Até o Fim escrita por Juh Nasch


Capítulo 8
Nada de amizade!


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura :)



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Quando acordei, precisei de alguns segundos para perceber onde estava e como havia ido parar na minha cama, de pijama e tudo. Senti pontadas na nuca e com a dor de cabeça, devido à ressaca, me lembrei de relances da noite de ontem. Bebida. Meu vestido. Adam. Minha mãe deveria ter ido até o quarto depois e trocado minha roupa.

Me levantei e fui até o banheiro, avaliando a situação em que me encontrava e tomei um susto ao encarar meu reflexo. Meu cabelo era um perfeito ninho de ratos e minha maquiagem estava completamente detonada e espalhada pelo meu rosto. Eu parecia vitima de um atentado.

Olhei meu celular piscando e percebi que havia quatorze ligações perdidas, e me xinguei em pensamento ao perceber que não havia ligado para Liz. Sabia que minha mãe já a teria avisado, mas mesmo assim mandei uma mensagem para tranquilizá-la.

Depois de limpar meu rosto, pentear meus cabelos e arrumar-me de forma decente para a escola, peguei minha mochila e desci para o andar debaixo.

“Vai me explicar por que Adam te trouxe aqui ontem e o que aconteceu com seu vestido?” minha mãe me interrogou assim que coloquei os pés na cozinha.

“Adam derrubou bebida nele, se sentiu culpado e me ofereceu carona para casa.” resumi num tom desinteressado enquanto procurava minha caixa de cereais no armário.

“É coincidência demais isso.” minha mãe comentou em voz baixa. “Você nunca havia me falado de Adam.” ela ergueu uma das sobrancelhas.

“É porque não havia nada a ser dito sobre ele.” bufei me sentando e começando a comer o cereal, implorando pra minha mãe parar de falar e eu poder logo tomar alguns analgésicos.

“Tem certeza?” ela insistiu.

“O que quer dizer?” olhei pra ela desconfiada.

“Não sei. Ele estava te abraçando pela cintura e te carregou no colo até sua cama.” ela disse num tom inocente, mas sabia muito bem o que ela estava insinuando.

“Ele deve ser estranho assim mesmo.” continuei me referindo a noite anterior como se não houvesse importância, mas os detalhes em que ela citou me deixavam confusa.

“Realmente. Quando Antony falou em rebeldia, imaginei em relação a personalidade, e não a quantidade de tatuagens e piercings que ele tinha.” o tom de julgamento estava ali, enrustido em sua voz.

“Pois é.”

Minha mãe viu que eu não estava muito a fim de conversar, ainda mais sobre Adam, então foi para a sala e me deixou terminar meu café-da-manhã em silêncio. Quando acabei, engoli dois analgésicos e me despedi, jogando um beijo no ar para minha mãe.

Estava acostumada a pegar o ônibus todos os dias, mas seu balanço diário naquele dia estava me deixando enjoada. Respirei fundo e me concentrei na janela aberta e no vento que batia em meu rosto.

Assim que cheguei ao corredor da Hayles, Liz veio até mim, seguida de perto por Nate.

“O que aconteceu ontem à noite?” ela exigiu saber.

“Eu me perdi de vocês.” respondi no tom mais óbvio que pude.

“Estou falando sério, Sam.” ela estreitou os olhos.

“Adam Carter me levou pra casa.” falei indiferente e em tom baixo.

“O QUÊ?” algumas pessoas olharam quando ela explodiu dessa forma. Nate me olhava com os olhos arregalados.

“Não é nada disso que vocês estão pensando.” digo na defensiva e começo a contar a história de ontem a noite, omitindo, obviamente, o namoro de minha mãe com o pai de Adam.

“Mas isso não tem lógica.” disse Nate perplexo. “Ele não parece exatamente o tipo de cara gentil. Ele é o tipo de cara que enxota garotas sem nem pensar.”

“Que cara horrível, não é mesmo?” disse Adam surgindo atrás de Liz com um sorriso maldoso no rosto, aquele tom arrogante que me irritava profundamente. Ele então olhou para mim. “Posso falar com você?” como não respondi, Adam apenas suspirou e me puxou pelo braço, para um canto afastado dos meus amigos. Podia sentir que todos no corredor estavam nos encarando.

“Olha só.” ele começou e mordeu o lábio inferior, prendendo o piercing entre os dentes. “Só porque meu pai e sua mãe estão saindo juntos e eu te levei para casa ontem não significa que somos amigos, entendeu?”

“Isso nunca me passou pela cabeça.” falei ofendida com o tom dele.

“Ótimo.” ele disse num visível mal humor.

“Era só isso?” falei no tom mais rude que consegui.

“Hum... Depois deixo no seu armário o dinheiro pra um vestido novo.”

“Eu já disse que não pre...”, mas ele se afastou antes que eu conseguisse terminar.

Soltei o ar, indignada, e voltei pisando duro em direção a meus amigos.

“O que ele queria?” perguntou Liz curiosa.

“Ser o babaca que ele está acostumado.” abri meu armário e peguei meus livros, depois o bati com força e segui pra sala de aula.

***

Na hora do intervalo, senti alguém me segurar pelo pulso, e já ia esbravejar pensando que fosse Adam, mas na verdade, era Peter.

“Você sumiu ontem à noite.” ele disse.

“Ah, sinto muito.” disse me lembrando que após o incidente com o vestido nem me despedi de Peter.

“Está tudo bem? Como foi pra casa ontem?” ele me fitou com sorriso. Peter era realmente bonito, com os dentes alinhados e brancos. O cabelo castanho era curto e estava penteado para trás. Tudo isso dava destaque para seus olhos cor-de-mel.

“Me ofereceram uma carona.” dei de ombros tentando parecer indiferente. Adam deixou claro que não éramos amigos, então parecia óbvio não contar que fora ele que me levara. “Eu ainda estava um pouco tonta. Mal me lembro de como acordei na minha cama hoje.” soltei uma risadinha baixa e Peter me acompanhou.

“Bom, devo dizer que você é uma excelente dançarina.” ele abriu um sorriso malicioso e quando me lembro como dançamos na noite anterior, sinto um calor intenso no meu rosto.

“Ah, sim.” desviei o olhar para meus pés e enrolei uma mecha de meu cabelo em um dos dedos, claramente desconfortável.

“Vai ter outra festa daqui a dois dias. Por que não aparece por lá?” ele parecia ansioso pela minha resposta, e me perguntei o porquê havia virado objeto de estudo pessoal de Peter.

“Eu não sei bem, dá última vez...”

“Aquele bando de delinquentes não estará lá dessa vez.” sei que ele se refere à gangue de Adam. “Eles nem sabem dessa festa.”

“Vai ser na sua casa novamente?” perguntei tentando parecer interessada.

“Não, dessa vez vai ser na casa do Charlie.” ele sorriu de canto. “Me passa seu número e depois te mando o endereço.”

“Posso chamar meus amigos?” eu não iria a lugar nenhum sem Nate e Liz, isso era evidente.

“Claro, chame quem você quiser.” ele puxou o celular do bolso traseiro e clicou para adicionar um novo contato. “Me fala então o seu nú...”

Nessa hora, alguém esbarrou no ombro de Peter, deixando que celular caísse no chão. Pelas rachaduras que vi na tela, achei que era tarde demais. Todos olharam em nossa direção.

Adam se agachou e pegou o aparelho do chão, com uma expressão chocada, espelhando a reação de Peter, mas diferente do garoto, Adam estava fingindo.

“Cara, eu sinto muito! Foi sem querer.” ele o entregou a Peter, que esticou a mão para avaliar a situação. Mas era o que eu temia. O celular não queria mais ligar.

“Sai da minha frente, Adam!” disse Peter irritado, abrindo caminho e saindo apressadamente em direção ao corredor.

Controlei toda minha raiva ao ver um possível sorriso no canto de seus lábios dele, discreto, mas ainda assim estava lá. Sai dali e fui para o pátio, sempre vazio naquele horário. Não fiquei surpresa quando Adam me seguiu.

“Qual é o seu problema?” me virei furiosa na direção dele.

“Quer por ordem alfabética ou cronológica?” ele estava zombando de mim.

“Por que você cismou comigo?” eu realmente queria saber. Com todas garotas mais bonitas e interessantes na Hayles, por que Adam Carter vivia esbarrando comigo?

“Eu não cismei com ninguém.” ele franziu a testa. “Você que faz questão de estar por perto sempre que alguma merda acontece.”

“E por que será que você sempre está envolvido?”

“Não sei, já me disseram que eu era um imã para problemas.” ele deu de ombros.

“Você disse que não éramos amigos, certo?” ele concordou com a cabeça. “Então cumpra o que você disse e me deixa em paz.”

“Você se acha muito mesmo, não é garota?” ele disse com desdém.

“O quê?”

“Mal chegou na escola e já está se achando o centro de tudo.” o tom dele ia ficando cada vez mais venenoso. “Escuta aqui, princesinha, eu tenho muito o que fazer. Fui gentil com você uma vez, mas não tenho tempo pra ficar perseguindo calouras completamente sem sal, sem beleza e sem um pingo de educação. Se liga!” ele começou a se afastar.

“Você é imbecil!” disse em tom alto.

“Muito obrigado.”

Ele voltou ao refeitório, com as mãos no bolso e aquela expressão impenetrável de sempre, sem olhar para trás ao menos uma vez.


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Notas finais do capítulo

Um beijo, um queijo e até o próximo!



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