunto casamento. Ele conhecia Melissa há quanto tempo? Oito meses?

Depois que ele se foi, ajudei minha mãe a organizar e limpar a cozinha. Ela parecia nervosa, e remexia no pano de sua blusa repetidas vezes.

“O que foi?” perguntei virando-me em sua direção.

“Antony nos convidou para jantar lá amanhã.” ela disse de uma única vez, como se não pudesse mais manter segredo.

“O quê?” fiquei realmente chocada com a notícia. Eu não iria até a casa de Adam. Nem pensar!

“Ah, meu bem. Eu te juro que não será grande coisa. Algo só entre nós.” minha mãe havia atingido aquele tom de súplica, e eu realmente odiava quando ela fazia isso.

“Nós quem?” no fundo, eu já sabia a resposta.

“Eu, você, Antony e, quem sabe, o filho dele.”

“Eu não quero ir.” fiz uma careta, imaginando a cara de Adam ao me ver em seu apartamento. Não queria nem pensar em como isso afetaria seu humor.

“Faça isso por mim.” ela pousou uma das mãos sobre meu ombro e abriu um sorriso terno.

Suspirei baixinho, revendo mentalmente os prós e contras desse jantar. Eu não gostava de Adam. Ele não gostava de mim. Mas acho que éramos maduros o suficiente para nos comportamos por uma noite. Certo?

“Tudo bem.”

***

Ao chegarmos ao apartamento, percebi que Antony havia se ocupado. O lugar estava impecável.

Os sofás dispostos em diferentes posições estavam esticados perfeitamente e não havia nenhum pó sobre os móveis. O apartamento era pequeno, mas, ainda sim, aconchegante.

Tinha uma porta que dava acesso à varanda espaçosa. Na sala, uma estante de livros me chamou atenção, mas me aproximei decepcionada. Estava praticamente vazia. Puxei um exemplar de O apanhador no campo de centeio e abri um pequeno sorriso. Era, sem dúvidas, um dos meus favoritos. O coloquei rapidamente no lugar.

“Seu filho vem para o jantar, Tony?” era engraçado minha mãe chamá-lo assim, com tanta cordialidade.

“Ah, Adam não mora mais aqui. Ele resolveu alugar um apartamento, perto da escola e do emprego, e se mudou já tem alguns dias.” não sei exatamente o motivo, mas as palavras de Antony tiraram um grande peso de meu estômago. Consegui respirar mais aliviada. “E mesmo se ainda estivesse aqui, daria um jeito de escapar.”

O jantar fora ameno e os temas variados. A comida estava deliciosa e conversamos sobre tudo.

Fiquei constrangida quando Antony começou a me questionar sobre minhas decisões após o término do ensino médio. Ainda estava perdida quanto aquilo, e ele me auxiliou em alguns quesitos.

Falamos sobre seu emprego e sobre como ele e minha mãe se conheceram. Eu estava dando boas risadas à respeito das tentativas frustradas de aproximação planejadas por ele, quando a porta se abriu.

Adam entrou carregando uma caixa de papelão vazia. Passou as botas sobre o tapete e abaixou o capuz de seu casaco cinza com a mão livre.

“Adam?” seu pai se ergueu um pouco na mesa, o encarando.

Ao notar nossa presença seu rosto ficou inteiramente vermelho.

“Ah, desculpem! Eu pensei que já teria acabado e....”

“Quer jantar, filho?”

“Não, eu só vim pegar algumas coisas que esqueci aqui no quarto.” ele então me encarou pela primeira vez. “Boa noite, Samanta.” ele deu um sorriso irônico e eu assenti com a cabeça, antes que ele entrasse no quarto.

Aos poucos, Antony e minha mãe foram reintroduzindo a conversa, mas eu não conseguia acompanhar. Apenas ouvia, e sorria quando achava conveniente. A presença de Adam me incomodava mais do que eu gostaria de admitir.

Até que em um momento, cansada de estar sentada ali, perguntei a Antony onde ficava o banheiro. Ele indicou o corredor e eu me levantei, tomando cuidado com os modos, pelo fato de estar de vestido.

Ao seguir em direção ao banheiro, notei a porta do quarto de Adam. Era coberta de pôsteres de bandas de rock, algumas famosas e outras desconhecidas para mim até então. Em algumas partes, desenhos grafitados pareciam ter sido feitos à mão livre e me perguntei se aquilo fora obra do próprio Adam.

“Perdeu alguma coisa aqui?” ele disse se aproximando e encostando-se no batente da porta.

“Precisa sempre ser assim tão grosseiro?” mas ao encará-lo, percebi que ele estava sorrindo.

Ele deu de ombros e depois cruzou os braços sobre o peito.

“Força do hábito.” ele riu quando fiz uma careta.

“Aqueles livros são seus?” apontei para a estante da sala.

“Ah, já estava me esquecendo.” ele foi até a sala e os trouxe, os colocando dentro da caixa de papelão. “Andou bisbilhotando, Samanta?” ele balançou a cabeça e fez um barulho de desaprovação.

“É claro que não.” revirei os olhos impaciente.

“Estou brincando.” ele bufou.

“E eu estou surpresa.” confessei.

“Com o que?” ele me olhou curioso.

“Com o fato de você estar sendo legal.”

“Eu sou legal.” ele ergueu as sobrancelhas enquanto eu o fitava cética. “Bom, não na maioria das vezes.”

“É disso que estou falando.” abri um sorriso forçado.

Por algum motivo, Adam me deixava nervosa. Eu de repente não sabia onde colocar as mãos ou pra onde olhar. Sempre tive dificuldade para encarar os olhos de outra pessoa, enquanto ele fazia isso comigo o tempo todo.

“É que algumas pessoas me tiram do sério.” ele me olhou sugestivamente.

Um silêncio constrangedor se estabeleceu por alguns segundos, até que Adam deu um passo a frente.

“Me desculpa.” ele disse baixinho.

“O quê?” exclamei confusa.

Ele respirou fundo e olhou para cima antes de repetir.

“Me desculpa.” Ele enfatizou bem as palavras.

“Pelo o quê?” o olhei sem entender.

“Você sabe.”

“Você por acaso sofre de transtorno de bipolaridade?”

“O quê?” ele parece surpreso com minha pergunta.

“Uma hora você é gentil, na outra se transforma em um ogro. Foi um idiota mais cedo e agora está sendo legal comigo e me pedindo desculpa. Qual é o seu problema?” a raiva que senti naquele momento foi irreprimível. Estava cansada daqueles joguinhos.

“Eu não quis ser grosso mais cedo e...”

“Você sempre é grosso.” o interrompi.

“Será que posso continuar?” ele me olhou e dei de ombros. “Eu não sei exatamente o motivo. Só não estou acostumado a ser gentil com as pessoas.”

“Percebe-se.”

“Tá vendo? É por isso que não dá pra conversar com você.” ele jogou as mãos para o alto, num gesto de frustração.

“Força do hábito.”

Ele respirou fundo antes de prosseguir.

“Não estou dizendo que podemos ser amigos ou nada disso.” outra pausa. “Estou propondo uma trégua. Não precisamos nos atacar a cada vez que nos vermos.” ele me olhou nos olhos e só naquele momento percebi que seus olhos eram claros. Um lindo tom de mel. “Pode ser?”

“Vai ser difícil, mas posso tentar.” estendi a mão reprimindo um sorriso.

“Digo o mesmo de você.” ele a apertou e sorriu abertamente.


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Notas finais do capítulo

E então? Estão gostando? Acham uma boa essa aproximação entre Sam e Adam?
Não gosto de ficar pedindo coments, mas também não gosto de leitores fantasmas, então sejam sinceros e me falem se estão gostando para eu continuar ou não!
Um beijo, um queijo e até o próximo!



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