Até o Fim escrita por Juh Nasch


Capítulo 33
Selfie


Notas iniciais do capítulo

Delícias da tia Jubs, queria começar já me desculpando pelo sumiço.
Iludi vocês dizendo que iria postar com mais frequência, mas juro que não foi intencional.
O tal bloqueio de criatividade voltou a me rondar e assim fica difícil ter ideias, então desculpem-me!
E queria agradecer também A Garota dos Livros pela segunda recomendação dessa história! Sério, e me desculpe demorar tanto a agradecer minha linda ♥
É isso, e a pedidos, temos com vocês, o Sr. Delinquente, Adam Carter.
Boa leitura (:



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Assim que acordei, senti meu corpo pesado e minha cabeça latejar. Sem abrir os olhos, me levantei. Já conhecia meu apartamento de cor, então poderia atravessa-lo às cegas que mesmo assim não trombaria com nenhum único móvel. O problema é que aquele não era meu apartamento, e percebi isso tarde demais, quando dei de cara com um guarda-roupa.

“Adam?” uma voz masculina me chamou e por um instante, me perguntei se ainda estava dormindo. Preso numa espécie de pesadelo. Mas assim que olhei para o lado e o dono da voz se materializou na minha frente, percebi que estava bem acordado. “Você está bem?” meu pai me perguntou, cauteloso. Passei a mão pelo meu nariz e desfiz a careta de dor.

Olhei pra ele, erguendo uma das sobrancelhas. Era sério aquilo? Aquela expressão de preocupação em seu rosto não me convencia em nada. Soltei uma risadinha sarcástica e passei por ele sem dizer uma única palavra.

Fui até a cozinha. As coisas pelo menos continuavam no mesmo local desde a última vez que estive ali. Peguei dois analgésicos e um copo d’água. Esperava que a dor cessasse logo. E eu tinha que parar de beber tanto. Nem me lembrava como tinha chegado ali. Sentei-me na mesa, com a cabeça abaixada e sobre meus braços. Até o barulho de passos me incomodou novamente.

“Seus amigos te trouxeram pra cá ontem.” ele começou a falar, enquanto ajeitava a gravata em frente ao espelho. “Eles não sabiam aonde era seu apartamento, e nem eu, então achei melhor você ficar aqui.”

“E desde quando você decide o que é melhor pra mim?”

“Adam...” ele tentou se aproximar, mas assim que ergui a mão, ele parou. “Nós precisamos conversar, meu filho.”

“Então agora eu sou seu filho?” ri de novo, dessa vez com mais vontade. Por algum motivo, eu ficava descontrolado perto dele. Minha voz começou a se alterar e elevar-se sem permissão. “E onde você estava quando eu precisei que você fosse meu pai? Ah, é mesmo! Bebendo, jogando, destruindo a nossa família.”

“Adam, temos que superar isso... Temos que...”

“Superar? Assim como você superou a morte da mamãe e de Alice? Escondendo os fatos? Evitando citar o nome delas? É só eu e você esquecermos, passarmos uma borracha e pronto, problema solucionado, não é? Pra você é só comprar outra ficha e esquecer as jogadas anteriores. Só pra ter a chance de recuperar tudo de novo.” me levantei, chegando bem perto dele. “O problema é que os lances acabaram e você perdeu tudo, tudo o que tinha de mais valioso.” Minha voz estava carregada e não me abalei ao ver as lágrimas iluminarem seus olhos. Ele merecia. Merecia sentir a dor que havia causado em mim. Em minha mãe. Em Alice.

“Eu mudei, Adam.” ele disse assim que lhe dei as costas. “Eu não sou mais aquele homem. Não, não. Eu mudei e eu quero recomeçar. Quero recomeçar com você. Eu admito meus erros e me arrependo deles, mas eu preciso do seu perdão.”

“E do que vai adiantar o meu perdão?” vociferei, erguendo os braços em sua direção. “Elas estão mortas e nada do que você disser vai mudar isso. Nem seu arrependimento, nem sua culpa, nem o seu remorso.” dei um chute na mesinha de centro, fazendo-a ir de encontro com a parede e espatifar o vidro no chão. O apartamento foi invadido pelo silêncio, quebrado apenas pela minha respiração ofegante e pelas fungadas de meu pai.

“Um dia você vai ter que me perdoar, Adam. Por você mesmo, para seu próprio bem. Não é bom guardar tanto rancor e ódio e...”

“Onde estão minhas coisas?” cortei-o, olhando em volta e procurando minha carteira e meu celular, até que os avistei sobre o rack, ao lado da televisão. Fui até lá e os peguei, eu precisava sair dali o mais rápido possível. Antes disso, dei uma última olhada por cima do ombro e observei meu pai sentado no sofá, com as mãos na cabeça e os olhos fechados. Ajeitei minha camiseta e sai daquela casa, batendo a porta com força.

***

“Tiffany, aonde está o meu carro?” perguntei assim que a garota atendeu ao telefone.

“Ficou na casa do Charlie, amorzinho, mas as chaves estão no bolso interno da sua jaqueta.” levei a mão até o bolso e constatei que ela estava certa. Ela parou por um segundo, como se estivesse se decidindo se perguntava ou não. “Você está bem?”

“Na verdade não. Por que não me levaram pra casa de Teddy ou até do Alex? Por que me trouxeram pra casa do meu pai?”

“Você disse que queria ir pra aí.” ela disse, e eu tinha certeza que ela estaria dando de ombros do outro lado da linha. “Não entendemos muito bem, mas você fica incontrolável quando está embriagado.” ela riu. “Vocês brigaram?”

“Se você quiser uma novidade, essa não é a pergunta certa.”

“Bom, e você quer uma novidade? Acho que você não vai gostar muito.”

“Como assim?”

“Já entrou em alguma rede social hoje? Tipo, o Facebook?”

“Não, por que?”

“Então entra.”

“O que aconteceu, Tiffy?”

“O Derek está acordando, eu falo com você depois. Ah, e acho que você deve desculpas ao Alex.”

“Tiffany!” exclamei em vão, ela já havia desligado.

Xinguei sozinho, e reparei que algumas moças que estavam na fila do banco me lançaram olhares estranhos. Pelo meu cabelo desgrenhado, minha cara amassada e talvez pelas roupas pretas, elas achavam que eu era algum tipo de arruaceiro. Dei um sorriso amarelo para uma delas, que desviou o olhar, aparentemente envergonhada.

Assim que cheguei em meu apartamento, fui direto ao banheiro. Joguei um pouco de água fria em meu rosto e fiquei me encarando no espelho por alguns segundos. Eu deveria ter caído, porque um pequeno hematoma começava a aparecer em minha bochecha. Olhei para meus dedos e percebi que entre os ossinhos de minhas mãos haviam pequenos ferimentos. Eu havia brigado. Mas com quem?

Suspirei derrotado. Eu teria que esclarecer algumas coisas com meus amigos. Sorte que minha dor de cabeça já tinha praticamente desaparecido, mas a noite seguinte era apenas uma sequência de vislumbres sem forma. Lembrava de ter dado carona para Simon e Tiffany, que estavam no apartamento dele. De termos chegado a festa. De eu ter cumprimentado Alex e Teddy. De eu ter tomado muitas e muitas doses seguidas. Lembrava também de uma garota de cabelos castanhos, mas poderia muito bem estar confundindo com a tarde que passei com Samanta. Estávamos num sofá, não é mesmo? Merda!

Levei uma das mãos até minha sobrancelha, tirando as argolas de metal que ali ficavam. Voltei a me mirar. Era como se alguma coisa muito importante estivesse faltando. O piercing em meu nariz era quase imperceptível no momento, e com as jaquetas cobrindo meus braços e consequentemente minhas tatuagens, era como se eu estivesse com 15 anos outra vez.

Balancei a cabeça por um instante, rindo de mim mesmo. Era a primeira vez que eu sentia algo parecido com culpa depois de uma briga com meu pai. Ele continuava sendo um idiota, e isso nunca mudaria. Fui para sala e me atirei sobre o sofá. Depois de alguns minutos em silêncio, com os olhos fechados, me lembrei da fala de Tiffany.

Retirei meu celular do bolso e comecei a vasculhar meu feed de notícias. Nada interessante. As pessoas do colégio eram entediantes e não postavam nada realmente produtivo. Bom, não que eu tivesse uma lista vasta nessa rede social. Haviam algumas solicitações de amizade, mas ignorei a maioria, como sempre. Em meu Messenger, havia uma mensagem recente de uma garota chamada Sarah, que eu não fazia ideia de quem era. Continuei correndo meu dedo pela tela, até que uma foto me deixou realmente perplexo.

Samanta estava numa lanchonete, com os cabelos jogados sobre um dos ombros e a maquiagem um pouco borrada no canto dos olhos, mas ainda assim, linda. Ela estava sorrindo abertamente, levantando seu hambúrguer como se este fosse um troféu. Estava com a cabeça inclinada e com o rosto perto do de outro garoto. Peter.

Ele também estava sorrindo e tinha uma das bochechas encostada na de Sam. Parecia uma selfie, que o próprio Peter havia tirado. Peter e Samanta? PETER E SAMANTA? Olhei novamente a foto, e vi que a data em que havia sido publicada fora na noite passada. Como assim?

Olhei para o canto direito da tela. A pequena bolinha verde ao lado daquele nome me deu uma espécie de ideia maluca e impulsiva. Respirei fundo antes de clicar no nome da pessoa. Já começava a me arrepender assim que enviei a mensagem.

Preciso falar com você. Ela demorou alguns minutos antes de visualizar e pelo menos alguns segundos antes de responder. Era óbvio que estava se perguntando porque motivo eu a teria chamado já que nunca havíamos realmente conversado

O que você quer? Ela respondeu por fim.

A gente pode ser encontrar antes da aula amanhã? Naquela lanchonete em frente. Se quiser, pode levar seu namoradinho. Olhei por um instante e resolvi mudar a última palavra, sem usar o diminutivo. Não queria arrumar mais problemas, e a fama de encrenqueira da garota já falava por si só.

Pode ser às 7:30?

Claro. Eu ainda não tinha ideia porque estava fazendo aquilo, mas eu estava confuso, e mesmo soasse desesperado, ela era a única pessoa que podia me ajudar

Tá bom. Combinado então, delinquente.

Valeu ruivinha!


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Notas finais do capítulo

Um beijo, um queijo, E DÁ UM HELP PRA TIA, NUNCA PEDI NADA PRA VOCÊS! -q
Até o próximo capítulo e tchau! o/