A Princesa de Metal escrita por João Pedro


Capítulo 12
Nevermore


Notas iniciais do capítulo

Esse deu trabalho, por ser quase um pov da Anne, mas espero que vocês gostem. Não tenham medo de apontar erros, não vou parar de escrever por isso. Bem, espero que gostem. Até os reviews.



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"Para isso!" gritei, mas o cocheiro estava meio que em pânico, já que a carruagem descia desenfreada por um barranco e ele estava na primeira fila para ver a morte.
Anne estava ao meu lado, ela não parecia estar em pânico, coisa que era estranha.
– A gente vai ter que saltar! - ela gritou.
– Está louca? - Os cabelos voavam pelo meu rosto, não deixando eu ver muita coisa. Pensei seriamente em cortá-los, mas eram a única coisa que me deixava bonita...
– Você está perdendo o foco. - Anne a interrompeu.
– Eu já ia voltar a contar tá, só estava comentando...
– Então continue por favor, Srtª Jesebelle.
O sangue de Jessie gelou ao ouvir a voz da princesa.
– Milaidy, por favor, não me chame assim...
– Por que? Eu acho esse nome tão lindo.
– Porque nosso inimigo assassino está atrás dela. - Victor pigarreou. - depois prometo que te conto, junto com a história da punição.
– Punição? - Brandon não estava entendendo. - Que punição?
Victor suspirou.
– Preciso contar um segredo a vocês, já que agora são minha família, mas primeiro o mais importante. Jessie, continue por favor.
Mesmo morrendo de curiosidade, Jessie decidiu continuar.
" Anne me pedira para pular da carruagem em movimento. Eu não sabia se podia confiar nela, já que nem o marido pode, mas decidi seguir a sugestão. Nós demos as mãos e abrimos a porta. O fato de o cocheiro não escutar meus gritos dava se ao fato de ele ter pulado primeiro do que nós. Os cavalos desciam desenfreados e sozinhos.
" Pula quando eu disser!" A dama me disse.
Esperamos algum tempo, e quando os cavalos estavam chegando ao duro solo, nós pulamos.
Enquanto rolavamos uma sobre a outra, eu pude ouvir o barulho da madeira se partir em pedacinhos.
" Meu vestido!" gritei enquanto me levantava. " Os dois! Ah meu deus..."
Anne pigarreou caída no chão repleto de poeira.
" Me desculpe." Sorri envergonhada e estendi a mão para ajudá-la a se levantar. "Você está bem?"
" Eu já estive melhor. Onde estamos?"
Corri os olhos ao redor do lugar. Não parecia ser Londres. Estava sujo e haviam diversas peças de metal jogadas por ali.
" Acho que é onde vocês mandam jogar o metal velho."
" Metal não envelhece." Ela disse aquilo como se fosse óbvio. " Vê, eles estão em boas condições, e só poeira. "
Anne pegou uma engrenagem e limpou a na saia do vestido. Ela ficou novamente em um tom metálico.
" Tá, isso foi de extrema importância." revirei os olhos. Nesse momento eu ouvi o som dos metais se tocando. "Anne, tem alguém aqui."
Ela me puxou para trás de uma pilha de sucata e ficamos observando. Era o homem do pub, ainda estavam com as mesmas roupas.
" Vocês duas não estão com medo de mim não é?" A voz grave se aproximava, ele andava até nós. Rapidamente me levantei com a arma que Victor me dera em punho, apontada para o rosto dele.
" Quem é você e o que quer conosco?"
" Eu deveria perguntar a mesma coisa, afinal vcs me seguiram."
Ele estava certo.
" Okay, ponto pra você. O que um ciborgue faz em Londres?" perguntei.
"E como espera que eu confie em alguém que está a ponto de me matar?"
" Jessie, abaixa a arma." Anne colocou a mão no meu ombro. Me virei rapidamente e encostei o cano da arma na testa dela. Por um momento assustador pensei que fosse atirar, mas não o fiz.
"Me desculpe." abaixei a cabeça. "Força do hábito, eu não queria."
Travei a pistola e guardei no colt.
" Agora podemos conversar da maneira correta." O homem retirou a capa e expôs seu braço de metal. Era um trabalho impressionante, feito de bronze com detalhes em ouro. Para um exilado ele tinha recursos. " Meu nome é Christian Edmund Broome. Sou especialista em fungos e plantas medicinais ou venenosas. Agora é a vez de vocês se apresentarem."
" Você é a fonte de Jack então?" perguntou Anne.
" Milady, não conheço esse homem, mas insisto em conhecer você e sua amiga."
" Por que acha que confiamos em você? " Perguntei. " Se bem que parece um certo médico que eu conheço, flertando com a primeira mulher q encontra."
" Eu não faria isso. Ela está usando uma aliança."
" Isso não impediu o médico. "
" Jessie! Cale a boca."
Christian estava rindo da gente, mas parou e ficou sério.
"Vocês podem se apresentar e vir comigo, ou ficarem paradas em um lugar desconhecido com uma carruagem quebrada."
" Você é sempre tão arrogante?" perguntei.
" Só quando mulheres lindas me seguem por aí. Qual o seu nome Srtª?"
Tentei imitar Vitória e fiz a melhor mesura que consegui.
" Sou Jessie Áurea, dama de honra da princesa Maria Alice da Inglaterra. "
O homem arregalou os olhos.
"Você é parente de Victor Áurea?"
"Depende, isso é bom ou ruim?"
"Pra mim tanto faz." Ele deu de ombros. Naquele momento tive certeza que ele já vira Victor fazer a mesma coisa. "As pessoas falam muito dele de onde venho, não as deixe saber disso, eles não gostam desse cara."
" É sua vez de se apresentar, Srtª Lamb." Provoquei-a. Anne preferia que a chamássemos de Srtª Anne Key de Melbourne, o sobrenome desse homem não era bem vindo, talvez ela não o considerasse um marido de verdade.
Anne fez uma mesura e se apresentou.
" Meu nome é Anne Key, viscondessa de Melbourne. Senhor Broome, perdoe nossos trajes por favor, fizemos uma longa viagem até aqui."
" E tudo para me conhecer. Me sinto honrado. " O homem deu um beijo na mão de Anne e se virou.
" Se as damas me derem a honra de sua companhia, por favor, me acompanhe para a nova Londres."
" O que quer dizer com nova Londres?" perguntei.
" Vai ser assim que toda Londres será quando a 'verdadeira rainha' destronar Vitória."
" Por que está nos contando isso?" perguntou Anne. " Acabamos de dizer que somos do palacio, vamos contar para Vitória de qualquer jeito."
" Essa é uma ótima história. Eu meio que devo minha vida a ela. Vou contar-lhe no caminho, venham."
Nós o seguimos até uma porta de metal cravada em uma rocha.
Ao abrir a porta, nos deparamos com um túnel escuro. Era amedrontador, vai ver foi por isso que ninguém entrou lá...
"Victoria salvou minha vida." Ele começou a dizer do nada. " Depois que nossa raça foi banida, houve uma série de pessoas reclamando e enchendo a sala do trono. Vitória saiu sem falar com ninguém aquela vez, era a primeira de muitas vezes que ela fez isso. "
"Eu duvido que você enfrentaria uma massa de pessoas furiosas na sua sala." Eu a defendi.
"Srtª Áurea, não estou lhe dizendo que ela estava errada, mas ela não devia ter feito aquilo. "
"Por que?" perguntou Anne.
"Naquele dia, uma mulher em especial segurava um bebe. Ela era uma mãe dedicada, porém também era um ciborgue, uma raça diferente do filho. Ela queria que a rainha o transformasse também, de modo que sempre ficassem juntos, mas Vitória virou o rosto enquanto homens arrancavam os bebe de sua mão. A mulher foi escoltada para fora da cidade junto com o resto de nós, daquele dia em diante jurou se vingar de Vitória e ter o seu filho dê volta."
"Perdão, milorde, mas como você entrou nessa história? " Decidi tratá-lo com mais educação, afinal não nos matara ainda.
"É aí que eu entro. A rainha ciborgue tentou negociar a criança por duas vezes e eu fui escolhido como mensageiro. Na primeira vez fui capturado pelos guardas. Levou três dias para que a rainha decidisse me ver na prisão. Nunca queiram saber o que acontecesse naquele calabouço. Cada tortura que você é obrigado a passar te deixam com marcas para o resto de sua vida." O homem retirou a camisa, revelando bolhas em sua pele sob a fraca luz do único lampião que ele pegara em algum momento da história. A visão foi chocante, eu não podia acreditar que Vitória permitiria algo tão cruel, ela é uma pessoa tão doce...
" Continuando. Ela me libertou e pediu para que eu nunca mais voltasse. Mas minha rainha não permitiu que eu retornasse à minha nova casa se eu não trouxesse noticias do menino. Então eu regressei à Londres, mas a pena por isso foi execução em praça pública. Antes que eu fosse levado à forca, ela apareceu e impediu a todos. Disse que eu não era um monstro como eles pensavam e que tinha coragem e lealdade para com minha rainha. Vitória me levou ao palácio, me tratou como se fosse um deles. Ela prometeu enviar a criança para nós se saíssemos daqui para sempre. Ela então ordenou seus guardas a devolverem a criança, mas o príncipe nunca chegou. Eu posso ir e voltar quando eu quiser a Londres, mas nunca mais pude falar com a rainha Vitória." Um arrepio percorreu minha espinha. "Vitória devia achar que estava tudo bem e que vocês foram em paz, por isso nunca disse uma palavra sobre vocês."
"Pode ser. E é exatamente por isso que vocês não vão ser mortas ou presas."
" O que é isso?" perguntou Anne.
" Isso o que?" perguntei sem entender.
" Esse barulho." fiquei calada e tentei escutar. Eram leves batidas baixinhas, não sei como ela conseguia ouvir.
"Isso vai parecer estranho, mas são crianças trabalhando nas minas de carvão agora."
" O que?" Anne exclamou. " Como assim crianças? Vocês estão acabando com a infância delas, estragando o futuro e criando operários desde cedo. Isso é errado!"
" Como se em Londres fosse diferente. " Ele deu de ombros. " Pelo menos aqui eles recebem por isso, e não há infância para renegados. O país está em guerra e estamos sendo caçados por qualquer um dos seus. "
Anne engoliu o que ia dizer.
" Então podemos vê-los?" Sugeri, talvez Anne ficasse menos preocupada se estivessem sendo bem cuidados.
" Claro. Estamos quase chegando."
Apertamos o passo e chegamos à uma porta de madeira crua.
" Srtªs, sejam bem vindas à nova Londres."
Ele abriu a porta e o que eu vi foi impressionante.
Atrás da porta da madeira humilde, havia uma rica e brilhante cidade. Pilares de bronze se erguiam do chão ao teto, máquinas estranhas voavam apressadas pelo céu. As construções pareciam ser o sonho de qualquer arquiteto daqui de longe, mas o mais impressionante era o palácio. Tão impressionante quanto o Palácio Westminster, onde Vitória governava. Não havia um relógio gigante ou um sino de 50 toneladas, mas era feito de pedra polida e aço. Frequentemente saía vapor das várias chaminés espalhadas. Ali era quente, até por que a cidade era iluminada por colunas transparentes e cheias de lava. Me perguntei como conseguiram lava, afinal teriam q perfurar o oceano abaixo do país, não parecia possível.
Nós vimos as crianças assim que descemos as escadas que ficavam embaixo da porta. Eram a primeira coisa ali na verdade. Meninas e meninos com partes de metal explícitas no corpo pilotavam máquinas e escavavam os arredores da mina, eles sorriam, pareciam se divertir. Eles não eram como Maria Alice, não precisavam se esconder em uma roupa de carne. Fiquei imaginando em como ela estaria feliz se vivesse aqui, usando uma daquelas...
" O que é aquilo que eles estão usando?" perguntei. Pareciam calças como as que os cavalheiros usavam, mas eram azuis e algumas pretas, colavam no corpo delas e até as meninas usavam. O mais incrível é que eram bonitas.
" Se chamam calças jeans." Ele sorriu ao explicar. " Foram feitas para que as roupas dos trabalhadores não estragassem durante o turno. É fácil de colocar e de lavar. "
" Eu preciso de uma dessas!" exclamei.
" Iam ficar ótimas em você, mas ia parecer uma operária." Anne disse o óbvio. " A opinião das ladys sobre você seria pior."
"Eu não me importo com o que elas acham. Eu moro no palácio e tenho o sobrenome "Áurea" elas que morram de inveja."
Christian sorria como uma criança.
" Gostei de sua atitude garota. Você é bem forte. Sei onde vocês podem se vestir por aqui. Temos alguns vestidos no palácio... Já camas..."
" Nós podemos dormir no sofá!" dissemos juntas, o que foi estranho.
"São as bolhas?" Ele sorriu. "Vocês não pareciam se importar antes de vê-las."
"Não é isso." Anne disse em um tom cauteloso, com medo de ofendê-lo. " Nós estamos prometidas à outros homens, não podemos fazer isso."
" Mas ajudaria se você vestisse a camiseta novamente. " Uma de nós tinha que dizer afinal.
Ele vestiu a camisa.
"O que me diz do tal médico?"
"Àquilo foi um exagero dela. Ele é meu ex noivo."
Passamos os últimos minutos conversando, sorrindo muito e vendo as maravilhas do mundo de metal. Eles estavam construindo navios voadores. Certo dia li no jornal que um desses destruiu um porto chinês no litoral. Será que os ciborgues tinham a ver com isso?
Bem, pra resumir, eu e Christian ficamos amigos, a gente almoçou juntos, ganhamos vestidos super lindos e duas calças jeans, mas Anne recusou a dela. Fomos levadas até a rainha, que tinha partes do rosto remendadas com metal e ela nos pediu que contássemos a história da criança para a rainha, ameaçou entrar em guerra se a rainha não devolvesse o filho dela. Quando estávamos prestes a sair, Christian me pediu para mudar com Anne para a Nova Londres, mas recusei e me despedi beijando o rosto dele. Foi isso."
– Que história impressionante! - Victor exclamou.
– Existe uma cidade inteira de pessoas como eu? - perguntou Maria Alice. - Quando voltarem, quero ir com vocês.
–Eu também! - Disse Brandon.
Jessie se levantou da cadeira.
– Eu vou para o quarto de vocês, Brandon e Victor depois encontro vocês.
A expressão da garota estava vazia, parecia quase triste.
– Jessie, espera! - Victor e Brandon se levantaram, mas uma mão em seus ombros os impediram.
–Ela vai precisar de um tempo sozinha. - disse Anne.
– Por que tenho a impressão que vocês estão escondendo algo? - Victor se virou.
– Eu também gostaria de saber. - Disse Maria Alice de sua cadeira.
– Eu também. - Brandon estava sorrindo. - Eles tem mesmo navios que voam?
Anne Key suspirou.
– Não é a hora certa. Jessie só contou as partes boas que aconteceram lá embaixo. Só a ponta do icebergue.

Na cama de Victor a garota chorava. Ela trancara a porta para que ninguém a visse assim. Ela devia contar para Victor? Confiara nele desde a primeira vez, quando ele prometera que o veneno não ia matá-la. Mas isso, ia arrasar o coração dele só pela ideia, assim como machucara o dela. O garoto era mais que um irmão para ela.
Jessie se lembrou do que o ciborgue disse naquela manhã.
O homem a puxara para um canto afastado e sussurrou:
" Srtª, peço a ti e sua companheira que fiquem como minhas hóspedes para sempre."
" É um pedido incomum. Gostou tanto de nós assim?"
"Amei cada momento que passei co, vocês, mas não é apenas isso. Tem uma coisa que eu não contem para a rainha ou para vocês."
" E o que é?"
" O nome do garoto. Ele tem nove anos agora e foi criado pelo pai. Agora atende por outro nome."
"Desembuche. Suspense só é bom em Penny dreadfuls."
" Você vai odiar, mas a criança já foi encontrada. O nome é Brandon Áurea. Quando vocês o trouxerem, nunca mais poderão vê-lo."
Jessie soluçava.
"Meu irmãozinho... Eu não vou perdê-lo também. Nunca... Nunca..."


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