Clockwork Souls escrita por helden


Capítulo 3
Capítulo 3




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Erik se sentia miserável.

Já faziam dois dias que estava buscando o envenenador do rei e tudo que conseguira fora alguns amigos inúteis e uma ressaca. O que diabos tinha naquela bebida vermelha? Ácido sulfúrico? A cabeça dele dizia que sim, provavelmente.

Ele saiu andando da tenda da mascarada quando já estava quase amanhecendo e voltou tropeçando para a estalagem. Não se orgulhava disso, mas foi o que aconteceu. Ele só conseguiu sair da cama quando já estava na hora do almoço.

Angela riu quando ele não conseguiu comer nada, depois foi preparar uma sopa.

Agora ele passava novamente pela floricultura, vendo Dona Boris dar um sorriso rápido ao vê-lo e entrar no estabelecimento sem fazer contato visual.

Ele não se incomodou em sorrir de volta.

Erik pegou o mapa que levava consigo. Marcou dois pontos do Planalto das Núvens, teria que pedir que alguém disfarçado de civil coletasse algumas informações. Pensando agora, ele se condenava por ter saído por ai vestido de soldado.

Quem em sã consciência solta a língua pra um soldado?

Ele tinha enviado um telegrama mais cedo para a central pedindo que seu aerostato fosse enviado para ele e ao chegar no porto ele o encontrou esperando. Não era dos maiores, afinal ele só ia transitar dentro do reino, mas era realmente bonito. Os acabamentos em cobre misturados com a madeira escuras e as velas cor de creme com o brasão do reino deixavam o aerostato muito destacado dos outros. Erik adorava a ostentação dele, mas talvez isso não fosse tão bom para perseguir um envenenador.

– A seus serviços Capi... meu deus você está horrível! – Lyra parou com a mão na metade do caminho quando foi bater continência.

Erik olhou pra ela como se ela fosse um rato morto.

– Vamos para o mercado. – Ordenou ele passando por Lyra sem responder seu comentário.

– Sim Capitão! – gritou um subordinado.

Erik não se incomodou em admirar a paisagem dessa vez. Pensava que se olhasse para fora vomitaria toda a sopa que lutou para engolir. Foi, então, direto para a cabine reservada que existia no dirigível. Olhou-se brevemente no espelho e constatou que a soldado Lyra tinha razão, ele estava horrível. Depois engoliu uma daquelas balas de cafeína para tentar diminuir a dor de cabeça e se jogou na cama, tentando aproveitar o momento de sossego.

Não conseguiu.

Lyra abriu a porta sem bater, o que assustou Erik e o fez pegar a arma e apontar para ela. Ela não se incomodou, nem mesmo deu sinal de ter ficado assustada, somente falou:

– As engrenagens pararam de funcionar, tentamos fazer tudo manualmente mas é pesado demais. Vamos cair.

E caíram.

***

Hoje, talvez, fosse o pior dia da vida de Tunke. O aerostato havia caído em algum lugar entre a Estrada da Rosa e a floresta que beirava Campelle. Ninguém havia se machucado, o pouso forçado de Lyra foi melhor do que ele ia admitir. Ele e os dois outros soltados agora olhavam para Lyra, que havia subido numa nogueira e tentava achar algum ponto de referência próximo. Um dos soltados tinha sugerido queimar o aerostato para que a fumaça chamasse a atenção e, eventualmente, trouxesse ajuda. Tunke se negou, não queimaria aquela preciosa peça, mas poderia queimar o soldado, se ele continuasse falando.

– Viu alguma coisa, Ly? – gritou o soldados que estava parado ao lado de Tunke. Erik teve vontade de estapeá-lo pelo simples fato dele existir.

Pior. Dia. Da. Vida. Dele.

– Acho... – ela parou, arrumando o binóculo – uma casa!

– Graças aos deuses – disse o outro soltado.

Erik estava pronto para começar a andar na direção apontada quando notou um movimento com o canto do olho e estancou. A sombra pareceu notar a percepção do capitão e não se incomodou em tentar esconder-se e simplesmente correu para a mata.

– O que foi isso? Um veado? – Perguntou Lyra, que tinha descido da nogueira com facilidade.

– Depois de tudo, duvido muito. – disse Tunke, recomeçando a andar.

***

Depois de, talvez, meia hora de caminhada pela mata eles chegaram a casa que Lyra tinha avistado da árvore. Era de madeira escura, muito escura. Escura o suficiente para que qualquer um achasse que tinha sido lambida pelo fogo. Havia janelas de vidro, mas não se via nada devido a grossas cortinas escuras. Havia pedras e barras de metal por todos os lados, se misturando com o mato e se tornando parte da flora.

Da chaminé da fornalha saia um fio de fumaça negra.

Tunke observou a casa por alguns segundos, depois empurrou as costas de Lyra em direção ao local. Ela o olhou com raiva e ele simplesmente indicou o lugar com a cabeça. Ela hesitou, olhando para a casa com um ar de dúvida. Tunke a empurrou mais uma vez e recebeu outro olhar de raiva. Apesar de tudo ela começou a andar.

Os dois soltados olhavam com reprovação para o capitão, mas nem um deles se ofereceu para ir no lugar de Lyra. Hipócritas.

Erik sentiu uma onda de tensão ao ver o punho pequeno de Lyra levantando para bater na porta. Percebeu que ela tinha trancado a respiração e se perguntou do que ela tinha tanto medo.

Porém ela não precisou encostar na porta, pois um pequeno alçapão de abriu com um estrondo seco. Lyra se afastou, olhando surpresa para a portinha que se abriu. De lá saiu um pequeno beija flor de metal, ela podia ouvir as engrenagens dele funcionando dentro do pequeno corpo, embora as pequenas penas de prata escondessem qualquer visão que não fosse a perfeita cópia do animal original. Ela se surpreendeu quando ele ficou suspenso alguns segundos a sua frente e piou, sim, piou! Animais de metal geralmente não faziam som, mas aquele fazia. Lyra estendeu a mão para o pequeno e ele fugiu, entrando novamente pelo alçapão, que foi fechado com o mesmo barulho seco de antes.

– O que diabos... – Começou Erik, mas foi interrompido quando a porta de abriu abruptamente.

O homem que encarava Lyra da soleira era alto, tinha os cabelos desarrumados e a barba parecia não ser feita há uma semana. Não usava camisa, somente uma calça com um cinto onde haviam todo tipo de alicate penduradas, pinças e coisas pontudas que nem Lyra nem Erik saberiam nomear. Os olhos do homem, pousados em Lyra, eram ilegíveis.

– Eu... hã... –Lyra fora pega de surpresa. Erik interferiu.

– Nosso aerostato caiu aqui perto, sou o Capitão Tunke. Precisamos de ajuda.

O homem olhou para Tunke de cima a baixo.

– O que eu ganho ajudando você, capitão?

Tunke segurou um suspiro exasperado que estava prestes a soltar. Será que todo mundo naquele reino tinha que querer ganhar alguma coisa?

– Estamos procurando alguém em nome do rei, se você nos ajudar pode ganhar uma recompensa do exército. – Soltou Erik, embora não tivesse nenhuma intenção de dar nada ao homem.

– Estão procurando o envenenador, certo? – Tunke olhou surpreso para o homem, que retribuiu com uma espécie de sorriso afetado.

– Como você sabe? – Lyra perguntou, soando mais admirada do que deveria, na opinião de Tunke.

– Borboletas. – Disse ele, simplesmente.

Tunke o encarou e o homem encarou de volta. Os olhos dele, notou Tunke, eram de um castanho mel, porém haviam pequenas veias ali que sobrepunham sua íris como ervas daninhas de cores diferentes. Tunke se arrepiou, mas notou que o homem também se encolheu um pouco ao observá-lo. isso tranquilizou o capitão.

– Vai nos ajudar? – Perguntou um dos soltados, soando arrogante.

O homem franziu as sobrancelhas para ele, como se não entendesse o que ele tinha dito.

– Por favor. – Acrescentou Tunke, surpreendendo a todos.

Os olhos do homem pareceram ficar vagos um instante, depois ele sorriu de maneira estranha e assentiu.

– Ótimo! Qual seu nome? – Perguntou Lyra, antes que o Capitão pudesse falar qualquer coisa. Irritante.

– Uh? Eu... – o homem pareceu surpreso, como se tivesse esquecido o próprio nome - ... Micha...

Lyra abriu a boca para falar algo, mas dessa vez foi Tunke que a cortou.

– Acho que você será de grande ajuda, Micha.

***

Micha os ajudou a concertar o aerostato. Ele fez parecer muito fácil. Tunke refletiu que seria bom ter um soldado-mecânico para fazer esse tipo de serviço. Eles se despediram com cortesia, Micha saiu levando várias pedras que antes decoravam o casco do navio sem que ninguém notasse.

Tunke seguiu caminho. Micha voltou para casa.

Mas Micha não estava mais sozinho.


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