Clockwork Souls escrita por helden


Capítulo 4
Capítulo 4




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O aeromóvel estava quase novo em folha, se não fosse por algumas pedras que adornavam a parte exterior do mesmo e agora não estavam mais lá. Erik já tinha quase decidido gostar do dono do beija-flor mecânico, quando percebeu que ele as havia roubado. Realmente, não estava mais acostumado com aquele Reino e as pessoas interesseiras que lá moravam. Antes que pudesse decidir se ia bater na porta da casa escura novamente para arrancar as pedras preciosas do garoto à força ou se as deixaria como recompensa a ele por ter sido de grande ajuda, Erik notou que Lyra não tinha entrado no veículo.

– Soldado... - O Capitão sequer lembrava o nome do companheiro que, há poucos minutos, queria deixar pra trás pra ser transformado em beija-flor mecânico - onde está a Stefanova?

O homem parecia surpreso com aquela pergunta. Ele nem tinha notado a falta da soldado.

– Eu não sei... Talvez tenha ficado pra tomar chá. Acho que ela sabe se virar sozinha, não?

Erik estava decidido que na próxima gracinha do soldado, ele iria tomar um chá de tapas.

– Vou descer pra ver onde ela ficou e trazê-la de volta, não temos tempo pra ficar e tomar chá. Espero que saiba se virar sozinho também.

Aquele lugar era um inferno. Cada passo que dava desde que chegara no Reino soava como um chamado para a má sorte. Não havia nenhum sinal de Lyra do lado de fora. A casa escura continuava a expelir a fumaça negra pela chaminé e, se não fosse pelo aerostato parado ali, Erik diria que estava tudo da mesma maneira que estaria antes deles chegarem com um pouso forçado.
Simplesmente não queria bater naquela porta, nem estava afim de mais animais mecânicos e muito menos afim de ver o tal Micha de novo. Mas era o jeito, ou voltaria para a busca sem Lyra, o que seria, além de uma atitude irresponsável para um Capitão, tarefa mais difícil do que ele gostaria de admitir.

Caminhou a passos largos na direção da casa de aparência chamuscada. Ao se aproximar da porta, antes que pudesse bater, escutou um burburinho de vozes lá dentro.

Bateu uma vez.

As vozes falavam cada vez mais alto e não pareciam conversar amigavelmente. Bateu mais forte. Não houve resposta. A voz de Lyra parecia estar no meio das outras, assim como a de Micha e outra que ele não conseguiu identificar.

Desistiu de bater e chutou a porta com força.

A maçaneta arrebentou e a porta abriu. Dentro da casa, Lyra, Micha e uma criança suja e ruiva cessaram a discussão pra encarar Erik.

– Minha maçaneta de cobre... Fui eu que construí! Você tem ideia de quantas pessoas em Campelle constroem suas próprias maçanetas de cobre? Você vai me pagar... Já me devia uma pelo conserto do aero... - Micha foi interrompido por um grito de "chega" que Erik deu, visivelmente irritado.

– Não quero saber sobre sua maçaneta, e não te devo nada. O que está acontecendo aqui? Lyra, por que você não voltou conosco para o aerostato?

– Eu estava voltando, até essa criança maltrapilha entrar na minha frente e dizer que estava com fome. Eu disse que não podia ajudar e ela me arrastou pra essa casa de novo. Eu tenho certeza que esses dois estavam planejando me assaltar!

– Eu já disse que eu não sei quem essa menina é! Quando eu entrei em casa depois de ter consertado o veículo de vocês, ela estava aqui. Deve ter entrado pela janela, eu não sei, esses ladrões de hoje passam até pela chaminé. Coloquei ela pra fora e ela voltou com você. Por acaso eu tenho cara de quem cria crianças? Eu prefiro seres mecânicos do que vivos.

Realmente, Micha não tinha cara de quem criava crianças. Nem aquela garota tinha cara de ladra. Tinha cara de quem morava na rua, sim, mas parecia assustada demais.

– Menina, como é seu nome? Por que você trouxe ela pra cá? - disse Erik mais interessado em fazer aquilo acabar logo do que na vida daquela criança de rua.

– Luna. Meu nome é Luna. Eu só queria que ela me levasse pro Centro de Campelle... aqui nesse mato ninguém nunca me dá dinheiro ou comida, e eu não gosto de roubar. - disse a garota com a voz baixa e assustada.

– Até parece que não gosta de roubar. Posso ir embora agora ou vai agarrar meus pés e começar a chorar? Vamos, Tunke. Não fomos treinados pra ser babás. - Lyra estava impaciente, como sempre. Desde jovem no exército, ela nunca teve muito contato com crianças, e não era muito amiga delas também.

– Olha, Luna... é Luna, né? Nós somos soldados, não somos guardas do orfanato. Não temos tempo e nem autorização pra ficar carregando crianças pela cidade pra elas pedirem dinheiro no Centro. O que eu posso fazer é pedir pra que você tente não incomodar os adultos e nem roubar, ok? - Enquanto ele conversava, a garotinha assentia, Micha já tinha dado as costas pra mexer nas pedras que ele tinha roubado e era suficientemente cara de pau pra achar que Erik não perceberia e Lyra nem lá estava mais. Já devia estar dentro do aerostato bufando e praguejando contra a garota.

Erik saiu pela porta que agora não fechava mais, deixando a garota e Micha pra trás. Ele duvidava que os dois não se conheciam, mas preferia não pensar nisso. Tinha coisas mais importantes pra pensar.

Ao entrar no aerostato, Erik sentou próximo a janela de vidro filmado e viu o veículo levantar voo. Parecia cada vez mais enjoado com aquela cidade caótica. Crianças de rua, velhas que falam com flores, braços mecânicos, gente interesseira. E ainda nenhum passo na direção do culpado pelo envenenamento do rei. O céu estava escuro e as poucas estrelas que podia-se ver devido a fumaça metálica que cobria Campelle pareciam cristais cravados em um vestido preto.

Quanto mais se aproximava de Planalto da Névoa novamente, mais pensamentos inundavam sua mente. O rei não havia contratado Erik para conversar com crianças ou beber enquanto assistia espetáculos de dança. Ele sabia que precisava cumprir o quanto antes com sua obrigação, e estava determinado a isso.

Chegando no porto aéreo de Campelle, no Planalto da Névoa, desceu do aerostato e decidiu seguir a pé para a estalagem. A caminhada o ajudaria a refrescar a mente e relaxar, assim poderia pensar e concentrar-se no que deveria fazer. Além disso, se algum ladrão se aventurasse a rouba-lo, seria o alvo da descarga de toda a raiva que Erik passou naquele dia. Antes que pudesse chegar na estalagem, viu uma aglomeração de pessoas desesperadas correndo pra dentro e pra fora de um bar que ficava um pouco antes da Caneca Quebrada.

Pessoas corriam como se estivesse fugindo de algo enquanto outras choravam e outras levavam água em direção ao palco, desviando das mesas, como se estivessem levando a última chance de salvar alguém da morte.

Erik se aproximou do palco e lá viu, mais desesperado que todos no local, um garoto jovem e loiro, que parecia ser o mesmo que Erik viu no dia anterior cantando na estalagem.

Relutou em perguntar o que estava acontecendo, portanto só ficou ali esperando que alguma atitude de alguém denunciasse o motivo de tamanha comoção. Não conseguia ver o palco. Sabia que alguém estava lá, caído, talvez morto. Mas não via quem e nem como. Ao seu lado, uma jovem moça parecia chocada, mas não tão chocada a ponto de não poder falar.

– Com licença - disse Erik a ela no momento que encostou a mão em seu braço - eu sou Erik Tunke, Capitão do exército de Campelle. Você pode me informar o que aconteceu aqui? Quem é essa pessoa caída no palco?

Assustada com a atitude de Erik, a moça parecia tímida e retraída, mas ainda assim respondeu.

– Eu sou Amelia... Amelia Scott. Eu não sei de nada senhor, juro. Vim com meu pai entregar as comidas encomendadas pra festa aqui no bar, como sempre fazemos, todas as noites. Temos uma padaria famosa aqui na cidade, sabe? Quando saí da cozinha, já estava tudo assim... eu não sei... eu juro. O senhor Loth já estava caído e o filho dele do lado...

– Quem é senhor Loth? - perguntou Erik.

– É o dono do bar. Ele é rico e esse é o único bar grande da cidade. O filho dele, ao que todos achavam não se dava bem com ele, mas parece estar tão desesperado... vê-lo ter o pai tirado dele assim...

– Tirado? Por que tirado? Você está dizendo que ele foi assassinado?

– Sim, senhor. Envenenado.






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