A casa por dentro estava ainda mais arrumada do que eu poderia imaginar, pelo que eu havia entendido, a festa aconteceria na sala de estar.

A sala de estar era preta com detalhes em dourado, a mesa estava cheia de aperitivos e havia um local apenas para as garrafas de bebidas que eram de variadas cores e variados formatos e tamanhos.

Havia também uma especie de pista de dança ali, iluminada com luzes neon de várias cores, sofás e pequenos puff também estavam espalhados, as pessoas se dividiam entre o grupo dos populares que são do time de vôlei/futebol e as líderes de torcida que na maioria das vezes possuía algum tipo de relacionamento com os atletas.

Meu vestido que possuía uma fenda nas costas estava fazendo com que eu sentisse frio, eu devia ter pegado um casaco, eu estava completamente arrependida agora e cada vez eu sentia que precisava de um abraço.

Ironia ou não, segundos depois de ter esse sentimento, eis que surge no meio da multidão, uma criatura com um casaco de couro preto e uma adorável camiseta cinza, uma calça escura quase preta e um cabelo completamente desgrenhado, aquele sem dúvida era o meu "namorado".

E sim, ele não estava mesmo que lindo, não que ele estivesse em algum momento menos que isso, mas ás vezes, só por uns momentos, eu estava me pegando o admirando, e sim, eu ainda o odeio, mas eu tenho que admitir ele era "fucking handsome".

A música estava alta e Angela falava com todos, era uma perfeita anfitriã, eu ainda não havia visto Vanessa e estava pensando que ela não viria.

Matt se aproximou de mim lentamente, eu estava sentada em um daqueles sofás pretos e estava no mínimo entediada, não há nada mais entediante que uma festa cheia de jovens imaturos com músicas eletrônicas, eu preferiria mil vezes, ler um romance de Charlotte Bronte.

Ele se sentou ao meu lado, ele tinha dois copos de alguma bebida desconhecida em suas mãos e eu neguei assim que ele me ofereceu, eu ainda não confiava nele, e acho que nunca confiaria.

— Fala sério que não bebe Mel! Deixa eu adivinhar? O papai não deixa! — ele zombou e eu sorri de lado.

— Não, na verdade só não quero ferrar com a minha vida mesmo! — respondi irritada, ele consegue me deixar nervosa até em festas, isso sim é incrível.

Ele apenas assentiu e bebeu todo o conteúdo do copo de uma só vez, em seguida fez o mesmo com o segundo copo, eu apenas revirei os olhos e continuei a observar a festa.

Algumas pessoas dançavam no meio da pista, uma loira peituda chegou a levantar a blusa algumas vezes mostrando o sutiã vermelho e a sua barriga perfeita, assim como todo o seu corpo, ela parecia uma coelhinha da playboy, se não me engano seu nome era Heather.

Um grupo de pessoas se enfiaram no fundo da sala, em uma parte escura, estes fumavam cigarros de variados tipos, eu consegui sentir o cheiro de maconha, mas preferi não dizer uma palavra sobre aquilo.

Matt parecia como eu, entediado, então ele me puxou para mais perto de si, relutei, mas acabei por me aproximar, eu sabia exatamente o tipo de coisa que acontecia quando estávamos próximos e sabia que as consequências não seriam agradáveis.

Então a vi, ela, a minha amiga, Vanessa.

Vanessa vestia um vestido vermelho, que assim como o meu era colado, porém o seu, possuía um decote profundo, ela tinha os cabelos presos em um rabo de cavalo e uma maquiagem forte iluminava seu rosto, ela estava linda e diferente ao mesmo tempo.

Assim que me viu, ela veio caminhando com passos rápidos até mim, se sentou ao meu lado e sorriu, eu sabia que ela se sentia no mínimo deslocada, como eu.

— Então, festa legal não? — ela puxou assunto e eu sorri, Matt fez uma cara de tédio que me surpreendeu, em seguida ele se levantou e foi até a parte em que serviam bebidas.

— Muito legal! — respondi entediada.

— Parece que o Matt não gosta mesmo de mim! — Vanessa observou e concordei por dentro, mas por fora neguei com a cabeça.

— Não é questão de não gostar de você... É só que ele gosta mais das bebidas mesmo. — garanti para ela que pareceu mais confortável.

A festa passava na frente de meus olhos e eu não fazia nada além de pensar em que horas eu poderia ir embora, Matt ainda não havia voltado e eu comecei a pensar que ele estava metido em algum quarto com uma vadia qualquer, não que eu me importasse, mas eu não queria levar fama de chifruda logo no meu primeiro namoro, sei que escolhi o garoto errado para isso, mas ele podia pelo menos disfarçar.

Já havia se passado mais de uma hora e Matt ainda não havia voltado, se antes eu era calmaria, agora eu era um poço de raiva ambulante, eu sabia que ele escutaria poucas e boas assim que eu o visse, que tipo de namorado, mesmo que de mentirinha, abandona sua namorada dessa forma e some por uma hora?

Me levantei, já estava com tanta raiva que havia roído minhas próprias unhas, eu teria que espancá-lo sem arranhá-lo mesmo dessa vez, e eu tinha certeza de que não pararia de bater nele enquanto estivesse respirando e dessa vez meu pai não estava ali para salvá-lo, ele iria morrer, em uma morta lenta e dolorosa.

A casa de Angela possuía vários corredores e vários quartos, eu tinha a impressão de que ele estava em algum com uma vadia qualquer e se isso fosse verdade, eu armaria o maior escândalo que esse povo já viu, imagina só, ser traída pelo namorado de mentirinha, aquilo não era algo aceitável.

Os saltos estavam machucando os meus pés e eu sentia vontade de arrancá-los, eles serviriam para bater em Matt até que ele desmaiasse para em seguida eu asfixiá-lo até a morte, seria um bom ensinamento de como não trair a namorada de mentirinha.

Uma música parecia tocar na minha mente, depois eu acabei por descobrir que ela tocava na festa mesmo, era "Complicated" uma música bem antiga da Avril Lavigne, por acaso uma das minhas prediletas, sempre curti música antiga.

Continuei caminhando até que avistei Angela, eu tinha que dar uma desculpa para estar invadindo sua casa dessa forma, pensei em uma perfeita, eu diria que estava procurando o banheiro e talvez ela acreditasse.

Assim que a morena me viu, sorriu, eu ainda não entendia o motivo de toda a sua repentina cisma comigo, talvez fosse o fato de estar namorando um popular, mas acho que isso já vinha acontecendo há algum tempo.

— Você está bem Mel? Parece nervosa! — ela perguntou.

— Estou apertada, preciso ir ao banheiro... onde fica? — perguntei, mesmo sabendo onde ficava o banheiro, apenas para ter uma desculpa para estar andando pela sua casa.

— Terceiro porta à esquerda. — ela me informou e eu sorri de lado.

— Obrigada. — respondi e continuei caminhando.

Olhei por uma última vez para Angela que caminhava sem olhar para trás e voltei a caminhar rapidamente, eu acharia aquele garoto nem que para isso eu tivesse que abrir cada porta de cada quarto.

Eu já estava no fim do corredor e já havia aberto as portas de alguns quartos e havia visto muitas coisas, como cenas de sexo explícitas e muitas pessoas usando drogas, mas foi bem nos fundos da casa, no quintal necessariamente, que eu ouvi a voz de Matt.

— Você sabe que não deveria estar aqui! Se a Angela te pegar aqui, vai te matar!

Aquela era sem dúvida sua voz, ele estava conversando com alguém que eu logo senti a necessidade de saber de quem se tratava e me aproximei um pouco, ficando atrás de uma parede, assim eu poderia os ver e eles não me veriam.

Mas para todo o meu azar, eu ainda não estava conseguindo ver quem era a pessoa, pois Matt estava em sua frente e decerto seria difícil enxergar alguém com uma pessoa como ele na frente.

Porém vi de relance mãos femininas com esmalte cor de rosa, a pessoa gesticulava, eles estavam claramente discutindo sobre algum assunto que eu não entendi.

— Sério mesmo, esperava mais de você, você simplesmente termina comigo para ficar com uma simples fracassada que até que tem um corpinho legal, mas não deve nem saber diferenciar um saque de um bloqueio e que aposto que é virgem! — ela gritou e ele passou a mão pelos próprios cabelos, eu sabia exatamente de quem se tratava agora, Katherine estava ali.

Matt caminhou enquanto parecia estar pensativo e eu a vi por inteiro dessa vez, ela vestia uma calça branca com botas de salto pretas e um casaco também preto, os cabelos loiros estavam soltos e assim como os meus, seus lábios tinham um batom vermelho vibrante.

Ela parecia realmente abatida e eu sentiria pena dela, se não tivesse me lembrado no mesmo instante dos tapas que havia levado dela e de suas amiguinhas, ali eu tinha boa chance de me vingar, se eu chamasse Angela, provavelmente ela armaria um escândalo e a humilharia, mas eu não queria mais desavenças, por isso apenas continuei a escutar a conversa.

— A Mel não é uma simples fracassada, ela é linda, inteligente e muito, mas muito gostosa! Você não tem ideia do que essa menina me causa... e além do mais, eu nunca te jurei amor eterno Katy... pensei que fosse mais adulta! — ele respondeu irônico e eu senti uma coisa estranha por receber todos aqueles elogios, eu sabia que ele estava inventando coisas para que ela acreditasse no nosso falso namoro, mas mesmo assim me senti nas nuvens.

Foi aí que percebi em que ponto cheguei, eu estava me sentindo bem porque recebi elogios do meu inimigo, irônico não?

— Eu duvido que ela seja melhor que eu! — retrucou Katherine enquanto caminhava de um lado para o outro com suas botas de couro.

— Vai embora Katy. — pediu Matt e eu me senti incomodada por ele a chamar de "Katy", eles eram claramente íntimos, mas mesmo assim não gostei.

A loira continuou parada e quando Matt se virou ela fez algo inimaginável, ela o puxou para si e o beijou, ela estava forçando aquele beijo e ele não retribuiu, mas eu não sei o que me deu, perdi a paciência e resolvi sair de trás daquela parede.

Matt já havia se soltado dela, mas mesmo assim, achei uma falta de respeito dela fazer aquilo, talvez se ela sentisse o peso da minha mão mais uma vez, parasse com essas coisas.

Eu surgi na frente dos dois, e Matt pareceu surpreso, enquanto Katherine parecia querer me matar, mas dessa vez seria diferente, eu a mataria.

— O que pensa que está fazendo com o meu namorado? — gritei dando ênfase no "meu".

A loira se aproximou de mim até ficar bem na minha frente, ela era cerca de 5 centímetros maior que eu, mas hoje estávamos quase da mesma altura por causa do salto de meu sapato ser maior que o da sua bota.

— Você quer dizer o meu namorado que você roubou não é? — ela gritou de volta e eu perdi a paciência.

Como havia feito horas atrás, lhe dei um tapa muito forte em seu rosto, mais forte que o anterior, já que isso havia a feito virar a cabeça e havia arrancado sangue de sua boca, aproveitei que ela estava zonza e dei outro tapa.

Ela caiu no chão pelo impacto de meu tapa e eu já estava preparada para continuar a estapeando, mas Matt me segurou e eu nem sei como aquilo foi acontecer, mas quase a festa toda estava ali no quintal agora.

Agora todos diriam que eu estava brigando por causa de Matt, boa fama Melanie! Além de babaca que namora um cafajeste, serei uma vadia qualquer que briga com outras vadias.

Angela surgiu furiosa do meio daquelas pessoas, eu sabia que ela faria um escândalo e eu até que estaria feliz por isso agora, Katherine merecia.

— Como entrou aqui!? Eu te proibí de entrar na minha festa! Saia daqui agora! — Angela gritou para Katherine que já tinha se levantado.

O rosto de Katherine agora era um misto de batom borrado com sangue escorrendo pela boca e todos os olhares estavam voltados para ela.

Ao mesmo tempo que eu achava que aquilo havia sido merecido, sentia pena da loira, e eu não fui a única a sentir pena, já que Mike saiu do meio da multidão e disse:

— Quer que eu lhe leve embora? — ele perguntou e a loira assentiu.

Os dois saíram do quintal e foram rumo ao portão de trás da casa, eu estava no mínimo confusa, não sabia que eles eram amigos, para mim eram apenas ex namorados.

Matt estava me olhando de uma forma estranha e eu não soube identificar o que ele estava pensando pelo seu olhar, eu continuei parada enquanto as pessoas voltaram para a sala de estar aos poucos, por fim só estavam ali eu, Matt e Angela.

— Bom trabalho Mel. — ela disse aquela frase e eu suspirei, não me orgulhava tanto assim daquilo.

Angela também voltou para a sala de estar e agora sim, estávamos sozinhos, eu não sabia o que dizer e ele também parecia não saber.

Matt se aproximou de mim e subitamente me abraçou e eu retribuí seu abraço, não entendi exatamente o motivo daquilo, mas ficamos abraçados por algum tempo sem dizer absolutamente nada.

A música aumentou e eu conseguia escutar ali do quintal, eu sabia de uma maneira perfeita de esquecer de tudo aquilo, era só eu beber e dançar.

— Vamos dançar gatinho? — perguntei em tom debochado para Matt que sorriu.

— Claro baby! — ele respondeu e lhe dei língua.

Talvez só por aquele dia nós podíamos deixar nossa rixa de lado, esquecer do namoro de mentira e curtir a noite, afinal, somos jovens e o que pode acontecer?