Observei a água, com a brisa quente batendo em minhas feridas. Não ardiam, como eu esperava, mas até amenizava um pouco a dor. Por muita sorte, chegamos em um pedaço cujo havia uma ligação com outro lugar. Não sabia se deveria ir por ali, mas era o único local que eu poderia ir sem me forçar muito. Além de que as pontes não levavam a lugar nenhum que eu poderia ir. E eu duvidava muito que o mundo era tão pequeno quanto aquilo. Mas, se fosse tão grande, como eu acharia ele? Será que eu conseguiria? Eu podia ter sido criado para matá-lo, mas, me sentia como se meu motivo de existência era fazê-lo feliz.

Minhas mãos se apoiaram no chão, me empurrando para cima. Rafaela se alarmou, mas sorri gentilmente, dizendo que eu ficaria bem. Um gemido escapou de meus lábios quando consegui me levantar. Chiei, andando até a abertura para algum outro lugar. Mas antes, fiz questão de esconder meus hematomas e cortes, como mandou minha intuição. Suspirei, caminhando para o desconhecido. Meu tornozelo doía, e eu tinha medo de não me recuperar nunca mais. Mas tudo bem, desde que eu pudesse ver meu herói novamente. Meus machucados não eram importantes, comparados a ele. De vez em quando, tenho algumas... "fantasias" com ele. Sim, acho que é um tipo de obsessão, mas não consigo tirá-lo da minha cabeça.

Cheguei a um lugar bonito, todo colorido com verde, que me lembrava a túnica do meu loiro. Decidi que gostava daquele lugar. Era um pouco grande, tanto que não podia ver ar onde se estendia. Seria um grande esforço até chegar a algum outro local, mas eu não me importava. Comecei uma longa caminhada. Depois de alguns minutos, ou talvez horas, eu percebi que estava escuro demais para eu continuar. Tateei aos meus lados procurando por Rafaela, até que achei uma de suas patas um pouco mais na frente. Ela entendeu e parou, se virando e ajeitando deitada, eu acho.

Um sentimento estranho que eu nunca havia sentido antes veio até mim. Minha boca se abriu, e eu levantei a mão até ela. Me sentia cansado, enquanto meus olhos insistiam em fechar. Eu não entendia. Eu estava morrendo? De qualquer forma, eu não me importei e deitei no chão, enquanto meus olhos se fechavam e eu não podia pensar em mais nada.

POV Malon
Meus olhos se abriram, enquanto eu bocejava e me esreguiçava. Ah, mais um dia! Ontem Fairy Boy veio me visitar, foi um dia maravilhoso! Embora ele seja bonitinho e tudo mais, só o vejo como um bom amigo. Hoje, seria ainda melhor. Me levantei, jogando a preguiça para fora. Peguei uma escova e a passei em meu cabelos ruivos. Minhas mãos alcançaram uma roupa e comecei a me trocar rapidamente enquanto cantarolava. Calcei as botas enquanto pulava em um pé só até fora de de casa. Meu pai ainda estava em casa, afinal, era bem cedinho. Mas ele já iria sair para entregar Lon Lon Milk no castelo de Zelda. Corri até ele.

-Bom dia, papai! -o abracei.

-Bom dia, Malon. Dormiu bem? - ele me abraçou de volta.

-Sim, papai. Eu posso passear por Hyrule Field enquanto o senhor está no castelo? -perguntei.

-Hum, eu acho melhor não. - papai, sempre se preocupa comigo.

-Por favor, papai! -eu disse lhe dando olhos de cachorrinho. -Eu vou ficar bem.

-Mas tome cuidado. - ele se rendeu, sabendo que eu insistiria até ele deixar.

-Eu vou. Bom trabalho, papai! Até mais tarde! -lhe dei um beijo na bochecha e sai para uma caminhada.

Enquanto caminhava pelos campos, cantarolava uma canção que minha mãe me ensinou. A caminhada estava tranquila, o sol brilhava forte. Foi quando avistei algo a distância. Do lugar que eu estava, pareciam um ponto preto e outro azul, ou talvez verde. Me aproximei, a curiosidade me enchendo. Quando cheguei mais perto, vi uma pessoa e uma... aranha gigante? Franzi a testa e corri para mais perto, achando que a pessoa poderia estar ferida ou até morta, e precisaria de minha ajuda e cuidados. Além disso, eu estava curiosa. Como alguém poderia ter se ferido nesses tempos de paz e tranquilidade. Talvez, tenha se metido em uma briga? Mas, no meio daquele lugar? Meio difícil. Abandonei meu pensamentos e fui me aproximando.

Quando finalmente cheguei até a pessoa, pude perceber que era um garoto em torno de min a idade. Era extremamente parecido com Link, exceto pelas cores de suas roupas. Sua túnica era negra com alguns pedaços rasgados, seus cabelos e pele, escuros e bagunçados. Sua meia-calça era um pouco mais clara que a túnica, também com partes rasgadas e uma coloração avermelhada em algumas partes. Usava um cinto marrom e em suas costas haviam um escudo e espada idênticos aos de Link, novamente mudando as cores. Embora sua aparência estivesse "machucada" ele estava inconsciente em uma pose fofa. Ele estava encolhido com a cabeça apoiada em seus braços e a boca meio aberta. Não podia mentir, ele tinha alguns traços em seu rosto um pouco afeminados, mas deixavam-o mais fofo.

Soltei uma risadinha, enquanto cutucava sua bochecha. Ele resmungou algo e mexeu a cabeça. Cutuquei novamente, e ele tentou pegar lentamente meu dedo. Balancei um pouco seu ombro, e seus olhos se abriram fracamente. Eram como dois rubis. Ele arregalou eles e recuou. Ficamos nos olhando por um tempo, até a aranha (que presumi ser sua) abriu seu olho. Eu sorri gentilmente.

-Oi. - Ele olhou para mim desconfiado. - Meu nome é Malon. Qual é o seu? -perguntei lentamente. Ele pareceu pensar por um tempo, então negou com a cabeça. -Você não quer dizer?

-Não, eu somente não tenho um. -sua voz soava como a de Link, porém mais grave.

-Oh. -eu pensei em um bom nome para ele, então. Como era parecido com Link, também tentei um nome parecido. -Desde que você não tem um, posso te chamar de Dark Fairy Boy? - ele franziu a testa. Acho que não gostou. -Hum... Dark Link, então? - ele sorriu em afirmação.- Bem, Dark Link. O que você está fazendo aqui?

-Eu estou procurando alguém. -assento com a cabeça.

-Quem?

-E-eu não lembro seu nome, mas é um garoto loiro de olhos azuis. Pensando bem, o nome que você me deu soa como o dele.

-Ah, você está procurando Link! - ele sorriu um pouco sonhador com o nome, de um jeito fofo. Presumi que eles deveriam ser bons amigos... ou mais. O último pensamento me animou. -Vamos para a minha casa, lá conversamos melhor. Além disso, você parece um pouco magro, não está com fome? - ele fez uma cara de desentendido, e logo percebi que ele ia me dar trabalho.