A Princesa de Metal escrita por João Pedro


Capítulo 10
O Príncipe de joelhos




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Victor estava morrendo de felicidade. Ele podia abrir a clínica de novo, faria isso um dia após o baile, quando todas as garotas que insistiam em usar corselet apertado ao máximo - cintura de 10 centímetros. - iriam passar mal o dia todo e encher os bolsos do medico de dinheiro limpo.
Infelizmente ele não podia usar mais metais, teria que confiar apenas nas coisas feitas por deuses ou titãs, fadas, papai e mamãe... Órgãos de carne.
Mas infelizmente Victor não era muito bom nesse tipo de medicina.
Ele acabara de convencer Vitória a fazer um baile de máscaras, ela não ficou muito feliz com a ideia, pois teria de adiar o baile para que os convidados se preparassem. Foi adiado em dois dias, ia cair em um domingo. Ele estava indo para o quarto quando Joe o chamou.
–Victor! - ele chamou de onde estava. O médico parou para esperá-lo.
– Joe. Como está essa ferida?
Joe revirou os olhos.
– Está ótima muito obrigado. Não vim aqui falar disso.
– Então, a que devo a honra de sua visita?
Joe encarou o amigo.
– Não tive a oportunidade de te ver após ter se recuperado. Mas também tem outra coisa.
– Então diga. Suspense só e bom em penny dreadfuls.
– Concordo com você, então me conta, o que anda escondendo?
Victor parou quando estava próximo à porta do quarto.
– Por que acha que estou escondendo algo?
– Ah Victor, por favor. - O guarda revirou os olhos. - Você adota uma assassina treinada e o filho de um terrorista enquanto sua família e amigos são envenenados... Você nunca foi assim.
– Eu posso ter apenas mudado. - Ele deu de ombros.
– Ou pode me contar seu maldito plano para o baile que inclui toda a parte nobre da cidade.
Victor estava cansando daquela conversa.
– As crianças precisavam de um abrigo, e se não notou tentaram matar você, a mim e a Vitória. Como você acha que eles sabiam onde estávamos e onde atacar?
Joe fechou o semblante.
– Está achando que eu sou um espião? Isso nem tem sentido!
– Claro que não, você não é um suicida e nem tem como saber certas coisas. Mas tem um traidor entre nós.
Joe abaixou a voz.
– Você não contou a ninguém onde ia não é?
Victor fez que não.
– Então sobra a sua garota, ou alguém a quem ela tenha contado.
– Eu não a conheço bem, mas mulheres sempre falam demais. Eu vou cuidar dela, se estiver nos traindo eu mesmo a matarei.
– Ela é uma garota. Nós dois sabemos que não vai conseguir, e você é médico, ia salvá-la assim que desse o primeiro golpe. E além disso tudo, você gosta dela.
– Se ela estiver trabalhando com o maldito, ela não será nada além de escória, não gosto de escória e não perdoo traidores.
O rosto do médico estava assustador naquele momento.
– Devo considerar isso uma ameaça?
– Não, Joe. - Victor deu tapinhas de leve no ombro machucado do guarda, que fez uma careta de dor. -Confio em você. - Joe sabia disso. Victor confiara seu maior segredo a ele à alguns anos. - Mas quanto menos souber menos pessoas terei que salvar no final do dia. - Ele continuou. - E quero te pedir um favor.
– É só dizer. Eu estava mesmo te devendo por ter tirado aquela droga do meu corpo.
Victor fez esforço para se lembrar, mas sempre as lembranças iam para o lado da imaginação, onde Victor arrancava a cabeça do homem.
– Tem um velho que anda me seguindo, ele tentou envenenar Cristine aquele dia com Ácido Nítrico, quero que fique de olho nele.
– Você não deve estar se recuperando direito. Aqui é Londres, velhos são quase a metade da população. Seje mais específico, não posso adivinhar qual deles é o seu.
– Seja. - Ele corrigiu. - Ele guiou nossa diligência para o restaurante, tem cabelos brancos do lado da cabeça, estatura baixa e deve estar com uma faixa amarrada na mão esquerda para que ninguém veja o corte infeccionado.
– Tudo bem, vou mandar avisar você se eu ver um velho assim, qualquer velho.
– Se cuida, cara. Não quero ter que salvar você de novo, meu equipamento quase quebrou.
– Não se preocupe, me pegaram desprevenido. Se tentarem de novo, estou preparado.
Joe segurou o punho da espada involuntariamente.
– Até logo. - Disse Victor entrando no quarto.
Nem Brandon e nem Jessie estavam lá. Victor estava finalmente em paz, sem perguntas e sem assédios. Ele jamais imaginou que sentiria tanta falta daquilo.
Ele ficou rapidamente entediado. O computador estava ligado, Brandon realmente estava escrevendo algo.
"O garoto ficou feliz, o padre o treinou até que virasse um cavaleiro. A princesa estava presa na torre do relógio junto com o monstro estripador, o cavaleiro ia salvá-la e ela daria muitos beijos no cavaleiro, eles seriam felizes para sempre, mas..." Victor parou de ler. A história estava ficando ótima para uma criança de 9 anos escrever, mas pelos acontecimentos narrados, não era possível que outro tivesse escrito as palavras. Victor imaginou o que o cavaleiro faria se soubesse do padre e da princesa, talvez fosse até melhor contar logo, ele não ia consegui-la mesmo.
Victor desligou o computador e pegou a cartola sobre a cama. Precisava de uma máscara e de roupas novas para o baile, talvez até encontrasse suas amigas lá.
Victor pegou o dinheiro que recebera e se pôs a caminho da loja em um cavalo mecânico roubado.
Ele passou por Alberto e Brandon, que estavam treinando esgrima no pátio.
– Olá garoto. - disse Victor sorrindo. - Alberto...
– Victor! - Exclamou Brandon. - Eu desarmei sir Alberto!
– Parabéns garoto. - Victor retirou o chapéu. - Agora já pode lutar com alguém que realmente saiba o que está fazendo.
– Suas piadas continuam não tendo graça. - Disse Alberto. - Onde você está indo?
– Preciso comprar trajes para o baile, por que não me acompanham?
– Eu quero andar no Saul! - Brandon segurou na capa de Alberto. Victor esperava que o príncipe estivesse de bom humor. - Por favor vossa majestade, vamos?
Alberto sorriu.
– É uma boa ideia. Vou preparar os cavalos.

– Tem certeza? Viva? - perguntou Jack pousando o copo sobre a mesa.
– Eu vi com meus próprios olhos milorde. - Disse o velho, olhando nervoso para todos os lados, com medo do espião. Não se sabe realmente de quem é a lealdade de traidores.
– Leon! - o homem gritou.
Aos tropeços o jovem entrou na sala. - Chamaste, senhor?
Leon não podia ver o rosto do homem, ele sempre ficava nas sombras, e ninguém ousava chegar muito próximo daquele homem.
– Você me disse que a putinha loira morta. Era verdade?
Leon olhou para o chão.
–Sim. Eu a vi morrendo.
– Eu a vi. - A voz de Jack chegava a assustar até mesmo La Fountain, que estava ali também, mas sempre calado. - Ela estava bem viva e mais linda do que a última vez.
Leon encarou o rosto sombrio surpreso.
Jack estalou os dedos e Sebastian La Fountain deu um soco em suas costas, fazendo com que ele fosse de encontro ao chão.
– Como ousa mentir para mim? - a voz do homem soava quase entediada, como se não tivesse prazer nenhum em machucar o garoto.
– Eu não menti... - La Fountain pisou na cabeça do garoto, forçando a de encontro ao piso de mármore.
– Espere. - Jack levantou a mão e o chinês deixou o ali caído. Leon tossiu sangue. Seu rosto doía menos que o seu ego, mas ainda sim era muito para se aguentar. - Me diz garoto, como ela pode estar morta e usar um vestido real ao mesmo tempo? Me dê uma boa resposta, ou serão suas últimas palavras.
– O médico! - ele gritou. - segundo nosso espião, ele ainda cura as pessoas com metal, disseram tambem que ele pode até mesmo ressuscitar pessoas.
– Bela tentativa.
Leon ouviu passos de seu carrasco, então se apressou a falar.
– Ele fez a princesa. A chamamos de princesa de metal.
Jack gargalhou.
– Esse é o meu garoto! Com isso eu posso acabar de uma vez com o reino de Vitória. É só o povo começar a temer. Sebastian, pare. O garoto vive, mas com uma condição.
– Diga, Senhor.
– Ele vai ter que matar a garota. Não ouse me desapontar ou me trair, eu sei onde sua família se esconde.
Lágrimas saíram dos olhos do garoto. Ele amava Jesebelle, não ia conseguir.
– Eu juro não desaponta-lo, senhor. És meu único e verdadeiro mestre.
Leon se retirou da sala.
– Sebastian. - Chamou Jack. - Se aproxime.
O cafetão obedeceu.
– Fique de olho no garoto, quando ele matar a garota, o elimine. Não vamos mais precisar dele.
– Com prazer, senhor.
Sebastian e Jack gargalharam enquanto se serviam de uma garrafa de vinho branco.

Anne e Jessie estavam no pub Ice-que ficava próximo ao La Fountain's Girls. O teto era baixo comparado ao castelo, e lá era quente. Luzes coloridas piscavam em algumas partes da sala. A estrutura era incrível. O bar ficava no centro, como se fosse uma ilha, nele terminavam vários corredores, dividos por várias portas que formavam cabines. Para quem olhasse parecia um labirinto, ideal para quem quer um pouco de privacidade. Haviam mesas posicionadas próximas ao bar e uma música calma tocava, Anne não fazia ideia do que era aquilo, mas ela curtiu.
O pub não estava cheio, haviam poucas pessoas tomando café e conversando por lá.
As garotas escolheram uma mesa próxima ao bar. Anne notou que Jessie parecia inquieta.
– O que aconteceu? - perguntou.
– Nada, não é nada.
– Como se isso fosse verdade.
Jessie olhou ao redor da sala.
– Victor te disse algo sobre o dia que os homens de Jack o envenenaram?
Anne olhou nos olhos da garota.
– Ele mencionou algumas coisas. Parece preocupada, o que te deixou assim?
Jessie acenou para o único garçom humano ali, assim não havia riscos da conversa ser gravada por ouvidos super potentes de robôs.
– Traga um Martini, por favor. - Ela pediu. As duas ficaram caladas até que o garçom se distanciasse.
– Jack sabe que estou viva.
Anne não parecia surpresa.
– Não tem como ele saber.
– Sim tem. O velho na carruagem trabalha para ele. E Victor diz que tem um traidor no palácio.
– Isso faz sentido. Espera, você acha que alguém nos seguiu?
Jessie virou um talher na direção de uma mesa, onde finos raios de sol iluminavam superfície totalmente limpa da mesa.
Nela estava sentada uma pessoa, não dava para saber se era homem ou mulher. A figura estava coberta com um sobretudo que tampada até o pescoço, na cabeça havia um chapéu fedora.
– Victor da vezes se veste assim... - ela deu de ombros sem entender.
– Olha na direção da porta. - ela sussurrou.
Anne dirigiu o olhar para o lugar indicado. Havia um pequeno fetiche de luz branca, que poderia se confundir com as luzes do local, mas elas eram todas coloridas. Só havia um lugar onde os raios ousavam invadir dentro daquele estabelecimento.
– Não há nada para refletir ali.
Jessie revirou os olhos.
– Você não é muito inteligente não é mesmo?
– O que quer dizer com isso? Não há nada lá.
– Vidro não iria refletir toda a luz, a menos que fosse um espelho, mas não ia fazer sentido. Metal. Esse homem está escondendo algo de metal.
Anne sorriu.
– Como as chaves de sua casa ou do carro? Um relógio...
– Acha mesmo que um cidadão Londrino bem sucedido se vestiria assim?
Quando o garçom robô chegou para levar a conta do tal homem, Anne viu algo estranho entre a manga do casaco e o pulso enluvado do homem. Aquilo era mesmo metal, um braço mecânico.
– Eu sei o que ele é. - Sussurrou Anne. - Ele é um Ciborgue. Por isso está se escondendo.
– O que um Ciborgue faz em Londres?
Anne o seguiu com os olhos enquanto ele se levantava.
– Não parece estar te seguindo.
– Agora nós vamos segui-lo. Tem uma historia interessante se formando aqui.
– Você está louca? - Perguntou Anne se levantando para acompanhar a garota.
– Você vem? - Jessie deixou algumas moedas sobre a mesa e rumou para fora do pub.
Anne correu atrás dela. O que a garota estava pensando? Anne se perguntou se Victor a levava para perseguir suspeitos regularmente, pois a menina parecia levar jeito.
Anne teve que pular para dentro da carruagem, pois o cocheiro já começava a correr, sabe se lá para onde.
– Eu quero matar você. - disse Anne caída sobre o colo de Jessie.
– Entra na fila. - ela revirou os olhos. - Seu Ciborgue está na carruagem alugada ali na frente. Acho que ele não tem um carro.
Do outro lado da cidade, em um lugar próximo ao palácio havia uma pequena praça onde algumas pessoas conversavam e crianças se encontravam, era sempre calma, um lugar gostoso para passear e namorar, mas naquele dia nublado o clima não estava tão pacífico assim.
Alberto e seus companheiros avistaram a multidão assim que saíram dos portões do palácio, mas as vozes não eram tão nítidas como agora.
– Victor. - Disse Brandon. - acho que eles estão falando de você. E de você sir Alberto.
– Sim, eu também ouvi. - Alberto puxou forte as rédeas no cavalo de lata, fazendo o parar. - Parece que eles acham que Vitória não tem uma filha.
Eles desceram dos cavalos, menos Brandon, que se recusou a deixar Saul esperando.
A medida que se aproximavam podiam ouvir de maneira mais clara o pregador dizendo:
"Lixo! É isso o que o metal vira quando não se tem mais utilidade. Sem valor! Eles são fáceis de encontar e todos iguais, máquinas que não tem vontade própria, é isso o que vocês querem ser? Sem valor, lixo! Dentro daquele palácio, irmãos se fornicam com irmãs, adultos com crianças, e nós somos os pecadores se desrespeitarmos as leis de Vitória. Quem ela é perante aos deuses?"
– O que é para você agora. A rainha da Inglaterra.
Todos voltaram o olhar para as figurs ao lado do pregador, pareciam homens comuns, não majestosos e nem ostentavam joias, mas sua presença era tão forte quanto o brilho do sol em um dos raros dias quando o céu estava azul.
– Prince Alberto! - Os fieis se curvarem, mas o homem que falava continuava de pé.
– Por que estão se curvando? Ele é um homem como nós, não devemos nos humilhar assim!
Alberto desceu do cavalo e se colocou frente ao homem.
– Diga diretamente a mim senhor, o que tanto te revolta?
– Ele! - o homem apontou para Victor.- Eu fui leal a você todos os dias da minha vida, mas vejo que vocês da realeza mentiram!
– Que mentira foi essa?
– Os jornais estão todos dizendo que esse homem irá voltar a nos transformar em pedaços de lixo, logo após o baile real.
– Isso não é verdade, meu caro senhor. - disse o médico. - Sua majestade concordou em me devolver minha clínica, mas não poderei substituir partes de seus corpos por peças. Essa lei não foi revogada.
– Você será o único medico na cidade em 15 anos. Vitória baniu vocês, como foi que você a convenceu?
Alberto se virou para o povo, que já estavam de pé agora.
– Vocês não percebem? Ele está aqui porque precisamos dele. Vocês não estão mais seguros.
Aquilo causou murmúrios de curiosidade na multidão.
– À 11 dias dois assassinos invadiram o palácio, a construção mais protegida de toda Londres. Eles envenenaram Vitória, e eu não estava aqui para defendê-la. Esse homem salvou a vida dela!
A multidão ficou quieta, centenas de pessoas se calaram para ouvir um único homem.
– E não só isso, ele salvou também Lady Cristine Von Stockmar e o oficial Joe Byron. Todos eles foram envenenados. Victor Von Áurea não é um médico qualquer, é o único que sabe combater todos os venenos conhecidos.
– Está dizendo que vamos ter que confiar a nossa vida à um homem banido? - gritou alguém na massa de pessoas ao redor deles.
– Estou dizendo que é melhor confiar em homem que pode te salvar do que falsos profetas, que serão os primeiros a fugirem quando as coisas ficarem difíceis. - Ele lançou um olhar severo ao homem que estava ao seu lado. - Estou dizendo que há uma pessoa capaz de matar até mesmo os melhores soldados sem ao menos mostrar o rosto.
Aquilo causou pânico nas pessoas.
– Só o conhecemos por Jack. Ele ainda está a solta, mas não será por muito tempo, vamos pegá-lo e condenar esse homem, eu mesmo o executarei, nessa mesma praça, na frente de vocês! Mas até lá se escondam. Ele não tem rosto, pode estar aqui agora, no meio de vocês. Não será nenhum deus que irá matá-lo, e nem proteger vocês dele. Jack conhece meu rosto, e se ele for capaz que venha até mim.
Alberto fez algo que ninguém esperaria de um monarca. O príncipe enterrou sua espada na fenda dos ladrilhos e se ajoelhou.
– Hoje me curvo diante de vocês, juro pela minha coroa e pela minha esposa que darei a vida por qualquer filho de Londres. Juro protegê-los até o último dia de minha vida.
Victor se ajoelhou também, seguido por Brandon. O povo gritou aquele dia, um misto de medo e alegria. Nunca em toda a história um rei se ajoelhou diante de seu súditos, ou o mundo estava para acabar ou o príncipe Alberto dissera a verdade.


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