Até o Fim escrita por Juh Nasch


Capítulo 17
Amizade verdadeira


Notas iniciais do capítulo

Então pessoinhas, voltamos com o ponto de vista do Adam.
Funcionará assim, 2 capítulos da Sam seguidos por 2 do Adam, a partir de agora.
É isso, espero que gostem!
Boa leitura :)



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Adam

“Oi, mãe.” ouvi Sam dizer. Ela havia se afastado bons passos e mexia as mãos, passando-as nervosamente pela blusa. Seu rosto estava completamente vermelho e em nenhum minuto ela olhou em minha direção.

Minha respiração ofegante foi se estabilizando aos poucos. Passei as mãos pelo meu cabelo e desviei meu olhar da garota. Que merda era aquela que tinha acabado de acontecer?

Tudo bem, não seria hipócrita. Sam era realmente muito bonita. Os olhos castanho-claros, os cabelos longos até a altura do quadril, e um corpo que... Meu Deus!

Assim que ela chegou a escola, os boatos começaram. Alex fora um dos primeiros a falar sobre a novata. Outros garotos também, como Peter. Em pouco tempo, Samanta Harper havia virado objeto de estudo particular dos veteranos. Eu apenas ouvia os comentários pouco elogiosos de Alex e Simon. Bom, elogiosos para eles ao menos.

A festa repentina na casa de Peter, fora apenas uma desculpa para tentar embebedá-la. Fora uma pena que eu tenha tropeçado e derrubado bebida em seu vestido. Nem queria ter imaginado o que poderia ter acontecido.

Era por isso que eu não confiava neles e não queria Samanta conversando ou pegando caronas, trocando mensagens ou... Merda, eu não era dono dela. Tinha que parar com aquilo, de uma vez por todas. Ela sabia se cuidar sozinha. Até demais, diria.

O pior é que ela parecia não ter nenhuma consciência de si mesma. Do efeito que ela causava.

Eu realmente havia pensado que esse lance de amizade daria certo. Sam era diferente das outras garotas. Alguém com interesses em comum. Alguém que eu podia confiar, de um jeito que eu não confiava nos meus outros amigos. Alguém que me confrontava.

Ela seria o tipo de amizade verdadeira, que não mede esforços e diz tudo o que precisa na sua cara. Alguém que eu ainda não tinha encontrado, pois todos pareciam apreensivos a minha volta enquanto ela nunca se deixou intimidar. Eu gostava daquilo. Não ter alguém para concordar o tempo todo com o que você diz, era bom ter uma opinião divergente.

Eu me sentia bem e perfeitamente à vontade perto dela. E obviamente, existia o outro extremo. Eu me sentia completamente exposto e fora de controle perto dela. Era um jogo de tentativa e erro, a cada instante.

Sam não era meu tipo de garota. Não, não! Ela era, era o tipo de qualquer um, mas... Não o tipo de garota que eu poderia enxotar depois. Sabia que aquela atitude durona dela era só disfarce e eu não suportaria magoá-la. E desde quando eu me importo com isso mesmo?

Aquilo foi só um deslize, só isso. Nós dois poderíamos seguir em frente e fingir que aquilo nem tinha acontecido. Mas bem que aquele celular poderia estar no modo silencioso. Porra, Adam! Para com isso.

“Eu estou na casa de uma amiga.” ela falou. Lancei um olhar confuso em sua direção, mas ela apenas fez uma careta. Era óbvio que sua mãe tiraria conclusões precipitadas se ela dissesse que estava no meu apartamento. Ainda me lembrava das insinuações que ela havia feito no dia em que fui à sua casa.

“Kelly, minha parceira na aula de química.” abafei uma risada, cobrindo minha boca com a mão, e em troca recebi um tapa de leve no braço.

Sem emitir som, apenas movendo os lábios, falei “Vou estar ali.”. Apontei em direção à porta de meu quarto e ela assentiu, começando a andar pela sala, enquanto respondia uma pergunta seguida de outra. Uma mentira seguida de outra. Levantei-me e fui até lá. Sinceramente, não gostava de falar ao celular quando tinha outra pessoa por perto e supôs que Sam quisesse um pouco de espaço para dar continuidade a história.

A pessoa ficava te olhando atentamente, como se procurasse perguntas às respostas que você dava. Era, de certo modo, invasivo e eu odiava aquela sensação. Da mesma forma que odiei quando Cristina começou a falar de meu pai. Aquele era um assunto proibido, para qualquer um.

Meu quarto estava um pouco desorganizado e tratei logo de colocar alguns livros e roupas no lugar. Era pequeno, como o resto do apartamento, mas eu gostava. As paredes eram de um azul claro e todos os móveis eram cor de mogno. Havia um guarda-roupa, uma cama de casal, meu violão ao canto e uma escrivaninha, com meu notebook em cima.

Era perceptível que a chuva não pararia com rapidez. E mesmo que tivesse diminuído um pouco, seria impossível sair, pois as ruas continuavam inundadas, por isso, tinha absoluta certeza que Sam teria que dormir ali.

Por algum motivo, quando vi Sam tremendo, devido aos trovões, meu instinto natural foi protegê-la. Aquilo não era um sentimento comum para mim há muitos anos, desde...

“Hã, eu posso entrar?” a voz dela me despertou dos e eu apenas assenti.

Ela olhou a volta atentamente e logo tocou, com as pontas dos dedos, os pôsteres em minha parede. Uns eram de alguns games que eu gostava e outros das minhas bandas favoritas. Muitos eu havia tirado da porta do quarto que fora meu, no apartamento de meu pai. Sabia que Sam também tinha alguns em seu quarto, mas a maioria eram de filmes ou livros.

Assim que parei ao seu lado, senti ela se encolher instintivamente. Estávamos ambos constrangidos, era óbvio. O incidente na sala fora perturbador. Ainda conseguia sentir sua respiração contra a minha. Seu olhar em minha boca. Seu nariz tocando o meu.

“Quer dizer que meu nome é Kelly, agora?” eu precisava de algo para nos distrair, me distrair, e fora a única coisa em que eu consegui pensar.

Ela abriu um sorriso sem jeito antes de responder.

“Foi o primeiro nome que me veio na cabeça.” deu de ombros “Ela ia começar a me encher de perguntas e...”

“Não precisa se explicar.” senti que meu tom saiu um pouco rude e resolvi acrescentar. “Você pode dormir aqui.” apontei para minha cama.

“Eu prefiro ficar no sofá.”

“Eu fico lá. Estou tentando ser gentil, então, por favor.” tentei abrir um sorriso, não muito convincente.

Ela balançou a cabeça e pareceu em dúvida por alguns momentos. Não dúvida, ela parecia magoada. Parecia querer dizer alguma coisa, mas estava numa luta interna consigo mesma.

“Adam?” ela me chamou assim que passei por ela e segui em direção à sala. Me virei e ergui as sobrancelhas. “Quem é aquela garotinha da foto?” meu coração se acelerou no mesmo instante. Senti as palmas de minhas mãos suarem. Minha expressão de choque deveria ser evidente. “Uma garotinha loira, com um bichinho de pelúcia.” ela não precisava dar mais explicações, sabia exatamente a qual fotografia ela se referia.

“Não gosto que mexam nas minhas coisas.” minha voz saiu numa espécie de rosnado, entre os dentes.

“Mas eu...”

“Isso não é da sua conta, Samanta!” virei as costas, batendo a porta com força assim que passei.

Sabia que havia sido grosseiro demais, mas não suportava que tocassem naquele assunto. Quem aquela garota pensava que era? Nos conhecíamos a pouco tempo, e Alice era um assunto proibido. Expressamente proibido. Para qualquer um.

Escutei um soluço abafado vindo do quarto e me levantei no mesmo instante. Tive intenção de entrar no quarto e pedir desculpas, mas eu estaria sendo mole demais. Eu não era assim. Quase me senti culpado, mas não era culpa minha. Ninguém a mandou bisbilhotar. Se bem que, a fotografia estava sobre minha estante, qualquer um poderia ver e fazer o mesmo questionamento.

O problema é que ninguém, nem mesmo meus amigos, iam até meu apartamento ou, mesmo, até a casa de meu pai. Eles não se metiam na minha vida porque não era da conta deles, assim como eu não me metia nas deles.

Fiquei encostado à porta, pensando se deveria ou não me desculpar. Até que abri a porta e vi Sam sentada a beirada da cama, secando o rosto com o dorso da mão. Minha raiva se desmanchou no mesmo instante.

“Sam?” me aproximei ficando de joelhos a frente dela. Ela me lançou um olhar estranho. “O que foi?” ela riu assim que perguntei.

“O que foi?” a voz dela saiu engasgada e suas lágrimas começaram a descer novamente. “O que foi?” ela repetiu com desdém, com um sorriso afetado nos lábios. “Me diz qual é o seu problema mental, garoto?” o tom irônico dela estava acentuado, mas desta vez, eu não me diverti com ele. Ela me deu um empurrão, me fazendo cair sentado, e se levantou, se encaminhando para porta. “Você é um quebra-cabeças sem fim, Adam. Quando penso que finalmente encontrei mais uma peça, vejo que estava errada. Isso é como...”

“Uma montanha-russa.” completei, sem conseguir me conter. Me lembrei subitamente de quando havia feito aquela comparação.

“E você acha graça.” ela disse indignada, apontando para meu rosto. Passou as mãos pelo rosto, estragando mais ainda sua maquiagem. “Sai daqui, Adam!”

“Mas estou no meu quarto.” falei sem pensar.

Tudo bem, então saio eu.” ela já estava passando pelo batente da porta, quando a segurei pelo pulso. “Me solta!”

“Para com isso, Sam!” a virei em minha direção e tentei me aproximar, mas ela deu um passo para trás. “Eu falei sem pensar. Fica!” falei suplicante.

“Vou ficar pelo simples fato de não ter como voltar para casa, mas quero que você saia do seu quarto e me deixe sozinha.” ela soltou-se de mim e voltou para a cama. “Agora!” ela falou firme, não olhando para mim.

“Aquilo é assunto complicado, Samanta, e eu ainda...”

“Agora eu não quero mais saber. Guarde seus segredos pra você. Sufoque-se com eles sozinho.”

Assenti e então fiz o que ela pediu, sem olhar para trás e fechando a porta devagar. Me deitei no sofá, xingando-me mentalmente por ser um idiota. Eu não estava acostumado a ser gentil ou delicado. Não precisava disso. Nunca precisei. Também era culpa dela, ser tão curiosa, tão sentimentalista, tão chorona. Sam poderia agora cumprir sua promessa e esfregar meu rosto contra o asfalto.

Me pego olhando para a fotografia sobre a estante e logo em seguida escondo meu rosto em uma das almofadas. Adormeço minutos depois.


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Notas finais do capítulo

Adam sendo Adam, como sempre.
E então? O que acharam? Quais são os palpites de vocês?
Essa chuva já rendeu o que tinha que render, então...
Um beijo, um queijo e até o próximo!