Até o Fim escrita por Juh Nasch


Capítulo 10
Aulas de teatro


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura :)



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“Você vai à festa do Charlie?” Will perguntou enquanto eu me encostava no muro da escola, ao seu lado, esperando o sinal tocar.

“Acho que sim.” eu o olhei. “Sabe onde fica?”

“Sei sim.” ele arrancou um pedaço de papel de seu caderno, escreveu um endereço rapidamente e me passou.

“Você vai?” perguntei enquanto ele arrastava a cadeira para mais perto da minha.

“Acho que sim.” ele sorriu ao repetir o que eu falei.

“Isso é plágio!” reclamei.

“Me processe!” ele deu de ombros com uma expressão presunçosa e nós dois rimos.

Levantei meu olhar e percebi que Adam nos encarava de longe. Abri um sorriso em sua direção, mas ele fez uma expressão carrancuda e se virou, me ignorando completamente. Santa bipolaridade!

Me sentei na fileira do canto, na cadeira em que eu sentava todos os dias, e tentei me concentrar na aula de física.

Enquanto a professora explicava, senti algo atingir minhas costas. Ao olhar, vi que alguém havia me atingido com uma bolinha de papel. Voltei pra terceira série?

Olhei em volta, mas todos pareciam muito concentrados na aula. Senti outra vez e quando virei-me vi Jasmine abrir um sorriso cínico em minha direção. Vaca!

Ao terminar minhas anotações, levantei-me, preparando para seguir para a última aula antes do intervalo. Mas quando fiz isso, senti algo estranho. Algo grudento. Ao levar a mão até o bolso traseiro da minha calça jeans, fechei os olhos e xinguei mentalmente. Minha calça estava completamente cheia de chiclete.

Tentei tirar alguns pedaços, mas ele havia secado e estava deixando marcas horríveis sobre meu jeans. Ouvi as risadinhas vindas do final da sala e encarei Jasmine rindo com suas amigas. A raiva me cegou e caminhei duramente na direção dela.

“Qual é o seu problema?” rosnei enquanto a encarava.

Suas amigas pararam de sorrir ao mesmo tempo, mas ela continuava com aquele sorriso afetado. Mandou elas se afastarem com um aceno de mão e voltou a me olhar.

“Não quero você de papinho com o Adam.” ela falou e dessa vez parecia bem séria. Tinha falado aquilo em tom baixo, um sussurro, tentando soar ameaçadora.

“E quem é você pra querer alguma coisa, garota?” soltei um risinho com uma expressão de desdém.

“A futura namorada dele.” ela disse presunçosa, colocando as mãos, uma de cada lado, na cintura e se levantando da cadeira.

“O quê?” eu comecei a rir e algumas pessoas olharam em nossa direção. Jasmine pareceu desconfortável atraindo aquela atenção. Ela então segurou meu pulso e me fez olhar bem nos seus olhos.

“Eu não estou de brincadeira com você, Sam!” ela disse meu apelido com nojo, como um xingamento. “Se continuar, bolinhas de papel e chiclete serão apenas o começo. Garanto que você não vai gostar nem um pouco.” Ela me soltou e passou por mim, esbarrando propositalmente em meu ombro e me deixando com uma expressão de choque.

***

“De quem é essa calça?” Lis me olhou, erguendo as sobrancelhas.

“Foi a única que cabia em mim no Achados e Perdidos.” me sentei entre ela e Kelly, uma garota ruiva que recentemente havia passado a se sentar em nossa mesa. Era uma calça horrorosa. Era azul e não combinava em nada com minha camiseta também azul. Estava me sentindo um perfeito smurf.

A mesa estava ocupada por mais quatro pessoas: Will, meu parceiro e gênio em química; Kelly, que fazia aulas de teatro junto com Lis; Travis e Colin, que haviam rapidamente feito amizade com Nate. Na verdade, Nate e Lis eram bastante amigáveis e fáceis de enturmar, eu era a ovelha negra do trio original.

“Devo te dizer que ela não te favorece muito.” ela deu um sorriso zombeteiro e eu apenas revirei os olhos. Não estava a fim de gracinhas.

“Quer que eu pegue seu almoço, Sam?” Travis me olhou sorrindo.

“Não precisa.” sorri educada e me levantei da mesa.

Adam se aproximou calmamente e colocou sua bandeja ao lado da minha, enquanto eu me servia distraída no self-service da escola.

“Gostei do visual.” ele sorriu me olhando de cima a baixo.

“Nem comece.”

“O que eu fiz agora?” ele parecia confuso.

“Devo dizer que algumas pessoas não querem que eu fale com você.” olhei na direção da mesa de Jasmine, e não foi nenhuma surpresa quando percebi que ela nos fuzilava com o olhar.

“Quem?” ele seguiu meu olhar. “Jasmine?”

“Ou como ela mesma se intitulou, sua futura namorada.”

Ele quase engasgou com a própria saliva quando falei isso.

“O quê?” ele me olhou assustado. “Essa garota por acaso é maluca? A gente só ficou algumas vezes.”

“Bom, ela grudou chiclete em minha cadeira e ficou me tacando bolinhas de papel cheias de cuspe durante a aula. Maluca eu não sei, mas infantil, com certeza.”

“Meu Deus!” ele passou as mãos pelo cabelo. “Eu vou falar com ela.”

“Não!” praticamente gritei e ele me olhou. “Se ela souber que falei com você sobre isso, vai infernizar minha vida em dobro.”

“E vai deixar isso assim mesmo?”

“É só voltarmos a ser como antes. Digo, podemos fingir que ainda nos odiamos.”

“Mas eu ainda odeio você, Samanta.” ele abriu um sorriso cínico e eu não pude deixar de notar o quanto ele era bonito. Ei, Sam! Foco!

“Podemos concluir que o sentimento é mutuo.” dei de ombros indiferente.

“Devemos colocar as aula de teatro em prática agora?”

“Claro.”

Adam então deu um passo e fingiu tropeçar em meu pé, deixando sua bandeja cair no chão.

“Mas que droga, garota!” ele gritou, atraindo a atenção de todo o refeitório.

“Eu não fiz nada. Foi você que esbarrou em mim, seu idiota.” falei com o tom irritado, mas por dentro, estava me segurando para não começar a rir.

“A culpa é sempre minha, né?” ele disse num tom irônico. Ele não me encarava nos olhos.

“Eu não tenho culpa se você é um imbecil que não olha por onde anda!”

“Ah, vai à merda!” ele começou a se afastar.

“Do seu lado, já estou atolada.” berrei encarando suas costas.

Ele saiu em disparada para o pátio, deixando a bandeja no chão e todos com uma expressão horrorizada.

Sentia meu rosto vermelho, em parte porque todos estavam me olhando, e em outra, porque a briga com Adam pareceu real demais. Suspirei e passei a mão pelos cabelos. Peguei minha bandeja e sentei-me novamente entre Liz e Kelly.

“Que diabos foi aquilo?” Nate me olhou com as sobrancelhas arqueadas.

“O de sempre.” dei de ombros. “Adam sendo um babaca.”

Aos poucos fui tentando reintroduzir a conversa no grupo, e os olhares foram se dispersando.

Pelo canto dos olhos, vi Jasmine abrir um sorriso satisfeito e tive que evitar uma risada. Ela havia caído direitinho.

***

Estava no “meu” pátio lendo um livro quando vi Adam se aproximar. Fingi continuar interessada na leitura. Estava fazendo anotações sobre os trechos mais impactantes da história em um pequeno bloquinho. Pretendia fazer uma resenha crítica depois.

Era hora da aula de história, mas o professor havia faltado, e toda a turma, exceto eu, tinha ido para a quadra aproveitar o tempo livre. Típico, não é?

Adam olhava pra trás, como se tivesse receio de estar sendo observado. Abaixou-se sobre o bebedouro e fingiu beber água por um tempo longo demais. Até que por fim, convencido que ninguém nos olhava, porque aliás, não havia ninguém além de nós, ele se aproximou.

“Está livre hoje à tarde?” ele se sentou a minha frente.

Haviam se passado horas após a encenação no refeitório. Pensei que ele zombaria de mim pela minha atuação, ou qualquer coisa assim, já que não havíamos conversado sobre. Mas ele havia me surpreendido com aquela pergunta.

“Por quê?” o olhei erguendo a sobrancelha.

“Estava a fim de passar um tempo com você.” ele disse num tom tímido enquanto passava as mãos pelo cabelo. Adam tímido?

“Hum, eu acho que não tenho nada planejado.” mordi a ponta do lápis, evitando seus olhos. Era evidente que ambos estavam constrangidos.

“Te pego às seis?” ele me olhou e eu abri um sorrisinho.

“O que aconteceu com o lance de não somos amigos?” não pude deixar de perguntar. Não entendia a recente aproximação de Adam.

“Resolvi dar uma chance pra você.” ele deu de ombros.

“Me dar uma chance?” comecei a rir e ele pareceu desconcertado. “Quem deveria dar uma chance aqui seria eu.”

“Já vamos começar?” ele me olhou com uma falsa expressão de carranca.

“É inevitável.”

“Às seis.” ele disse enquanto se levantava.

“Às seis.” confirmei observando ele se afastar.


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Notas finais do capítulo

Um beijo, um queijo e até o próximo! Tchau



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