Até o Fim escrita por Juh Nasch


Capítulo 32
Lanchonete 24 horas


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura :)



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“Nem demoraram, hein?” Nate reclamou assim que saímos na porta. Os outros dois garotos já haviam chegado e estavam sentados sobre os degraus da breve escada em frente à casa.

“Não tenho culpa se minha melhor amiga é a pessoa mais indecisa e reclamona do mundo.” Liz acrescentou, indo para perto do namorado.

Will soltou um assovio assim que nos aproximamos deles. Liz havia nos produzido mais do que eu gostaria para a festa. O vestido era justo e minha maquiagem estava perfeita, assim como meu cabelo. Fiz uma careta para os demais, mas ela logo se transformou em um sorriso. Liz, como sempre, quis se exibir ainda mais, fazendo poses, como se estivesse sendo fotografada em algum estúdio. Depois de Nate bancar o fotografo, tratamos de ir para o carro.

A casa de Colin era extremamente parecida com a casa de Peter, porém, o interior era muito mais rebuscado, com colunas de gesso e alguns quadros espalhados pelas paredes por onde quer que se olhasse.

Eu particularmente gostava de Colin. No início, ele rapidamente havia feito amizade com Will e Travis e até mesmo sentou-se algumas vezes à nossa mesa durante o intervalo no refeitório. Ele era rico, mas nunca demonstrou nada menos do que simplicidade. E já havia até mesmo pago meu almoço quando eu, por descuido, havia esquecido minha carteira em casa.

O avistei perto da escada, rindo e se servindo de um drink. Estava cercado por um grupo de garotas e garotos de sua classe, e entre eles estava Peter.

O garoto percebeu logo minha presença, e abriu um sorriso em minha direção e levantou um pouco seu copo, com uma saudação. Retribui o sorriso. Logo Colin virou-se, e veio nos cumprimentar.

“Sam, você veio.” ele sorriu enquanto me abraçava. “Eu não consegui falar com você no intervalo das aulas, então fico feliz que esteja aqui.”

“Liz me falou.” sorri sem jeito, devido ao seu bom humor causado, obviamente, pela bebida. “Então prontamente aceitei vir.”

“Prontamente?” Liz estreitou os olhos para mim.

“É Liz, prontamente.” falei enfaticamente. Dei uma cotovelada discreta nas costelas da minha amiga, enquanto alargava meu sorriso para Colin.

“E aí, Peter!” Will chamou, acenando na direção do outro garoto.

“E aí, mano.” ele se aproximou sorrindo, batendo a mão espalmada na de Will e, em seguida, na de Travis. “Nathan, Eliza, Samanta.” ele nos cumprimentou com um aceno de cabeça.

“Fiquem à vontade, pessoal!” Colin acrescentou, fazendo as honras de anfitrião. “Tem bebida ali.” ele apontou. “Na cozinha, no barril perto do balcão, e o banheiro é naquele corredor.”

“Pode deixar.” Nate sorriu, servindo-se de uma bebida.

“Na verdade, o banheiro é naquele corredor.” Peter o corrigiu.

O balcão estava coberto de garrafas com diferentes cores de líquidos. Olhei para os rótulos com incerteza, sem saber o que misturar com o que. Não era nenhum tipo de especialista em drinks e raramente ingeria bebida alcoólica. Não achava tão comum todos aqueles adolescentes melhores de idade bebendo até cair. Achava até mesmo vergonhoso o comportamento deles, porém, bebia um ou dois copos, apenas para não ser taxada de careta. Nunca mais do que isso.

“Você gosta daquela que tem gosto de menta, não é?” Peter se aproximou, disfarçando um sorriso mediante minha expressão confusa.

“Uhum.” confirmei enquanto ele colocava alguns cubos de gelo dentro de um copo. Alguns segundos depois, ele me estendeu o copo com a familiar bebida transparente. “Obrigada.”

“Não tem de quê.” ele sorriu e logo se virou para uma menina loira que o chamava. Ela era alguns centímetros mais baixa do que eu e com o corpo de dar inveja a qualquer uma. Porém, diferente das outras meninas, seu short não era tão curto ou sua blusa decotada. Era simples, como se ela soubesse que não precisava destacar certas partes de seu corpo para chamar ainda mais atenção. Era linda à sua própria maneira.

“Estou te procurando há algum tempo.” ela falou, claramente irritada. Depois lançou um olhar na direção dele e depois na minha, e ergueu as sobrancelhas para o garoto. Ele franziu a testa, visivelmente confuso. “Ah, meu Deus! Como você é lerdo, Peter. Eu sou Penélope.” ela se apresentou, esticando a mão em minha direção e abrindo um sorriso simpático.

“Samanta.” apertei a mão da garota. “Não sabia que você estava namorando, Peter.” falei, dando o primeiro gole em minha bebida.

Os dois então começaram a rir descontroladamente. Penélope ao observar minha expressão de perplexidade levou a mão na barriga, não conseguindo controlar o som praticamente contagiante que escapava de sua boca.

“Eu e Penny? Namorando?” Peter começou, ainda rindo e praticamente sem fôlego. O rosto dele estava vermelho, como acontecia comigo quando eu tinha uma crise incontrolável de riso.

“Peter é meu irmão.” ela por fim conseguiu proferir, com um sorriso ainda presente nos lábios.

“Ah.” senti meu rosto arder, ainda confusa com a reação exagerada dos dois. Obviamente não era a primeira vez que visitavam aquele balcão.

“Samanta, não é? Peter falou de você.”

“Penny... “ ele alertou.

“O quê? Não tô falando nada demais.” ela se defendeu. “Mas só pra confirmar, foi você quem deu o pé na bunda do meu irmão pra sair com o Adam, né?”

“Penélope!” Peter insistiu.

“O quê?” ela fingiu inocência.

“Espera, você conhece o Adam?” perguntei.

“Quem não?” ela abriu um sorriso malicioso que fez eu me arrepender de ter perguntado.

No momento em que o nome do garoto foi citado, automaticamente levei a mão até meu celular. Eu havia mandado uma mensagem para ele, antes mesmo de sair da casa de Eliza, avisando onde estaria e perguntando se ele queria ir comigo, mas, até aquele momento, ele não havia atendido minhas ligações ou respondido minhas mensagens.

“Bom, de qualquer forma, foi um prazer, Samanta.” Penny sorriu para mim enquanto se afastava e puxava Peter consigo.

“Não liga para o que ela disse, tá?” ele acrescentou, num tom baixo, apenas para que ouvisse. Balancei a cabeça e abri um sorriso, deixando ele com a expressão mais aliviada. “A gente se vê, Sam.”

“Bom, devo destacar que essa é a primeira vez que temos uma conversa sem que eu caia em cima de você.”

“Não tenho culpa se você sempre acaba nos meus braços.” ele piscou brevemente e acenou em despedida, acompanhando a irmã até a porta.

“Oi, Sam.” uma voz feminina chamou minha atenção. Ao me virar, constatei que era Kelly, a garota ruiva que tantas vezes havia salvado minha pele sem que ela soubesse. Ela esboçava um sorriso simpático nos lábios e segurava um copo de bebida com as duas mãos. Estava com o cabelo preso e parecia diferente desde a última vez que a vi. Parecia que, fora do ambiente escolar, Kelly era outra pessoa. Ou talvez, aquele não fosse seu primeiro copo.

“Kelly.” a cumprimentei com um beijo em cada uma de suas bochechas. “Como você está? Não falo com você há algum tempo.”

“Claro, mal fica com a gente no intervalo.” ela riu, mas deixando bem evidente a bronca por detrás da brincadeira. “Eu estou bem. Will está mesmo com a Jasmine, não é?” fez uma careta, indicando com um aceno de cabeça meu amigo, que estava envolvendo a outra garota pela cintura e sorrindo para ela.

“Eu não gosto nem um pouco dessa garota.” comentei.

“Nem eu.” ela abriu um sorriso cumplice que logo retribui. Posicionei meu copo vazio sobre o balcão e assim que Travis se aproximou para se servir, pedi pra que ele me preparasse algo. Meu último drink da noite. Ele logo voltou com uma batida de morango e cereja, tão boa que logo pedi para repetir.

“Vamos lá pra sala.” Kelly sugeriu. “Tem algumas cadeiras vazias por ali e sinceramente, já estou cansada de ficar de pé aqui.”

“Vamos.” e deixei a garota me guiar entre os outros convidados. Nem todos eram estudantes da Hayles, mas a maioria tinha idade para ser. Uma música alta tocava, e luzes piscavam para todos os lados. A bebida sempre deixava meu corpo mais leve, porém, minha cabeça sempre parecia mais pesada.

Assim que cheguei a sala me surpreendi ao ver Alex, Teddy e Simon casualmente encostados na porta da varanda. Eles estavam silenciosamente tragando e rindo. Uma Tiffany bem alterada se aproximou deles, gesticulando apressadamente. Parecia até mesmo assustada. Logo apontou para um dos sofás e os garotos abriram sorrisinhos incrédulos.

Curiosa, logo me virei na direção que a garota tinha apontado. A cena que vi me deixou tão enojada, pasma, que parecia que havia acabado de ver um fantasma. Mas eu não conseguia me mover. Não conseguia acreditar na cena que tinha diante de mim. Acreditava que estava imaginando coisas devido a bebida, e minha visão embaçada não ajudava em muita coisa.

Adam estava sentado no sofá, rindo, enquanto uma garota morena, de uma saia curta, estava montada sobre ele, distribuindo beijos em seu pescoço. Ele a afastou por um instante, ainda rindo, e parece que isso a instigou ainda mais, pois seus beijos tornaram-se mais intensos e assim que ela tocou seus lábios com os dela, senti o copo escapar de meus dedos. Ele se virou no mesmo momento, mas não queria permitir que ele visse meu rosto. Empurrei as pessoas a minha frente, ouvindo muitas reclamações, mas não me importei. Eu precisava sair dali.

“Ei, Sam! Samanta!” ouvi uma voz semelhante a de Teddy atrás de mim, mas não me virei pra certificar.

Logo voltei ao lugar onde minutos antes meus amigos estavam, mas de rostos familiares, apenas Colin e Peter estavam ali. Tentei acalmar minha respiração, pensar em clareza em meio à confusão na minha mente. Pra que isso? Vocês são amigos! Foi isso o que você disse à todos, então pare de ser uma bebezona. Fica calma!

“Ei, Peter! Viu a Liz?” perguntei. Ele pareceu repentinamente surpreso em me ver novamente ali.

“Ela passou aqui agora te procurando. Achei que você tinha ido embora com o Will, então não sei.” então ele me olhou mais atentamente, inclinando a cabeça ao observar minha expressão. “Aconteceu alguma coisa?”

“Hã, não.” abri um sorriso. “Teria como você me preparar outra be...”

“Samanta! Ei, Sam!” a voz de Adam me interrompeu, e por algum motivo, senti calafrios ao ver o quão perto ele estava. Dessa vez, sem aquela vaca perto dele. Era só olhar para ele para perceber que ele havia bebido além da conta. Seu olhar anuviado e seus passos não tão preciso o denunciaram de imediato.

“Ah, oi Adam.” tentei abrir um sorriso, que provavelmente saiu mais como uma careta. “Não sabia que viria na festa hoje!”

“O que você está fazendo aqui?”

“O que todos estão fazendo aqui. Me divertindo!”

“Você disse que não gostava de festas.” a língua dele enrolava enquanto ele proferia as palavras com uma lentidão que somente a bebida podia causar.

A imagem dele naquele sofá piscava de tempos em tempos na minha mente. Eu tinha vontade de gritar com ele, estapear aquela garota e mandar cada um daquela festa pro inferno, mas eu não podia, porque eu não tinha nenhum direito. Porque Adam era apenas um amigo.

“Me convenceram e eu resolvi dar uma chance a esta.” dei de ombros. “E você? Veio com seus amigos?”

“Simon insistiu para que eu viesse, eu sinceramente não estava afim, mas ele disse que era por causa de você, que eu estava encoleirado, como se eu precisasse dar alguma explicação à você. Não temos nada mesmo.” ele riu.

Boom! Outro tapa, e dessa vez um pouco mais doloroso. Forcei o sorriso a continuar em meu rosto.

“É claro, que idiotice da parte dele.” revirei os olhos e fiz um gesto de desdém que fez Adam alargar ainda mais o sorriso.

“Você está bonita!”

“Obrigada.” tentei ignorar a sensação que se apoderou de mim, dizendo a mim mesma que ele estava embriagado e que eu deveria jurar ódio eterno a qualquer palavra que saísse da boca dele.

"Aqui sua bebida, Sam!" Peter enfim me estendeu um lindo copo azul, com um mini guarda-chuva na borda. Agradeci com um sorriso, e Adam nos olhou confuso. Peter pareceu perceber a atmosfera que havia se formado, talvez por isso tenha demorado mais do que o necessário. Olhou-nos por um instante antes de voltar para o lado de Colin.

“Pensei que tivesse dito que não queria você falando com o Peter.”

“E por que não? Pensei que não precisávamos dar explicações um ao outro.”

“Ele é um idiota, Sam. Sabe disso.”

“Até onde eu sei, Peter sempre foi muito legal comigo, e também, eu e você não temos nada, pra que toda essa implicância?” falei no tom mais venenoso que consegui. Ele me olhou surpreso, talvez pelo meu tom áspero.

Soltei um suspiro de alívio ao ver os familiares cabelos ruivos de Eliza se aproximando. “Até amanhã, Adam!” Não fiquei surpresa quando ele não me seguiu, e assim que me aproximei, agarrei Eliza pelo pulso e a puxei para o corredor. Nathan nos alcançou no mesmo segundo.

“Menina! Eu te procurei em cada canto dessa festa, onde estava?”

Com Kelly. não iria falar sobre Adam, não agora, e me sentia tão minimizada que nem mesmo gostaria de comentar isso com alguém. Além de que, Liz armaria um grande barraco, gritando e enfrentando Adam, e eu realmente não precisava de outro espetáculo de horror naquela noite.

“Poderia ter nos avisado. Estamos indo embora, vai conosco, não é?”

“Eu vou com Will depois.”

“Will já foi embora.” Nate comunicou.

“Peço uma carona ao Colin.”

“Ao dono da festa?” os dois perguntaram ao mesmo tempo, ambos com expressão de ceticismo. “Colin está caindo de tão bêbado.”

“Ao Peter, então.” falei, já sem muitas opções.

“O que você tem, Samanta?” Liz levantou uma das sobrancelhas e encarou profundamente meus olhos, tentando decifrar-me naquela típica telepatia de melhores amigas. Pena que nunca fomos realmente boas naquilo.

“Não é nada, é sério. Só quero aproveitar um pouco mais a festa.”

Ela me observou por alguns instantes. Uma coisa que eu e Liz tínhamos em comum, era a teimosia, por isso, assim que ela percebeu minha expressão decidida, se deu por vencida. “Assim que estiver em casa, me ligue.”

“Pode deixar, mamãe.”

“Se precisar, eu venho te buscar.”

“Não precisa se preocupar, Nate.” abri um sorriso, até certo ponto convincente.

“Sempre me preocupo.” ele sorriu, parecendo novamente meu antigo melhor amigo. Me envolveu com os braços, apertando-me contra o peito. Eu realmente precisava daquilo. Respirei fundo e o soltei. Não ia ser uma sentimentalista chorona essa noite.

“Até a aula.”

“Até.”

Assim que eles saíram, voltei a sala, para a companhia de Kelly. Não havia nenhum sinal de Adam ou da garota ou dos amigos dele. O sofá em que eles estavam já tinha sido rapidamente ocupado. Kelly estava rindo sozinha quando me aproximei. Ela me ofereceu outra bebida e resolvi seguir meu próprio conselho... Eu iria me divertir.

***

“Temos alguém oficialmente no fundo do poço.” Peter disse com um sorriso calmo, enquanto se sentava ao meu lado.

“Estou tão horrível assim?”

“Se for devido ao seu cabelo bagunçado, ao seu hálito de bebida e a sua expressão agora, como se fosse cair no choro a qualquer momento, bom, eu tenho que admitir que sim.” ficamos em silêncio por alguns instantes e quase instintivamente passei as mãos por meus fios rebeldes, os recolocando no lugar. “Quer que eu te leve pra casa?”

“Não exatamente, mas estou cansada de ficar aqui.”

Assim que estamos no carro, Peter se vira pra mim. É claro que naquele momento uma lágrima silenciosa penderia em meus cílios e escorreria por minha bochecha. Limpei-a tão rapidamente, que era como se ela nunca tivesse existido. Como a relação que eu havia fantasiado entre mim e Adam.

“Você quer falar sobre o que aconteceu?” ele perguntou cauteloso. Balancei a cabeça em discordância.

“Ainda não.”

“Tudo bem então. Sua casa é naquela rua, certo?”

“Não quero ir pra casa ainda.” disse passando os dedos sobre minhas bochechas e afastando as lágrimas. Não queria que me minha mãe me visse daquele jeito. “Você tem alguma bebida aqui?” digo já conferindo o conteúdo do porta-luvas. Vazio.

“Bebida?” ele me olhou surpreso. “Acho que beber mais não ajuda muito e...”

“Sermão então, muito menos.” rebati, mas me arrependi no mesmo instante. “Me desculpa, não era minha intenção ser ...”

“Tudo bem, Sam.” ele sorriu. “Bom, abriu uma lanchonete próxima de onde eu moro, se você quiser ir... É 24 horas e acho melhor você comer algo antes que passe mal.”

“Seria ótimo, ainda não comi nada mesmo.”

“Ótimo. Digo, não ótimo por você não ter comida ainda, ótimo por você... Ah, você me entendeu.” ele se atrapalhou. Soltei uma breve risada e ele me olhou de canto, também com um sorriso preso nos lábios.


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Notas finais do capítulo

Vou deixar a escolha de quem será o próximo narrador com vocês. Já que tecnicamente esse era pra ser um capítulo único: Adam ou Sam?
E se quiserem enviar ideias ou sugestões pros próximos capítulos, fiquem à vontade.
Um beijo, um queijo e até o próximo capítulo.